(Este post é um trecho do livro, ainda no prelo, denominado 'O Samba e o Funk do Jorjão', cuja idéia central é esmiuçar e desconstruir alguns dos mitos, supostamente, criados em torno da história do Samba - enquanto uma espécie de síntese da cultura do negro brasileiro, em geral - mitos estes que, como ocorre com muitas outras ficções antropológicas montadas no Brasil, foram construídos por criativas comunidades de intelectuais, ao longo do tempo e com intenções, quase sempre, muito bem medidas.
Embora tenham sido baseados, claramente, em premissas equivocadas, infundadas ou mesmo deliberadamente falsas, infelizmente, estes mitos foram se cristalizando até se tornarem verdades absolutas, oficiais, por força de sua insistente reiteração (principalmente por certas vias acadêmicas).
Ao que parece, na maioria dos casos, a principal função destas mistificações, é dar sustentação a certos paradigmas da excludente sociedade brasileira, entre os quais aquele que tenta estabelecer – sempre sem afirmar - a existência de uma espécie de hierarquia cultural (ou mesmo intelectual), entre as raças ou classes no Brasil, que daria alguma legitimidade a desigualdade social predominante.
Dentre estes eletrizantes mitos, o mais curioso talvez seja o do 'Berço do Samba', que parece tentar comprovar - na verdade, de forma extremamente sutil - a velha tese racista de Nina Rodrigues sobre uma improvável supremacia dos negros bahianos ('sudaneses' supostamente maioria étnica na Bahia) sobre os demais (negros 'Bantu', vindos de Angola para as fazendas de café do Vale do Rio Paraíba do Sul, certamente, maioria étnica no Rio de Janeiro desde, pelo menos, o início do século 19).
Entre outras fontes, recorri para esta parte do trabalho, aos escritos (em notas assinaladas) de Nei Lopes – que gentilmente assina o prefácio do livro - além de Muniz Sodré e Sérgio Cabral, o pai, especialistas que dispensam quaisquer comentários)
Com vocês então:
O Mito do 'berço do Samba
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Não deu no jornal:
O dia em que um Samba foi cantado na Mangueira...pela primeira vez
...'Quem cantou foi Eloy Anthero Dias, o ‘Mano Eloy’, um personagem legendário do samba carioca. Morador de Madureira, na época, Mano Elói viria a fundar mais tarde pelo menos três escolas de samba (Prazer da Serrinha, Deixa Malhar e Império Serrano). Foi ainda, segundo dizem, um respeitado pai-de-santo e, durante muitos anos, destacou-se como líder sindical dos estivadores do cais do porto.
'...Mano Eloy cantou primeiramente na casa de Tia Fé e depois para os integrantes do Pérolas do Egito. Era um samba do tipo partido alto em que se repetia o refrão e improvisavam-se versos. O refrão dizia apenas o seguinte: ‘O padre diz Miseré Misereré nobis’. Em seguida, vinham as quadras improvisadas, quase sempre relacionadas com as circunstâncias em que o samba era cantado, Carlos Cachaça lembrou-se que, numa delas, Mano Elói brincava com a dona da casa, inventando versos como "amanhã vou na casa de Tia Fé", rimando com "vou tomar 'café' '.
O Samba de Partido Alto cantado por Eloy, principalmente pelo fato de usar uma rima com ‘café’, poderia ter algum remoto parentesco com o famoso ‘Batuque na Cozinha’ que, por sua vez, já havia sido um conhecido Lundu de letra africana, meio cabalística, bastante famoso na Corte Imperial como ‘Lundu do Pai Zuzé’ (este sim, matriz evidente do famoso e posterior ‘Batuque na Cozinha’ (assinado por João da Bahiana).
Lundu do Pai Zusé (domínio público - século 19)
‘Batuque na cozinha , Sinhá num qué
Pru causa da crioula do Pai Zusé
Auê, Zambi...
Zique...pá , Zique...pá , Zique...pá , Zique...pá ...
_ Cadê pirigurê? (caxinguelê)...'
Batuque na Cozinha (João da Bahiana, século 20)
'Batuque na cozinha a Sinhá num qué
Por causa do batuque eu queimei meu pé....
Eu fui na cozinha pra pegá cebola
E o branco com ciúme de uma tal crioula
Deixei a cebola, peguei na batata
E o branco com ciúme de uma tal mulata...'
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Existem muitos outros aspectos curiosos, instigantes mesmo, naquela primeira audição de Samba na casa da bahiana Tia Fé, na Mangueira dos idos de 1910, protagonizada, pelo ilustre visitante Eloy Anthero Dias, um encantado Carlos Cachaça, e o pessoal do rancho ‘Pérolas do Egito’, muitos deles talvez futuros integrantes do ‘bloco dos Arengueiros’, segundo consta, o núcleo formador da Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira. Embora eles sejam considerados hoje em dia fatos consumados e estabelecidos, que tal dar uma olhada neles, sob outro ponto de vista?
Para começo de conversa, há na crônica sobre as origens do Samba, um inexplicável exagero na hora de se falar desta impressionante figura que foi Eloy Anthero Dias, o Mano Eloy. O que se vê invariavelmente legendado em sua história, na época em que cantou pela primeira vez um Samba na Mangueira, é a sugestão de que ele era um ‘bamba, exímio sambista, jongueiro, pai de santo e macumbeiro’, cheio de super poderes, um verdadeiro ‘Superman’ negro.
Ocorre que este surpreendente Mano Eloy (com certeza um nome que merece mais notoriedade do que lhe dão os especialistas em Samba), pelos dados até agora disponíveis, devia estar, no máximo, com 22 anos na ocasião descrita por Carlos Cachaça (que seria mais novo ainda que Eloy).
'...Há 30 anos que Eloy Anthero Dias (agora aos 43 anos) ...faz parte do Samba- essa dança que encanta e embala. Durante este tempo, inúmeros sambas fez ele, inclusive ‘Miserê’, ‘Não vou lá no candomblé,’ ‘Moro na roça’, e ‘B com A’, estes tiveram retumbante sucesso' .
(Trecho de biografia de Eloy publicada pelo jornal ‘A Rua’, na ocasião em que foi eleito o primeiro cidadão Samba do carnaval carioca, em 1936)
Estando há cerca de sete anos no Rio de Janeiro e havendo ingressado no chamado mundo do Samba com cerca de 18 (portanto há apenas quatro anos antes desta sua ida à Mangueira), Eloy devia ser aquela altura, astuto sim, despachado, descolado; um jovem prodígio até mas, experiente com certeza ele não poderia ser. Não havia bagagem de vida, cabedal. Havia muito chão ainda para o futuro ‘bamba’ percorrer.
'... Sambista nascido em Engenheiro Passos, no estado do Rio de Janeiro em 1888 e falecido em 1971, na cidade do Rio – para onde viera com 15 anos de idade- (...) Mano Elói tornou-se o pioneiro do registro de cânticos rituais afro-brasileiros. Nesse ano, com o Conjunto Africano, gravou um ponto de Exu, dois de Ogum e um de Iansã. Seu companheiro nessa empreitada foi o já referido Amor. O pioneirismo dos sambistas Amor e Mano Elói deve-se ao fato de eles terem levado para o disco verdadeiros cânticos rituais, executados e interpretados como autênticos pontos de macumba, com atabaques e tudo o mais'.
O fato é que, por alguma estranha razão, ligada talvez ao inusitado da situação (quem sabe talvez o fato de ter sido um desconhecido ‘estrangeiro’ de Oswaldo Cruz, o verdadeiro introdutor do Samba, no tradicionalíssimo reduto da ‘Estação Primeira’), nossos estudiosos acabaram deixando sugeridas na biografia de um Eloy ainda mal saído da adolescência, qualidades que ele evidentemente só iria ter muitos anos depois.
A precocidade de Eloy (a quem também Nei Lopes, de certo modo, atribui a introdução do samba na Mangueira, sob a forma de rodas de Batucada e de Pernada) e de outros grandes mestres do Samba, era bastante comum naquela época, quando os conceitos adolescência ou juventude eram um tanto diferentes do que são nos dias de hoje. Mesmo neste caso há de se convir, no entanto que, se referindo àquela ocasião, os dotes posteriormente atribuídos a Mano Eloy eram certamente exagerados.
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Deu até no 'Fantástico':
O Quintal e a Sala da Tia Ciata
O outro aspecto, este mais instigante ainda, é que, se é fato realmente que na Mangueira de 1910 não havia ainda algo que se parecesse com o ‘Samba de Partido Alto’ trazido por Eloy (fato que explicaria a surpresa do menino Carlos Cachaça) a enfática afirmação da maioria dos estudiosos de que o Samba nasceu na Praça Onze, nos quintais das tais ‘Tias Bahianas’, pode não passar mesmo de um mito, um episódio exagerado pela bibliografia.
Se as adjacências da Praça Onze fossem realmente o lugar onde se localizava o ‘berço do Samba’, porque cargas d’água o Morro da Mangueira, tão perto dali, seria o último a saber, o único reduto a não participar da construção desta grande novidade que, em 1910 já deveria estar em franca e notória gestação?
Talvez tenha sido porque o que se irradiava da Cidade Nova para o Morro da Mangueira, não era ainda, definitivamente, Samba, e sim Rancho Carnavalesco. É o que se pode deduzir pela lógica dos fatos, principalmente se destacarmos o emblemático detalhe da reunião na qual Eloy cantou o seu seminal Partido Alto, ter ocorrido, exatamente, na sede de um rancho, o ‘Pérolas do Egito’.
Pelo visto, era mesmo das bandas do Estácio e, principalmente, da roça de Oswaldo Cruz e adjacências (Morro da Serrinha) que chegavam os novos ingredientes, para engrossar o caldo do Samba que a esta altura, já estava borbulhando, quase no ponto, ali por volta de 1910 / 20. De todo modo, mesmo sem se saber exatamente quem influenciava quem, a lista de precursores, Pais e Mães do Samba na época, pode ser bem mais extensa – e variada - do que aparece na bibliografia oficial:
...'De todas as tias, a mais famosa e a mais importante foi Tia Ciata (...) em cuja casa os pesquisadores asseguram ter nascido o samba carioca. Seu verdadeiro nome era Hilária Batista de Almeida, uma mulata muito bonita, que chegou ao Rio de Janeiro por volta de 1870, com 20 anos de idade. Instalada no Rio, Tia Ciata passou a ganhar a vida com um tabuleiro de quitutes baianos na rua Sete de Setembro.'
Talvez seja mais razoável se deduzir, portanto, que sendo a palavra Samba, por esta ocasião, talvez uma forma ainda genérica para se designar ‘Chulas de negro’ ou, simplesmente ‘Música de negro’, o que fermentava no quintal da Tia Ciata na verdade – e eventualmente chegava até no Morro da Mangueira, sem atrair muito a atenção do povo de lá - não era exatamente o Samba definitivo mas sim, uma das muitas formas de Samba que pipocando aqui e ali na cidade, disputavam uma hegemonia que estava para se cristalizar a qualquer momento.
O tal ‘berço do Samba’ poderia estar aquela altura, em qualquer lugar. Não havia uma estrela guia apontando para a 'Cidade Nova', como muitos especialistas em Samba insistiram em afirmar.
Contudo, embora sendo um exagero muito oportuno e providencial, pode não ter sido tão gratuita assim a eleição da área da atual Praça Onze, por parte de nossos intelectuais, como o berço oficial do Samba. Nas primeiras décadas do século 20 (num fluxo que, se inicia na segunda metade do século anterior) o lugar já se configurara como uma verdadeira colônia bahiana, congregando emigrados de diversos tipos, inclusive personalidades do candomblé e até mesmo alguns alufás maometanos, mal vistos em Salvador desde os tempos da última revolta dos Malês.
Situada ali, bem perto do centro da cidade propriamente dita, do centro mundano incrementado pela recente criação do boulevard parisiense que era a Avenida Central, no qual se situavam os ‘points’ da intelectualidade carioca, esta colônia bahiana se prestava maravilhosamente bem – embora de forma simplista – como representação simbólica, uma espécie de microcosmo da cultura típica – idealizada - dos negros africanos na capital federal.
Ao que tudo indica, no entanto, a julgar pelo que nos demonstram certos antecedentes da história do Samba, este pessoal da Bahia estava muito mais ligado mesmo é na afirmação por aqui, de suas próprias tradições culturais, trazidas do nordeste, entre as quais preponderavam o candomblé e os Ranchos (Pastoris ou Lapinhas), principal paixão cultural destes bahianos.
'... Carlos Cachaça não guardou na memória o ano em que ouviu samba pela primeira vez em Mangueira, lembrando-se apenas de que foi no tempo do Rancho Pérolas do Egito, tudo indicando, portanto, ter sido antes de 1910. Mas não se esqueceu das circunstâncias em que o fato se deu... '
Aliás, pode se considerar por isto mesmo – e com certa propriedade até - que, ao que parece, houve uma curiosa subestimação – ou mesmo omissão - do caráter essencialmente lusitano da herança cultural trazida por estes grupos de bahianos para a Corte do Rio de Janeiro, herança que possui traços muito evidentes na cultura primordial do Morro da Mangueira, como bem nos demonstra o ambiente encontrado por Mano Elói, nos idos de 1910, quando lá introduziu o gosto pelo chamado Samba de fato.
A implantação destas tradições luso-bahianas no âmbito da cultura urbana do Rio de Janeiro foi, inclusive, o motivo de muitas disputas e demandas internas, entre os principais líderes desta colônia nordestina, das quais a mais empolgante talvez tenha sido a que poderia ser chamada de A demanda dos Hilários, desentendimento ocorrido entre Hilária Batista de Almeida, a famosa Tia Ciata e Hilário Jovino Ferreira, segundo dizem o introdutor do Rancho no carnaval carioca, na disputa pela criação de um destes grupos. A referida disputa, de certo modo, separou os bahianos em duas facções rivais: A da Cidade Nova (Tia Ciata) e da Gamboa (Hilário Jovino)
Além da eventual opção preferencial pelo Rancho Carnavalesco, a julgar por algumas entrelinhas, contidas nos muitos relatos existentes sobre o assunto, o tipo de Samba praticado na casa da Tia Ciata – a bem da verdade um reduto de certa elite negra, composta por geniais músicos e compositores profissionais, além de funcionários públicos bem sucedidos (o marido de Ciata, o médico João Batista da Silva, era chefe de gabinete do chefe de polícia do Governo de Wenceslau Braz) talvez fosse uma forma de Samba um tanto esnobe, impregnada ainda dos maneirismos estéticos dos diversos gêneros de música européia que andaram em voga no fim do Império, tais como o Schotisches, a Polka e a Mazurka.
'Embora fosse daquela mesma geração, Pixinguinha não era exatamente um homem de Samba. Ele próprio contou que, nas festas descritas por Donga, não ia para o quintal: _ ’Eles (os sambistas) faziam seus sambas lá no quintal e eu os meus choros na sala de visitas. As vezes eu ia no terreiro fazer um contracanto com a flauta mas não entendia nada de samba’.
No mesmo artigo, Sérgio Cabral comenta também que, um tal de Marinho que Toca, um cavaquinista, foi quem ensinou Donga a batida do Samba (provavelmente numa das festas na casa de Ciata), ou seja, já naquela altura, do mesmo modo que Pixinguinha, seu companheiro no grupo ‘Os Oito Batutas’, Donga também não era ainda muito chegado ao ritmo do qual, logo depois, seria incensado como o suposto ‘inventor’ (pelo menos em gravações) .
O que se fazia na casa da Tia Ciata, portanto, era certo tipo de samba negro sim, mas, de certo modo, um tanto ‘aculturado’, que já fora chamado antes de ‘Lundu’ e tentava agora descolar de si o nome de ‘Maxixe’, com o qual a mídia da época já ameaçava batizá-lo de vez, uma espécie de ‘Bossa Nova da Belle Èpoque’, em suma.
O que se pode afirmar com certeza é que a receita de Samba tentada na casa da Tia Ciata, foi uma experiência de fusão musical que, pelo menos como Samba, não vingou. A receita que o caldeirão não conseguiu cozinhar (ou o cozido que não apeteceu a negrada, ao ‘populacho’); uma forma de Samba que, não prevalecendo, foi se diluindo, amarelando com o tempo, abafada pela batucada avassaladora que o povo negro da Roça, liderado pelo enorme poder de sedução e persuasão de figuras como Eloy Anthero, veio trazendo para as ruas da antiga Corte.
Ao que nos parece, portanto, o Samba definitivo, aquele que emergindo por volta de 1920, se apossa rapidamente da cidade, só começa a tomar forma mesmo, quando o Jongo e outros ‘batuques’ instalados nas roças atrasadas da periferia, começam a se espalhar, como água pura - via cais do porto talvez - por esta cidade já irremediavelmente partida ao meio por uma imensa e simbólica ‘Avenida Central’ que, separando a população entre ‘brancos’ e ‘crioulos’; remediados e desvalidos, parte também nossa música popular urbana em duas vertentes culturais quase inconciliáveis, que só se encontrariam para desfilar no Carnaval.
Reproduz-se assim, como num samba enredo improvável, o quadro de intenso apartheid que havia sido instalado na cidade do Rio de Janeiro por seu prefeito, o ‘smart’ Pereira Passos, em 1906.
Por este viés, pode-se compreender também, e com maior rigor e clareza, a natureza de uma certa polêmica que opunha de um lado, o 'samba' ‘Pelo Telefone' (aquele filho dileto do ‘Maxixe’) e de outro, o ‘Samba de Partido Alto’ (o filho legítimo da ‘Chula Raiada') aquele que enfim, logo em seguida, açambarcaria de vez o título de Samba de fato.
Num definitivo depoimento divulgado no livro de Muniz Sodré ‘ Samba o dono do corpo’, Donga afirma enfático que a melodia de ‘Pelo Telefone’ foi copiada de um tema folclórico, muito popular na ocasião (uma chula, portanto) no qual ele inseriu versos, encomendados ao jornalista Mauro de Almeida.
O que conhecemos como o primeiro Samba gravado, não seria portanto nenhuma novidade. Na verdade nem o nome de 'composição' original mereceria porque, não passava de uma simples paródia (coisa que aliás, segundo o mesmo Donga, era bastante comum naquela ocasião). Podemos deduzir então que “Pelo Telefone’, era uma chula-paródia, em ritmo de Maxixe que, algum esperto produtor (Fred Figner, da Casa Edison ou o próprio Donga), detectando o grande apelo comercial da palavra, resolveu batizar de ‘Samba’.
É sintomático inclusive que, começando provavelmente a ser elaborado em 1910, este ’Samba de fato’ tenha tido que esperar quase 20 anos mais para ocupar, no carnaval, o lugar que as marchas, lundus e maxixes ocuparam, durante as duas primeiras décadas do século 20.
'...O primeiro rancho carnavalesco em Mangueira chamava-se Pérolas do Egito, criado antes de 1910, ano em que surgiram o Guerreiro da Montanha e um outro cujo nome Carlos ('Cachaça') esqueceu, mas que teria sido formado pelos moradores do alto do morro. Mais tarde, nasceu o Príncipe da Floresta, o mais famoso rancho de Mangueira, que adotou as cores verde e rosa.
Os negros Mangueirenses, no mesmo momento em que tentavam forjar a difícil mistura entre seus candomblés e macumbas com as dolentes marchinhas das Lapinhas, dos Pastoris e dos Ranchos dos lusitanos, devem ter ficado mesmo encantados com a astúcia e a picardia africana, angolana, contida nos ‘Sambas de Partido Alto’ trazidos por Mano Eloy.
Segundo alguns autores, foi neste exato momento, quase em 1910, que eles, os Mangueirenses (junto com o pessoal da vizinha Praça Onze), foram irremediavelmente contaminados pelo vírus daquele Samba jongado que vinha da Roça ‘atrasada’.
Nascia o Samba de Fato. Seu berço? Alguma fazenda de café do Vale do rio Paraíba do Sul, provavelmente. Ou, quem sabe? Algum pátio de aldeia, próximo à Luanda, Angola. De certo apenas isto:
O nosso velho Samba não nasceu na Praça Onze...E muito menos na Bahia.
Spírito Santo
Rio de Janeiro, 2005
Contribuições rápidas à discussão: Segundo dito por Ary Vasconcelos existem pelo menos dois discos anteriores a gravação de Pelo telefone trazendo o nome "samba" em seus rótulos. Um deles de 1914.
Outra: o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti, em consulta aos históricos arquivos da polícia no Rio encontrou algumas incongruências nas histórias contadas por Hilário Jovino, o "fundador" dos ranchos cariocas.
Ótimas contribuições, Egeu!
A historia do Ary é muito verosímel mesmo e vem atestar a teses de que o rótulo 'Samba' estava mesmo na crista da onda, como um passarinho, pra qualquer um pegar. Quanto ao Hilário, ele era mesmo uma figura bem polêmica, encrenqueira e egocêntrica, pelo que se pode ver em sua biografia. Do mesmo modo que a 'fundação' do Samba, a 'fundação' dos Ranchos deve ter tido várias disputas pela paternidade.
O que é certo é que alguém desviou a bahianíssima Lapinha/Rancho do Natal e, no Rio, a inseriu no Carnaval. Alguém precisa cavucar pra confirmar se foi mesmo o Hilário Jovino (ele correu pra registrar a coisa, como fez o Donga, outro figuraça). Faltam dados também sobre o Rancho criado pela Tia Ciata (que gerou a briga que eu chamo 'dos 'hilários). Sobre os Ranchos do Morro da Mangueira também há pouca coisa.
Como se vê, este novo viés tem futuro, certo?
Abs,
alô Spirito Santo: muito interessante o seu texto - quando livro vai ser lançado? estou curioso para ler os outros capítulos
apenas uma observação: sei que não é o seu objetivo, mas temo que seu argumento possa ser interpretado como a troca de um mito por outro... o que eu acho mais interessante na produção cultural daquela época no Rio é a grande variedade de novas experiências musicais que estavam acontecendo em muitos bairros - não sei se existe a origem "de fato", a raiz verdadeira a partir da qual tudo mais pode ser pensado como "fake" - talvez o mais importante seja não perder de vista que essas experiências aconteciam em rede, e que é a troca constante entre os múltiplos e complexos elementos da rede que vai produzir aquilo que hoje chamamos de samba
muitas tradições culturais, mais ou menos pop/populares, conviviam nas ruas do Rio naquele momento (além das que você enumera no seu texto, lembro por exemplo da invção do surdo no Estácio) - concordo que muitas histórias do samba privilegiam o "ponto de vista baiano" - mas será que para valorizarmos outros pontos de vistas, outras contribuições (como a do jongo), temos que desvalorizar a contribuição do samba de roda do Recôncavo da Bahia para a criação do samba urbano carioca? sei que não é o que você propõe, mas o texto corre o risco de ser interpretado assim (até pela acusação de "fake")...
como já fiz em alguns artigos onde tento refletir sobre dinâmica cultural, volto a citar o arqueólogo Colin Renfrew e seu conceito de etnogênesis (a criação de uma etnia): estudando a história da cultura celta, no lugar de procurar o seu local de origem (o mais antigo, mais autêntico, mais verdadeiro, mais puro), ele demonstra como tudo foi criado ao mesmo tempo em vários pontos diferentes da Europa, que mantinham troca de informação, bens e gentes constante entre si
o Mano Elói parece ser um dos mediadores que circulavam entre muitos ambientes diferentes, divulgando e misturando as novidades...
mas claro: posso estar errado
desculpa: cliquei no enviar antes de revisar... vários errinhos...
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 21/5/2007 17:35
Muito bacana Spirito Santo.
Meu Tio é Compositor e Puxador de Samba-Enredo, vou indicar o livro e mandar este texto para ele apreciar. Valeu pela colaboração!
Vou acompanhar a discussão das idéias por aqui.
Alô, Hermano
(sobre o livro estou sem previsão. O Nei me indicou para a Pallas mas, a coisa não avançou ainda. Estou com um grupo de pessoas correndo atrás da produção, lei Rouanet, estas coisas e, aceitando sugestões)
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O conceito 'de fato' que uso no post e que chegou a ser usado em algum momento (não lembro qual) em várias destas recorrentes polêmicas sobre as origens do Samba, é um tanto provocativo mesmo (o 'fake' também, é claro). Mas a idéia não é, de modo algum, trocar um mito pelo outro, como pode parecer. Você tem toda a razão (aliás, é esta a principal intenção do meu texto): as coisas aconteciam em rede! É sempre assim que elas acontecem (como tudo na vida). Como vimos, parece que os cronistas é que perderam isto de vista com a história da casa da Tia Ciata. Um quintal e uma sala é um exemplo muito precário de rede.
A questão é que, por conta das especiais características de nossa sociedade, a cultura brasileira, sempre que vista de um ponto de vista assim, tão distanciado no tempo, aparece muito ideologizada e se acaba superestimando (ou omitindo) certos elementos da rede, em detrimento de outros, desconfigurando completamente o sentido (e não a raiz, um conceito também exdrúxulo para mim) do assunto.
Nossa diferença talvez seja que eu acho que estas coisas não são ocasionais, acidentais. Acho que é coisa de ideologia sim. É humano que seja, senão, não haveria colonialismo, jihad, cruzadas, escravidão, nada. O mundo seria uma paz só.
Meu foco está portanto naqueles elementos que considerei omitidos ou 'falseados' na hora em que nos contaram, oficialmente, esta história. Queria chamar a atenção para alguns dos tais elementos que dão multiplicidade e complexidade à nossa rede e que, foram omitidos ou subestimados. Para mim estes são os mais importantes, mas, existem muitos outros, com certeza. No livro identifiquei vários.
Sobre a questão 'bahiana' um adendo: Ela – a questão- é bem mais complexa e não cabia no post (falo muito dela no livro) mas, em linhas gerais, o dilema no caso do Samba é simples (aliás o post toca nisto, de relance, sim):
Para mim (na bibliografia pesquisada), se superestima a herança 'bahiana' para, indiretamente, se afirmar a supremacia sudanesa (a tese de Nina Rodrigues que considerava o bantu 'inferior') mas veja a ironia, no caso Samba, no que diz respeito à herança bahiana, o núcleo é, como você mesmo cita, o recôncavo, área de cultura essencialmente Bantu (como no Rio). Logo não estou, de modo algum, desvalorizando a influência bahiana, só estou tentando retirá-la deste bairrismo esperto no qual certo tipo de antropologia a colocou.
Em suma: O Samba urbano carioca é essencialmente bantu, foi germinado nos lugares onde as pessoas deste ramo cultural predominaram (inclusive no recôncavo bahiano onde, aliás, nada impede que tenha havido – ou mesmo haja- algo igual ao Jongo daqui do Rio). Ocorre que o Samba foi, definitivamente formatado, tal como a gente o conhece hoje, no Rio de Janeiro. Aconteceu. Não é uma disputa entre cariocas e bahianos. Nunca foi.
Então é isto (que vale para a cultura celta também, é claro): Etnia é um conceito bastante simples neste caso. A cultura é portada pelas pessoas, carregada por elas, para onde quer que elas sejam transferidas, por vontade própria ou à força. As pessoas se influenciam também, umas às outras, quer queiram, quer não. É uma lei da natureza. A rede é a vida.
(O que não podemos é ser aturar estas 'Al kaidas' paraguais que são criadas por aí)
Estava aguardando ansioso o seu comentário.
Logo, que bom: Desta vez estamos certos, os dois.
Abraços
Higor,
Valeu manÔ! Fala pro teu tio que o que tem de enredo para ser desconstruído ('descomposto', no caso) não está no gibi.
Abs,
(Em nome do rigor)
..."sempre que olhada de um ponto de vista assim é aturar estas 'Al kaidas' paraguais
e (no final) ..."aturar estas 'Al kaidas'..."
Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 22/5/2007 20:47oi Spirito Santo: ainda bem que estamos certos... as coisas são realmente complexas... e certamente políticas: tudo na rede é negociação política: e, o tempo todo, determindas partes da rede tentam dominar as outras, até tentando apagar alguns de seus circuitos ou concentrando todas as decisões importantes em poucos de seus pontos de cruzamento de informação... de maneira alguma acho que todos os pontos têm poder igual... a rede não é boazinha, não é o reino da igualdade: ela produz desigualdade o tempo todo: seus links são relações de poder... por isso fico um pouco temeroso diante da frase: "O Samba urbano carioca é essencialmente bantu" - é certamente uma afirmação ideológica, de marcar determinado circuito da rede e dizer que é a essência de tudo, o circuito central (usando estratégia parecida com aquela que por tanto tempo quis manter outros circuitos - o sudanês? - no poder), precisando para isso um pouco que "desqualificar" outros pontos importantes, diminuindo a importância que o que aconteceu na casa de tia Ciata, entre outros salões mais baianos... mas bem sei que na hora de afirmar algumas coisas, precisamos negar tantas outras... como você mesmo diz: é humano que seja assim...
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 22/5/2007 21:37Excelente post. O texto e os comentários estão sendo uma verdadeira aula de samba. Estou preparando uma matéria sobre Henrique Brito... O bando de Tangarás e etc... Um abraço Spirito
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 23/5/2007 09:45muito bom, um texto sobre o Bando de Tangarás! já estou esperando ansioso!
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 09:51
Hermano,
É mais ou menos isto. Política o tempo todo mas, na expressão 'o Samba carioca é, essencialmente, bantu' recomendo atenção e ênfase para este >'essencialmente'. É mais ou menos como se considerar a cultura inglêsa (ou irlandesa) como 'essencialmente 'celta'.
Só queria enfatizar que, a meu ver, temos um problema a ser resolvido com relação à cultura dos chamados bantu (um conceito meramente geoliguístico mas o melhor que temos para o pessoal de Angola que veio para o Brasil). Como os elementos que eles trouxeram para a rede foram tão numerosos quanto omitidos (por razões que vamos aprofundar com o tempo) é preciso que alguém os traga à luz, para que a gente os avalie, os compreenda já que, memso que muitos não adtimitam, eles fazem parte da nossa cultura, da nossa rede.
O Ali Kamel não vai gostar não mas, podemos chamar isto de 'ação cultural afirmativa', 'cotas culturais', algo assim. Política pois.
Abs,
(bem que post-comentário podia ter também fila de edição, não é mesmo?)
Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 09:56não sei se eu diria que a cultura inglesa é essencialmente celta... esse negócio é bem complicado... mas - mesmo continuando a pensar que talvez essencialmente não seja o advérbio melhor - entendi bem o que você quer dizer - continuemos na política então! abraço!
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 10:00
Hermano,
Pois é. Essencialmente, fundamentalmente, provavelmente. Como não podemos afirmar, a gente fica nos advérbios. Se antropologia fosse uma ciência exata...
Abs também.
Eu senti o mesmo que o Hermano, mas creio que isso eh parte da escola do Nei Lopes que costuma fazer o mesmo nos textos dele. Acho uma perda isso porque gera uma antipatia pelo material antes mesmo que ele seja lido (por conta da escolha do titulo, eu quase passei por ele batido e soh vim conferir pq gosto de ler textos sobre a historia do samba). Acho que se pode fazer o resgate, se discutir como um certo grupo se sobrepos ideologicamente, apagando os tracos do outro, sem tomar a mesma atitude. Creio que o texto tem limitacoes que o livro deve esclarecer. Inclusive, se eh de preferencia do autor fazer uma "acao afirmativa" em prol dos bantus, isso com certeza esta explicito no livro visto que o proprio autor o explicitou aqui. Sao escolhas que, na minha opiniao, precisam apenas ficar claras para que possam gerar o debate. No mais, excelente etxto. Estara nos meus favoritos.
Roberto Maxwell · Japão , WW 23/5/2007 10:17
Roberto,
(O debate está esquentando)
Pra começo de conversa, este negócio de 'escola do Nei' é meio vago. Eu,pelo menos, tenho uma série de pontos dos quais discordo dele. Estes pontos estão no livro, inclusive e, mesmo assim ele é o prefaciador. Não sou de escola alguma. Nem mesmo de Samba (torço pela Mocidade mas não sou fanático).
Agora quanto a gerar antipatia com títulos ou posições discutíveis, isto faz parte do nosso assunto e é do processo.
Os que vêem estes pontos com antipatia, por certo, fazem parte de um grupo antagônico e os antagonismos, já dizia o velho Engels (ou foi o Marx? Já esqueci) são a força que move o mundo.
Não sei se o livro vai esclarecer as limitações que você encontrou no texto. Como você não disse quais eram (seriam as mesmas do Hermano?) não posso, por enquanto, esclarecê-las.
Mas estou aí. Á sua disposição.
Brigadão pelo comentário e abraços
parabéns spirito! tb aguardo ansioso pelo livro, mais uma contribuicao a nossa rica e diversificada historia musical. Quanto a supremacia de uma informacao, acho que tudo eh u pouco assim. Ainda ontem um amigo historiador me falava que como zumbi tiveram muitos, mas que como ele se tornou a figura mais popular os outros ficaram apagados. Seu texto nesse sentido sera enriquecedor para o tema e para como hermano disse ter essa nocao de rede que havia naquela epoca.
diginois.com.br · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 10:44
Diginois,
Olha só, rapaz! Você tocou no 'x' da questão. Tenho um post aqui mesmo (são duas partes, ok?), falando sobre isto. O ponto foi inserido no livro mas eu retirei porque não tinha muito a ver com Samba mas, vejá lá. O papo do Zumbi também é um mito cabeludíssimo. Dentro do mesmo contexto.
Seu amigo está com toda a razão (gostaria até que ele desse uma lida no meu post. Como não sou historiador, ele poderia me dar umas dicas importantes). Na verdade, para se compreender a história de Zumbi, só mergulhando de cabeça na história angolana do período. Como nossos historiadores, em geral, acham que a história do negro brasileiro só começa no Brasil ('negro não tem história'). Ficamos nesse 'Samba do crioulo doido' sem fim. Debatemos pois!
Valeu o comentário.
Grande abraço
Ô Spirito,
Excelente teu fôlego. Conteúdo rico em cuidada urdidura. Não fui aos linques, mas o texto em si já basta para atiçar a curiosidade e alimentar os espíritos, creio que para a paz entre os contrários, se do antognismo deva resultar a superação.
De samba és já doutorando, então, não é fato?
pelo viés da história de afriacanos, diria mais: uma antropóloga negra amiaga aqui do Rio Grande diz que negro é um termo europeu que os de África nã conheciamos. E que teria a ver com o pavor pânico dos de Europa pela (pre)visão na tês escura das sombras que os assustariam às noites.
Eu, que muito jovenzinho sapateei na matinê do Cine Rey torcendo pelos rifles ingleses contra lanças zulus, mais tarde, descobri que nem os ingleses eram os mocinhos naquela fita colonialista, nem Cleópatra era como Liz Taylor.
Os de África, de quebra, tocam os tambores dos albores da humanidade (pelo menos do que encontrou até o momento a ciência).
Se aí soam em candomblé e macumba, aqui sã de batuque os alabês. Tudo madeira e pele, em compasso acelerado de mexer pezinho e rodar a saia (tem gente que diz, não por acaso, rodar a bahiana).
Troco um livro teu (quando e como ele vier, por um exemplar do meu, que tá impresso e vai ser lançado dia 31 como deu até na capa do Overmundo. É só mandar o endereço pelo e-mail).
Não demora muito para publicar que eu só tenho mais uns 50 anos pela frente caro amigo.
Té.
ok Spirito, vou ler seu texto e depois comento aqui. Passarei ao meu colega esse link tb. Na verdade meu nome eh Lucas, o diginois eh meu QG. La vc pode baixar meu cd gratis. Os Sambas contidos nele ja estao pra la de hipertextualizados.
boas audicoes!
alô Lucas: tá rolando outra boa conversa sobre samba neste link aqui
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 13:17
spirito, muito bacana o texto! espero que venha somar aos poucos títulos sobre o tema. gostaria somente de acrescentar um comentário à discussão:
pelo menos no seculo xx, a discussão acerca dos paradigmas da antropologia e da história giram o tempo inteiro em torno da questão da interpretação. caras como fernand braudel ou mesmo o clifford geertz, se debruçaram sobre a questão do método: como abordar tal tema, como direcionar a pesquisa etc. não é, portanto, privilégio dos estudos sobre o samba tamanha discrepância de perspectivas e resultados... acho q o nei lopes é muito tendencioso, pq para ele trata-se de uma "reabilitação" do negro. o hermano privilegia a constituição das "redes", de resto um conceito tão antigo quanto a pedra (basta lembrar a enciclopédia, o próprio movimento burguês, o nomadismo...) enfim, cada um enfoca aquilo que lhe é conveniente, ou que lhe parece útil, polêmico... é claro que algumas interpretações são explicitamente tendenciosas e servem a propósitos políticos explícitos, como por exemplo, a de anthony giddens sobre "a terceira via", ou a de ali kamel sobre a objetividade na imprensa (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=419jdb008). mas não é menos claro, que, nós mesmos, cotidianamente, tb nos auto-fornecemos interpretações diversas, sobre temas diversos, com propósitos nem sempre louváveis… porque cargas d’água essa inflexão humana, demasiado humana, não haveria de adentrar no texto analítico/reflexivo/acadêmico? este elemento miúdo, afetivo, é que, na minha opinião, dá a dimensão propriamente política de qualquer interpretação…
não creio que haja possibilidade de se falar de cultura em termos metafísicos como “essência”, por exemplo. e mesmo a preponderância étnica em um gênero qualquer, não diz nada, ou muito pouca coisa, sobre este gênero. é o movimento, e não a essência que delimita a interpretação… spirito, se a tua bibliografia pesquisada “superestima a herança 'bahiana' para, indiretamente, se afirmar a supremacia sudanesa”, qual é o problema? será que após “corrigir” equívocos de interpretação, a matéria superada se torna necessariamente obsoleta? será que a gênese fake de um conceito, torna esse conceito menos verossímil, menos útil, menos dado a recortes e decomposições?
lembro-me do maravilhoso filme de orson welles, f for fake (tem em dvd), em que muitas dessas questões são abordadas com humor e cinismo. no fim das contas, o filme diz o seguinte: falso? verdadeiro? questão política por definição, já que intrínseca ao desejo humano.
abs
obrigado pelo link hermano! aconselho todos a irem no link do hermano acima. melhor bate papo que já li no overmundo.
diginois.com.br · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 14:02
Bernardo,
(Você foi fundo, heim, rapaz!)
A questão chave no entanto é que isto acaba virando uma disputa estéril entre conceitos semânticos, uma conversa entre 'iniciados' (e eu abomino seitas, em geral). É, exatamente, nesta seara que não queria entrar. Vira um papo sobre 'sexo dos anjos' que, geralmente, não leva a gente a lugar algum. Das duas, uma: Ou dá satisfação intelectual ou enxaqueca. Me desculpe mas, papo cabeça e Samba só combinam se a letra tiver sarcasmo e ironia, muita ironia (como deve ser o filme do Welles que você citou).
Falando sério. Não estou querendo superar ou corrigir matéria alguma, como você parece dizer, ou mesmo trocar mito algum por outro, como o Hermano parece que disse, a certa altura. Imagina!
Uma coisa só me causa inquietação: Porque é que sempre que se toca na questão étnica no Brasil, em certas rodas, a conversa desanda, fica confusa?
Quem foi que falou em preponderância étnica? Eu não fui, com certeza. Ao contrário. Agora não me furto em dizer que temos um problema étnico sim. Não posso abolir o conceito, fingir que ele não existe. A cultura é o âmbito ideal para o debate do assunto (a propósito, já fiz aqui um post sobre isto). Acho que ele precisa ser discutido e, se possível, resolvido senão, vamos ficar travados, escravos (sem ironia) do eufemismo e da semântica, se abaixando das balas perdidas.
Por outro lado, não tenho o menor interesse em metodologias antropológicas e você mesmo já disse porque quando cita Fernand Braudel ou Clifford Geertz (dos quais eu nunca havia sequer ouvido falar).
Aliás, isto me lembra uma coisa que me ocorreu um dia desses, lendo uma velha revista chamada 'Civilização Brasileira', ali dos anos 70. Cara, eu me lembro que me esforçava muito para entender as teses marxistas-antropológicas que rolavam ali. Precisava entendê-las para debater com os 'companheiros' nos grupos de estudo da 'organização'. O problema todo era com o jargão empregado. Apanhava muito do jargão dos caras. Relendo hoje, percebo como me enganaram.
Como o jargão ficou, com o tempo obsoleto, barroco até, e a 'profundidade' das teses estava baseada, inteiramente, na pompa e na circunstancia do jargão, as teses se desmilingüiram, se transformaram, rigorosamente, em lixo. Não servem nem para enfeitar prateleira de sebo. É o dilema acadêmico: Ser ou não ser claro? Dizer ou não dizer o que realmente penso?
Enfim...
Grande abraço,
Lucas,
Vou lá no teu QG agora memso.
Abs,
por favor, baixe o cd sem moderação!
diginois.com.br · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 16:29
Parceiro Adroaldo,
Belas e boas palavras! tenho uma história do nipe da de sua amiga aí do Sul. Morei um tempo na Áustria (terra do Adolf, lembra?). Lá Quando se invocavam com a gente (fui com mala, cuia e a família) nos chingavam de dois nomes feios ( pra eles): Africanisches! ou Mohr! Africano é fácil. Para eles não existe cubano, brasileiro, jamaicano. Todo crioulo é africano. Ponto. Este 'Mohr' é que me deixava tiririca porque não entendia o que eles queriam dizer. Pois bem Mohr é, literalmente 'Mouro'. Os caras guardaram a mágoa deles desde as Cruzadas e, até hoje, usam a palavra Mouro como pejorativo para crioulo. O que é a mente humana, não?
Quanto ao livro, ele está bem atrasado em relação ao teu mas, tá prometido, carimbado e sacramentado.
Grande abraço,
Manda o endereço pra
adroaldo.rs@terra.com.br
com cópia para
adroaldo@portoweb.com.br
(não esquece o cep).
Ah! Pra não ficar de janelinha no bonde que peguei andando sem pagar, os mouros que falas são os spindolas que ficaram 400 anos na península, que depois, apropriada do conhecimento africano concebeu as navegações atribuídas, mais uma vez pela história dos que venceram, a Sagres certo?
Ora pois pois! E não é que é isto mesmo, ô pá?
falando em identidade étnica e política: olhem só que bacana: o Movimento de Defesa da Língua, da Galiza (!), acaba de se cadastrar no Overmundo - lá resistência é aprender português na escola! - vejam só! tudo dependo do lugar onde estamos, do momento que vivemos, das redes nas quais estamos inseridos etc. etc. - mas fiquei contente com os galegos a bordo - e visitem o site da cantora que coloquei lá nos comentários - ela é incrível
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 20:22
só vamos lembrar, spírito, que o direito à leitura, aos temas complexos, ao exercício intelectual não são, e nem nunca foram, privilégio da academia. não foi exatamente o caso do braudel e do geertz (embora valha a pena conhecê-los), mas lembremos de gente como haroldo de campos, artaud, caetano, e tantos outros pensadores extra-acadêmicos... o próprio nei, sempre lembrado em nossas conversas...
acho que vc faz uma confusão entre "papo cabeça - jargão defasado - academia", que, na minha opinião, não faz o menor sentido... existem idéias não-obsoletas circulando por aí, existe vida na academia e fora dela, o barroco não está obsoleto... e eu acho que "papo cabeça" é uma expressão extremamente preconceituosa e ressentida: ela parece dizer que nao vale a pena dedicar-se ao pensamento.
Aliás, será que nas questões que vc coloca em relação à interpretação ideológica do samba, não temos aí, à espreita, um encabulado Karl Marx como inspirador incofesso? será mesmo spirito, que não há uma dimensão intelectual no teu texto?
agora, me admira que vc insista em se lamentar quando interpretam suas idéias livremente, como no meu e em outros casos. vc diz: "Porque é que sempre que se toca na questão étnica no Brasil, em certas rodas, a conversa desanda, fica confusa?" Ora, pq estamos aqui, gastando fosfato, escrevendo, lendo o que os outros escrevem, senao pelo puro prazer da interlocução e da troca de idéias? acaso precisamos concordar sempre? acaso dependemos de uma absoluta sintonia de idéias para iniciarmos um debate? se há confusão, se a conversa "desanda" é pq há interlocução em algum nível... e isso é bom!
abs
Ô Bernardo!
Nada de errado com o papo. Com ou sem cabeça. Não tenho o menor ressentimento nem preconceito com estas coisas de nos dedicarmos ao pensamento. Todo mundo pensa. É claro. É isto que estamos fazendo aqui. É isto que procuro atrair com meus textos: o debate.
Tá certo. O papo do jargão devassado foi mal (nem era para ser entendido com sendo, diretamente, dirigido à você).
O que eu queria dizer com o exemplo do jargão era que não estamos sózinhos no papo. Em tese tem um monte de gente acompanhando, querendo sugerir e, se a gente entrar em intelectualismos, se desviarmos o foco demais, nesta conversa esotérica de quem cita mais, quem leu mais ou conceitua melhor sobre isto ou aquilo, a conversa vira mesmo...papo cabeça, no sentido jocoso que a expressão costuma ter neste caso. Vamos levar isto na brincadeira. Nada de sério - de serioso- na minha intenção.
Sobre a conversa desandar quando se toca naquilo, é uma constação antiga, pessoal, que eu sempre acho por bem exprimir porque é um comportamento recorrente demais, quando se toca neste assunto. mas, é claro que ninguém precisa concordar, é claro. Mudar de assunto é que não é legal.
O papo continua bom. Vamos em frente.
Abs,
Ô pessoas amigas,
A conversa é essa mesma que Spirito, Hermano e Bernardo, cada qual no viés de cada um, postaram.
Quando o comentário traz a academia quer dizer que importou, mexeu, buliu... nesse caso: sambou.
O que eu concordo com o Spirito é uma suposição: terá sido por vezo ou pela singeleza veloz do comentário que Bernardo disse:
- a de anthony giddens sobre "a terceira via", ou a de ali kamel sobre a objetividade na imprensa ?
Nas citações antes e após estas, Bernardo repassa o conceito de quem foi por ele citado. Ótimo, aos que desconhecem, como eu, resta ir ao lugar (tem até linque pra isto) para aprender mais, se não foi suficiente o exposto.
No caso da re-citação que fiz aí acima, restou a suposição de que todos conhecemos giddens e ali kamel, ou que isso é um dever, porque não foram citados os conceitos dos homens, apenas os temas que abordam.
Aí eu poderia dizer que prefiro Florestan Fernandes a esses outros, também na abordagem da questão étnico-racial, não só na sociologia.
Mas restaria uma lacuna, um diálogo sem a presença da atualidade, porque a análise desde o presente cabe a nós, ainda vivos e dedicados à questão.
Quanto ao samba em si: o que se faz dele hoje tem a ver com os conteúdos todos que lhe deram origem (sim, raízes).
A questão do falso e do verdadeiro é que não pode ser esgrimida para encontrar qualidade, a mim parece.
Isso porque, já nos alertaram muitas e muitos, o que acontece é, e irreversível, independente de ter uma raiz genuína ou apropriada, mesmo falsa.
Tem voz, levada de tambor, compasso assemelhado, convoca à ginga: é samba.
A matriz, dada a variedade dele, e a origem são uma prospecção de extrema dificuldade ou escavação no vazio dado que a cultura oral não prevaleceu nas comunidades, não é fato?
Até onde se possa ir na pesquisa, mesmo motivada (aliás, sempre motivada!) se deve ir.
De lá em diante será mesmo defender um lado que se considerou real, verdadeiro, de boa cepa.
Até na Bíblia está escrito, como nos lembrava João Antônio, de Malagueta, Peru e Bacanaço, numa entrevista sobre o País das Bruzundangas: Deus vomitará os morninhos.
desculpem-me se desfoquei o assunto. Mas é que, diante dos comentários, que aludem à possibilidade de uma nova mitificação no texto do spirito, penso que é importante chamar a atenção para esse aspecto “metodológico”
quis dizer com a citação do artigo do kamel que, às vezes (nem sempre) uma interpretacão pode ser extremamente tendenciosa, com propósitos políticos nada louváveis. um pouco confirmando o que escreve spirito, quando abre seu texto dizendo que pretende: "esmiuçar e desconstruir alguns dos mitos, supostamente, criados em torno da história do Samba - enquanto uma espécie de síntese da cultura do negro brasileiro, em geral - mitos estes que, como ocorre com muitas outras ficções antropológicas montadas no Brasil, foram construídos por criativas comunidades de intelectuais, ao longo do tempo e com intenções, quase sempre, muito bem medidas."
eu reitero aqui meu comentário: a discussão que spirito propõe tem um fundo metodológico. ora! está escrito, está posto! o fato de que "criativas comunidades de intelectuais" tenham forjado perspectivas equivocadas sobre o processo de constituição do samba, exige que nos debrucemos sobre o que eles escreveram, como escreveram e porque escreveram. e isso não é tarefa necessariamente "prática", mas intelectual. acho que o giddens e o ali kamel podem ser suplantados com uma simples pesquisa no google, não é o que realmente importa. importa saber se o intuito do spirito de desconstrução de elementos da historiografia brasileira realmente está se constituindo sobre outras bases.
Apesar de gostar muito do texto, sinto que ele é tributário dos textos do nei lopes. Não há NENHUM mal nisso, por favor, pelo contrário. Mas penso que é preciso sintonizar o produto com o propósito.
Ademais, toda tese antropológica é também uma ficção. Spirito, parece que vc coloca isso como um demérito. Mas o fato é que não existem fatos, somente interpretações.
Abs a todos
Adro, (e todo mundo, é claro)
(Adro, o das igrejas é aquele pátio amplo, defronte as ditas, onde o pessoal que não assiste - ou que já assistiu - a missa, fica papeando, batucando, cantando, tomando cachaça e, as vezes, até sambando)
Pois é isso, Adro. É mesmo o presente que nos condena, à todos
(O que eu mais gosto neste assunto de Samba é o quanto o tema tem de iconoclástico, de potencial para bagunçar conceitos arrumadinhos de Brasil). Não sou mais garoto para cair em arapucas conceituais e, podem crer (sem falsa modéstia) neste papo de arapucas étnico antropológicas, sou craque. É tempo de serviço.
Não falei aqui, jamais, em supremacia étnica, não sou intelectualmente um ressentido, e isto tudo está lá, bem claro no texto. Tá lá, inclusive, no nome do post: O SAMBA fake e o SAMBA de fato. Dois Sambas pois, com o mesmo peso e medida, faces de uma mesma moeda, cada face com seus arranhões, pra gente alisar, conhecer. O post só é contra o dólar furado. Só. Ponto.
Não queria ficar estendendo este papo porque ele é o livro (as coisas mais 'cabeludas' que estão pipocando aqui, insinuadas, já estão lá, já as coloquei lá. O que faço? Não posso encher o saco de vocês colocando o livro todo aqui.)
Mas, vamos lá, só pra esquentar um pouco mais. O Ali Kamel, por exemplo. O que tem o Ali Kamel (que não está no livro) a ver com o nosso papo? Lancei várias dicas para alguém citar o cara e a citação que aparece não tem nada a ver, diretamente, com o papo (nada pessoal, Bernardo). Pois gente, a referência que faço ao Ali Kamel (desculpe a ênfase) não era no sentido que o Bernardo citou. O Ali Kamel é, para muita gente (inclusive eu), um ideólogo do neo racismo brasileiro, um cara ligado militantemente a isto. Já escrevi várias cartas para O Globo tentando debater sobre isto mas, nada foi publicado. O (sambista) Nei Lopes, nosso amigo, também tenta rebater o cara e já escreveu cartas e artigos sobre isto (perdeu até alguns adeptos nesta refrega pois, deixou de ser 'morninho')
Briga difícil, certo? O cara, o Kamel, é o editor chefe daquele grande jornal. Fazer o quê? Vocês conhecem a teoria da 'Curva do Sino? Aquela, que associa QI com Raça? Pois é uma corrente neo-racista norte americana com a qual, aparentemente, o Kamel comunga. Já li vários artigos dele nos quais esta comunhão aparece, bem clara e visível, a maioria delas com citações ao economista Thomas Sowell, um dos ideólogos desta corrente racista (associam QI com Raça), um cara assumidamente direitista, membro do Partido Republicano e que foi membro do departamento de estado americano no governo Regan. Linkem o Sowell (que aliás é negro) numa busca destas e comparem:
O Kamel está lá. Enquadradinho. É preto no branco (ou vice versa, sei lá).
Acordem, por favor. Coisa parecida acontece com o Gilberto Freire que, para mim, as pessoas comentam botando panos quentes.
As teses dele ( do Kamel) contra as cotas raciais (a despeito do direito dele de ser contra), a negação peremptória de que há racismo no Brasil, precisam ser entendidas à luz desta sua, digamos assim, doutrina sociológica. Não consigo entender porque esta faceta tão clara do pensamento do Ali Kamel não é posta na mesa, para ser debatida, por quase nenhum intelectual progressista do país. Preferem cobrar isenção dos que protestam, querendo-nos,' morninhos'.
Será que estamos loucos, nós, os que se sentem incomodados com este 'silêncio dos intelectuais' sobre este tema? Mudam de assunto porque?
É por isto mesmo que gosto, que adoro Samba. É iconoclastia pura. Conto só mais uma do livro para o papo não esfriar:
Sabe o Nelson Sargento? Sabe a Clementina de Jesus? Já viram gente mais raiz da negritude? Pois saibam (os que já não souberem, é claro) que o cara que, de certo modo, ensinou o Nelson, que era seu enteado (e muita gente boa de lá da Mangueira) a fazer Samba, foi o Alfredo...Português.
Da querida véia Clementina outra informação deliciosa: Conheci o grande amor da vida dela. Ele já estava velho, entrevado numa cama. O nome dele era Albino Pé Grande, um mulatão enorme, também bom sambista, filho, natural, sabe de quem? Do mesmo Alfredo Português, grande e histórico sambista da velha Mangueira, que era, como lusitano, branco de dar dó. O sangue deste grande português está lá, regou a terra do 'Buraco Quente', do 'Santo Antônio'. Tá lá, na tal raiz do Samba (aliás dá pra se saber claramente porque no próprio post que estamos debatendo). É a tal da lusitanidade afro-bahiana da Mangueira, bagunçando os conceitos.
O resto, Adro, é com Deus (ou quem de direito) que decidirá o que fazer com os 'morninhos'.
Abs,
Bernardo,
Gosto muito do Nei e do trabalho brilhante e pioneiro dele (aliás comentei com ele, num e.mail, sobre este nosso papo) mas não pertenço, repito, à escola dele nem à nenhuma outra escola. A única coisa que me une ao Nei é o fato de estarmos, neste caso, falando do mesmo assunto do qual ele é uma refrência essencial. Vou ser depois, com certeza, associado ao Tinhorão, por exemplo (também muito citado no meu livro).
Tributário dos textos do Nei? Lógico que p meu é. Dos dele, dos do Sergio Cabral, dos do Kazadi Wa Mukuna, do Fernando Ortiz, do Uanhenga Xitu, do Gerhard Kubik, e um montão de gente, boa (e má) que já escreveu sobre o assunto. É aquela história, se busca sempre um escaninho pra colocar as figuras mas, a vida real não pode ser organizada em escaninhos, numeradinhos. A vida real é um caos só. As figurinhas estão embaralhadas. Cabe a nós colá-las no nosso álbum, com acharmos melhor (guardando as carimbadas para uma emergência qualquer, trocar com alguém, quem sabe?).
concordo plenamente contigo spirito: a vida real é um caos, e até por isso nossas conversas ficam "confusas", pois queremos abraçar o caos.
mas eu discordo que a abordagem do seu texto possa ser atribuída ao sergio cabral. acho q é nei lopes mesmo, seu grande paradigma.
e obrigado pelos nomes "novos", como Uanhenga Xitu e Gerhard Kubik, já estou pesquisando!
inclusive, spirito, devo te lembrar que, quando fiz o MUSIKFABRIK, vc me emprestou (e eu xeroquei) um livro maravilhoso chamado MUSIQUE DE L'AFRIQUE, de Francis Bebey. Pra mim, é referência até hoje!
abs
Bernardo,
Spirito,
Gente do Overmundo:
Vamos combinar: se o sujeito reivindica de alguém, cita o cara e o considera fonte de inspiração é o que a pessoa entende do que o cara disse.
Se não lhe permitem que assim seja por considerar má interpretação do sujeito, é cisma, diria Martinho, não o da Vila, Lutero mesmo.
Das duas uma:
1. Estamos falando de coisa que foi escrita em outro lugar e não é citada aqui, passando a jogar um xadrez sem tabuleiro, coisa possível, mas para mestres de um grau distinto e superior ao meu.
2. Xingar a mãe não pode então chama o sujeito de discípulo de outro como se a ofensa fosse maior.
Ou é tudo fantasia da minha cabeça, nada a ver e vou para Calcutá.
Desculpas antecipadas pela precipitação.
Já presenciei debates similares em outros sítios e arrabaldes que resultaram em absolutamente nada além de aprofundar divergências que jamais ficaram públicas.
Tenho aprendido muito com esse espaço, a ponto de respeitá-lo como de todos.
Adro, Bernardo,
Tenho uma amiga virtual (que vocês dois conhecem) que sabe muito bem o que é isto: É forum virtual sem moderação. É parecido com briga de cego no escuro.
Se for filtrar, estamos todos falando todos a mesma coisa, concordando só que (o que não é bom) andando em círculos.
Parece também aqueles papos de fim de noite, quase madrugada, o garçon querendo fechar a espelunca e nós lá, os três, discutindo não sabemos nem mais o quê (acho que já disse isto aqui). Pronto. Vou eu pra Calcutá, então.
Abs,
(fui! Por hora)
Puxa...
estou estudando sobre esse tema.
Adorei seu texto!
Bjs
Ficou meio longo o debate. Acho que não leva a muitos esclarecimentos para quem pegou o bonde andando. Como sou um indignado com os pseudo sambas amaxixados do anos 20 e nunca consegui muita coisa tentando localizar compositores dos suburbuios cariocas - existe pouco material para pesquisa. Tudo gira em cima do que ja foi gravado e tocado no radio da epoca. Mas ... qual a posiçao do Spirito sobre o Gilberto Freire mesmo? E Tinhorão? Quais as disocrdancias com o Nei ref. aos mitos (Tia Ciata/Pça Onze, etc) Esta no livro?
cimples ocio · Curitiba, PR 12/1/2009 19:31
Cimples,
Os papos por aqui as vezes se estendem mesmo e, nestes casos, haja redundancia.
Algumas de suas indagações podem ser, talvez, correspondidas no post deste link.
Sobre a posição de cada especialista entre os que você cita apenas uma colocação: A história da cultura negra do Brasil é, por razões óbvias (o racismo é sistêmico) cheia de armadilhas conceituais e mitos cavernosos. Para a maioria dos especialistas (principalmente os mais formais e acadêmicos), as vezes, é mais fácil (e seguro) seguir a corrente.
Abs
É .. estou com livros bem tradicionalistas aqui em cima da mesa para postar alguma no blog que estou montando: um deles Raizes do Brasil do Sergio Buarque de Holanda. Os assuntos acabam se cruzando como a discriminação e temas sociais. Tanto no Antologia da alimentação no Brasil (Luis Camara Cascudo com diversos colaboradores), como no fresquinho "Cachaças" (Marcelo Alcantara) "Quem sempre bebeu cachaça, quem garante a permanencia da bebida é o povo pobre" ... "Cachaça e povo sempre tiveram o mesmo destino de dor e superação. E vão em alguns tópicos chegando proximos do seu tema.
cimples ocio · Curitiba, PR 13/1/2009 16:24Onde acho aquele lundu do pai Zusé? ou é aquela parte somente. Vou botar na minha cozinha
cimples ocio · Curitiba, PR 13/1/2009 16:28
cimples,
O Lundu do pai Zuzé foi publicado num livro do musicólogo Baptista Siqueira, no interessante livro 'Lundu X Lundun' que fala da confusão estabelecida pelos 'esepcialistas' entre o Lundum, dança burguesa de salão européia e o Lundu (de Ka-Lundu), dança de negros escravos que, trazida dos terreiros das fazendas de café para a Corte (mais ou menos como se faz com o Jongo hoje, na Lapa), misturada com danças européias (sabe-se lá até com o Lundum mesmo) acabou se tornando uma dança da moda entre a nossa aristocracia moderninha (que pouco depois, em outra moda, aderiu ao Maxixe).
Se não me engano o livro do Baptista foi lançado numa edição da UFRJ (vou conferir aqui na minha estante)
Caraca! Deu até no blog do Nei Lopes (grande força do, agora, parceirão!) que o livro deste seu criado precisa sair do prelo.
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