Tocar alto, contrariar expectativas e quebrar paradigmas: esse é o objetivo do Faverock. O movimento de bandas de periferia de Belo Horizonte é hoje um dos circuitos musicais mais expressivos e representativos da capital mineira. Tudo surgiu da ausência de um local para poder se apresentar na região do Aglomerado da Serra. A necessidade de subir no palco e ligar os amplificadores foi mais forte do que o conformismo.
Criado, organizado, tocado e divulgado pelos próprios artistas envolvidos, o Faverock é um exemplo de trabalho coletivo. “Geralmente responsabilizamos determinadas pessoas ou bandas por certas funções, de acordo com as demandas do movimento. Infelizmente nem sempre tudo dá certo, e quando isso ocorre nos reunimos, discutimos e redefinimos as coisas, tudo em conjunto”, afirma Mariana Zande, uma das cabeças do movimento e integrante da banda O Grito da Rosa.
É nas mostras realizadas anualmente que as bandas integrantes do movimento têm a oportunidade de tocar juntos e mostrar as suas músicas para o público. No início, em 1999, os eventos eram realizados com pequenos patrocinadores. A partir da 4ª e 5ª edição os shows passaram a ser organizados em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. A partir desse ponto o trabalho começou a ficar mais conhecido e estabeleceu pontes com outros parceiros: a 6ª foi organizada junto com o Expresso Melodia, da Fundação Clóvis Salgado e a 7ª teve maior apoio da Ordem dos Músicos e do Fernando Rock Bar (onde o evento acabou acontecendo depois de a PBH não cumprir com o apoio que daria).
As dificuldades de manter uma banda e um movimento de rock independente são praticamente as mesmas em qualquer canto do país. E um importante fator facilitador também se repete nas diversas experiências: a internet. Por mais que isso já não seja mais novidade, essa é uma ferramenta que faz diferença para quem desenvolve um trabalho autoral e independente, não importando em qual região da cidade você mora. Graças às conexões locais e às digitais, as bandas do Faverock são conhecidas em diversas partes do Brasil e também em outros países. Grupos de outras cidades puderam conhecer o movimento e se interessaram em participar. Foi uma expansão não calculada e que eles ainda não sabem como administrar, um saudável descontrole: “Com a internet perdemos a dimensão de onde chega o nosso trabalho e às vezes nem temos o controle de quem estamos atingindo. É incrível ver o que criamos juntos, numa dimensão tão pequena, tomar tão grandes proporções”, explica Robert Frank, guitarrista/vocalista do Pêlos de Cachorro e também idealizador do projeto. A influência se dá também pelo caminho inverso. As referências musicais das bandas do Faverock são atualizadas pelo o que acontece no rock independente americano e britânico.
Embora seja bom lembrar que ainda não são muitas as pessoas que têm acesso à internet nas favelas, Robert garante que quem está conectado já passa por uma grande transformação em seu dia-a-dia. “O cara que faz filmes com sua câmera fotográfica digital, por paixão, sem nunca ter pensado em mandar para festivais ou alçar vôos mais altos, coloca seu vídeo no youtube e pessoas do mundo inteiro lhe mandam e-mails falando da profundidade de seu trabalho”, explica.
Esses contatos estabelecidos são importantes para não “guetificar” o que o Faverock realiza. Buscar constantemente pontos de diálogos com o que acontece no resto da cidade e estar aberto a intercâmbios artísticos é um processo natural para o movimento. Não é uma tarefa fácil definir o que é periferia e por isso não faz sentido pensar em algo hermético e impermeável. Conscientes disso, os organizadores realizam, desde a 3ª edição, os shows anuais entre as ruas Capivari e Alípio Goulart: no encontro entre o Aglomerado da Serra e o bairro que lhe dá nome, onde o centro esbarra com a periferia (e toma conhecimento do que por lá acontece), no lugar onde as fronteiras não fazem sentido.
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Confira algumas músicas das bandas integrantes do Faverock.
Carolina Diz
Distúrbio
Formes
Pêlos de Cachorro
Yvitu
O contraste que vcs deram ao texto entre a dificuldade da banda atingir o objetivo e a sociedade em conhecer, ou até mesmo "aceitar" um rock diferente do que ela já ouviu e sair do rotineiro.
Boa sorte...e só para constar, o assunto de meu tcc é Cultura - Musica dentro dos veiculos de comunicação. (jornais) Que tipo de gênero musical os jornais abordam, qual não abordam e o porquê?
Abraços à todos!
Oi Sérgio. Conheci o pessoal do Pelos de Cachorro e Distúrbio nos Circuitos Culturais do Arena da Cultura e foi muito bom trabalhar com eles.
A Márcia Guerra (você conhece?) está terminando a sua tese de mestrado sobre os Pelos de Cachorro e a sua relação com a comunidade do Aglomerado da Serra e com o resto da cidade. Estive com ela recentemente no Aglomerado da Serra para fotografar as ruas, becos, casas, etc...
O seu texto, assim como o trabalho da Márcia, são oportunos e importantes para ajudar na desconstrução de estereótipos que estão arraigados na nossa sociedade.
Um grande abraço
Olá, Gobira. Conheço a Márcia sim. Ela me ajudou a entrar em contato com o Robert e a Mariana. Eu já conhecia um pouco o trabalho do Faverock, mas foi legal poder conhecer um pouco mais.
Você tem essas fotos? Topa disponibilizar uma delas nesse texto meu? Agradeceria muito a sua contribuição. O que acha? Caso tope, mande algumas fotos para mim por email: overmundo.mg@gmail.com que eu as coloco aqui com os seus créditos.
abcs!
Topo sim sérgio, estou enviando um email para você. abraços
gobira^ · Belo Horizonte, MG 14/4/2007 19:19
Gobira, recebi as fotos. Muito obrigado. Escolherei algumas e postarei aqui.
abcs!
É só em BH que chamamos favela de AGLOMERADO?
Acho engraçado como falamos sempre em aglomerado da serra e não favela da serra.
Como sempre, grande texto Sérgio.
Fernando Mafra · São Paulo, SP 16/4/2007 20:07Muito bacana essas fotos...abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 16/4/2007 20:16
Idéia de primeira qualidade!!! Tem muita coisa boa em Minas, muita mesmo...
Ao Mario C.: aqui em Natal 'tão chamando favela de loteamento tb (heheheh!!)
A foto da Rua Sinfonia foi um achado.
Marcus Assunção · São João del Rei, MG 16/4/2007 21:40Longa vida, pois, ao FAVEROCK.
Darlan · Belo Horizonte, MG 17/4/2007 03:21
Putz cara ...
Adorei !!!
Espero que outros grupos do Brasil e do Mundo sigam exemplos como esse .. a verdadeira essência da música esta nessas ações que a mídia sempre despreza e dificilmente são apoiadas pelas elites.
Vlew gente .. Sucesso!!!
Achei muito legal, a iniciativa, a forma como as coisas caminham, dividindo funções entre a banda... nota 10!
Roberta Tum · Palmas, TO 17/4/2007 15:50Muito do punk rock paulistano clássico veio da extrema periferia da cidade e do ABC. No Recife também surgiu um movimento bem interessante de bandas de favelas _a mais bem-sucedida delas foi o Devotos, que teve CD produzido pelo Dado Villa-Lobos. Há muito mais por aí, em todos os cantos do Brasil; a informação apenas precisa circular... Valeu pelo texto!
Marcelo V. · São Paulo, SP 17/4/2007 15:51
Quando as pessoas se unem ninguém pode para-las. Quando os governantes entenderem que, só todos juntos é que este país vai mudar, ai com certeza teremos mais espetáculos como estes.
Criação, vontade e imaginação - Poder para o Povo
Muito bom!!
vai ai um rock de quem quer morar no mato !!!!! ou nao...
www.bandasdegaragem.com.br/intrusos
Ahh mas que inveja danada que eu tenho da onça
do ganso
do grilo
e do pato......
E daquele bando de bicho
Que ive no mato....
Eles naopagam conta nenhuma
Eles nao tiram nenhum extrato
E sequer se preocupam com transito
Eles nao comem no prato!!
Ahh mas que inveja danada que eu tenho
Da onça
do ganso
do grilo
e da foca
E do velho indio na oca
Que nao bebe coca...
muito bacana.... vemos os mesmos problemas em cidades tão diferentes, né!?
Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 18/4/2007 08:24Sim, esse texto me lembro muito o Alto Zé do Pinho, de Recife. De onde saiu a Devotos que Marcelo Valletta se referiu acima.
Rejane Calazans · Rio de Janeiro, RJ 18/4/2007 16:55Show de bola, isso mostra que não há barrreiras para a cultura
Senna · Itu, SP 18/4/2007 16:59
Falae! Sou Mirko Hadal, baixistada banda VINGANÇA , do Rio de Janeiro (banda de Heavy Metal 80's). Vamos enriquecer a vida cultural do brasileiro! Afinal cultura não tem fronteiras, e os brasileiros também são muito bons no Rock! Qualquer coisa estamos aí, podem contar com agente! Voces acham agente no Orkut.
Abraços.
Muito duca Sérgio>
Talvez gostes disso: http://www.overmundo.com.br/banco/suite-206
Muito legal!! nosso País esta necessitando urgentemente de iniciativas como estas...sucesso total!!Abraços..
lubraga12 · Aurora do Tocantins, TO 30/8/2007 15:23
Muito bacana a idéia e o texto que vc escreveu sobre o projeto.. O Faverock está de parabéns!!
Muito sucesso ao projeto..
linda iniciativa ..
isso mostra como a arte ainda vive e está em boa saúde ..
saudações .. força e paz ..
. . .
Muito foda... sou de Ouro Preto e nunca tinha ouvido falar no faverock. Espero poder conferir a próxima edição.
Tenho uma banda independente, Cachorros Mortos: http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=48320
Rolava de bolar um intercâmbio...
Muuuuito Legal.. como faço para tocar também?
Aloha!
É incrível a dificuldade de se produzir música independente aqui em Minas. Existe, claro, isso também em outros estados, mas em Minas é, acredito, as proporções são bem maiores. Quando li a parte do apoio não cumprido e das dificuldades que as bandas têm de encontrar locais e eventos onde possam mostrar seu trabalho identifiquei pontos negativos idênticos aos nossos. É realmente muito complicado.
p.s.: Tô com um texto em edição pelas próximas 47 horas. Leia e diga o que achou.p.s.²: Tenho um fanzine impresso [UHU! fanzine] bimestral aqui em Montes Claros. Se quiser, pode me passar seu endereço que eu mandou alguns pra vocês.
=)
Putz, que isso heim? Esse seu texto, Sérgio, é praticamente a história do rock independente, aqui ou ali, na favela ou na cidade grande, sempre os olhos da 'intelectualização', estarão a nos observar. Que bom que você sabe sabe falar bem pois, assim, nos tornamos nossos pais!!
InDePeNdÊnCiA · Belo Horizonte, MG 25/3/2008 17:59
Muito bom rever por aqui o pessoal do P. de cachorro... Nessa época de MP3 ainda costumo escutar o CD deles...
abs
Boa Sorte ai. Axé. E o nome da banda então, O Grito da Rosa, achei lindo.
Beijaum
Massa demais!
A galera da favela produz pra caramba por aqui pela Paraíba TBM!
Boto a maior fé!
Valeu, Alberto!
Seria espetacular poder ver alguma coisa sobre essa produção aí na Paraíba aqui no Overmundo!
abraço
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