Ir a Superagui e não conhecer seu Alcides, tomar uma cataia e curtir um fandango é o mesmo que ir pra praia e não se molhar. Figurinha carimbada, desperta sorrisos e ganha admiradores a cada dia que passa.
Superagui, é uma ilha, localizada no litoral paranaense, pertence ao municÃpio de Guaraqueçaba. Há pouco tempo existe luz elétrica na comunidade de Superagui e ainda há famÃlias que moram mais distante e vivem ainda a "luz de velas". Quase tudo que é consumido na vila vem de Paranaguá, viagem que dura em média 3 horas. Os barcos fazem a ligação com o mundo, levam crianças para a escola, transportam turistas e geralmente vem lotados de comida, eletrodomésticos, material de construção, tudo comprado na cidade. Se alguém precisa de atendimento médico, lá estão os barcos novamente, além é claro do papel fundamental na pesca.
Isolada do mundo por uma questão geográfica e esquecida pelo poder público, a comunidade de Superagui foi sobrevivendo e preservando suas raÃzes. Na década de 80 a Companhia Agropastoril Litorânea do Paraná tentou tomar posse das ilhas das Peças e do Superagui para a criação de um pólo turÃstico, mas FELIZMENTE a Compania não conseguiu. Em 1985 a ilha de Superagui foi tombada e em 1998 a Reserva Nacional de Superagui foi intitulada pela UNESCO como SÃtio do Patrimônio Natural da Humanidade.
Na última década o turismo cresceu e a comunidade que vivia exclusivamente da pesca passou a ter outra fonte de renda, mas com isso vieram as preocupações ambientais e a busca por um desenvolvimento sustentável. Questões como a coleta de lixo, escola, atendimento médico e dentário ainda são extremamente preocupantes e merecem maior atenção.
No meio dessa maravilha da natureza, que vive uma gente simples e hospitaleira, vive seu Alcides. Aos 89 anos, esbanja energia, dá um baile em qualquer garotão, é o primeiro a chegar no fandango e o último a sair. Muitos devem estar perguntando, mas o que é fandango? O Fandango é uma manifestação cultural do litoral paranaense, dança-se aos pares ou em rodas. Uma curiosidade é que os fandangueiros utilizam umas tamancas, produzidas por eles mesmos, que juntadas ao som de rabecas, formam a batida ideal para uma dança de pura energia. Em Superagui, ela é comandada pelo mestre Alcides, conhecido e respeitado por todos como “Seu Alcidesâ€.
Seu Alcides desperta a atenção até dos menos atentos, pois, faça chuva ou sol, ele aparece no Akdov - um estabelecimento botequÃcio - freqüentado pela comunidade que se diverte com as histórias dos pescadores, que saboreia uma cataia e ainda desfruta das belas manifestações do fandango. A cataia é uma bebida tÃpica, na real é uma pinga curtida com folhas de uma planta nativa, que misteriosamente deixa a pinga com um cheiro e um sabor super agradável. Segundo Laurentino, que cuida do bar há mais de trinta anos, o bar se chama Akdov, em homenagem a bebida vodka, só que escrita de tráz pra frente. Ele conta que no inÃcio era mais que um bar, era uma venda do tipo secos e molhados, que vendia de tudo um pouco, mas que devido a algumas dificuldades, hoje só vendem bebidas e alguns docês. Entre uma pesca e outra, Laurentino divide os cuidados do bar com a esposa e o irmão "Caçula". Os freqüentadores continuam sendo atendidos nos moldes de antigamente, lá a “palavra†tem valor, não existem comandas ou fichas e até os turistas anotam na caderneta, tudo na base da confiança. O encanto da ilha não é apenas expressado pelas belezas naturais, mas principalmente pelo seu povo, pois não há como pensar em Parque Nacional, em preservação, em Cataia, em Fandando, sem pensar no povo maravilhoso que lá vive.
Também na confiança e no galanteio brilha seu Alcides, que logo após o anoitecer, chega no Akdov, todo arrumadinho, convidando as mocinhas pra dançar. É inacreditável como dança, suas pilhas parecem não ter fim e ele só para, quando a festança chega ao fim. Seu Alcides tem até comunidade de fãs no orkut e diz que o segredo da longevidade e de toda essa energia é se alimentar bem e não beber, ou melhor, tomar só uma cervejinha. Ele fala por si só, como pode ser visto no vÃdeo, deixando uma mensagem de respeito e amor pela vida.
Oi Rita, na verdade, seu texto me aguçou mais curiosidades do que só saber o que é fandango. :-)
Queria saber mais sobre seu Alcides e sua história. o que é cataia, qual o significado de Akdov...
Vi o vÃdeo e também deu vontade de participar, dançar um pouco também. E conhecer essa beleza de lugar que parece ser Superagui.
Beijo.
Grande "Seu Alcides"!!!
Muito bom o texto, Rita.
Deixou quem não conhece a ilha com enorme vontade de conhecer. E quem já conhece na espectativa de voltar lá e desfrutar de um copo de cataia e uma noite no fandango.
Que saudade!!!
O Mestre de Culturas Orais, não gosto do termo cultura popular, acho-o tolo e sem fundamento, porquanto toda cultura e popular, ainda precisa ser reconhecido entre nós, primeiro entre pessoas, depois pelo estado, um abraço, andre
Andre Pessego · São Paulo, SP 4/6/2007 15:22
André, não utilizei o termo "cultura popular". Mas já q tocou nesse assunto, eu não considero toda cultura popular. Por exemplo as óperas, elas não são populares, tomara que um dia sejam, mas ainda não são.
Abraço
Parabéns pela matéria, Rita! Longa vida ao seu Alcides!
Leandróide · Florianópolis, SC 4/6/2007 18:03Muito bom Rita. Equilibrio delicioso de sensibilidade e informação. Queria mesmo é voltar pra Supera, mas agora ainda vai um tempo... Bj grande!
Daniel Caron · Curitiba, PR 7/7/2007 10:33
Que matéria interessante, repleta de riqueza, Rita.
Foi bom ler, foi bom ver seu Alcides. Bom ter alguém escrevendo sobre o fandango, sobre o Paraná...
Brilhante.
Abraços*
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