Num imenso galpão com estruturas metálicas, acontece todo ano um evento que prima pela liberdade. É o Fórum Internacional Software Livre, o fisl, que chega a sua oitava edição cada vez maior. E mais diversificado. Diferentes tipos circulam pelo local em harmonia. E não haveria por que ser diferente. Todos estão lá por um motivo em comum: o uso de ferramentas livres, baseadas na colaboração. E dentro desse evento, ocorre outra manifestação de liberdade: o Criei, Tive Como!, Festival MultimÃdia de Cultura Livre do Brasil, que acontece pela segunda vez. Se no ano passado o festival tinha um estande acanhado, num dos cantos do Centro de Eventos da Fiergs, em Porto Alegre, agora as coisas foram bem diferentes. E Como!
Um estande central foi montado, com direito a banquinhos brancos e cortinas feitas com tubo de plástico, o que garantiu o resultado mais bonito entre todos os estandes, sem dúvida. Mas não ficou só por aà (e não mesmo!). O espaço contou com um estúdio de rádio e um estúdio de TV em pleno estande, que projetou vÃdeos o tempo inteiro, chamando a atenção dos participantes. Comandadas por Gabriel Menotti, do Cine Falcatrua, as projeções não seguiam uma programação prévia. “Ano passado a gente preparou um mote especial pra cá, que passava num horário determinado. Nesse ano, a gente tá controlando a transmissão 24 horasâ€, conta. Foi feita uma grade de programação de 36 horas, com materiais da internet e enviados através de uma convocação especial para o festival, mas o que se viu por lá foram pessoas levando seus vÃdeos para passar sem marcar hora, bem no espÃrito colaborativo da cultura livre. “Naturalmente, você fazendo a programação do lado do espaço de exibição, as pessoas têm acesso não só a tela como ao dispositivo de controle e também a nós, que estamos controlando a estrutura. Então você tem um diálogo muito maior entre os projecionistas e o públicoâ€, completa.
Sem dúvida, houve uma evolução no comparativo com o ano anterior. Quem confirma isso é o Vj pixel, que viu o festival crescer: “Esse ano a gente tem uma estrutura bem maior, que não atinge só o público que tá circulando pelo fisl, mas atinge as pessoas que acessam o site do fisl na internet também, porque a gente tem uma TV e uma rádio que tão sendo exibidas aqui internamente. A gente tem um telão e uma caixa de som com a programação da rádio, mas tem também streaming desse material que a gente tá produzindo, que é onde tá a maior parte do públicoâ€. Mas a evolução não ficou só na estrutura do estande e dos conteúdos. O famoso show de abertura do festival também cresceu e se diversificou.
Realizada no Teatro do Sesi, local ao lado do espaço do fisl, a noite começou com os gaúchos da Bataclã FC, que entraram no palco com uniformes do DMLU, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre e abriram o show com o clássico Amigo Punk. A certa altura, o vocalista Richard Serraria chamou o público que dançava na fila do gargarejo a subir ao palco, com o comentário “É software livre, é palco livreâ€, mas acho que a cara feia dos seguranças não motivou o pessoal a se arriscar. Não que isso tenha sido problema: Richard acabou o show no meio da massa, cantando com as mãos pra cima, pra alegria de todos. A segunda atração foi o DJ Dolores, que antes de tocar comentou que muita gente considerava que fazer música no computador era como enviar um e-mail, uma atividade burocrática e sem vida. Pra fechar o seu discurso, largou um “Então me dêem licença que eu vou ali passar um e-mailâ€, sob os aplausos do público. O ponto alto foi o dueto com a rabeca do Maciel Salustiano, filho do Mestre Salustiano, que fizeram uma performance de arrepiar.
Na seqüência, vieram os DJs Lucio K e JC, ganhadores do Overmixter, Concurso de Remixes Brasil-Ãfrica do Sul. O sul-africano JC abriu os trabalhos com o seu remix vencedor e convidou o público a bater palma enquanto a mistura sonora invadia o recinto. Em seguida, foi a vez do Lucio K, com o seu remix vencedor Tudo Vem da Ãfrica e com uma faixa do seu último disco, que mistura carimbó com música eletrônica, agitando a platéia. Pra valer: “No final, ainda recebi de um espectador um dos melhores elogios possÃveis: "fiquei impressionado com o groove que você tem, mesmo sendo branco assim!â€, diverte-se o Lucio. Encerrando a noite, os pernambucanos do Mombojó fizeram um ótimo show, com o público cantando junto e dançando. No final, o vocalista Felipe S. convidou o povo pra subir ao palco, e ao contrário do show da Bataclã, o convite foi aceito, com uma galera invadindo o palco e pulando muito, pelo menos até a hora em que os seguranças começaram a tirar todo mundo de lá. Mas foi uma bela forma de terminar a festa, com alegria e empolgação, caracterÃsticas que marcaram não só os shows como os três dias de Criei, Tive Como!.
E no que depender do Vj pixel, que pela segunda vez fez a ambientação visual do show (esse ano ao lado do inglês Salsaman), o Criei tem tudo para melhorar cada vez mais empolgante: “A gente gostou muito da estrutura que tem aqui, todo mundo tá adorando fazer. Nossa intenção é, terminando o evento, refletir sobre isso e escrever um relatório sobre o que foi bom e o que foi ruim, pra no ano que vem fazer uma estrutura semelhante, mas ainda melhor".
Pelo que vi nos três dias de evento, tenho certeza que esse objetivo vai ser alcançado.
http://www.midiatatica.org/
Há muito tempo inciativas de produção multimÃdia com software livre se articulam por todo o brasil - ESEEI desde 1999, Laboratório de Conhecimentos Livres no FSM de 2002 uma parceria entre diversos grupos, o Centro de MÃdia Independente, Rádio Muda, gt-comunicação FSM e AIJ, Autolabs/sp 2003 e 2004, Oficina de Conhecimentos Livres /nacional 2005, 2006 e 2007). Coletivos descentralizados de todo o brasil co-laboram há pelo menos 5 anos para estimular a produção independente, a arte a a cultura por meio do software livre e da pedagogia da autonomia. Por vezes co-laborando junto a governo em iniciativas incubadas (e apropriadas) pelos burocratas, como Pontos de Cultura, e em festivais internacionais de arte, mÃdia, tecnologia, comunicação e cultura, como MÃdia Tática Brasil, Digitofagia, Submidialogia, Find:E:tático, Cibersalão, Diálogos na Casinha, etc (todos entre 2004 e 2007), entre outros, já há algum tempo vêm-se confundindo, não coincidentemente, o trabalho de ativistas de mÃdia com os ciclos de reprodução que compactuam com o tempo imposto pelas regras do mercado capitalista, e, neste paÃs contraditório, abarcado também pelo governo.
É assim que o nome cultura livre foi registrado por uma fundação, nada menos do que a Getúlio Vargas, templo neo-liberal da propriedade intelectual. Comparsando-se, o festival de r$140 mil reais apropriou-se do nome Criei Tive Como, versão abrasileirada da licença estadunidense, criado por um ativista e registrado sem seu conhecimento para faturar em cima do conceito de liberdade. Fisl e CTC assim alinham-se, estabelecendo uma fissura de conceitos que é evidenciado pela contradição que carrega:
* a cultura da individualidade. através de convite a pessoas e não aos grupos já estabelecidos que trabalham com cultura e software livre, todos acessÃveis por listas públicas, causando a des-mobilização destes grupos para o evento.
* escolha de trabalhos que usam software proprietário (FILE na primeira edição e os artistas do OVERMUNDO na segunda edição, também não coincidentemente outro projeto apoiado pela Petrobrás).
* manipulação do tema cultura através do veto a outras propostas enviadas.
* elitização das apresentações musicais, testemunhadas por um vazio teatro do sesi enquanto desesperadamente ocorria a distribuição de convites ao evento, em vão. enquanto sentia-se o cheiro de ganja oriundo da festa privê no camarim, no auditório ninguém podia beber, aliás nem lá fora, com a cerveja a r$4 reais.
* o próprio nome do festival foi roubado, o autor sendo literalmente enganado pois havia deixado usar o nome somente para a primeira edição do evento, não sendo informado que este seria registrado, e não em licença creative commons é claro, mas sob as leis de direito autoral (pirataria?).
* apropriação dos conceitos de rádio e tv livre, que definitivamente não se concretiza em um estúdio fechado com pessoas e temas previamente escolhidos e com apoio institucional, como ocorreu ali.
A cultura do oitavo fisl foi portanto a cultura da sociedade industrial e da expansão do mercado. A cultura do roubo, da censura e da apropriação de conceitos muito caros à s pessoas presentes, à sociedade civil que ali não só não era representada, como pelo contrário, foi visivelmente afastada da real e ativa cultura do software livre. A cultura não esteve ali presente como a intervenção da técnica com o meio, mas como farsa da própria técnica capitalista que se apropria do meio para torná-lo produto, consumÃ-lo, vendê-lo, des-conceituá-lo. Afinal, todos sabemos que não há cultura sem liberdade, assim como não há liberdade sem igualdade e sem diálogo.
Lembrando sempre software livre não eh gratuito
http://www.overmundo.com.br/overblog/ruindow-foi-bom-para-humanidade
Liberdade é isso aÃ.
Afinal, o que seria da gente sem a liberdade de expressão?
Sigam comentando!
Eduardo,
se puder entre em contato, gostaria de reproduzir o seu texto no meu blog, ok ?
valeu!
Oi Mbnick
eh soh ir lah no midiatatica .org, o texto não eh meu, e estah apenas parcialmente reproduzido, dah uma olhada lah
www.midiatatica.org
Legal o seu texto, EGS. A idéia de botar os arquivos de áudio ficou bem legal pois mostra o que rolou para quem não estava por lá, além de ressaltar a parte audiovisual do evento, com o Falcatrua na mostra e o pixel nas projeções. Parabéns! Abs.
dansudansu · Rio de Janeiro, RJ 22/4/2007 13:02
mbnick, tu perguntou pra mim ou pro dudavalle? Se for pra mim, não há problema algum em reproduzir, desde que respeitadas as condições da licença.
Abraço!
Que bom que tu gostou, dansu!
O objetivo foi tornar a cobertura o mais multimÃdia possÃvel.
Abraço!
Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!