Quadrinistas potiguares colocam as mangas de fora

Divulgação Reverbo/Todos os direitos reservados
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Yuno Silva · Natal, RN
18/8/2006 · 181 · 12
 

Foi-se o tempo que histórias em quadrinhos eram vistas apenas como entretenimento infanto-juvenil. Na verdade, as HQs sempre foram levadas muito a sério por uma seleta parcela de jovens, e nem tão jovens assim, leitores. Por trás da Disney e da Turma da Mônica há muito mais sustança do que se imagina.

Certo, tem os super-heróis e toda a corja de inimigos que querem sempre dominar o mundo a qualquer preço; do outro lado os mangás (quadrinhos estilo japonês) com seus cabelos espetados e roteiros mirabolantes de (verdadeiras) novelas que tomaram de assalto adolescentes ocidentais. Mas os quadrinhos vão além: ficção, terror e erotismo também ocupam um lugar de destaque na estante de colecionadores, especialistas e ávidos 'devoradores' de HQs.

Moebius, Manara e Hugo Pratt são alguns dos nomes já clássicos dos quadrinhos mundiais, que marcaram época e fizeram escola. No Brasil, Carlos Zéfiro e suas mulheres sensuais povoaram o imaginário masculino nos anos 1950, e seus desenhos até hoje enrubescem as maçãs do rosto de muita gente.

Internet versus quadrinhos = cinema

Não podemos negar que a indústria da HQ perdeu terreno com a chegada da internet, prova disso são as constantes adaptações de personagens de quadrinhos no cinema (Homem-Aranha, Batman, Superman e Hulk, só para ficarmos nos hérois norte-americanos mais famosos) passarem a ser a principal fonte de renda dos grandes estúdios como Marvel e DC Comics.

Paixão antiga (a primeira HQ, dizem os estudiosos, foi “Takes a Hand at Golfâ€, de 1897, outros defendem "Yellow Kid", de 1895, a primeira a utilizar o recurso do balão com uma narrativa visual seqüenciada) e globalizada, os quadrinhos também inspiram — como não poderia deixar de ser — ilustradores e desenhistas potiguares, ainda mais depois que o paraibano Mike Deodato ganhou fama mundial como o atual responsável pelos traços do 'verdão' Hulk.

“Com o advento da internet, as fronteiras geográficas deixaram de ser um obstáculo para profissionais dessa área. Hoje em dia os grandes estúdios têm colaboradores espalhados por todo o mundoâ€, informa Lula Borges, 34 anos, quadrinista profissinal há mais de 10 anos e principal articulador do selo Reverbo e da agência Cosmic Team Creation em solo potiguar.

Organização para entrar no mercado

O selo/editora ainda é pequeno, atualmente tem apenas uma revista circulando - a Brado Retumbante (de circulação nacional) — e alguns zines com a chancela da Reverbo. O selo também chegou a publicar alguns números da BIO 47, um esquadrão de heróis brazucas. "Entre as colaborações, destaco o herói Lobo Guará, criado pelo paraibano Carlos Henri", completa Lula.

Oficialmente a agência é formada por Lula Borges, Wendell Cavalcanti, Carlos Alberto de oliveira, Washington Fontes e Victor Negreiro, todos do RN. Em Pernambuco a Cosmic agrega Leo Santana, Cidclay Laurentino, Milton Estevam, José Henrique e Ricardo Anderson. “Cada um tem seu próprio estilo (cartoon, comics, mangá, realista) e uma área de atuação específicaâ€, esclarece Borges, mais afeito à colorização.

“O Wendell prefere trabalhar com histórias futuristas, já o Washington é especialista em ilustração de capa, Carlos Alberto domina bem a diagramação e é arte finalista, e o Victor Negreiro é mais da área publicitária. Temos que trabalhar em sintonia para nos destacarmos no mercadoâ€, diz o quadrinista. Borges lembra de outro colega, ex-Cosmic Team Creator, J. B., que hoje é artista exclusivo do estúdio paulista Lynx.

O resto da turma também começa a chamar atenção de 'gente graúda': o próprio Lula está em fase de testes no estúdio Impacto Quadrinhos, também de São Paulo. “Estou recebendo alguns trabalhos de colorização e arte finalâ€, pontua. Borges também colabora com a HQ do personagem Tristam, criado pelo quadrinista capixaba Estevão Ribeiro. “Estamos tentando exportar as histórias do Tristam, tudo é investimentoâ€, diz – nesse projeto o potiguaré responsável pelas cores do herói.

Os quadrinistas citaram outros estúdios que também estão abertos à colaborações: “Nos Estados Unidos (principal mercado consumidor de quadrinhos do mundo) tem o ProRoom, que produz material erótico. É só mandar a idéia e aguardar para ver se os desenhos e o argumento são aprovados. Outro é o Infinity Uprising, que está mandando roteiros e definição de personagens para ver como é nosso trabalho, e o estúdio Dark Commands, especializado em ficção e terrorâ€, lembra o grupo, que se reuniu na Garagem Hermética Quadrinhos, única loja especializada em HQ de Natal.

Heróis versus ETs

Segundo a explicação do pessoal, a principal diferença entre quadrinhos norte-americanos e europeus é estética. “Nos EUA os heróis predominam, enquanto que as histórias de ficção são as preferidas dos criadores europeusâ€, explica Lula. “Outra grande diferença é o sistema de produção: os norte-americanos trabalham num esquema industrial, vários desenhistas e colaboradores são mobilizados para lançar um novo álbum a cada mês. Já os europeus trabalham de forma mais solitária e o produto final é bem mais autoral, tem álbum que pode levar um ano para ser lançadoâ€.

Questionado sobre o futuro dos quadrinhos brasileiros, a resposta está pronta na ponta da língua: “HQ é coisa séria e gera toda uma cadeia produtiva. Temos bons autores e bons desenhistas, o que precisamos é mais incentivo do poder públicoâ€, acredita Carlos Alberto, que na década de 1980 publicava um fanzine com quadrinhos seus. “Foi um período engraçado, lembro que desenhava tudo sozinho, usava vários estilos e assinava com pseudônimo esperando que outras pessoas também colaborassem. Acho que ninguém nunca mandou nada por achar que estava tudo muito bom daquele jeito mesmoâ€, diverte-se o artefinalista e diagramador.

Esquema simplificado para produção de um HQ

1.idéia inicial
2.roteiro
3.definição dos personagens
4.criação propriamente dita
5.quadrinização em grafite/diagramação
6.edição
7.arte final
8.cores
9.letras
10. impressão
11. distribuição

>>> leia mais sobre HQs

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Thiago Camelo
 

Tem uma colaboração bem bacana sobre o Carlos Zéfiro aqui no Overmundo.

Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 15/8/2006 17:07
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Thiago Camelo
 

Ah! Vale muito a pena dar uma passeada pela tag quadrinhos para se ter um panorama do que vem sendo produzido Brasil afora.

Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 15/8/2006 19:02
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Yuno Silva
 

valeu Thiago, dica anotada

Yuno Silva · Natal, RN 16/8/2006 09:25
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Milena Azevedo
 

Oi, Yuno!

Rapaz, o texto está legal (muito obrigada por divulgar o trabalho dos meninos!), mas eu, como historiadora, tenho que fazer uma ressalva no tocante ao "primeiro quadrinho da História". Bom, há várias linhas teóricas, posso destacar duas delas:

a) a que entende história em quadrinhos de uma forma genérica (e abrangente), como uma narrativa visual seqüenciada, e aí toma como seus primórdios as pinturas nas cavernas (Lascaux e Altamira), a Coluna de Trajano (Roma) e a Tapeçaria de Bayeux.

b) a que entende história em quadrinhos como uma narrativa visual seqüenciada, sendo caracterizada por balões, requadros e calhas. Para essa corrente, o Yellow Kid é a primeira história em quadrinhos (pois foi o primeiro a utilizar o recurso do balão propriamente dito), datada de 1895.


No mais, o século XIX foi o período no qual vários quadrinhos surgiram:

(1827) - Monsieur Vieux-Bois, do suíço Rodolf Töpffer (aqui já aparecem os balões, segundo o Prof. Waldomiro Vergueiro)

(1865) - Max und Moritz, do alemão Wilhelm Bush

(1889) - Famille Fenouillard, do francês Georges Colomb (ou Christophe)


Fonte: MARNY, Jacques. Sociologia das histórias aos quadrinhos. Porto: Livraria Civilização-Editora, 1970.

Milena Azevedo · Natal, RN 16/8/2006 21:45
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Milena Azevedo
 

Ah, também tenho outra observação no que diz respeito a HQs x Internet. Sei que o assunto é um tanto quanto "polêmico", mas na minha opinião a facilidade que se tem hoje de baixar scans de HQs importadas e nacionais não fez com que o quadrinho "real" (de papel), perdesse espaço para o "virtual". Ler HQs na tela do computador é "um saco" (só se for algo bem raro...), além do mais, nada como o hábito salutar de folhear as revistas e ficar vendo as estantes abarrotadas com as coleções. Prefiro entender que a Internet abriu portas para se ter acesso a material raro ou para o colecionador ver se aquele quadrinho que ele queria adquirir vale mesmo a pena (e não podemos esquecer que facilitou e muito para os artistas da área, que podem fazer trabalhos para o exterior, na comodidade de seu lar).

[]s,
Milena

Milena Azevedo · Natal, RN 16/8/2006 21:56
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Yuno Silva
 

opa Milena, já adicionei a questão da primeira HQ ao texto.
Valeu mesmo as dicas e explicações.
abraços,

Yuno Silva · Natal, RN 17/8/2006 13:40
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georgesaraiva
 

Eu sou um grande fã dos quadrinhos, Salve Crumb, Eisner, Alan Moore e todos os gênios! bom texto!

georgesaraiva · Guarapari, ES 21/8/2006 14:37
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Letícia Lins
 

Delícia de texto.
Também sou fã dos quadrinhos.

Letícia Lins · São Bernardo do Campo, SP 12/11/2006 23:40
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Yuno Silva
 

oi Letícia, muito legal esse intercâmbio do desenhistas. De repente vc conhece um grupo aí e articulamos um intercâmbio com a turma aqui em Natal.

Yuno Silva · Natal, RN 13/11/2006 12:46
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Letícia Lins
 

é o que mais conheço Yuno. É só começar interagir.

Letícia Lins · São Bernardo do Campo, SP 13/11/2006 13:21
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Yuno Silva
 

opa maravilha!!! a Milena que tb comentou por aqui é a responsável pela única banda especializada em HQs de Natal.

Yuno Silva · Natal, RN 13/11/2006 13:55
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Letícia Lins
 

Já tô procurando uma galera de boa vontade por aki hein!

Letícia Lins · São Bernardo do Campo, SP 22/11/2006 00:06
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