Na cidade da grana, formas não convencionais de expressão cultural impõem novas relações de mercado.
São Paulo é sinônimo de caos urbano. A cidade foi construÃda na desordem, sem qualquer planejamento, e representa todos os elementos de um sistema em que a competição pelo sucesso e a busca pelo lucro superam qualquer trabalho por um ambiente saudável de vida coletiva. A poluição contamina o ar e os rios, o trânsito paralisa a cidade, os motoristas de carros e motos se sobrepõem aos pedestres, a violência se incorpora ao dia-a-dia e a busca por moradia nessa selva faz com que os habitantes das periferias invadam mananciais, e os mais ricos vivam em fortalezas.
Do ponto de vista da organização cultural, a cidade também é caótica e desigual.Os equipamentos públicos culturais são subutilizados, dominados pela burocracia e pela caretice. Mas, nas entrelinhas, nasce e cresce vertiginosamente uma arte resultante da diversidade gerada na interpretação e na resistência ao caos.
Seus intérpretes fazem parte de uma geração que assimilou a linguagem da internet, dos movimentos urbanos, da moda, da publicidade e de formas não convencionais de expressão. Em contraposição à falta de contato com equipamentos formais , esses personagens se organizam em coletivos, clubes noturnos, e galerias que não habitam somente o underground dos bairros mais movimentados como também buscam outros ares, revitalizando regiões da cidade.
Estão por aÃ: dos Jardins ao Cambuci, do Baixo Augusta à nova Barra Funda, da Liberdade à Vila Madalena. A cidade se reinventa pela mão de gente muito nova e muito longe dos gabinetes e das decisões. Indie, hip hop, rock, graffiti, stickers, mangá, skate, cartoons, toy art, lambe-lambe, arte eletrônica. As palavras soltas dão pistas dessa realidade.
As diversas expessões do comportamento, antes vistas apenas como formas de agrupamento e de busca de identidade de movimentos juvenis nesse mundão, agora já se caracterizam como incrÃveis nichos econômicos de uma infinita “calda longaâ€, capaz de superar na soma de tantos microuniversos de consumo cultural, os lÃderes das paradas de sucesso.
A teoria do jornalista e escritor Americano Chris Anderson, editor da revista Wired, que em seu best seller “ The Long Tail†identificou a mudança dos hábitos de consumo cultural , contrapondo a economia do nicho com a economia do hit, já é visÃvel no caos de São Paulo, com força e vitalidade. A soma dos públicos que freqüentam as centenas de clubes da cidade numa noite já supera o de grandes festivais; a multiplicação de marcas e iniciativas no universo da moda já faz a indústria repensar suas estratégia e linguagem; as pequenas galerias batem em relevância e público a arte velha e sisuda.
Como espelho de tudo isso, eventos importantes como a São Paulo Fashion Week e seminários de instituições estratégicas como o BNDES mergulham de cabeça no tema e buscam compreender o papel da diversidade cultural na economia. Vivemos um momento crucial, em que os operadores deste universo devem atuar de forma incisiva na defesa dessa realidade, para que a sociedade como um todo compreenda que todas as novas formas de expressão cultural merecem ser cultivadas. É necessário e urgente buscarmos calcular o quanto gira em torno dessa cultura alternativa que pipoca pelas ruas. Precisamos determinar qual o PIB DA TRANSGRESSÃO, para que possamos demostrar em números a importância desse fenômeno social.
Na cidade da grana, o universo da cultura alternativa se organiza para falar a lingua que São Paulo mais entende, e, dessa maneira, ativar a economia da criatividade. Os mais importantes clubes noturnos da cidade, por exemplo, criaram o movimento NOITE VIVA, para valorização da vida noturna. Em parceria com a Prefeitura já participaram do Aniversário de São Paulo e agora terão um palco na Virada Cultural. A disponibilização de postos de trabalhos noturnos para projetos sociais, um plano de incentivo ao turismo focado na noite paulistana, rotas de transporte público noturno e auxÃlio nos projetos de reurbanização de áreas degradadas já estão na agenda. Outro exemplo relevante são as exposições coletivas que a Galeria Choque Cultural promove. Recentemente os artistas mais importantes da arte urbana americana mostraram suas obras. Atualmente, uma ampla exposição com artistas japoneses em comemoração aos 100 anos da Imigração ocupa o local. Muito mais do que uma galeria, a Choque é uma agitadora que movimenta o mercado dessa arte, cultiva colecionadores e faz a ponte de vários artistas brasileiros para o mercado formal e internacional.
Iniciativas coletivas em busca de canais de mercado para novos criadores se multiplicam pela cidade. A Galeria Ouro Fino se reinventa a cada estação, a Galeria do Rock, já é de todos os estilos e gostos e cada vez mais atrai pessoas com poder de consumo interessadas em micro marcas. Inciativas como a Endossa - a loja colaborativa - e a esquina dos estilistas na Rua Bela Cintra, também apontam para isso.
Há algo de novo no ar. Algo relacionado com a base da nossa estrutura econômica e social. Novas relações de mercado, de formas de criação e de compartilhamento de conteúdo. No futuro, a economia baseada na cultura e na criatividade, será a base da mais rica cidade do Brasil. São Paulo está ficando mais bonita.
Adorei o texto. Ele dá um panorama que nem sempre podemos enxergar. Há tão pouco se decretou "o fim da História". Que nada! A História pode ser reinventada a toda hora (e está sendo!). A criatividade é realmente uma força inerente ao ser humano. Às vezes está presa, mas sempre pode despontar. É o que salva, individulmente e coletivamente.
E viva o Overmundo, que em si já é uma força criativa) e que nos ajuda a perceber que esses movimentos estão pipocando em toda parte, por esse Brasilzão. E, claro, no mundo todo.
A leitura é bastante contemporânea. Capta a essência da comunicação urbana e da produção cultural que se desenvolve nas brechas não vigiadas do sistema socio-econômico.
Abraços.
Engraçado... acabei de ler hoje um texto sobre o PIB cultural (ou a falta de inclusão da cultura no cálculo oficial) lá na versão eletrônica do Le Monde brasileiro... o link é este.
Abraços,
Felipe
é nesses pontos que são paulo dá um banho
provando por a + b o que é ser uma metropole (com tudo de bom que existe nessa condição) tomara que a rapaziada consiga se organizar cada vez mais e fazer das boas idéias um mercado bonito e limpo.
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