Para começar explico logo de cara: sobá não é igual a yakisoba. Ambos vêm da culinária japonesa, têm macarrão, legumes e carne, mas são bem diferentes. O sobá tem como base um macarrão feito artesanalmente e um caldo especial que obriga o indivíduo a comer em uma cumbuca. O prato ainda leva omelete cortado em tirinhas, um bocado de cebolinha e carne de porco bem frita. Joga-se shoyo a gosto ou pedacinhos de gengibre. Esta é a receita que faz a cabeça da população de Campo Grande há décadas e que nos últimos anos virou uma verdadeira mania. Como é difícil de se fazer em casa, o campo-grandense tem que ir procurar o sobá na rua. Por isso, do centro aos bairros mais populares, sempre se encontra um bar, barraquinha, trailer, feira livre e até restaurante residencial vendendo a iguaria. “O sobá é a maior contribuição da colônia japonesa para Campo Grande. Virou um símbolo cultural”, afirma a jornalista Maristela Yule, diretora do documentário Arigatô, que relata a história da colônia japonesa no Estado.
Na verdade, o sobá é um prato de Okinawa, um departamento do Japão. Como a maioria dos japoneses que habitam Campo Grande é originária desta ilha-continente, o sobá veio naturalmente junto. Em 1914, quando a estrada de ferro finalmente ficou pronta e chegou a Campo Grande, muitos japoneses adquiriram lotes para plantar café e se estabeleceram na área rural. Mas o preço do café caiu e eles resolveram investir em hortas. Com isso, começaram a ter mais contato com as feiras livres. “Quem estava na cidade fazia o sobá para esperar os que vinham das granjas. Era tipo a marmita deles. Todos iam comer em uma barraquinha, que tinha uma cortininha impedindo que os outros vissem dentro. Era comer escondido mesmo. Até que um brasileiro abriu a cortininha, viu o que eles estavam comendo, perguntou o que era, experimentou e gostou. Em pouco tempo o sobá já estava conhecido em toda a cidade”, relata Maristela.
Mais do que conhecido, o sobá é um verdadeiro astro da culinária local. Na Feira Livre de Campo Grande, por exemplo, existem 20 restaurantes especializados. O local reúne facilmente duas mil pessoas consumindo vorazmente o prato vendido a R$ 9,00 (grande), R$ 8,00 (médio) e R$ 7,00 (pequeno). Na Barraca da Amélia, uma das mais tradicionais do local e que produz o prato desde 1990, vende-se uma média de 100 sobás por dia. Anísia Higa, irmã de Amélia, garante que não é fácil fazer o sobá e quem vê o prato sendo montado em menos de 30 segundos não imagina o grande preparo que é preciso para dar conta do público esfomeado e aficcionado na iguaria. “Não é qualquer um que faz. O caldo tem um segredinho que só a Amélia sabe e trazemos muita coisa já pronta, como o omelete e as carnes”, explica Anísia, uma típica okinawana campo-grandense.
Não existe o macarrão para sobá industrializado, por exemplo. Por isso, não só a Amélia, mas a maioria dos comerciantes precisa comprar o macarrão de algumas senhoras que fazem em grande quantidade o produto. O quilo do macarrão sai por R$ 5,00 e é suficiente para preparar dois sobás grandes e um médio que rendem R$ 26,00. Mas existem os outros gastos, como as oito cartelas de ovos (aqueles de duas dúzias e meia) para fazer o omelete todos os dias. “Mesmo não tendo um lucro muito grande, o sobá segura muita gente no comércio. Antes as pessoas comiam mais na feira central, mas agora tem cada vez mais restaurante nos bairros e a concorrência aumentou muito”, analisa Anísia.
Um exemplo de concorrência é a senhora Antônia Pereira Borges, que monta a sua barraca nas feiras livres que acontecem durante a semana em vários bairros de Campo Grande. Ela vende no mínimo 30 sobás por dia, chegando a triplicar dependendo do lugar. “O bairro Piratininga é o campeão. Lá são no mínimo 25 quilos de macarrão de sobá por noite”, comemora a feirante de 60 anos.
O detalhe é que o sobá é um prato extremamente saudável, como toda a culinária de Okinawa, um dos motivos para o local abrigar a maior concentração de pessoas centenárias no planeta. Aos poucos, por exemplo, dona Amélia, Antônia e companhia vão criando mais artimanhas para atrair os campo-grandenses, como substituir a carne de porco por carne de boi, frango e até mesmo dobradinha dependendo do gosto do freguês. “Como descendente me orgulho de toda a população de Campo Grande gostar de sobá, um prato que veio da colônia, mas que atinge pessoas de todas as raças e idades”, reflete Anísia Higa.
Quero ver uma foto do Sobá!!
Löis Lancaster · Rio de Janeiro, RJ 23/3/2006 16:25É, coloca foto do Sobá! (mesmo com sua ressalva no início do texto, ainda imagino algo meio yakisoba...)
Saulo Frauches · Rio de Janeiro, RJ 23/3/2006 17:58
Ai, isso deve ser bom demais!!
Preciso ir a Campo Grande...
rodrigo, cara...que fome deu agora mano! quase meio-dia. quer me matar???? isso deve ser uma delícia!
Soa sensacional! Existe algum lugar em São Paulo onde se pode conseguir isso? Vou procurar na Liberdade...
HelenaN · Rio de Janeiro, RJ 28/3/2006 09:07Sou fã do Sobá. Esta matéria me passou um conhecimento que eu não tinha sobre este simples e ao mesmo tempo complexo prato. Parabéns o OVERMUNDO veio pra ficar!
Marcio De Camillo · Campo Grande, MS 28/3/2006 09:49
Parece delicioso, mesmo. E certamente aqui em Porto Alegre eu não vou encontrá-lo.
Campo Grande, aí vou eu!
Eu adoro :) Mas prefiro comer em casa mesmo.
MariG · Campo Grande, MS 28/3/2006 09:54ja gostava de yaksoba mas isso ai deve ser muito melhor!
LTT · Rio de Janeiro, RJ 28/3/2006 10:25Covardia... e agora eu aqui em Manaus? Parabéns também pelas informações.
Yusseff Abrahim · Manaus, AM 28/3/2006 17:44
Sobá da feira! Não tem igual!
Um típico prato "japonês-campo-grandense"!!!
Isso não é d+?!
Como já disseram, o sobá da Feira Central é o melhor da cidade. Não tem igual!!! Rodrigo, excelente matéria, excelente texto. Parabéns meu velho!!!!
Marcelo Armoa · Campo Grande, MS 29/3/2006 10:42helena, também correrei atrás da iguaria aqui em sp. se descobrir posto aqui.
André Maleronka · São Paulo, SP 29/3/2006 11:37
Que saudades! Sou campo-grandense, mas moro há 15 anos em Curitiba. Essa matéria me deixou toda saudosista pela feira, pelo sobá, pelos espetinhos, tudo!
E a foto, então! De dar água na boca.
Muito bacana a forma como esse prato foi parar na cidade morena! Aliás, podia ter uma matéria sobre esse apelido.
Abraços.
Deu vontade mesmo. Vou procurar em Brasília, mas duvido que tenha. Abraços.
Daniel Cariello · Brasília, DF 3/4/2006 23:46
bem legal a matéria! Eu nem conhecia esse prato! Além de dar água na boca a matéria traz um pouco de história e cultura! Sou mineira e moro em floripa! Sem chance de achar por aqui!
Falta explicar, principalmente para os não-sul-mato-grossenses, que o sobá deu origem às sobarias, restaurantes especializados no prato okinauano (não gosto desse diabo desse "w" aí!). Campo Grande por enquanto é a única cidade do mundo onde existem sobarias. E sobaria passa a ser nossa contribuição para o vocabulário brasileiro. Veja verbete postado por mim na Wikipedia
Luca Maribondo · Campo Grande, MS 13/12/2006 18:18Oi Marimbondo! Bem-vindo ao Overmundo e obrigado por suas colocações. Mas aqui no Overmundo é diferente! Se você percebe alguma falha no texto ou de informação, além de corrigir e complementar nos comentários, VC MESMO PODE ESCREVER A MATÉRIA QUE BEM ENTENDER. Então vamos lá, estamos esperando o seu artigo sobre as SOBARIAS! E discordo de você, acho que o próprio abrasileiramento do sobá, tornando-o mais saboroso ainda que o original, é a grande contribuição de Campo Grande para a culinária brasileira. Não vejo em Campo Grande também lugares exclusivos para o sobá ao ponto de serem chamados de SOBARIA. Sempre vende espetinho, mandioca amarela, yakisoba, sushi, sashimi e etc. E Campo Grande também não é a única do Brasil a ter lugares que vendem o sobá. Me falaram que na feira principal de Londrina já tem barraca de sobá (confirmem londrinensesssss), em São Paulo na Liberdade também tem, em Tóquio tem, na capital de OkinaWa... enfim... escrevi outra matéria sobre a questão da cultura de Okinawa em Campo Grande. Dá para ler AQUI!
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 13/12/2006 19:42
Olá Teixeira (escrevi certo?). Vamos por partes.
1. "Bem-vindo ao Overmundo e obrigado por suas colocações. Mas aqui no Overmundo é diferente! Se você percebe alguma falha no texto ou de informação, além de corrigir e complementar nos comentários, VC MESMO PODE ESCREVER A MATÉRIA QUE BEM ENTENDER. Então vamos lá, estamos esperando o seu artigo sobre as SOBARIAS!".Grato pela atenção, mas eu quis apenas complementar a informação que há no seu artigo. Não pretendo escrever sobre sobarias -esse não é meu metiê.
E também não quis ofender.
2. "E discordo de você, acho que o próprio abrasileiramento do sobá, tornando-o mais saboroso ainda que o original, é a grande contribuição de Campo Grande para a culinária brasileira". Nisso eu concordo contigo. Essa de fato foi uma grande contribuição à culinária, senão brasileira, mas à sul-mato-grossense.
3. "Não vejo em Campo Grande também lugares exclusivos para o sobá ao ponto de serem chamados de SOBARIA. Sempre vende espetinho, mandioca amarela, yakisoba, sushi, sashimi e etc. E Campo Grande também não é a única do Brasil a ter lugares que vendem o sobá. Me falaram que na feira principal de Londrina já tem barraca de sobá (confirmem londrinensesssss), em São Paulo na Liberdade também tem, em Tóquio tem, na capital de OkinaWa"... Primeiro, eu não disse que "Campo Grande (...) é a única do Brasil a ter lugares que vendem o sobá". Minha frase é "Campo Grande por enquanto é a única cidade do mundo onde existem sobarias". Você diz não ver na cidade lugares exclusivos para o sobá ao ponto de serem chamados sobaria. Claro que não deve existir mesmo, até porque não conheço nenhuma iguaria que tenha casa de pasto esclusiva pra ela. Os restaurantes têm sempre um prato forte e vários secundários. Mas Campo Grande tem sobarias sim. Vaí aí uma listinha:
1) Sobaria do Beto, Rua Aporé, 54, Amambaí;
2) Sobaria Tomodachi, Rua Francisco Alves Castelo, 254;
3) Sobaria Sobáchopp's & Cia, Av. Mato Grosso, 2590;
4) Sobaria Shimada, Av. Mato Grosso, 621;
5) Sobaria Carandá, Rua Vitório Zeolla, 1870;
6) Sobaria Tókio Sabor Oriental, Rua S. Geraldo, 377 (Vila São Vicente).
Podem oferecer espetinho, mandioca, iakisoba, sushi, sashimie outros pratos, mas são chamadas mesmo é de sobaria. E o prato principal de cada uma delas é mesmo o sobá.
Só pra encerrar, o nome é Maribondo e não Marimbondo! São duas grafias para o mesmo inseto, mas o meu usa a forma que era mais usada antigamente (sou das antigas), sem o "m" no meio da palavra.
Obrigado e um grande abraço.
Oi Turma,
Em Breve iremos inaugurarar nosso restaurante com as comidas tipicas da terrinha amada. E como não podia faltar, o prato principal é o sobá, sim o sobá campograndense.
Grato
Sobaria Cozinha Sul-Matogrossense
Vila Mariana - SP
Informações: sobaria_sp@hotmail.com
Oi Turma,
Em Breve iremos inaugurarar nosso restaurante com as comidas tipicas da terrinha amada. E como não podia faltar, o prato principal é o sobá, sim o sobá campograndense.
Grato
Sobaria Cozinha Sul-Matogrossense
Vila Mariana - SP
Informações: sobaria_sp@hotmail.com
Opa, que beleza... olha ae Maribondo, uma sobaria agora em plena Vila Mariana em Sampa. Ae galera de MS perdida em Sampa, vai ter o sobá legítimo por aí. Q beleza. Quando inaugurar tem que colocar o endereço lá no guia do Overmundo... Grande abraço a todos!
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 30/12/2006 20:06
Só não concordo com essa mania que japoneses de campo grande têm de dizer que o yakisoba e sobá foram inventados em okinawa ou no japão, isso é apropriação indébite e desrespeito aos direitos dos chineses que inventaram este prato.
Qualquer dúvida vejam em http://pt.wikipedia.org/wiki/Yakisoba
Wikipédia não é referência
Caro Jubas. Posso até concordar contigo que o sobá e o yakissoba sejam invenções chinesas e que "isso é apropriação indébite e desrespeito aos direitos dos chineses que inventaram este prato". Só não posso concordar com que a abonação do seu argumento seja a Wikipédia, que não serve de referência para nada: em matéria de informação é um lixo. De qualquer maneira, vou pesquisar em outras fontes, que sejam confiáveis.
Concordo com o Luca Marinbondo. As sobárias são atenticamente de Campo Grande, mesmo que em seu cardápio incluam-se outros pratos. No Brasil aportaram nessa cidade e daí foram para outros cantos do país, em Londrina e São Paulo aportaram depois e para lá levado por um Campo Grandense. Nasci em Campo Grande e aí vivi por quase 50 anos, da infância à adolescencia morei ao lado da antiga Feira Central e frenquentador ativo daquele lugar, a barraca da Dilma era a minha favorita. Por isto atesto, as Sobarias originais são patrimônio Legítimo dos imigrantes Okinauenses e seus descendentes de Campo Grande, não resta dúvidas.
paulo cesar fialho de oiveira · Fortaleza, CE 7/7/2009 20:02Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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