Toda cidade tem uma figuraça que perambula sozinha falando coisas sem nexo. A representante de Aracaju escolheu um templo do consumo para disseminar sua (estranha) mensagem
Em toda cidade pequena existem aquelas figuras que todo mundo conhece – tipo o bêbado, ou o louco – que costumam transitar pelos mesmos lugares. Todo mundo já viu e cada um tem uma história pra contar sobre ele. Aracaju tem a Véia do Shopping. Uma figura bizarra e no mínimo extravagante, que constantemente chama a atenção dos circulantes dos shopping-centers de Aracaju, em especial os freqüentadores do Shopping Jardins. Sempre de óculos escuros, roupas nada convencionais, cabelos arrepiados e uma maquiagem branca pesada, a Véia do Shopping, como foi apelidada, acabou virando uma espécie de lenda urbana, com especulações de todo o tipo acerca de sua personalidade, e pesquisas a respeito dos motivos os quais a levaram a um estado mental... curioso.
Na comunidade do Orkut "Você já viu a Véia do Shopping?!" estão cadastrados mais de 10.000 membros, que se julgam fãs, apesar de muitos aparentarem mesmo um certo asco, especialmente devido ao suposto odor causado pela grossa camada de creme branco que nossa personagem passa no rosto moreno. Recentemente, passaram a aparecer também manifestações de protesto pela chacota que muitos tiram da nossa personagem: alguns se dizem indignados e perplexos com o que chamam de falta de respeito com quem é especial.
Mas, enfim... O que se diz é que ela não fala. Há vários relatos de funcionários de lojas daquele shopping que contam que ela se comunica através de bilhetes, muitas vezes equivocados. Diz-se que uma vez a gerente de um supermercado a abordou, perguntando se ela não achava o tom de sua maquiagem muito clara pra sua pele, e a resposta foi o bilhete "VOCÊ PODE ME DAR UM LITRO DE CALDO DE CANA?". Outro atestado de que há algo de errado com a Véia é a compra repetida de papel higiênico. Testemunhas a viram levar R$99,00 do produto, sendo que constantemente vê-se a Véia com sacolas e mais sacolas. Às vezes ela as pede nas lojas, mesmo sem comprar nada.
Mas quem é essa senhora que desperta tanta curiosidade? Bem, as especulações são muitas. Seu nome é Maria Augusta, apesar de muitos insistirem que ela na verdade se chama Maria José (Augusta?), com apelido de Zezé. Ela mesma já disse (ou escreveu) – em resposta aos crescentes assédios – que é formada em Enfermagem pela UFS e Teologia na Católica da Bahia. Uma informação que parece unânime é a de que ela foi chefe de equipe como enfermeira, e teria tido dois empregos, o que explicaria a boa aposentadoria. Mesmo assim ela age como se ainda trabalhasse no mesmo posto de saúde, assinando ponto todos os meses.
Outra informação recorrente é a de que ela teria seqüelas de um trauma. A versão mais repetida é que ela surtou após a morte de sua mãe. Desde que a genitora ficou doente, ela passou a viver em função da mesma. Assim, após o falecimento, levaram quatro dias para retirar o corpo da casa, pois dona Augusta não aceitou a perda, e continuou cuidando da mãe como se nada tivesse acontecido. Há quem conecte seu visual atual a uma tentativa de se parecer com a mãe quando morta! Mais ainda, dizem que o andar de cima da casa em que habita sozinha é repleta de papel higiênico e fralda descartável, pois em seu delírio ela ainda estaria cuidando da mãe. Outras versões da história atestam que ela na verdade foi rejeitada pela mãe, por sofrer de alguma doença de pele, e também que ela já teve um marido rico e o mesmo foi quem haveria falecido, deixando dona Augusta sem sentido na vida. Uma versão obscura conta que, no dia de sua formatura, a família que morava no interior estava vindo a Aracaju quando o carro capotou, matando todos!
Mas o relato mais surpreendente é sobre o suposto passado da Véia do Shopping. Anterior a tudo aquilo relatado acima, um internauta de João Pessoa conectou a foto da comunidade com uma notícia de jornal local datada de 1952, alegando que a foto de dona Augusta era idêntica à foto da suposta mãe noticiada. Segundo a reportagem, aos 10 anos de idade, seus avós maternos teriam sido assassinados pelos avós paternos. Como se não bastasse, seu pai teria envolvimentos com magia negra, levando a mãe de dona Augusta a fugir para Sergipe. Em 1958, outra notícia, o pai teria tentado matar a esposa, que teria sido salva pela filha!!! De acordo com o relato, a mãe sofria de graves alucinações, vestindo-se e maquilando-se de maneira incomum. A Véia do Shopping não teria nada de original, no fim das contas.
De certo mesmo só há que a Véia do Shopping vai estar sempre lá, qualquer que seja o dia da semana: de pasta branca na cara, comprando papel higiênico e pedindo sacolas. Impressionante é como basta ser extravagante para ficar famoso. Com essa a Véia realmente não contava!
Muito bom! já ouvi falar da véia do shopping, mas nunca tinha lido nada a respeito!!
Tati Magalhães · Maceió, AL 6/3/2006 18:14Só esqueci de comentar... o texto tá incompleto, né?
Tati Magalhães · Maceió, AL 6/3/2006 20:34Ah, agora acho que agora o texto tá inteiro.
Felipe Vaz · Rio de Janeiro, RJ 7/3/2006 13:37Que delíicia de história, Maíra!!
Natacha Maranhão · Teresina, PI 7/3/2006 17:53
Muito bom Maíra! Gostei muito do texto - hilário. Ainda mais porque eu também resido a Aracaju e posso presenciar de perto a saga da
'Véia do Xops'. Não sei se você já teve a oportunidade de reparar a mais nova atração do Shopping Jardins, que agora disputa o posto de "mais bizzaro" com a Augusta. Trata-se de um rapaz das pernas de sabiá que anda com shorts muito curtos e vive andando e dançando na frente das vitrines do Shopping. Aposto que por essa você também não esperava (risos).
impressionante! cuidar do corpo da mae ja morta, os avos paternos assassinarem os avos maternos, a familia inteira morrer de desastre, tu pode escolher o motivo pelo qual a 'véia' enlouqueceu.
jaderdavila · São Paulo, SP 9/9/2006 16:36Pra quem gostou deste texto, sugiro ler também "Em busca das pessoas invisíveis".
Fabinca · Bento Gonçalves, RS 16/12/2006 19:42
Que maravilha de texto (delicioso de ler) e de história!!
Essas figuras sensacionais!
Abraços
O texto é rico em informações às vezes isso é bom pq dá ritmo, mas em outros momentos deixa o leitor um pouco confuso. Seria legal dar algumas quebradas com subtítulos. Não entendi o que vc quiz dizer com "A Véia do Shopping não teria nada de original, no fim das contas.".
Essa história dela cuidar da mãe depois que morreu lembrou um belíssimo curta que vi certa vez sobre uma situação parecida. Chama-se Um Sol Alaranjado . Lidar com a morte de alguém querido é um dos desafios do ser-humano, é um baque e tanto.
Na verdade sinto pena da Velha do Shopping. Ela parece estar numa espécie de limbo mental.. Você tentou abordá-la e conversar com ela? Senti falta de algumas falas dela (ou bilhetes) Bom.. isso são só sugestões. Achei legal a iniciatia de abordar o assunto e trazer um pouco mais dessa figura que já virou uma lenda urbana Aracajuana.
Abraço.
vixe, que interessante, eu já a vi várias vezes, principlamente no ônibus, valeu pelas histórias!!!
Dayse Rocha - DonaDeusa · Pirambu, SE 14/7/2007 20:17Excelente texto sobre a véia do shopping. Você sabe algo sobre a "loira do banheiro" também? Na minha cidadezinha (Nova Era - MG) também há figurinhas exóticas que valem ser divulgadas. Farei isso brevemente. Parabéns, Maíra, e dê uma olhada no meu poema "Súplica", na Fila de Votação. Abraço carinhoso.
Remisson Aniceto · São Paulo, SP 2/8/2007 15:46Nas minhas andanças por este mundão de Deus conheci ( só vi), a Maria Bandeira, mulher conhecida em João Pessoa/PB por andar em cima de um cavalo com uma bandeira. Eu a vi num desfile de 07 de setembro, há mais de 30 anos atrás. Ela era muito famosa na ciddae. Lembro que os desfiles só tinham grança quando ela aparecia. Muita gente aplaudia, outros vaiavam, mas lempre ela estava lá. Alguém sabe contar essa história com maior propriedade?
Elizete Vasconcelos Arantes Filha · Natal, RN 5/8/2007 10:06Diziam na época que ela também era de família rica e que após uma grande perda familiar passara a se comportar desta forma. Eu lembro que em todos os eventos oficiais e com personalidades ( inaugurações etc), ela estava lá...marcando presença. Gente escrevam alguma coisa sobre Maria Bandeira.
Elizete Vasconcelos Arantes Filha · Natal, RN 5/8/2007 10:11Há algum tempo eu havia feito uma música falando sobre ela, e só gravei agora. Inclusive fará parte do Sescanção 2007, uma mostra de música aqui de Sergipe. Dá pra ouvir uma demo da música no www.myspace.com/deilsonpessoa , falta uns ajustes de estúdio na mixagem. Usei um de seus nomes folclóricos - Maria Augusta - pra batizar a música. Espero que gostem!
Pessoa · Aracaju, SE 4/10/2007 12:19
Bacana saber da “Véia do Shoping”, Maíra. Ela já inspirou até música. Mas... caramba... já vi que a meada é complexa. E compriiiida. Vou explicar...
Venho do texto HISTÓRIA DE DOIDO, em que achei um link pra cá. Lá o assunto é loucura também. E há outros links para textos que tratam do mesmo tema. Pelo que percebo, tô ferrado em leituras em tela de micro sobre doidos hoje. O assunto me prende.
Vou repicar aqui os nomes de alguns doidos que deixei lá, em comentários. Penso que seria interessante a gente combinar algo coletivo aqui no Overmundo para escrever sobre estas figuras que marcam a vida das comunidades. O assunto rende. Acho que daria um puta livro.
UM RESUMO DOS COMENTÁRIOS DEIXADOS NO TEXTO HISTÓRIA DE DOIDO
Interessante observar como os doidos "fazem fama" nas cidades em que vivem. Enquanto estão vivos, eles marcam a vida das comunidades. Depois se tornam figuras imortais, sobretudo a partir de resgastes como estes...
Agora mesmo estava pensando que farto material colheríamos de vários colaboradores do Overmundo para uma publicação coletiva sobre OS DOIDOS DO BRASIL. Hã?!
Eu mesmo tenho umas histórias pra publicar. No meu baú de guardados tenho um texto em que também faço o registro de doidos que marcaram minha infância, em Araguaína - TO.
Nele resgato algumas figuras como MARIQUINHA, ZEZÃO DOIDO, ZÉ DA ANA e o PAPAGAIO DO ... (êpa!) PELADO, entre outros. Vou procurá-lo para também publicar aqui, sobretudo depois de ler com gosto esta publicação"
"...lembrei de mais uns doidos de Araguaína. Vou citar alguns e já adiantar logo que talvez eu volte aqui. É que minha memória é fogo e sou meio reincidente, principalmente quando o assunto é loucura. Vamos aos tais:
DOMINGOS DOIDO, que se posicionava nas esquinas no final da tarde, recém-banhado, todo cheiroso, "retrovisando" as pessoas com um daqueles espelhinhos de bolso. Ria pra caramba sozinho. E nunca encarava a gente de frente, só pelo seu "retrovisor".
ESPECIAL, um gaiato de marca maior que andava sujo e maltrapilho, muitas vezes só de calção. Falava palavrões e metia medo em muita gente.
CHICO DOIDO, vereador (falo sério) de um mandato e que talvez fature uma reeleição agora em 2008. Não escreve nem lê patavina, mas teve garantido o exercício do mandato, depois de ter figurado entre os mais votados na última eleição municipal. Não atira pedras em ninguém, mas não mede palavras ao falar. Só deus e o mundo em Araguaína sabem que Chico não bate bem do juízo. É o primeiro doido vereador de que tenho notícia. Será?!"
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