O Brasil, definitivamente, está parte da rota do rock internacional. Grandes e pequenas bandas fizeram a festa dos fãs brazucas do gênero no ano passado. Internamente, o negócio anda aquecido também. Depois de anos de domÃnio do pagode e do pop, as bandas de rock nacionais voltaram a ter um destaque no cenário musical brasileiro. Mesmo assim, ainda não se pode falar de uma explosão do estilo. Artistas como Pitty e CPM 22 já são parte do mainstream musical, enquanto outros, menos famosos, alimentam a cena independente.
Nem sempre foi dessa maneira. O gênero já foi alvo de crÃticas ferozes que o acusaram de atentar contra a cultura nacional e promover a alienação, dentre outras coisas. Por isso, num momento em que o cinema brasileiro resolveu revisitar o passado musical do paÃs através de filmes como Coisa Mais Linda, Fabricando Tom Zé e VinÃcius, veio bem a calhar o resgate, via internet, do filme Ritmo Alucinante - A Explosão do Rock No Brasil, do diretor Marcelo França.
Rodado em 1975, o documentário registra o que deve ter sido o primeiro grande festival de rock do paÃs. Organizado por Nelson Motta, o Hollywood Rock reuniu nomes como Raul Seixas, Rita Lee & Tutti-frutti, Erasmo Carlos e Celly Campelo. O documentário registra performances desses artistas e algumas curtas entrevistas.
Quem abre o filme é Rita Lee, com sua banda pós-Mutantes, o Tutti-frutti. Ver a perfomance da cantora há mais de 30 anos atrás é entender a sua importância para a história do rock no Brasil. Se hoje Rita é uma senhora (quase) comportada, a menina no palco do Hollywood é uma feminista sexy e endiabrada, que valeu do câmera indiscreto um zoom nas partes baixas.
Em seguida, entra em cena o VÃmana, banda conhecida apenas do mais aficcionados do rock da época, mas que teve em sua formação Lulu Santos, Lobão e Ritchie (aquele que cantava Menina Veneno, lembra?). A banda, que fazia uma espécie de rock progressivo, teve problemas no som e apenas uma performance ficou registrada no filme.
Mesmo rótulo musical levou o som d'O Peso, outra banda que ficou guardada no baú dos anos 70, mas que merece um resgate rápido. O vocalista Luiz Carlos Porto tinha um estilo rock-sexy-blueseiro e um vozeirão impecável. E a banda acompanhava na psicodelia.
O amigo do Rei, Erasmo Carlos, é o terceiro a aparecer. No filme, o cantor está a cara do Elvis Presley. Porém, o som de Erasmo vai além dessa imagem. Ele se apresenta com um sopro fazendo as vezes de guitarra e aparece em um depoimento revelador sobre a época. Erasmo defende a brasilidade da sua música. “Eu nasci aqui (no Brasil), faço música aqui. Então se eu sou brasileiro, a música que eu faço é a mais brasileira possÃvelâ€, dispara ele.
Celly Campelo também fala sobre as dificuldades de se fazer rock no Brasil, passando por temas como a obrigatoriedade de gravar versões de músicas estrangeiras.
Mas, o filé está no final, onde Raul Seixas manda o seu recado. São mais de 20 minutos com o cantor, que já era o maior nome do rock nacional à época, enlouquecendo a platéia e sendo ovacionado por ela.
Ritmo Alucinante - A Explosão do Rock No Brasil é apenas a ponta de um iceberg que ainda precisa ser explorado: o de imagens do rock brasileiro nos seus primórdios. A peróla pode ser vista no site Milvinil
Publicado originalmente na revista Alternativa.
Oi Maxwell. Bom Revê-lo.
É sempre bom lembrar, já que você botou a foto do Raulzão no topo, do pau que Roberto Freire levou dos seguranças da Globo no Festival da Canção de 1972, quando leu um manifesto coletivo denunciando que haviam membros do júri comprados pela direção da TV. Apoiando ele estavam, entre outros, os jurados Décio Pignatari, Sérgio Cabral e Rogério Duprat. Sendo que a maioria votou em rockers, como Raul Seixas (então despontando no cenário com Let Me Sing, Let Me Sing) e Walter Franco, mas os premiados foram Jorge Ben (Fio Maravilha) e Baden Powel (Diálogo).
No caso de Raul, o preconceito contra seu rock no inÃcio tem tudo a ver com a censura da ditadura, já que suas letras não tem nada a ver com alienação:
"Num vim aqui querendo provar nada
Num tenho nada pra dizer também
Só vim curtir meu rockzinho antigo
Que não tem perigo de assustar ninguém"
Texto muito bacana. Só lembrando que aqui em NATAL vai rolar o MADA- Música Alimento da Alma, um festival composto em sua maioria de bandas independentes e com alguns nomes do cenário nacional. Abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 10/4/2007 14:33O Henfil publicou no "Pasquim" um cartum espinafrando os roqueiros do Festival da Canção, desenhou o Raul cantando "Tutti Frutti" e tal. Era parte do espÃrito da época _hoje soa meio ridÃculo, não?
Marcelo V. · São Paulo, SP 11/4/2007 14:00Nao sabia essa do Henfil... Mas, era bem uma epoca onde as pessoas tinham opiniao...
Roberto Maxwell · Japão , WW 11/4/2007 14:20
rock sempre!!
www.bandasdegaragem.com.br/intrusos
Alguém duvida da brasilidade do rock dos Mutantes?
Alguém duvida que o Cazuza, até cantando bossa nova, é rocknroll?
Posso ver alienação em tudo... e poesia em algumas coisas... dentre elas o rock...
Viva Raul...
Viva Plebe Rude...
Viva O terço...
Viva o que tiver o espÃrito rocknroll..
abraço.
Hoje as pessoas têm opinião, também _aliás, muita gente ainda mantém este discurso purista, de se fechar a influências culturais externas etc. O nosso ministro Gegê, por exemplo, hoje se envergonha de ter participado de uma "passeata contra a guitarra elétrica" antes de participar do tropicalismo.
Eu humildemente acho que qualquer iniciativa ou posicionamento contra a liberdade dos artistas (ou contra o gosto do público _acho horrÃvel quando alguém fala em "música de qualidade") é condenável. Os parâmetros éticos são necessários, mas os estéticos não deveriam existir.
Concordo com vc quanto a questao estetica, Marcelo. Mas, discordo quanto a questao da opiniao, porque, acho que nao me fiz claro, mas quero dizer que os debates se esvaziaram. Nao eh uma simples questao de "acho" ou "nao acho". Uma prova disso eh o proprio discurso purista ainda existir, com os mesmos argumentos de "300 anos atras". Nao ha um debate estetico na cultura brasileira. Por exemplo, o que se debate hoje sobre cinema? Nao se debate o filme, mas, sim o "produto". Nao se debate a forma mas, sim, o processo de captar dinheiro e de fazer o filme chegar ao publico e render mais dinheiro. Nao digo ninguem faca isso. Mas, creio que esta longe de ser o centro das atencoes quando o assunto eh arte.
Roberto Maxwell · Japão , WW 11/4/2007 22:55
Aproveito o calor do debate e lanço a pergunta: posto em perspectiva, o que está acontecendo com o rock brasileiro? Foi para os porões e periferias, enquanto o pastiche apolitizado do pop manda ver? O que faria o velho Raul nos dias de hoje? Não é à toa que ele morreu cedo.
Fala-se muito em preconceito e censura no passado, mas hoje ou há 20 anos há o mesmo espaço para atitudes rocker (incua-se aà o punk) viscerais: nenhum.
É que descobriram que o rock visceral fake dá dinheiro, André. Jeans rasgado hoje é coisa fashion. Vende em loja chic. No Brasil tudo se acanalha.
SpÃrito Santo · Rio de Janeiro, RJ 12/4/2007 08:07
Araruama!?
Cabeça feita pra não dar bobeira?
Um amigo meu, auditor federal hoje em dia, até hoje chora por seus pais não terem deixado ele ir pro festival com os amigos.
Talvez seja mesmo sinal dos tempos, Roberto. Sempre que se fala de um filme na imprensa, fala-se do seu orçamento, assim como, quando se fala de um programa de TV, citam-se os Ãndices de audiência, e discos, quantos foram vendidos. Esses números podem ser interessantes para os investidores e anunciantes, mas o público não tem muito a ver com isto.
Marcelo V. · São Paulo, SP 12/4/2007 15:10
Porra, fiquei interessadão em ver essa obra. Onde é que eu acho?
E o rock brazuca ainda existe, sim, só que cada vez menos no mainstream e cada vez mais em festivais de música (na maioria) independente, como o RuÃdo e Humaitá Pra Peixe (RJ), Porão do Rock (BSB), Mada (RN), Abril Pro Rock (PE), Goiânia Noise (MT) e vários outros.
Fala, rapaz
O link para o filme esta no ultimo paragrafo.
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