Sonho. Fazer através da palavra seu sinal de vida, sua luz, seu caminho. O poeta que vive da poesia, a tem como uma espécie de bola de cristal. Antes do acontecido, já estava lá escrito. Talvez o poeta seja uma espécie de Nostradamus do seu dia-a-dia. Ou os profetas, na realidade, foram grandes poetas. E quando falamos de poetas, sempre soa como algo descriminadamente antigo e fora de lugar.
Exemplo: “ao sair para um sábado agradável com minha companheira, me deparei com um casal de colegas dos meus amigos que já estavam no bar. Foi uma daquelas apresentações que reforçam o caráter demagógico de só se ter para poder ser. Eles tinham tÃtulos, se apresentaram como engenheiro e a outra arquiteta. Ao me perguntarem o que fazia da vida, falei, sou poeta. De pronto ouvi: e que dia você vai virar homem? Não respondi a pergunta descabida, deixei meus parcos dez reais na mesa e fui embora.â€
Um sonho “irrealâ€
Ser poeta é estar fora de lugar para um número expressivo de cidadãos. Mas a escrita vai muito além. Nos diz quem são e que a matéria da vida dos escritores está necessariamente ligada à s suas letras. Também nos ensina que a descoberta da escrita pode ser uma necessidade absoluta para tornar a vida possÃvel de ser realmente vivida. É o passo para o outro lado, o da loucura, da imaginação plena dos sentidos e sentimentos. A pragmatização de um sonho “irrealâ€: poesia.
Drummond e grande parte dos poetas ou, pelo menos, aqueles que se assumem de verdade, já vivenciaram essas inqualificadas colocações que o mundo escarra. Em seu poema a Flor e a Náusea¹, os primeiros cinco versos são alentadores: “Preso à minha classe e a algumas roupas,/ vou de branco pela rua cinzenta./ Melancolias, mercadorias espreitam-me./ Devo seguir até o enjôo?/ Posso, sem armas, revoltar-me?†O poeta então, veste sua armadura de palavras. Sai dum bar aos prantos pois assassinaram sua arte. DestruÃram o que mais ama, lhe sustenta sobre os pés e o faz flutuar. Fico com Ãtalo Calvino quando disserta sobre a leveza²:
“Se quisesse escolher um sÃmbolo votivo para saudar o novo milênio, escolheria este: o salto ágil e imprevisto do poeta-filósofo que sobreleva o peso do mundo, demonstrando que sua gravidade detém o segredo da leveza, enquanto aquela que muitos julgam ser a vitalidade dos tempos, estrepitante e agressiva, espezinhada e estrondosa, pertence ao reino da morte como um cemitério de automóveis enferrujados.â€
¹ANDRADE, Carlos Drummond. A Rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 1995.
²CALVINO, Ãtalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
È horrÃvel perguntarem o quê os outros fazem. Parece coisa de gente interesseira ou preconceituosa.
Hummm... E quando você tem falar profissâo em consultórios médicos, dentários, .... Nem!
apple · Juiz de Fora, MG 15/10/2006 08:03
Que lindo!
Ser poeta é ver o mundo além do próprio mundo, é ser além, é ir além. E além, alcançar a plenitude (pelo menos, buscá-la).
Muito bonito!!
Que o Doutor Engenheiro e a Dona Arquiteta me desculpem, mas somos melhores que eles!!!!!!
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