Ainda não nos conhecÃamos pessoalmente, até aquele momento apenas nos falávamos por e-mails e telefone, marcamos a entrevista numa noite de sábado, que seria um pouco antes do show do Ebinho Cardoso que aconteceria ali perto.
De longe, quando cheguei ao local especificado, vi um cara com uma certa estranheza, num bar sujo postando uma cerveja na mesa de plástico e um copo na mão, andei um pouco à frente, ainda de longe, ele me viu e levantou a mão, como que se me conhecesse. "Iaê, cara, beleza", eu disse.
Ele respondeu com as mesmas saudações que as minhas olhando pra minha camisa, onde era pintado um certo cantor folk americano chamado Bob Dylan, ele já perguntou se eu estava usando a camisa por ele gostar do cantor, tomei um susto, encolhi, falei que não, tentei convencê-lo de que era apenas uma influência de um pretenso jornalista.
Sentamos e começamos uma pequena conversa sobre qualquer assunto, perguntas vagas que só serviram para quebrar as formalidades que ainda existiam. Disse a ele como seria a entrevista, tirei o gravador do bolso, coloquei na mesa, e logo depois, na sua perna, em função da música alta que rolava no bar.
A música não era as das melhores, das vezes que me lembro, ouvi a voz do Marrone, que faz par sertanejo com o Bruno, nada contra o ritmo! Já criando o clima da entrevista, comecei com perguntas básicas, indagando-o sobre como foi e por que a idéia de uma banda folk em Cuiabá, pelo fato de não ser comum.
Ele me olha espantando e diz: - cara, é uma coisa de momento, se fosse hoje, por exemplo, eu não sei de faria! Na hora pensei, como assim? O que eu iria perguntar mais? Mas ele continuou: - mas há cinco anos isso fazia muito sentido pra mim, e não era uma banda, então, eu não esperava que chegasse às proporções de hoje, justamente por que nunca foi uma banda de verdade, e que tocava folk em Cuiabá.
Continuei perguntando sobre a aceitação do público cuiabano, como foi até alguém gostar do show, pois sabe-se que folk não é um tipo de música que um cara de 15 anos escuta em casa? Cara, passamos um ano aqui e foi bem estranho, respondeu e continuou, a gente tocava em festas com oito bandas, e todo mundo de metal, rock e tudo mais, quando entrávamos era aquela coisa bizarra, até por que nós ainda tocávamos sentados, hoje a gente é até meio rock, (meio, não muito) mas na época não era nada rock, foi mais na coragem, com a cara mesmo. Tinha gente que gostava, que falava bem, mas a gente já foi até ameaçado, muitas vezes, o cara vinha e dizia: - põe peso nessa porra, viraram a caixa uma vez, mas não foi suficiente pra tirar nosso fôlego.
E quando a banda sentiu que ia dar certo? Eu nunca achei que fosse chegar ao publico de verdade, mas no Grito Rock de 2005, (nossa, parece que faz muito tempo), a gente ganhou o festival pelo voto popular, aà eu comecei a desconfiar e "oh", fez ele uma cara estranha, vimos que podia dar certo, lembrava.
A essa altura, a entrevista já estava solta e já nos sentÃamos a vontade, novas cervejas estavam na mesa, já existia um ar de velhos conhecidos.
Antes da entrevista, escutei algumas musicas do Hélio sem banda, quando ele ainda andava com um violão de baixo do braço pelo bairro, por festas. Perguntei sobre a vida sem muitos ensaios, de como é tocar o que gosta e sempre sozinho, ele diz que antes do Vanguart, tinha outra banda, só que achava a maior besteira, "pensei até em desistir da música por que era uma galera que não tava no mesmo clima que eu, e que não queria tocar as mesmas coisas e isso desanima muito, e deve ser por isso que as bandas acabam" disse. Então decidi ficar sozinho, justamente pra não "caguetar" ninguém, era um saco mesmo, ter que marcar ensaio, sozinho eu não precisava ensaiar, era só compor minhas musicas e gravar sozinho em casa, falava.
Mesmo com toda essa aversão a ter uma banda, pensei como então ele formou uma, como foi o processo de se acostumar a tocar com eles, como um foi se chegando ao outro, ele quis me contar a história desde o começo, disse que o computador dele não tava mais gravando, então ligou pro Reginaldo, que já era velho amigo das antigas, e pediu: - Cara, posso gravar meu disco a� Ele aceitou e produziu comigo, gravou bateria em duas músicas e ficou palpitando, fez toda a coisa burocrática. Mas ainda não era uma banda, era só alguém dando uns toques.
Aà foi dando certo, um certo dia eu liguei pra ele novamente pra fazer um som falando: Vamos tocar junto ali! Só pra tocar mesmo, porém a relação que criamos foi tão boa que me fez voltar a acreditar que uma banda poderia ser legal, e deu certo. Os outros vieram depois e, engraçado, o Reginaldo foi o último a entrar oficialmente, que foi depois da saÃda do Júlio, o nosso primeiro baixista. Depois que formamos a banda, tive que me adaptar mais uma vez, pois meninos são muito bons musicalmente, e eu sou tosco, aà eu comecei a passar vergonha, eu não sabia afinar, por exemplo, no meio do show se o violão desafinasse, eu tinha que chamar o David e ele afinava, aà eu resolvi, comprei um afinador, hoje eu já sei afinar, mas isso é só um exemplo.
Eu nunca estudei música, e acho que nem vou estudar, mas querendo ou não, tocando 2 anos seguidos com uma banda boa a gente aprende muito, ainda mais eles que já sabem muito. O Douglas é macaco velho, o Reginaldo e o David estudaram um pouco e o Lazza é muito intuitivo, ele toca tudo, tanto é que essa é a primeira banda que ele toca teclado, ele se propôs a aprender, se aperfeiçoou e tá até hoje segurando.
A partir daà a entrevista já estava no supra-sumo, na história o Vanguart já ficava bem conhecido aqui em Cuiabá, e também em outros estados. Numa dessas viagens, em passagem por São Paulo, foram encontrados pelo pessoal da MTV, no qual resultou na apresentação no programa MTV Banda Antes, e depois, na Tour do Banda Antes, quando perguntei sobre, ele deu um pulo: - Caaara, foi surreal o negócio, quando a gente voltou de São Paulo, o produtor chamou a gente pra tocar na festa da Tour, depois soubemos que não teria mais a festa, a gente ficou maior "deprê", mas aceitamos tocar na festa.
Na hora do show, já no dia da tal festa, o Daniel Beleza me chamou e disse: A galera da MTV tá toda aÃ! Como se ele me dissesse, faz um "showzão", aà eu falei, beleza! O show foi uma droga, totalmente tosco, muito ruim, arrebentou corda, o palco desligava os instrumentos, o som do teclado e do violão sumia de repente, tem uma parte que no meio da música o Lazza percebe que o teclado tá desligado, levanta e vai até o outro lado do palco e aperta o botão "ligar". Totalmente bizarro! Quando acabou, assim que desci do palco veio um produtor e uma mina da MTV falar comigo dizendo pra gente gravar já no sábado (era segunda) aà eu falei: - Ôh louco!! Vocês vão tá aÃ? Ela me perguntou, eu falei vamos, vamos, claro. Então gravamos o estúdio, isso era março, a turnê só rolou em julho.
Nesse momento o Hélio já puxava toda a sua memória. Continuei perguntando sobre a turnê, sobre ficar famoso, sobre os "fãs" que iam falar com ele, pessoas até mesmo distantes, que moravam em estados longÃnquos. Ele diz que não acontece muito esse negócio de ficar famoso no meio independente; é bem relativo, dá um pouco de espanto, mas é aquela coisas, "só acredito no semáforo" é uma frase que todo show vai ter, vai tocar lá em "piraporinha", isso por causa da internet, se não fosse ela, não rolaria.
Mas em alguns shows mais que outros, é normal a gente ouvir, mas a gente chegou em lugares que tem muitas pessoas cantando; tem uma gravação no Youtube que é bizarra, não dá pra ouvir a banda, gravaram no meio do público e só escuta o pessoal cantando. As pessoas vêm falar comigo, pela proximidade, é normal, mas a essência da banda não mudou com isso, mesmo com esse ano de correria, em que muita coisa mudou.
Logo, perguntei sobre a sonoridade, no que mudaria, de como esse amadurecimento, de tantos shows e regiões diferentes mudavam o tipo de música que eles tocavam, ele respondeu na lata que, embora não tenham muito tempo pra compor, estão amadurecendo muito, mas depois do CD, vão se aventurar numa nova sonoridade, se reinventar, falei até sobre as várias mudanças do Dylan, e ele dispara: - Ele mudou até pouco (risos).
Depois então de algum "sucesso", daà para passos mais largos não seria muito distante. A conversa se prolongava e chegamos na idéia do clip. Um dia ele estava na casa dele, quando o Paulinho Caruso ligou e falou: "iai, eu sou o Paulinho Caruso". Ele explicou a idéia toda, queria fazer o clip da música 'Last Days of Romance', mas eu falei que era melhor fazer de uma cantada em português, ele disse que escutou 'Semáforo' e que poderia ser ela. Falei que era melhor com a música 'Cachaça'.
Mandei pra ele e achou mais cinematográfica. Daà então vieram os trâmites, rolou um apoio da prefeitura, a gente finalizou com orçamento de 4 mil, meio irrisório até, ainda mais que passou depois pra pelÃcula. A galera que trabalhou nele era muito boa, e todo mundo trabalhou de graça, esse preço foi mais pra equipamento mesmo. Estamos programando pra fazer 'Semáforo' pro ano que vem, talvez comece a gravar em março, não sei, e espero que a gente consiga fazer aqui no estado, que é mais caro, mas é em casa. Seria na estrada de Chapada.
No dia anterior ao da entrevista, a banda havia finalizado o primeiro CD, que tem previsão para sair em março, e que ainda não tem nome definido. No disco comportará 14 músicas, que incluem quatro inéditas em português, sete em inglês, e uma em espanhol, além de alguns singles como 'Semáforo' e 'Cachaça'. "Estamos vendo a proposta de alguns selos, por isso a demora, mas se não fosse isso, seria mais rápido o lançamento. Espero que fique bom, aà depois a gente vai poder fazer uma turnê, construir shows mais profissionais", finalizou.
Nesse momento, já estávamos nos finalmente, então encerramos, pra chegar a tempo do show mineirÃssimo do baixista cuiabano, um som instrumental que arranca elogios dos grandes mestres brasileiros da música. Quando voltamos ainda rolou uma carona, e o que não faltou, é claro, foi assunto.
Publicado na RockPress/RJ
No SenhorF/DF
E no BusZine/MT
Sinto falta de fotos, de links para os vÃdeos, principalmente Cachaça, que concorreu este ano no VMB! E tenho certeza q os Vanguart também liberariam alguma canção para o banco de cultura. Descobri esta banda este ano e gostei muito. Adoro Semáforo e Cachaça! abs
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 30/12/2006 20:59
Ah sim, Vanguart é demais!!!!!
E, a propósito, o Hélio realmente pesa 52 quilos????
Grande banda...
Vanguart é muito bom!!!
A banda eh boa mesmo e a entrevistaficou ótima de ler.
Mas a matéria merecia uma foto bem legal, né? ve com o pessoal do Overmundo se não dá pra colocar ainda!
=}
Obrigado Carolina, realmente merecia uma foto, mas ainda não sei colocá-la, por favor, alguém aà do Overmundo que estiver me escutando, vamos colocar uma foto do Vanguart!! rsrs
ABraços, obrigado!!
Oi Dewis! Como escrevi lá no primeiro post, fotos, áudios e vÃdeos podem (na minha opinião devem) acompanhar a matéria. O sistema é o seguinte. Vc deve ter notado que primeiro a matéria fica por 48h na fila de edição logo q vc posta. Nestas 48h vc tem como corrigir o texto e colocar fotos, audios e video. Depois q passa para a sala de votação não tem mais como alterar o que foi postado. ENTÃO, É NA SALA DE EDIÇÃO QUE DEVE-SE ARRUMAR A MATÉRIA. Entendeu Dewis? Bom 2007 pra vc!
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 2/1/2007 11:42
Opa, valeu Rodrigo, é isso eu já tinha sacado, só que nem na fila de edição eu pude colocar a foto, o tamanho que ele pede pra foto é muito pequeno, aà fica difÃcil diminuir. Mas valeu por se importar!!
Abraços. 2007 Sorte!
Oi de novo Dewis. Não sei se vc viu direito o tamanho da foto para postar. Não é tão pequeno assim e vc pode deixar do tamanho ideal com facilidade usando o photoshop! Olha o tamanho aÃ: Imagem JPG na horizontal, de até 1MB, largura entre 600 e 1000 pixels
abraços...
valeu dewis. tive com o hélio no reveillón. cheguei atrasado para o show que eles fizeram no porto. mas os caras estão afinados. intimei o douglas a colocar uma música no banco de cultura. disse que não tinha entendido ainda o uso das ferramentas do site. expliquei expliquei...douglas! estamos aqui na espera. sucesso pra galera. parabéns dewis. rola mais matérias aqui no overblog??? grande abs.
eduardo ferreira · Cuiabá, MT 2/1/2007 18:16
Ah, bem melhor com foto~. Tbm acho uma ótima idéia disponibilizar as canções do vanguart no banco de cultura!
grande banda mesmo e cheia de méritos...chegou até aqui, conquistando público em todo o paÃs sem nenhum cd gravado. Vi um show deles no Outs aqui em SP e gostei muito. Espero o Cd.
Erika Morais · São Paulo, SP 5/1/2007 14:11
Pois é Eduardo, eles são bem afinados mesmo. E também, pra ser sincero, também gostei muito de Caximir, quem sabe poderÃamos até, um dia, escrever juntos algo, o que acha?
Coloquei algumas coisa no Overblog já. Timidamente, mas to colocando.
o meu blog, que tinha te falado, é esse: www.buszine.blogspot.com Espero vc lá.
Abraços
Muito bom! Só acredito no semáforo...
Lucas Braga · Belo Horizonte, MG 7/2/2007 21:06
eu só acredito na Vanguart!!!
e ultrapasso todos os semáforos...
Faz um tempo que ela foi escrita, mas gostei de como a entrevista foi distribuÃda no texto. Ficou super legal, até pra mim que não caio de amores por Vanguart. E adorei o tÃtulo também. ;}
DrÃade Aguiar · Cuiabá, MT 27/9/2008 22:49Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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