Plante uma árvore, escreva um livro e crie um game

Montagem
Brasonic, Super Magro World e a promessa Chaves Arena, em 3D
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Saulo Frauches · Rio de Janeiro, RJ
14/9/2006 · 204 · 12
 

Definitivamente, o mundo dos games tem produzido pérolas no esquema de produção colaborativa/independente... ...E iniciativas até mesmo da Microsoft no estilo 'faça você mesmo' sinalizam uma futura 'era punk' dos joysticks. Será?

Minhas divagações começaram quando tive uma comoção – para não dizer uma síncope chorosa-emotiva – ao ler sobre os 15 anos do Sonic, comemorados agora em junho. Pode rir, eu deixo. O pior foi me sentir o Matusalém nessa hora, porque vi, molequinho, o porco-espinho azul nascer, fazer a fama e afundar na lama com uns games caça-níqueis deprimentes nos últimos anos. Acompanhei tudo. Nem assim saio do fã-clube dele, Super Mario que me perdoe.

Para quem não sabe, Mario e Sonic foram uma espécie de Marlene e Emilinha Borba dos consoles de videogame nos anos 90. Como cada jogo era exclusivo para uma plataforma – Sonic era da Sega, Mario, da Nintendo – e ninguém podia ter um videogame que tivesse os dois jogos ao mesmo tempo (game pirata não conta!), as intrigas eram inevitáveis. A rivalidade era uma farofada que não deveria ser muito levada a sério, porque, na prática, os dois personagens estrelavam jogos viciantes; só que poucos admitiam curtir o mascote 'rival' do console que tinham (você está conversando com as lembranças de um garoto de 10 anos, aceite o discurso fatalista). Quem acompanha a história sabe o desfecho: a Sega, quebrada, parou de fabricar videogames – limitando-se a produzir jogos – e Sonic está sempre dando as caras nos consoles da Nintendo; e com muito sucesso. Voltas da vida.

Aí você me pergunta: qual a ligação entre um porco-espinho azul criado no Japão com o universo cultural brasileiro? Achei minha resposta, inicialmente, neste site. O endereço eletrônico simplesmente abriga uma série de fan-games – jogos elaborados pelos próprios jogadores e distribuídos gratuitamente pela rede. Um dos destaques é um game - de um brasileiro - intitulado Neo Sonic Universe, que segue a mesma estrutura das versões em 2D da série nipônica. Fuçando mais a página – e outras do mesmo gênero pela rede –, você descobre uma tonelada de games do Sonic – tem até RPG com o porco-espinho – e também do Mario. Todo mundo parece ser um potencial criador. Tudo bem que fazer um game é abissalmente mais difícil que criar um blog, mas não faltam sites a incentivar os gamers mais apaixonados, com tutoriais e sugestões de programas para se elaborar o próprio jogo. E a quantidade de versões de jogos feitos por brasileiros, sem compromisso comercial, apenas pelo prazer de criar e compartilhar a diversão com os outros, rende projetos inusitados.

O Brasonic é um exemplo de galhofa ambulante travestida em jogo de computador. No bojo das quase-infinitas versões de games 'sonic' criadas por fãs, esta se destaca por fazer um Sonic brasileiro. A cor azul do herói é trocada pelo verde-amarelo, os postes espalhados pelo cenário – quem servem como marcadores de fase – dão lugar a birutas de posto de gasolina. E um dos chefões a ser derrotado é um homem barbudo com 9 dedos na mão que ocupa a tela inteira (uau!). Se o similar japonês faz as aventuras em busca das esmeraldas do caos, o pé-rapado daqui corre atrás das raras notas de R$ 100 espalhadas no jogo. Quem disse que não dá para fazer crítica social com jogos eletrônicos? Ah, não comentei uma ilustre participação: o hermano Diego Armando Maradona faz uma ponta no game, que homenageia a fase mais fofa do desportista. Brasonic é uma das melhores sacadas feitas por fãs nos últimos tempos; uma continuação está em andamento, inclusive com fase carioca.

Dos fan-games existentes, entretanto, a produção brasileira mais famosa de todas é inspirada... ...no México. Mas é sobre um mito digno de nota. Quiçá um patrimônio nacional, perdoem-me os colegas lá de cima. Street Chaves, de 2003, deu tão certo que recebeu várias atualizações e novos personagens ao longo do tempo – uma das vantagens dos games feitos por jogadores-fãs é que constantemente são aperfeiçoados e ganham novas versões, ao contrário dos antigos jogos de consoles. Já deu para imaginar do que se trata? É um jogo de luta mano a mano, inspirado no clássico da pancadaria Street Fighter. Só que Ryu, Sagat e cia cedem vez a Dona Florinda, Nhonho, o hors-concours Seu Madruga e todos os outros do seriado criado por Chespirito – e reprisado desde os 40 minutos antes do nada na tela do SBT, como diria Nelson Rodrigues.

É catártico para quem sempre sonhou em dar uma coça na Bruxa do 71 ou fazer o Seu Madruga (Rei!) devolver todos os tapas que levou da mãe do Quico. Ver os caras dando voadoras giratórias e atirando bolas de magia azul é, no mínimo, pitoresco. Um jogo brasileiro estrelado por mexicanos dando golpes ninja-japoneses pode ser encarado como uma ode tropicalista. Foi um sucesso absurdo na época – os gráficos são legais e os comandos respondem bem, ponto essencial para um game colar. Criado pelo grupo CyberGambá, a turma do Chaves – principalmente o (Rei!) Madruga – é personagem principal das produções feitas por eles. O pai de Chiquinha, aliás, corre sério risco de se tornar o maior mascote desta geração brazuca de fan-games – sem dar brechas para italianos bigodudos e porcos-espinhos de semblante cool. É estrela desde jogos de plataforma – no maior estilo Mario – a adventures e RPGs.


Uma continuação da pancadaria gamística da turma do Chaves, agora com gráficos 3D, está em curso. Fan-games em três dimensões são mais escassos pela maior complexidade que envolvem. Ainda em estágio inicial, existem apenas dois personagens jogáveis - Chaves e Seu Madruga – e um cenário, a vila. Como ninguém ganha dinheiro para fazer estes games, nem é bom cobrar prazos. Eles simplesmente ficam prontos, assim, do nada, quando você menos espera.

Pelo visto, o trabalho destes desbravadores indica um caminho futuro: criar um jogo para videogame não será tarefa impossível. A Microsoft, por exemplo, anunciou recentemente que lançará uma ferramenta doméstica para a criação de games, voltada para PC e X-Box 360 – o último console da companhia. O público-alvo ainda é de pessoas com conhecimento especializado – nada receptivo à galera leiga -, mas aponta o fato de que um criador independente, cada vez mais, terá oportunidade de executar e exibir suas idéias ao público. De graça, o programa só coça no bolso do usuário que quiser integrar uma espécie de clube de desenvolvedores, com anuidade de U$ 99. Em troca, será possível trocar informações com outros criadores, além de facilidades para a elaboração do jogo. É possível deixar o produto final disponível na Xbox Live, rede que integra jogadores das duas versões do X-Box, com milhões de usuários cadastrados – fato que hiperboliza mais a chance de atingir um público específico. Se tal iniciativa é o estágio embrionário para um Youtube dos videogames, só tempo dirá. Gente disposta a criar é que não falta.

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Thiago Camelo
 

Melhor jogo modificado é o WInning Eleven Campeonato Brasileiro. (Pra quem não sabe, o Winning Eleven é o melhor jogo de futebol de todos os tempos, anos luz na frente de qualquer outro.). Com direito a placa de publicidade de empresas daqui, gritos de torcida personalizado, comentários do Falcão, Casa Grande e Arnaldo e narração do Galvão Bueno. O único problema é que não dá pra jogar direito, vc fica rindo o tempo inteiro.

Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 14/9/2006 19:49
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Saulo Frauches
 

Muito massa, Thiago. Essas versões piratex de WE são um barato. Lembro de uma em que os caras não trocaram direito os símbolos das seleções substituídas pelos clubes brasileiros... ...quando o Fluminense entrava em campo, a torcida 'tricolor' estava cheia de bandeiras argentinas! Mó sacanagem...

Saulo Frauches · Rio de Janeiro, RJ 14/9/2006 20:03
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Daniel Cariello
 

O WE modificado é realmente bacana, Thiago. O que é duro é agüentar o Galvão até no videogame. Prefiro a versão em japonês. Abs!

Daniel Cariello · Brasília, DF 15/9/2006 11:16
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FM. Vicentini
 

Saulo,
Como já fiquei pra trás há muito tempo com meu nintendinho, foi massa me atualizar. Seu texto é ótimo.

FM. Vicentini · São Paulo, SP 21/9/2006 19:43
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Fábio Fernandes
 

Concordo! Adorei o texto! Fiquei com vontade de dar meu depoimento sobre os arcades do começo dos anos 1980, que marcaram minha vida.

Fábio Fernandes · São Paulo, SP 27/9/2006 19:26
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Luana Selva
 

Nossa, quase chorei lendo sobre seu quase choro dos quinze anos do sonic. Eu era uma garota Nintendo (e admito que ainda sou), mas Sonic e aquele jogo do Mickey num castelo (desculpa, esqueci o nome) eram os únicos jogos da Sega que eu tinha que admitir que amava. Que bom que minha amiga era uma garota Sega, então eu podia me desfrutar. Eu achava Sonic TÃO rápido, e era tão triste constatar que, para os parâmetros de hoje é só um jogo comum... Graças a Deus a Nintendo se utilizou do porco espinho e agora ele tem um jogo extremamente rápido, que ocupa as duas telinhas do Nintendo DS .

OS jogos brazucas parecem muito promissor. É uma pena que eu não tenho esse amor tão grande por Chaves, mas, é verdade que é quase unânime na nossa geração, sendo o Seu Madruga o favorito de todos. O Brasonic, portanto, conquistou meu coração, irei experimentá-lo. Obrigada por ter trazido esses jogos ao nosso conhecimento aqui no Overmundo.

Luana Selva · Brasília, DF 28/9/2006 17:02
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Inês Nin
 

adorei saber dos sites que se propõem a ensinar a fazer games, mesmo que para iniciados.. e das iniciativas!! eu sempre preferi o Sonic ao Mario, sei lá por que, e marcou que Sonic Chaos foi o único jogo que eu zerei (eu não era assim muito persistente e não tinha em casa..). mas sempre senti que gostava mais do nº 2, algo assim. tuas lágrimas pelo Sonic me comoveram, hahaha :)

Inês Nin · Rio de Janeiro, RJ 29/9/2006 02:08
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Farion
 

Concordo com o Thiago. É muito engraçado. Mas o pior que eu vi foi um tocando música do Daniel na abertura, nem lembro qual era.
Mas, fora os comentarios do Galvão e Casagrande, e o merchandising da Skol, os gritos de torcida são um máximo. Estava jogando com meu time, o CAP, e a torcida gritava: "Furacão, eô, Atlético ô ô"..

PERFEITO!!

Farion · Curitiba, PR 19/10/2006 11:13
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diguinho
 

muito chato eu nao sei comu joga porra, alguem me fala comu se joga isso ....
eu ja to fikandu nervosooooooooooooooooooooooooooooooooo.......
fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

diguinho · São Gonçalo, RJ 19/10/2006 19:02
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Campestre
 

Eu sou o criador do BraSonic (agora BrazSonic), agradeço muito por falar dele por aqui.
Fazer um game bom, dá muito trabalho e demanda de tempo mas, esse esforço é recompensado por muitas horas de diversão, seja um fangame ou um game original.
Diguinho, que jogo vc não está conseguindo jogar?

Campestre · São José dos Campos, SP 29/11/2006 09:13
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Saulo Frauches
 

Oi Campestre! Me amarrei no game, que, aliás, foi um dos que mais me incentivaram a escrever este texto.

Luana, eu tô com vergonha de te responder tão tardiamente - jurava que já tinha escrito aqui. O game do Mickey para Mega e Master era o Castle of Illusion.
Tinha uma fase 'de doces', com paredes de chocolate. Sempre me imaginei perdendo a linha por lá se aquilo um dia virasse realidade heheh

Saulo Frauches · Rio de Janeiro, RJ 8/1/2007 16:10
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Campestre
 

eu tinha o Castle of Illusions do Mega, a fase dos doces era a minha favorita, também tem uma dessa no Castle of Illusions 2, aquele q vc joga com o Mickey e o Donald. Essa sim era legal!

Campestre · São José dos Campos, SP 21/1/2007 23:31
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