Depois de muito tempo sem ir à praça Benedito Calixto, tirei o sabadão pra reencontrar algumas amigas dos tempos da faculdade (Lu, Cris, Paula, da Eco-UFRJ) e mostrar a Martim e Sofia aquela boa e velha rodinha de choro - eles curtiram a vera o som, e também os cubinhos de queijo e presunto oferecidos pela flautista...
Lá pelas tantas, alguém pega o microfone e lembra que o evento daquela tarde era em homenagem a Zumbi dos Palmares e também à Revolta da Chibata, que completou hoje 98 anos. Em 22 de novembro de 1910, marinheiros brasileiros se revoltaram contra a aplicação de chibatadas como punição à s faltas, sob liderança do marinheiro João Cândido Felisberto. Mais de dois mil homens promoveram um motim que durou seis dias. Vários navios da armada brasileira foram tomados e o Rio de Janeiro, capital federal à época, quase foi bombardeado. Felisberto foi anistiado este ano pelo presidente Lula e pode se tornar o primeiro almirante negro do paÃs. Nada mais justo.
Sua história rendeu uma das músicas mais bonitas da MPB: O Mestre-Sala dos Mares, de Aldir Blanc e João Bosco.
A letra original da música foi censurada pela ditadura militar porque promovia João Cândido a almirante e fazia referências mais diretas aos açoites. A música é do disco Caça à Raposa (1975), o segundo da carreira de Bosco, fundamental em qualquer discoteca.
O disco, assim como a história do almirante negro, são quase obscuros hoje no Brasil. Contribui muito para isso o fato de o acervo histórico do paÃs, seja ele musical, fotográfico ou bibliográfico, não estar disseminado pela internet, ao alcance do público cada vez maior que navega pelo ciberespaço. Se cavucar muito, até encontra - como eu encontrei aqui e ali - mas não vejo um movimento organizado, institucionalizado, para mostrar aos brasileiros o que o Brasil tem de bom e interessante.
Enquanto isso, o acervo histórico de instituições gringas de peso estão ganhando a internet. E o melhor: sem cobrar nada. Seguindo os passos do jornal inglês The Times, que colocou online em agosto passado, 200 anos de seu arquivo (de 1785 a 1985) pra quem quiser acessar, agora temos também o acervo fotográfico da Biblioteca do Congresso americano no Flickr e o da revista Life no Google.
A gente bem que podia ter algo semelhante, não? Material não falta, mas boa parte está mofando em arquivos públicos e privados. Vamos digitalizar nossa história, pessoal!!
Ótimo apelo, Jorge! Concordo plenamente, mas sou otimista, acho que pouco a pouco as instituições estão se dando conta que a internet é o espaço perfeito para disseminar seus acervos. Ainda falta muita coisa, claro, mas o importante é a conscientização da importância dessas digitalizações correr o mundo. Abraço!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 27/11/2008 15:49
obrigado, Helena! Existiam algumas iniciativas interessantes, como a digitalização do acervo da revista Cruzeiro, mas foi tirada do ar "por motivos pessoais" - provavelmente falta de dinheiro para manter a pagina no ar. Triste, ne?
bjs!
oops, confundi... o site da revista cruzeiro continua no ar - é este aqui: http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/
o outro era do time cruzeiro, que acessei sem querer... hehehehe
Boa lembrança Jorge, realmente este fato como tantos outros da nossa história ficam no esquecimento geral.
O livro O NEGRO DA CHIBATA, de Fernando Granato, é uma leitura emocionante por mostrar toda a trajetória de João Cândido, uma dica para quem quiser saber mais sobre o assunto...
Opa, Jorge,
Essa lembrança da Revolta da Chibata esse ano (porque não lembro de ver algo parecido nos anos anteriores), para mim, foi uma grata surpresa. João Cândido é, talvez, um dos poucos heróis populares que nós temos e isso ultrapassa a barreira da cor.
Aproveitando a deixa da digitalização de acervos, vou recomendar um artiguinho do José Murilo de Carvalho sobre os bordados do João Cândido (sim! ele ainda bordava nas horas vagas!), muito bacana. Está disponÃvel na base de dados do Scielo, digitalizado a partir da publicação original, na revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos.
Jorge,
Parabens, (desnecessários os meus parab éns) pela belissima postagem, num ano em que o Estado Brasileiro completa 100 anos de promoção da Imigração Japonesa, sem dizer, que a Marinha trazia, 2 anos antes da República, pela companhia do principe Leopoldo de Orleans e Bragança, o primeiro assessor militar japones. E foi pela orientação da Imperio Militarista Japonês que a Marinha Brasileiro acirra a sua perseguição ao negro brasileiro. Aliás a imigração japonesa teve por objetivo
SUBSTITUIR o negro brasileiro.
Não nos esqueçamos As Forças Armadas Brasileiras é a única força nacional a contar nos seus quadros com um militar estrangeiro, sem precisar de nacionalisar-se
Abraço
andre.
obrigado pela força, Andre! abração!
Jorge Cordeiro · São Paulo, SP 30/11/2008 14:26Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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