Humor rasteiro, sem criatividade, fácil de fazer, invendável, exacerbadamente regional e sem consciência social. Original, engraçada, bem escrita e pensada, visionária, libertária e universalmente regional. Estas são algumas das qualidades atribuÃdas a revista Quase.
Amada, odiada e eleita a melhor publicação capixaba no ano de 2002, a polêmica revista em quadrinhos independente acumula ameaças de processos, desafetos e fãs. Mas, paradoxal é o verdadeiro atributo dessa revista que, sim promove a chacota indiscriminada, irresponsável e assumida, mas que também tem a coragem de colocar o dedo na ferida.
O inÃcio
A coisa começou assim: quatro estudantes de Comunicação Social da UFES se encontraram em uma oficina ministrada pelo animador Otto Guerra, durante o Festival Vitória Cine VÃdeo, no final de 2002. O contexto era a independência. O objetivo era experimentar. A causa era não levar nada a sério, inclusive a si mesmo.
Um ano depois, estava pronta a revista Quase número zero. Metade da grana investida veio dos apoiadores, a outra metade do bolso. E, na opinião dos próprios caras, a primeira edição é "um conjunto de coisas prontas, sem linha editorial". Mas fundamental para a definição do que viria a ser a HQ hoje, uma revista de humor.
Em setembro de 2003, ficou pronta a # 1. E além dos quadrinhos, surgem as entrevistas e a maravilhosa seção de cartas, onde eles de forma imatura e infantil desrespeitam gratuitamente os leitores. A seção tornou-se um clássico da revista, e vieram as camisas com a temática Sem Escrúpulos, numa paródia a campanha de uma famosa grife. Preguiça, indiferença, rancor, egoÃsmo e prepotência estampavam a primeira leva, um sucesso.
As entrevistas, o prêmio na mÃdia local, o esporro homérico da mãe da Luli, ex-integrante da trupe, o sucesso da festa de lançamento e a indicação ao Prêmio Ângelo Agostini, um dos mais importantes do segmento no paÃs, levaram os rapazes a continuar a empreitada. SaÃa do forno a Quase número 2, e começavam os problemas.
O Gabriel, um dos criadores, quase foi demitido pois fez piada com a empresa onde trabalhava. Juliano, editor, teve problemas com a cunhada, vocalista de uma banda local. A igreja Maranata não ficou nada feliz com o anúncio da celebração de um casamento gay, sob a foto que dois desavisados integrantes mandaram para ser publicada. E a campanha Anti-Capixabismo, não planejada, se iniciava.
Na capa, caricaturas de artistas locais, protótipos universais e Ãcones atemporais, como o diabo. Um saindo de dentro do outro, pela boca, numa regurgitofagia antropofágica. Almeida, entrevistado na edição anterior, se tornava crÃtico e fazia uma resenha de uma banda local. Na página 14, uma lista de 100 motivos para odiar o EspÃrito Santo.
Os meninos alegam que não houve premeditação. "Não pensamos oba, vamos sacanear os capixabas, mas somos daqui e esse Estado é um prato cheio. A gente publica as bobagens que a gente fala. Inclusive, não sabÃamos que as pessoas iriam ler, por isso horrorizamos tanto. Não sabÃamos do alcance."
Começavam também os episódios inusitados vividos pelos criadores. Foram abordados pelo membro de um diretório acadêmico, que discursou "O movimento estudantil já tem tantos problemas, e agora isso". Dois deles participavam de um programa em uma rádio, quando o vocalista de uma banda de reggae telefonou e, ao vivo, censurou os cartunistas. No mesmo dia as edições se esgotaram em alguns pontos de vendas.
E na edição # 3, eles trataram de agradecer pela publicidade espontânea. E aproveitaram a data comemorativa, aniversário de um ano, para lançar as camisetas Anti-Capixabismo com slogans que depreciavam um ritmo e um prato da culinária local, e outro que continha uma mensagem ecologicamente incorreta. E mais uma vez, o tiro saiu pela culatra. Por causa das crÃticas, os meninos ganharam novamente um bom espaço na mÃdia.
Sem limites
Na número 4, o Jovem Juliano (alter ego do editor) morre, encontra Deus, um pônei, e termina no peculiar inferno criado por ele mesmo. Daniel, outro idealizador da revista, visita igrejas e publica o teste inmetro do exorcismo. Na capa da Quase # 5, A Paixão de Keka, cartunista crucificado pela oposição. As reclamações continuam e eles são taxados de racistas, fascistas, niilistas e respondem "As pessoas que não gostam da revista, a levam mais a sério que a gente".
Afirmação que se comprova com o evento de lançamento que eles promoveram para divulgar a número 5. Num clube, ringue armado e uma luta livre clandestina que revelou e catapultou o personagem Homem Galinha ao estrelato. Todos os culpados pela Quase vestidos com roupas ridÃculas, lutando no melhor estilo telecatch.
Dezembro de 2004, sétima edição, número 6 da publicação e a Mônica e a Magali re-interpretadas na artÃstica capa. A avó do Daniel comprou 60 revistas na tentativa de tirá-la de circulação por cauda da piada com o papa. Mesmo mês, dia 25, a rapazeada assistindo a O bebê de Rosemary, toca o telefone. Era o advogado de um grande empresário capixaba pedindo que a revista fosse imediatamente retirada das bancas.
Nessa mesma época, a avó de outro integrante pediu ao neto que saÃsse da revista, se livrasse da má influência e voltasse a ser puro. Ele não só continuou na HQ, como se travestiu novamente de Homem Galinha no lançamento da edição número 7. Mais luta livre, e outra capa instigante anunciando a chegada da Paneliga de Artistas Capixabas Paladinos.
Só que passou a ser legal ser zoado pela revista, e eles resolveram então expandir o universo das piadas. Mas claro, sempre atentos ? sua aldeia, e respeitando os últimos românticos que continuam detestando a publicação. Vale ressaltar também os anúncios especÃficos, criados pelos próprios redatores, para os apoiadores, e que se integram perfeitamente ao contexto da HQ.
A # 8, por enquanto, é a ultima edição da Quase que ora é bimestral, ora é trimestral. O lançamento foi numa casa de strip-tease, onde aproveitaram para divulgar o site . Na capa, e na matéria principal, uma entrevista com Rodrigo Lima, do Dead Fish. Muitos elogios, e a primeira verdadeira crise: sai um integrante.
Porém, os caras não se dão por vencidos, e lançam um concurso para substitui-lo. Visite o endereço da Quase na web para maiores informações. E aproveitem para comprar as revistas. Lá tem todos os pontos de vendas no ES, RJ, SP e GO, e em breve eles vão colocar as edições esgotadas pra serem baixadas em PDF.
Eu fui testemunha. Já vi gente lendo a Quase e gargalhando sozinho, coisa rara hoje em dia. E pude constatar, entrevistando os bons moços politicamente incorretos, que para eles não há limite. "Não vamos deixar de colocar uma piada porque é moralmente inaceitável colocá-la. Ãs vezes a graça aumenta quando você percebe como é perversa a piada", afirma Daniel.
Se houvesse correio lá onde Nietszche está, eu enviaria um exemplar. Não sei se ele ia morrer de orgulho de ver esses meninos rompendo com a moral estabelecida, ou se ia morrer de inveja por não ter pensado nisso antes. Moral: do latim, "morus", significando usos e costumes. Seja qual for a sua opinião a respeito dessa publicação, é fundamental que, no mÃnimo, você pense a respeito do significado dessa palavra.
Digo isso porque muito provavelmente alguma piada vai te incomodar. Vai te fazer rir nervoso e pensar. Através do humor, por vezes escatológico, imaturo, gratuito, eles te levam a colocar os neurônios pra trabalhar, e a ver que o valor das coisas nós é que damos. E que conhecer a vida implica em sair da longa e antiga negação da vida que toda a moral até hoje produziu, como escreveu certa vez o bigodudo citado no parágrafo acima.
Deu uma vontade de ler, vou propor a eles um contrabando aqui para Aracaju... hehehe
Marcelo Rangel · Aracaju, SE 23/7/2006 16:25
Marcelo, se você ler, vai ficar com mais vontade ainda de ler.
Vai até o site (link na matéria) e vê qual é. Na verdade, eles estão aumento devagarinho a distribuição, mas rola eu acho.
É bom demais, você vai chorar de rir.
Ana, acabo de descobrir que eles até já ganharam prêmio aqui!!! Pelo jeito, o Overmundo realmente faz circular a informação, hein? Tô adorando, rolando de rir...
Marcelo Rangel · Aracaju, SE 1/8/2006 21:23A Quase com certeza é disparada a melhor publicação capixaba... até porque também não temos muitas publicações boa também..
Felipe Corrêa · Vitória, ES 2/8/2006 10:00
Eu sou uma dessas que leu a Quase gargalhando sozinha várias vezes... e muitas vezes da mesma piada!
Queria ter todos os números, aquela dos cineastas é impagável.
Marcelo, não sei se o prêmio que eles receberam aà tem a ver com a matéria, mas que o overmundo faz circular a informação e que a revista mata de rir, não há dúvida.
Ana Murta · Vitória, ES 29/8/2006 13:27Marcelo, não sei se o prêmio que eles receberam aà tem a ver com a matéria, mas que o overmundo faz circular a informação e que a revista mata de rir, não há dúvidas.
Ana Murta · Vitória, ES 29/8/2006 13:27
FELIPE, não sei se é a melhor publicação capixaba (deve ser), mas com ceretza é a mais engraçada.
TINA, eu vi. Você realmente riu muito. Pra comprar, vá até a página da quase. (tá na matéria)
Gente... na boa, acho que esse Estado precisa da Quase. Nós precisamos de opções diferentes de dar risada, sempre! Adoro a trupe da Quase.
carol veiga. · Vitória, ES 6/9/2006 14:49Eu morri de rir, o site esta fora do ar. Sera alguma piada da trupe? Ou sera que eles foram tirados do ar. Eu, honestamente, quero ver se eh bom mesmo. Pq ficou parecendo que eles ja viraram uma unanimidade entre as cabecas pensantes e falar mal deles virou uma especie de "declaracao de babaquice". Enfim, vou esperar eles voltarem ao ar pra conferir por mim mesmo.
Roberto Maxwell · Japão , WW 18/5/2007 11:03
Li essa matéria na UOL e a primeira coisa que lembrei foi da quase http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u85860.shtml
É realmente uma pena que esse sÃtio não seja em Cariacia, senão poderia até ter uma propaganda na revista. Seria uma febre para a liga dos engajados pró-identidade-indÃgena da ufes!
Onde podemos contactá-los???
Keka lançou revista e nem fiquei sabendo pô ...nesse mundo da informação ... assim não pode ...assim não dá...ehehe
Carol, eu também me divirto com essa trupe.
Eriton, valeu.
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