Em nossa época, testemunhamos uma profusão sem precedentes de mÃdias, gerando inúmeras especulações sobre o futuro da tecnologia e suas conseqüências sobre o ambiente humano. No caso especÃfico da prática musical, talvez uma das situações mais interessantes (e perturbadoras) geradas pela presença maciça de meios eletrônicos e computadorizados seja a relativização das distinções entre compositor-executante-ouvinte (bem como uma expansão das possÃveis interações entre estes). Tal relativização está diretamente ligada ao surgimento do registro fonográfico, como podemos exemplificar a partir de uma concepção do compositor norte-americano Jonathan Kramer. Para este autor, um equipamento de reprodução (enquanto uma tecnologia que proporciona ao usuário um controle considerável sobre o contÃnuo sonoro) não difere significativamente de ferramentas composicionais eletrônicas. Ao contrário da partitura tradicional (um meio com base na visualidade), o registro fonográfico faculta aos compositores criar suas obras diretamente sobre um suporte definitivo, o que vem estimulando a interdisciplinaridade e permitindo que leigos desempenhem um papel que vai além da condição de ouvinte. De forma semelhante, as interfaces de softwares musicais não apresentam necessariamente grandes contrastes em relação a interfaces de programas de uso mais geral (editores de texto, navegadores, etc.), o que facilita o acesso de usuários comuns à criação musical. Assim, práticas distintas acabam por compartilhar recursos semelhantes para criação e reprodução (por exemplo, DJs e compositores de música eletroacústica), o que favorece o intercâmbio de contextos e referências (por sinal, um dos principais desafios da nossa época). Em nossa opinião, a faixa de produção habitualmente chamada de música popular apresenta caracterÃsticas afins com o acima exposto, dada sua permeabilidade à s influências mais diversas. Segundo o antropólogo Rafael José de Menezes Bastos (no artigo Músicas Latino-Americanas, Hoje: Musicalidade e Novas Fronteiras), a música popular (para ele, conseqüência direta do advento do registro fonográfico) configura uma linguagem dialógica e desterritorializada, capaz de incorporar o passado e postular o futuro, e cujas relações se dão tanto por contraste quanto por inclusão, favorecendo uma grande conversa mundial de sistemas musicais.
Em tais contextos de hibridizações sonoras, a tecnologia (seja ela qual for) já não pode ser considerada apenas enquanto ferramenta, sendo urgente perceber sua influência sobre o pensar composicional. Este quadro de redefinição de papéis vem revelando oportunidades insuspeitas de composição e interpretação. Vive-se uma época de transição, e, como é caracterÃstico de tais perÃodos, as possibilidades ainda são emergentes, não sendo de todo perceptÃveis. Para Kramer, tal transição se completará apenas quando as pessoas estiverem aptas a confrontar o impacto total da revolução tecnológica.
Em acordo com tais idéias, o projeto ElectroQwerty funciona como um laboratório com a proposta de criar obras que atuem como um recurso de sondagem do ambiente, contribuindo no processo de criação de novos referenciais e na observação de suas conseqüências (ou seja, uma atitude experimental frente a novos desafios, uma vez que as forças atuantes no atual contexto tecnológico ainda não estão de todo claras). Com ênfase no estÃmulo a novas percepções e cognições, é estabelecido um ambiente de criação pleno de possibilidades e de descobertas pessoais. Produtores de diversas áreas (DJs, roqueiros, programadores, músicos acadêmicos, designers, professores) configuram uma oficina voltada para a pesquisa de resultados sonoros diferenciados, onde atividades lúdicas e prática especializada se complementam (inclusive com a participação de leigos e crianças). A partir de um núcleo de coordenação (Marcelo Birck, Antônio Nunes e Luciano Flores), são propostas estéticas demonstrativas do potencial da tecnologia na experimentação de sonoridades inéditas, e que raramente se encaixam nos meios habituais de difusão e comercialização. O processo inclui áudio-games, instrumentos virtuais, algoritmos, remixes, colaboração à distância, licenciamento alternativo e interação com outras artes. Noções de finalização e autoria são incorporadas a um contexto mais amplo através de técnicas de criação coletiva, onde computadores são usados como catalisadores para um intercâmbio de práticas e recursos (pop/música eletroacústica, ruÃdos/freqüências, ritmos/texturas, digital/analógico, base gravada/execução ao vivo, intuição/mensuração, escrito/gravado).
Os resultados estão sendo disponibilizados no perfil do projeto no MySpace.
AHAHAHAH, ótimo comentário! Temos que te convidar pras atividades do ElectroQwerty! Valeu, e muito zxcvb pra ti!
ElectroQwerty · Porto Alegre, RS 27/5/2007 13:32marcelo birck indicou, escutei, votei. simples assim.
glerm · Curitiba, PR 28/5/2007 13:38achei meu comentario inutil mas tudo bem, ja fiz o voto. chega de votos.
glerm · Curitiba, PR 28/5/2007 13:40
...som batuta...e o carinha do teclado tem só 12 mesmo?
Com certeza, Helder. Mas não é exatamente um teclado, é um instrumento virtual criado para ser tocado até mesmo por pessoas sem formação musical.
ElectroQwerty · Porto Alegre, RS 28/5/2007 21:01como vcs mesmo dizem: "a fuder!!!!"
diginois.com.br · Rio de Janeiro, RJ 28/5/2007 21:28Esse instrumento virtual é que é uma incógnita. Se até o Lucas Pimenta tocou, fica a pergunta: e a gente? Toca aonde? Essa colaboração à distância já é possÃvel ou tá apenas nos planos ainda?
Lia Amancio · Rio de Janeiro, RJ 29/5/2007 00:30Grande Lucas, legal que curtiste. Lia, a colaboração à distância já é possÃvel, basta a galera se manifestar, que a gente se organiza por aqui. E sim, o teclado virtual pode ser tocado por qualquer um. Estamos adaptando a interface depois das primeiras experiências, quando estiver pronta podemos mandar o arquivo. Roda em um programa chamado Pure Data
ElectroQwerty · Porto Alegre, RS 29/5/2007 09:51
Bah, muito desafiador isso aÃ.
Faz a gente questionar vários parâmetros musicais, sem dúvida.
Massa! Toda inovação e experiência é bem vinda.
Curti esse lance da interatividade musical a distância.
Boa caminhada!
Cara muito boa essa proposta de explorar essas novas possibilidades e flexibilizar as fronteiras da produção artÃtica, estava muito curioso para conhecer grupos estivessem trabahando nessa perspectiva, vou procurar e sacar mais sobre isso. Abraço.
Filipe Barros · Recife, PE 29/5/2007 16:00Legal Filipe, se tiver qualquer informação que possa acrescentar, nos comunique. Valeu!
ElectroQwerty · Porto Alegre, RS 29/5/2007 18:50
Caro,
a idéia do seu projeto me animou muito! Sou músico e proto-estudioso da Internet, então me identifiquei muito com a iniciativa.
Vou mandar uma mensagem para você para passar meu contato e tal, mas já adianto umas idéias e questionamentos.
Parabenizo a iniciativa. A meu ver, a colaboração virtual só tem a acrescentar e ensinar a quem participa, seja ativa ou passivamente.
A premissa teórico-crÃtica de vcs é interessantÃssima, mas ela não se esvazia um pouco sem uma proposta mais objetiva? (Pergunto apenas lendo o que vc postou e ouvindo a página do Myspace, então por favor perdoe qualquer erro crasso).
Já comecei a ler e vou debulhar esse sistema Pure Data, que não conhecia. =)
Abçs
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