Subverter tudo, construir tudo (...) Ocasionar o caos, organizar a construção.
O que os artistas têm a dizer? Leonardo da Vinci tratou de deixar tratados para as gerações posteriores, inclusive um sobre a pintura que influencia o gosto de muita gente, ainda em nossos dias. Mas, se a prática moderna nos deixou acostumados a ter somente crÃticos falando dos trabalhos dos artistas em catálogos, jornais, e outros veÃculos, isso não quer dizer que artistas sejam apenas habilidosos executores ingênuos de objetos geniais. Ao contrário, o fazer artÃstico se aproxima do que, nas "Teses sobre Feuerbach", Marx diz ser a "atividade revolucionária", "atividade crÃtica-prática". E se conhecemos a parte prática da arte, é a teoria/crÃtica que lhe dá suporte que a Editora Jorge Zahar traz à tona com o lançamento do livro Escritos de artistas - anos 60/70, organizado pelas historiadoras Cecilia Cotrim e Glória Ferreira.
O livro reune 51 textos (na grande maioria inéditos em português) assinados por 2 grupos e 46 artistas, de nacionalidades distintas, que são expoentes dessa geração: Ad Reinhardt, Richard Serra, Joseph Beuys, John Cage, Victor Grippo, Paul Scharits, Robert Smithson, ou brasileiros como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Grupo Rex, Artur Barrio, Paulo Bruscky, entre outros, tomam parte na publicação. Os textos escolhidos (garimpados como ouro e publicados na Ãntegra) tratam de temas variados que vão da relação entre arte e polÃtica à definição do próprio termo "arte", passando pelas intenções dos artistas e seus processos de produção. E o resultado? Talvez seja o que Glória Ferreira identifica no prefácio: artistas se arriscando no terreno da crÃtica e a revelação do embate dos produtores com outros agentes do circuito. Talvez seja o registro histórico do pensamento artistico de uma época. Talvez seja a História da Arte escrita pela ótica do artista... Mas talvez seja o complemento que faltava para a arte ser entendida como atividade revolucionária, capaz de provocar mudanças de comportamento.
No item 6 do "Esquema geral da nova objetividade", texto publicado na coletânea, Hélio Oiticica conclama essa mudança de costumes, e, para isso, ele diz que não basta "apenas martelar contra a arte do passado ou contra os conceitos antigos (...) mas criar novas condições experimentais, em que o artista assume o papel de proposicionista ou empresário ou mesmo educador". John Cage vai por um caminho próximo: em "O futuro da musica", diz que não é mais possivel discriminar o "barulho", e que "tudo é válido. Entretanto, nem tudo é tentado". E se a especulação de Cage e as proposições de Hélio Oiticica não forem de todo convincentes, o titulo do texto transcrito da palestra que Beyus fez na Itália indica a confirmação da última hipótese. Para Beuys, "A revolução somos nós!", e ele afirma que quando o homem quer "mudar as condições de seu mau-estar" começa a mudar pela esfera cultural, pelo modo de pensar, e que "só a partir desse momento, (...) será possÃvel pensar em mudar o resto".
Mas que ordem de afinidades poderÃamos eleger entre a experiência da escrita desenvolvida por artistas que trabalharam no perÃodo delineado pela grade histórica dos anos 60/70 e as proposições atuais? A pergunta é feita no posfácio por Cecilia Cotrim, a partir do enunciado de Antonio Manuel, quando este explicava que o "...bode é de 'bode', e também de 'body arte'". Se tentasse responder esse questionamento aqui daria bode, poderia estar sendo reducionista, e são os artistas da nossa geração que provavelmente responderão. Mas aproveito a liberdade poética que Cecilia demonstra na sua análise para dizer que "as palavras dão carne à imagem-tempo", dão carne ao bode e à (ao?) body, e também uso as palavras de Antonio Manuel para dar titulo à este texto, de um depoimento sobre as "Urnas quentes", em outubro de 1968, e bem que as autoras também poderiam colocá-las como sub-titulo dessa obra...
Por Arthur Leandro, artista e historiador incidental.
Boa dica. Já estava na hora de ir além do Teorias da Arte Moderna de Chipp. Falta agora um projeto que, no mÃnimo, precisará ser corajoso: 1980/2000; seria a história no fio da navalha escolhendo fontes de pesquisa...
dedalu · Belo Horizonte, MG 7/8/2006 10:47Muito bom, deu vontade de conhecer o livro. Espero que encontre textos tão gostosos de ler quanto este seu.
socorropatelo · São Paulo, SP 9/8/2006 04:54Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!