por Ronaldo Machado
O tÃtulo do último livro de Ronald Augusto (editora Éblis, 2007) é catafórico da poética que o sustenta: uma escrita vigorosa, severa, dura e mesmo rÃspida na sua função poética, no seu constitutivo estético. Leia-se esta aspereza na perspectiva de sua produtividade textual, na sua potência de invenção e intervenção sobre a linguagem. E, justamente ai, é que se encontra toda a expertise do poeta. No assoalho duro é um livro onde a escritura se faz entre corrosiva e escarificante do senso-comum poético.
Um conjunto - um assoalho xadrez - de 18 poemas fricativos, escritos entre 1988 e 2006 dão volume ao magro livro.
jejum ergo coroa destronante/ jejum disse jesucristo enquanto/ levava à testa renhidos picos// cesto vazio seco sem o pão ázimo/ nem azia nem pedrarias beco/ básico câmara contraespiã// movediça e especular/ desdobrando braços no mais Ãntimo/ do palácio elÃsio de kublai khan (p.5)
Como a filosofia de Nietzsche, do qual Ronald é insistente leitor, No assoalho duro é um livro para espÃritos livres e que poderia trazer em epÃgrafe a seguinte confissão: Doravante solitário e maldosamente desconfiado de mim tomei dessa forma, não sem desgosto, partido contra mim e por tudo o que precisamente a mim fazia mal e me era duro (...) (Nietzsche, Humano, demasiado humano, § 4)
A lÃrica de Ronald é solitária, desconfiada, descontente, partida contra si, mas..., mas que se deixa partilhar, que se deixa confiar, que contenta no descontentamento. No poema a seguir isso se evidencia:
caminho cerrado trecho de via interior/ mergulho por escadaria/ meus faróis disparam um túnel na treva porosa/ fachopaco não alcanço nunca a desembocadura// ao longo/ pegadas no arco dessa não-parede/ impregnada de úmida música muda/ pequenas solertes pessoas/ só olhos flutuantes/ lagartixas de cera (p.11)
O ritmo poético constrói a imagem mesma da comunicação poética do livro: a miopia da linguagem que busca seu leitor por uma estreita via da selva obscura e porosa (lacunar e corrosiva), que busca a experiência estética pelo túnel de degraus úmidos da escritura/leitura, cuja saÃda esta sempre aquém e além do aqui-agora.
Entenda-se: a miopia é inventada na lucidez, na vertigem do fazer poético. No assoalho duro é um livro marcado pelo signo de Lúcifer. Um livro onde a lucidez amarra imagem-ritmo-idéia e se exige no leitor, ensinando, ainda, que a poesia não é fácil e nem é facilitadora, mas que é convite à condição pensante:
(...) eu pratico/ rendilhados de prata e ouro onde/ não há sequer/ limalha de ouro migalha alguma/ que disfarce a prata barata/ da casa// e bebo a verde esmeralda salut/ cifra da mater natura num/ frasco de bolso a meio de xerez/ em troca/ da pérola mórbida doença - afecção/ a que me afeiçôo - de um marisco/ moribundo (...) (p.17)
Pô cara!
Como tomar um exemplar desses, para mim?
Tenho baita curiosidade de ler Ronald.
Abçs. Benny.
Benny: veja no site da editora Éblis: http://editoraeblis.blogspot.com
Abçs.
Eu vou deixar meu nomi aqui na galeria dos mais mais ban-bans que é pra mostrar pros meus netinhos daqui uns 80 anos que essas figurinhas faziam os versos mais porretas do overmundo e de mundo afora.
E que eu lia e falava com eles...
Fã, e da�
Ninguém vai acreditar seu eu disser lá na aula.
Ronald, tava esperando há muito que pintasse uma prosa legal em cima dos teus versos.
E Ronaldo não perde nem pro Ronaldinho contra os mexicanos.
Dá de rebenque.
E, Benny, pega teu exemplar logo, que já tenho um aqui que o Bauer mo emprestou.
Beijin guris
Já estou a providenciar meu exemplar!
Ph_odasticOo
Beleza Ronaldo,
Grande iniciativa e ótimo texto! Salve Ronald!
Abraço,
Aldo
PS.: só pra não perder a oportunidade: existe mesmo, depois de tantos movimentos e vanguardas, um "senso-comum poético"?
Aldo, existe sim o senso-comum poético. Tanto com a cara provincianca, como com a coroa cult. No primeiro caso, basta ver as antologias "cooperativadas" que se lançam por ai a fora. No segundo, veja-se o acerto na mosca deste artigo aqui: lugares comuns da poesia contemporânea. Seguimos o papo. Diz ai.
ronaldo machado · Porto Alegre, RS 15/9/2007 23:16
Caro Ronaldo,
Tens razão! 'Caiu a ficha'! Por minha condição menos de autor e mais de diletante que já apontei numa outra "Conversa" aqui do Overmundo, reflito apenas sobre poética que me alcança, o que é muito diferente de manter-se atualizado com a produção paÃs afora. Por isso, entre outras razões, tenho apreciado sobremaneira os artigos do Ronald aos quais, agora, acrescentarei este teu.
Mas, como dizia, ao começar a freqüentar um pouco mais o mundo da poesia contemporânea brasileira fui conduzido, sim, a estas duas faces da moeda!!! Talvez pela ingenuidade, pelo descompromisso, e incapacidade [no caso da "coroa cult"] de andarilho, por não me sentir um habitante deste universo não me fixei a nenhuma das duas...
Valeram a orientação e a indicação do artigo do Ronald!
Abraço,
Aldo
Ronaldo,
parabéns pelo texto e pelo tema!
O Ronald é um dos cérebros mais pensantes da poesia atual, além de músico com talento extraterrestre!
um excelente texto sobre um ótimo poeta!
Sandra Santos - · Porto Alegre, RS 6/7/2009 14:24Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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