(ou como se fazer o que se gosta - e viver disso?)
O cinema nacional vive de leis de incentivo, essencialmente. Correto? Mais ou menos. O cinema nacional em 35mm, remunerado e com capital razoável para a produção, sobrevive, de fato, graças às leis de incentivo. Mas e o outro cinema? Este cinema que sobrevive não se sabe exatamente como, conta com uma crescente quantidade (e qualidade) de curta-metragens sendo produzidos pelo Brasil. Os festivais – cada vez mais numerosos – funcionam como meio de escoar e exibir toda essa produção. Ou ao menos é o meio mais (re)conhecido e difundido...
Tenho observado que há muita divulgação de curtas nacionais – que ganham em número e em facilidade de produção – pelos meios onde ando; leia-se ambientes universitários, centros culturais, circuitos de festivais e a própria cidade do Rio de Janeiro. Já existem websites funcionando há algum tempo para a divulgação destes trabalhos, como o Porta Curtas, e alguns têm obtido reconhecimento fora do paÃs, como o curta ‘Um Ramo’, de Marco Dutra e Juliana Rojas, premiado recentemente na Semana da CrÃtica em Cannes.
Ainda que algumas destas produções tenham sido contempladas por editais da Petrobras ou do MinC, há um considerável número de filmes, em sua maioria curta-metragens, sendo produzidos de maneira independente. E às vezes ganhando festivais, ou destaque no YouTube, de fato o meio não importa muito. É sobre este cinema independente nacional contemporâneo, qualificado, multifacetado e cheio de “projetos suicidas†que eu estava pensando quando entrevistei o meu amigo e diretor Tiago Teixeira.
Tiago é também designer, mas, uma vez tendo resolvido se aventurar pelo cinema, chegou a ser vencedor da etapa regional do Festival do Minuto no Rio de Janeiro em 2006, como seu ‘Mania de Perseguição por Boeing’. Ele é sócio da produtora mufumo junto com Ana Quitéria e Seblen Mantovani, que completam o time com Direção de Arte e Fotografia. Eis a entrevista:
Quem é você e de onde você veio?
Meu nome é Tiago Teixeira e eu vim da Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro.
Como você chegou ao cinema?
Outro dia percebi que sempre me interessei por formas narrativas visuais. É um pouco pedante dizer isso, mas não sei colocar de outra forma. Quando era pequeno queria desenhar histórias em quadrinhos, virei designer tentando aliar a vontade de trabalhar com imagens com a necessidade de pagar o aluguel. Quando saà da faculdade achei que podia usar o design para trabalhar com animação, mas depois descobri que a vontade era outra, o interesse por animação caiu vertiginosamente muito rápido. Acabei me formando em cinema pela Estácio para aprender como fazer na prática. Mesmo antes disso tudo eu já gostava bastante de cinema, sempre fui um dependente quase quÃmico de filmes Noir e policiais em geral. Mas quando começou mesmo, o estalo da vontade de fazer cinema, eu realmente não lembro.
O que diria dos seus filmes até agora?
Dirigi uns seis curtas eu acho, até agora, um co-dirigido com a Ana Quitéria, que é a diretora de arte do último projeto. Os primeiros são curtas de faculdade, alguns eu até tenho simpatia, mas outros eu preferia não lembrar. O 'Ação/Reação' e o 'Mania de Perseguição por Boeing' são os dois pelos quais eu tenho mais carinho. Tem um outro que ainda não está finalizado, mas que estou gostando, acho que o resultado vai ficar legal. Espero.
Um outro é o Lição (de Dança)?
Um outro é o Lição!
E quais são seus próximos projetos?
O proximo é o 'Sobre os Mesmos Passos', que vamos rodar em fim de junho, em Friburgo e em Cachoeiras de Macacu. Vai ser um curta de 15 (minutos), rodado em 16mm e finalizado em 35mm. A Yes Filmes está co-produzindo e a ajuda deles foi essencial para o projeto sair como estávamos planejando.
Como está a pré-produção?
Está chegando ao fim, por enquanto tudo correndo bem. Já fizemos alguns ensaios com os dois protagonistas, Thales Coutinho e Raquel Karro, da companhia Armazém de Teatro. Os ensaios estão contrubuindo muito pro filme, eu acho que é o primeiro lugar onde você começa a ver o que vai ser seu produto final.
Além do apoio da Yes, quais estão sendo as estratégias para captação de recursos?
Estamos buscando patrocinadores na cidade de Nova Friburgo e usando os truques do cinema de guerrilha brasileiro: rifas, uma festa, venda de camisetas... Começamos o projeto com um pouco de pressa, não tivemos tempo para o inscrever em nenhuma lei de incentivo e decidimos correr atrás nós mesmos de formas alternativas de captar recursos.
A internet está sendo usada como forma de divulgação para o filme antes mesmo de ele existir. Isso me parece ser algo novo, como surgiu a idéia?
Estamos usando a internet como meio de apresentar o filme para dois grupos distintos: o primeiro são os possÃveis patrocinadores, que já têm uma idéia boa do projeto com facilidade. O segundo é composto de interessados em acompanhar o projeto de feitura do filme. Estamos mantendo um blog detalhando o processo de trabalho em algumas áreas e tentando deixar essa parte do trabalho transparente para os visitantes que acompanham o desenvolvimento, com os responsáveis por respectivas áreas da produção do filme (direção, arte, fotografia, som) falando sobre problemas e soluções encontradas.
Você acha que a internet ou o vÃdeo digital ou alguma coisa pode ser a solução para o cinema brasileiro?
Bom, o digital é com certeza um meio novo de produzir e distribuir filmes, e acho que já existem iniciativas de distruibuição via internet de curtas bastante interessantes no Brasil. Mas no geral acho que o digital ainda é usado de maneira um pouco tÃmida.
Como é o cinema sem leis de incentivo?
É um cinema onde se precisa de muito despreendimento, paciência e um pouco de masoquismo. Mas a gente se diverte!
Cinema ou vÃdeo, faz diferença?
Faz diferença em termos de custo de produção, principalmente. Mas no fim é uma narrativa visual, o filme é pensado da mesma maneira. Algumas pessoas são levadas pela facilidade do vÃdeo e acabam não planejando tão cuidadosamente o filme, já que no cinema os custos de negativo fazem com que cada segundo a ser filmado tenha que ser muito bem pensado...
O que você acha da produção recente nacional?
Eu acho o que mais me empolga na safra atual do cinema brasileiro é a quantidade absurda de filmes produzidos, mesmo que com problemas sérios de distribuição. O que seria o caso de se pensar em uma maneira nova de distribuir, usando os meios digitais, salas móveis de cinema, espaços alternativos...
Por que fazer cinema?
Por que não? :D
Por que você faz cinema?
Ainda estou tentando descobrir!
Muito legal, Inês! Que bom que vc voltou ao site, ainda mais numa entrevista com o Tiago :) Bacana que eu não sabia do blog, vou acompanhar como anda o filme por lá... Beijão!
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 11/6/2007 11:04põe uma foto! :)
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 11/6/2007 11:11Botei. :)) Tô tentando colocar mais, mas não tô conseguindo. A legenda dessa também não entra não sei por que...
Inês Nin · Rio de Janeiro, RJ 12/6/2007 11:22Ei Inês! Não seria por que as fotos estão maiores do que o permitido no site? E a legenda não é por que vc está pondo aspas? (o site tem um mini bug que não aceita aspa em titulo e legenda... estamos tentando consertar) beijão!
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 12/6/2007 15:53
acompanho a arte de AnaQuê e do Sr. Coollier desde o Pernambuco.
o suficiente pra desejar muita sorte pras empreitadas futuras de muita coisa envolvendo esses dois (tudo não, que assim tb é muito)
por enquanto o blog da produção dos Passos tá massa.
a pretensão é lançar os dois filmes juntos (dança e passos) mais tarde, é isso?
Aqui em Mato Grosso, infelizmente, em que pese dois festivais de cinema, o mercado inexiste, não existe respeito pelos profissionais que são mal e porcamente remunerados - sou um que está fazendo pós em cinema mais por vocação e realização pessoal que grana, porque aqui não dá futuro nenhum - e falta de ética total, como em certos "premios" que só um sujeito ganha e o resto fica assistindo. Então, os profissionais daqui tem tres saÃdas - ou vira professor ou assessor de imprensa. A terceira? bem, é a rodoviária, porque aeroporto daqui só é pra relaxar e gozar.........
wiene · Cuiabá, MT 14/6/2007 14:45
Inês, que texto ótimo! Que entrevista importante! Agora, depois de teres escrito, publicado e depois de eu ter lido, preciso classificar teu texto como necessário! Sim. Tenho um amigo que ousa em fazer curta metragem e ainda tenho um projeto de, mas as condições são sempre as mesmas: difÃceis.
Acho que me empolgaste agora. E deverás, através deste escrito, empolgar mais um monte de gente.
Parabéns e obrigado.
Abraço.
Neco, sobre lançamento simultâneo eu não sei não, mas de repente é uma boa idéia :)
Wiene, não sei quanto a falta de ética (ou se seria esse o problema), mas panelas sempre existem. Eu sou a favor de cada um ir criando as próprias condições para fazer o que gosta, por mais difÃcil que seja. Até porque prêmios não necessariamente significam dinheiro...
Labes, muito obrigada digo eu!! Faça um curta sim, dois, três!
E o Festival de Gramado faz o favor de fechar as portas para a bitola 16mm, um horror.
Marcelo V. · São Paulo, SP 15/6/2007 00:23
Nem ´li e já votei, cinéfila que sou, apaixonada por cinema independente e outras magias difÃceis de se realizarem concretas.
Depois volto e te digo o que senti.
Beijo, a foto é linda.
Olá, Inês. Achei ótimo seu texto, sua inciativa sobre este tema e a entrevista. Darei uma olhada com muito carinho nos filmes que vc cita.
Vc é parente da Joana Nin?
Um abraço,
Andréa
Andrea, é minha irmã! Legal que vc conhece :))
Inês Nin · Rio de Janeiro, RJ 15/6/2007 12:18
Amiga Inês, o conteúdo da tua publicação abre muitas possibilidades. Vou destacar o que para mim está sendo mais provocante:
- "O cinema nacional vive de leis de incentivo, essencialmente. Correto? Mais ou menos. O cinema nacional em 35mm, remunerado e com capital razoável para a produção, sobrevive, de fato, graças às leis de incentivo. Mas e o outro cinema? Este cinema que sobrevive não se sabe exatamente como".
Penso que no fundo estamos nos dando conta de duas coisas super importantes: se o cinema sobrevive, há uma forma de sobreviver; se não sabemos como, há como se descobrir isso.
- "Tenho observado que há muita divulgação de curtas nacionais – que ganham em número e em facilidade de produção – pelos meios onde ando; leia-se ambientes universitários, centros culturais, circuitos de festivais e a própria cidade do Rio de Janeiro. Já existem websites funcionando há algum tempo para a divulgação destes trabalhos, como o Porta Curtas".
Está se constituindo um novo sistema econômico que está viabilizando este cinema. A cadeia produtiva que abrange produção, distribuição, comercialização e consumo está mais forte no aspecto da produção. Acho que deve ser ampliado o olhar sobre a distribuição e a comercialização, a partir do feedback dos consumidores desta expressão artÃstica.
- "Ainda que algumas destas produções tenham sido contempladas por editais da Petrobras ou do MinC, há um considerável número de filmes, em sua maioria curta-metragens, sendo produzidos de maneira independente".
Pela sua fala, todo o filme que não obtém um patrocÃnio é independente. Eu penso que filme independente, para realmente ser independente, precisa independência econômica. Ou seja, se o cara não tira sua subsistência do cinema, pelo menos capta recursos (pequenos apoios, pequenas cotas, permutas de serviços) para viabilizar sua arte. Se ele busca sobreviver disso, tem entender que o filme tem que dar lucro, por menor que seja este lucro, do contrário a experiência se torna dolorosa para quem produz e não existe (na minha opinião) nada pior que a ambiguidade de produzir a arte sentindo um grande prazer que posteriormente é sufocado por um sentimento de fracasso por dificuldades financeiras pessoais originadas pela falta de sustentabilidade de quem produz esta arte.
- "Estamos usando a internet como meio de apresentar o filme para dois grupos distintos: o primeiro são os possÃveis patrocinadores, que já têm uma idéia boa do projeto com facilidade. O segundo é composto de interessados em acompanhar o projeto de feitura do filme. Estamos mantendo um blog detalhando o processo de trabalho em algumas áreas e tentando deixar essa parte do trabalho transparente para os visitantes que acompanham o desenvolvimento, com os responsáveis por respectivas áreas da produção do filme (direção, arte, fotografia, som) falando sobre problemas e soluções encontradas".
Esta resposta do Tiago Teixeira é dá pistas importantes. O blog serve para criar, comunicar e entregar valor para potenciais patrocinadores. Além disso, serve como uma "bolsa" de troca de tecnologia, que possibilita intercâmbio com mais profissionais, permitindo que o processo de produção dos filmes vá se aprimorando rapidamente e a cada nova produção hajam menos desperdÃcios (fica um filme mais ecológico) e mais atratividade par patrocinadores, órgãos financiadores e consumidores.
Parabéns, contribuiu muito para o meu desenvolvimento. Vamos continuar em diálogo. Meus contatos alebarreto_capta@yahoo.com.br e 51-9215-7970 (Porto Alegre/RS). O meu site é www.alebarretodaindependencia.blogspot.com Estou escrevendo um livro sobre produção executiva (para shows musicais) que talvez vocês pudessem fazer o mesmo para cinema. Espiem www.produtorindependente.blogspot.com
Muito bem-vinda a sua resposta, Alê! Concordo totalmente que o ponto que precisa de mais atenção agora no Brasil é relativo à distribuição e comercialização, agora, curta-metragem não é (em geral) comercializável! É uma questão complexa. Quais seriam, então, os meios de escoar essa produção? Como já antes mencionado, festivais, internet e sessões geralmente gratuitas de cineclubes. E, mesmo que possa não ser o formato preferido de quem faz cinema, é o cartão de visitas de qualquer cineasta, para ganhar experiência e visibilidade, e assim poder começar a pensar em fazer longas. E mesmo longas, inclusive os financiados, o cinema brasileiro ainda não se paga... Não sei se é só o hábito das pessoas de ir ao cinema, se é também que filmes são esses, é complicado.
Inês Nin · Rio de Janeiro, RJ 15/6/2007 13:47O link para o editorial da edição 81 da Contracampo, na antepenúltima fala do TT, aborda questões relativas à distribuição. E toca num ponto importante, que é o fato de os filmes (longas) entrarem em cartaz em volume desproporcional em algumas temporadas, e sumirem na mesma velocidade. Sei que existe uma cota mÃnima de expectadores por semana para manter um filme em cartaz...
Inês Nin · Rio de Janeiro, RJ 15/6/2007 13:50
Por falar em cinema independente nacional olha soh o que caiu na minha caixa postal:
"Caro estudante de cinema.
Aqui é o Domingos Oliveira. Não se já ouviram falar de mim. Sou um dos poucos que seguem fazendo cinema coerente e artisticamente, conforme você sabe.
Estou agora lançando um filme na próxima sexta-feira e necessito da sua ajuda. Da ajuda dos jovens que como eu, têm acesa a chama da paixão pelo cinema.
O filme chama-se "Carreiras". Se vocês têm algum interesse no meu trabalho deve ir vê-lo, vai ser importante na sua vida. Mas se você quiser me ajudar mesmo, tem que ir no dia da estréia, na sexta ou no sábado ou no domingo. Porque segunda-feira já era. A concorrência do filme americano é tanta que se um filme brasileiro independente, sem as Columbias nem a Globo Filmes, é posto para for do cartaz se não vai bem no primeiro fim de semana.
Então, a sua responsabilidade com o espectador é enorme! Apóie o que você gosta. Apóie o que você acha importante. Vá ver o filme brasileiro nos primeiros dias, tomando assim realmente parte do processo. É importante que você, estudante, passe a ser básico no cinema brasileiro.
Podemos até marcar um encontro para conhecermo-nos. Estarei certamente no Estação Ipanema, no final da primeira sessão do primeiro dia, no Estação Unibanco, no final da penúltima sessão do primeiro dia e de tarde, no fim da segunda sessão, no Barra Point. Estarei lá disposto a debater o filme. Meu interesse por vocês que começam na bela estrada do cinema é total.
Espero que você tenha compreendido o espÃrito dessa carta e te espero lá!
Obrigado,
Domingos Oliveira
PS: Sobre "Carreiras".
É um filme que certamente incentivará você a fazer o seu. Um indicador de caminho, um filme pioneiro, um BOAA. Um filme feito em digital e em cooperativa, gastando em cash nada mais que 40 mil reais. Um filme que abre as fechaduras dos bastidores da TV. Já premiado em vários festivais. Feito em 8 dias. Um filme rÃspido, ágil, violento, com a formidável interpretação de Priscilla Rozembaum. "Carreiras" é um excelente filme, que vai tocar você profundamente. Olhe, garanto, quem não gostar é porque não entendeu...
Ps: O filme da cocaÃna. Priscilla cheira 17 carreiras durante o filme. Todas de pó neutro homeopático."
Recebi isso também. Mas achei meio esmola demais... será que não? Eu não acho que a gente tenha que ir ao cinema porque o filme é brasileiro, mas porque é bom, porque interessa. Como disse um amigo, isso parece ser um apelo para as pessoas irem ver o filme por a) solidariedade, b) patriotismo ou c) corporativismo. De qualque forma, eu vou ver.
Aliás, tem dois filmes do TT no YouTube: mania de Perseguição por Boeing e Folhas Soltas. Antes tarde que nunca :)
Recebi tb. A questão, Inês, é que é o Domingos. A simpatia é tanta que não tem argumento que me faça não querer ajudar o cara :) hehe!
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 15/6/2007 17:08Inês, retomando a tua resposta sobre a minha resposta: claro que a questão é complexa. Se você concorda com isso, precisa ampliar o olhar sobre a questão. Festivais, internet e sessões geralmente gratuitas de cineclubes têm sido alguns meios de escoar a produção. Serão os únicos? Na minha opinião, devem haver outros ou múltiplas combinações entre estes.
Alê Barreto · Rio de Janeiro, RJ 15/6/2007 19:06
Diante dessa realidade ...
"Nunca deve ter acontecido antes: o circuito brasileiro de cinema tem 2.095 salas de exibição comercial. Com a estréia, no dia 25, do novo Piratas do Caribe, um total de 1.459 dessas salas está ocupado por apenas dois filmes – Homem-Aranha 3 e Piratas do Caribe 3 – No fim do mundo. Isso dá 70% de todo o circuito.
É um acinte, um absurdo, uma invasão sem precedentes. Nem quero imaginar quando Shrek 3 estrear, no final de junho. Não vai sobrar uma salinha que seja...
São Paulo mesmo, que possui o maior circuito exibidor do paÃs, tem 362 salas. Dessas, 247 estão tomadas pelas aranhas e pelos piratas. Só que, na pior das hipóteses, cidades maiores têm opções aos montes, ainda que limitadas em casos assim.." www.digestivo cultural.com.br
Quanto ao filme jah assisti a peça e confesso estar mais curioso pelo filme do Domingos Oliveira em conjunto com Paulo José e o Aderbal Freire
Acho bacana essa ideia de que filme independente eh o que nao vive de esmolas do Governo Federal. Acho que os relizadores tem que parar com essa farsa de cinema independente patrocinado pela Petrobras. Deve-se dizer as claras que nao se faz filme independente no Brasil, em 35mm. Pq a vergonha? Acho que independente eh o cara que custeia a producao correndo riscos, consegue apoios e exibe fora da linha de caridade.
Segundo ponto, festivais. Eles surgem a torto e a direito e sem nenhum respeito pelo realizador. Envio filme para festivais ha cerca de 10 anos. Ultimamente, tenho sentido uma especie de desprezo pelos curta-metragistas. A maioria deles recebe seu filme e nao te envia nenhuma comunicacao. Quando sai a selecao, nao teem o cuidado de enviar para todos os participantes a lista. Depois, sao poucos os que convidam os diretores e, dentre os que nao convidam, poucos se dao ao trabalho de enviar qualquer coisa que mostre a repercussao da obra no evento. Alias, eu ja recebi uma mencao honrosa em um festival e sequer fui informado!!!!
Soh a titulo de comparacao, participei de um festival japones na provincia de Kagawa no ano passado com um filme chamado Capitulo Primeiro. Trata-se de um festival de pequeno porte, com os gastos pagos pela receita e por patrocinios privados (muito poucos ja que se trata de um festival gay num pais onde os gays nao tem quase visibilidade). Foram apenas dois dias de evento e poucos filmes. Ainda assim, o festival ofereceu um valor que cobria parte dos custos para que eu fosse ate a cidade. Dado o tamanho do festiva, a circustancia (era um festival gay, num pais como o Japao e um festival muito pequeno, comecando), decidi ir.
Alem do tratamento excelente, fomos recebidos com o maior respeito, completamente diferente do que acontece em alguns dos festivais onde temos que esperar por horas, em filas desorganizadas, para receber a ajuda de custo ou para apenas nos cadastrar.
No fim do evento, havia uma avaliacao. Para a minha surpresa, algum tempo depois, eu estava recebendo a avaliacao do evento, o numero de participantes na sessao que o meu filme foi exibido, a avaliacao dos participantes sobre cada obra da sessao e uma linda carta de agradecimento. Alem disso, ainda, no dia recebi uma bolsa com produtos tipicos da regiao, conhecida no Japao pela producao de udon.
Enfim, acho que falta aos festivais brasileiros o mesmo respeito ao curta-metragista. Muitos exibem os filmes gratuitamente e acham que a retribuicao eh a exibicao da obra quando, na verdade, a obra eh quem faz o festival.
Soh para citar um evento brasileiro, ao qual eu nao compareci porque ja estava morando no Japao, mas fui representado por meu primeiro-assistente: Festival de Brasilia. Tratamento excelente aos diretores. Devia ser copiado.
Quanto ao Domingos, a carta eh simpatica. Mas, o filme eh maravilhoso. Vale a pena ser visto. Eh uma obra complexa, uma pancada e uma licao de cinema de baixo custo.
Roberto Maxwell · Japão , WW 16/6/2007 01:09Alias, olha eu de novo... Tem uma pauta ai, hein? Quem vai la cobrir?
Roberto Maxwell · Japão , WW 16/6/2007 01:11
Eu acho que o caminho pra quem quer começar a filmar é procurar financiamentos na iniciativa privada. É dÃficil? É, sem dúvida. Mas me assusta muito que o contribuinte seja obrigado a financiar algumas produções.
Prefiro que se produza menos a ver um artista envolvido no puxasaquismo da polÃtica brasileira
oks.
pensando aqui:
meu comentário é um tanto contraditório, já que estamos em um site financiado por uma estatal.
Como te falei, concordo em parte com voce, Rafael. Acho que o estado deve, de alguma forma, financiar a cultura. O que nao concordo eh que os realizadores que optem por esse lado ajam como se isso fosse natural e/ou ajam como se isso nao existisse, como se isso nao influenciasse o trabalho deles. Nao sei se voce ja produziu algum filme/video. Eu produzo ha sete anos. Fiz mais de uma dezena de projetos, a maioria deles quando eu era estudante do curso de cinema da Estacio de Sa. Um deles fiz com recursos do projeto Curta Crianca, do Ministerio da Cultura, que selecionou 20 roteiros para serem filmados e exibidos na TV publica, ou seja, eles compraram e viabilizaram 20 ideias para que eles exibissem na TV. Nao foi a fundo perdido, nem foi com captacao de recursos. O custo real do filme foi maior do que o que eles nos ofereceram para desenvolve-lo. Mas, o filme esta pronto, disponivel na internet, alem de ter participado de mostras e, eh claro, ter entrado na grade do canal. Ou seja, fomos contratados para fazer o filme.
Depois que me formei, passei a fazer meus trabalhos de forma independente. No entanto, soh me tornei "viavel" depois que emigrei do Brasil. Ai, comprar um equipamento eh praticamente impossivel. Enfim, foi a minha escolha. Espero que seja a sua. Espero que a gente produza e se mantenha para que facamos um audiovisual realmente independente.
No mais, acho que ha certas iniciativas que precisam ser apoiadas de forma publica. O poder publico nao tem que se esquivar das necessidades da populacao. Essa ideia de que a sociedade nao deve financiar nada enquanto o dinheiro de nossos impostos fica no bolso dos politicos eh muito injusta. Se os impostos sao pagos, eles tem que ser devolvidos para a populacao. UM site como o Overmundo eh uma forma de que isso ocorra. O que o Overmundo nao pode fazer eh fingir que isso nao ocorre. Acho que nao eh o caso.
Roberto Maxwell · Japão , WW 16/6/2007 18:36
Roberto,
não produzo nada. sou apenas um espectador. a melhor contribuição que eu posso dar às artes é justamente não tentar produzir arte.
poisintão, eu concordo com vc quando diz que o poder publico nao tem que se esquivar das necessidades da populacao. Só que pra mim, as necessidades da população é saúde, educação, moradia, etc, etc.
O Estado não tem que ficar distribuindo arte(?) pras pessoas. Creio que seria muito mais eficiente cumprir com as necessidades prioritárias pra depois pensarmos em leis de incentivo à cultura.
Acho, Rafael, que o Brasil nao tem tempo para ficar esperando resolver uma coisa e soh entao resolver a outra. Alias, nenhum pais no mundo faz isso. Os problemas tem que ser sanados ao mesmo tempo. E oferecer cultura eh um dos meios para que a populacao seja melhor educada, acho que vc sabe isso. No Brasil, tudo ainda esta em necessidade. Imagina se pararmos, nao eh?
Roberto Maxwell · Japão , WW 16/6/2007 23:28Pensemos proporcionalmente, o orçamento do Ministério da Cultura não chega nem a 1% ... isso deve ser quase nada , digo isso em relação aos outros Ministérios.
dudavalle · Rio de Janeiro, RJ 17/6/2007 04:26olá inês, bacana seu artigo. conheco - e gosto! - do trabalho do tiago e posso dizer que ele é um bom representante deste cinema que você destaca. algumas outras figuras muito legais desse cinema de guerrilha são o christian caselli, o pedro bronz, o chico serra, o nilson primitivo, o dido savastano, o pessoal do telefone colorido, de recife... enfim, há de fato um movimento crescente de cineastas descompromissados com os editais, e isso é bom
Bernardo Carvalho · Rio de Janeiro, RJ 11/7/2007 18:21
só mais um detalhe: uma vertente deste cinema extra-edital é representado pelas oficinas de vÃdeo em comunidades carentes. escrevi um artigo sobre isso no livro "Cinema brasileiro 1995-2005 – Ensaios sobre uma década", coordenado pela revista de cinema Contracampo.
recentemente, tomei contato com a TV Morrinho. E postei sobre eles aqui no overmundo, está na fila de edição...
abs
Fala aÃ, Bernardo! Escrevi há um tempo uma matéria sobre o Nilson Primitivo aqui pro site. Tá aqui - http://www.overmundo.com.br/overblog/ingenuidade-marginal
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 11/7/2007 18:41
o artigo sobre o morrinho taqui: http://www.overmundo.com.br/overblog/tv-morrinho-criatividade-em-estado-puro
amanhã comeca na caixa economica...
thiago, nilsão é bem legal, e também seu artigo...
abs
Texto excelente ,e a entrevista melhor ainda! Parabéns!
carol de trancinhas · BrasÃlia, DF 12/7/2007 02:02
Parabéns pela entrevista, Inês.
Parabéns pela persistência, Tiago. :)
Beijinhos carinhosos.
Olha, li e voto. O que precisamos é discutir mais vezes tudo isso.
Muito bom.
abação!
roteirista, dramaturga, crônista e professora.
Ola, pessoal. Tenho uma pequena produtora, ja produzi pequenas coisas. Mas acabo de fazer o 1º Roteiro Cinema Festival ACI- Globo Cine e fiquei muito contente e ao mesmo tempo triste. Tive umas 150 pedidos de informações, mas somente 79 inscrições. Sabe o que todo roteirista queria? Dinheiro, grana! E como não tinha, eles nem se importaram comigo ou c meu festival. Que se lixe! Alguns até chegaram a debochar. E sabe qual era o prêmio? "Seu Roteiro Vai Virar Filme!" Sim o primeiro colocado tera seu roteiro gravado digitalmente.
Vamos anunciar os premiados daqui uma semana. Boa sorte a todos q participaram.
Ah sim, e tudo independente, sem nenhum patrocinio, soh com ajuda de amigos e da ACI e da Globo Cine.
Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!