Segunda-feira: O Amor do Sim

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Leca Perrechil · São Paulo, SP
27/4/2007 · 81 · 3
 

"Você jura que aqui é um teatro? Cadê os dourados, como aparece nas novelas?", pergunta a manicure Sueli Ferreira de Souza que nunca tinha entrado em um teatro antes, na peça "O Amor do Sim", no palco do Espaço Satyros 1, localizado na Praça Roosevelt, região central de São Paulo.

O texto de Mário Viana brinca o tempo inteiro com as contradições do chamado teatro alternativo, como é considerado o Espaço em que atuam, em contraponto aos grandes teatros comerciais. Porém, junto com a peça "Assassinos, Suínos e Outras Histórias na Praça Roosevelt", do mesmo projeto, ela poderia ser tranquilamente encenada em um teatro como o Brigadeiro, sem prejuízo de entendimentos e risos por parte da platéia.

Com personagens estereotipados e piadas clichês, a história mostra uma manicure, um iluminador e um garçom dentro de um teatro pequeno em um dia de folga, enquanto o mundo lá fora é destruído por "moços bonitos, que parecem descamisados da novela das sete", segundo Sueli. Ela, representante da massa aculturada da população, acredita que o teatro seja apenas um monte de textos "difíceis que ninguém entende".

Essa imagem do teatro dito alternativo, desconhecido de grande parte dos brasileiros, é reforçada pelo conflito entre o mundo de dentro do teatro, e o caos instaurado no resto do mundo. Com isso, o texto propõe uma metalinguagem em torno da dificuldade encontrada pelos pequenos teatros para conseguirem se manter. Enquanto neles há vida e uma necessidade de sobrevivência, externamente acontece a destruição de tudo o que é fraco, incluindo as artes.

A paixão que a história tenta demonstrar pelo "teatro dos fracos e excluídos" aparece na figura do Espírito do Teatro, interpretada pela atriz da Companhia Os Satyros Ângela Barros, ótima como sempre. Ela seria a emoção, a sensação que acomete o espectador durante uma apresentação. Porém, nem esse personagem está livre do humor fácil da comédia pastelão e de uma provocação aos teatros comerciais, como quando diz: "Fantasma, eu? Fantasma tem no Culturão, no Maria Della Costa com certeza. Mas aqui? Aqui não tem nem dez anos de existência!". Enquanto isso, a platéia fiel delira com a referência, às duas horas da tarde, em plena sexta-feira santa.

2 brigadeiros

Adendo: Como uma obra pode ter diferentes tipos de interpretação, transcrevo aqui as palavras de uma espectadora. Ela, depois de ver a peça, disse em lágrimas: "Meu, é o seguinte. Isso é uma verdade que tá aqui fora e que as pessoas não querem ver. Ai você entra no teatro e você vê a entrega do ator, que é maravilhosa. E não importa que é uma comédia, eu posso me ligar no texto. É um texto tão vertical, que eu me emociono".

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Leca Perrechil
 

Texto originalmente publicado na Revista Bacante.
www.bacante.com.br

Leca Perrechil · São Paulo, SP 23/4/2007 16:41
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Juliene Codognotto
 

Bacante? De bacanal?
O texto tá bem legal. Talvez seja bom colocar onde fica o Espaço dos Satyros.

Abraço,
Juliene

Juliene Codognotto · São Paulo, SP 23/4/2007 18:52
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Leca Perrechil
 

Obrigada, Juliene. Aceitei sua sugestão e já mudou no texto.
Abraços.

Leca Perrechil · São Paulo, SP 24/4/2007 03:18
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