Leitor, leitora, me perdoem desde já pelo tom de manifesto. Mas quando se fala de paixões o sangue arde.
Temos prazeres e prazeres na vida. Alguns são médios, constituÃdos pelo conforto do conhecido. Outros são motivados pela mágica da descoberta, e intensos. A improvisação, na música como na vida, é mais estimulante da criatividade e da festa intracelular do que a repetição de uma pauta pré-fabricada.
No Brasil existem muitas manifestações musicais. Uma linha é especialmente encantadora: a música instrumental brasileira. A mÃdia dominante (por oferecer porcarias pseudo-culturais) e a propagação boca-a-boca de lugares comuns acabaram por fazer do rock uma arte "superior". Dá pra entender que isso tenha acontecido já que, realmente, entre os males, o rock acaba sendo o menor. Mas basta voltar o filme um pouco pra ver que na realidade ele apareceu como alternativa fácil ao jazz, música criativa e inovadora por excelência (na época free demais para o poder hegemônico). O historiador Eric Hobsbawm escreve sobre esse fenômeno no livro A História Social do Jazz.
Claro que o que se faz no nosso PaÃs não é jazz (cujo surgimento se deu nos EUA), e sim o resultado de várias misturas e recriações daquilo que veio de fora inicialmente, fruto da nossa caracterÃstica antropofágica apontada faz tempo pelos modernistas brasileiros. Mesmo assim, o jazz já não pode mais ser definido como made in USA, tendo adquirido um caráter cosmopolita e, na origem, provindo da Ãfrica, mais precisamente da percussão africana.
A mistura de samba, frevo, maracatu, xote, maxixe, xaxado, forró, baião, com o jazz, -em suma a improvisação-, se manifestou por aqui com mais flexibilidade na chamada música instrumental brasilera, a vertente que mais comeu desse pasto e bebeu dessa fonte multicultural.
Sendo assim, vale considerar que a vanguarda do mundo no campo da música éramos nós já há 30 ou 40 anos. Isso, quando surgiram grupos como Som 4, Sambrasa Trio, Quarteto Novo. Cito propositalmente os que foram integrados por um ser de outro mundo: Hermeto Pascoal. Que, aliás, dá à música que faz o nome de música livre ou música universal. Nada mais verdadeiro. Detalhe: Hermeto é filho de negros -voltamos à Ãfrica-, embora seja albino.
É irônico, apenas, que hoje consideremos como música nova a que importa um modelo quadrado basicamente estadunidense e inglês, o rock and roll. A cena dita "independente" tem seus representantes contemporâneos, e um público razoável. Tudo bem, o rock é legal, os Beatles e os Stones tiveram seu tempo, outras bandas também fizeram a cabeça de muita gente, Woodstock foi um acontecimento e tanto, mas convenhamos, depois de ouvir Hermeto fica difÃcil considerar Mick Jagger original. Hermeto não rebola no palco, mas toca, e como. Além disso, é possÃvel fazer uma diferenciação clara entre o propósito de uma e outra música. Quem sabe nem merecessem ter a mesma denominação. Enquanto uma é produto do meio urbano do hemisfério norte, a outra deriva das raÃzes naturais do Brasil. Ao passo que bandas de rock ensaiam em garagens, Hermeto e o grupo dele, por exemplo, faziam retiros de até 24 horas no meio do mato, ouvindo o som da natureza, usando o clima dessa imersão como base cardÃaco-afetiva-sensorial.
A mediocridade que grassa é tão abundante a ponto de hoje ser comum ouvir frases do tipo: "eu não gosto de música ruim, odeio sertanejo e pagode, meu negócio é rock". É necessário fazer um upgrade no nosso miolo mole.
A música instrumental brasileira é revolucionária. Isso se constata ouvindo. Enquanto alguns estilos musicais são tão populares porque grudam logo nas primeiras audições, a improvisação musical tem como mola-mestra um caráter criador do ouvinte. Porque não basta ouvir uma vez, decorar a letra e sair cantando junto. É necessário um mergulho de alma. A ausência de palavras permite um vôo emocional. O intuito de quem improvisa é manifestar a foto da aura de um momento, e não criar um gesso para os ouvidos. Ouvir música não deveria ser uma atividade banal. Fazer música menos ainda.
Tanto o extremo da música erudita, presa a partituras e grandes mestres, quanto o da pop, a que agrada ao povão, se perdem na repetição, na tentativa de acertar.
Hermeto Pascoal começou a vida musical dele ouvindo passarinhos. Além disso, "brincando de errar" com os irmãos. Pegavam pedaços de madeira e batiam o mais "errado" que conseguiam. Desse jeito virou um gênio. Transpondo essa idéia e fazendo dela uma filosofia de vida, (paralelo do qual não se pode fugir, já que a música acontece nela), se praticássemos mais o lado lúdico do erro quem sabe serÃamos menos infelizes. Boa parte das neuroses deriva da busca de perfeição.
Bastaria soltar as cordas imaginárias que prendem nossos corações e ouvidos pra descobrir que existe um caleidoscópio sonoro sagrado ao final do arco-Ãris.
Referências contemporâneas:
Música Instrumental no Overmundo
Itiberê Orquestra FamÃlia
Maritaca Produções ArtÃsticas
Gravadora Núcleo Contemporâneo
Benjamin Taubkin
Nenê Trio
Arismar do EspÃrito Santo
Toninho Ferragutti
Selo Rádio Mec
Hermeto Pascoal e Aline Morena
Orquestra Popular de Câmara
Airto Moreira e Flora Purim
Naná Vasconcelos
Sivuca
Itiberê Zwarg
Jovino dos Santos Neto
VinÃcius Dorin
Curupira
www.cafemusic.com.br(rádio online, artigos, mp3, discos inteiros disponÃveis para ouvir, resenhas, entrevistas, links)
Podcast Miscelânea Vanguardiosa
Então escreva! Achei o gancho que você pegou ótimo, mas dê linha! Comece com um sussurro e termine com uma orquestra.
Fernando Mafra · São Paulo, SP 31/1/2007 10:44Escreva mesmo, Felipe! O grito instrumental vai ser muito bem-vindo por aqui! Será que deu algum erro quando você postou (faltou o resto) ou a idéia era só dar o aviso mesmo?
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 31/1/2007 10:48
Oi Fernando, oi Helena.
Vocês parecem ansiosos. Mas é legal porque já conquistei audiência antes de colocar qualquer coisa na roda. Na verdade estou sem internet em casa, e tive a idéia enquanto estava num café, com a minha filha (de 1 ano e 3 meses) detonando tudo, derrubando coisas, colocando a mão onde não devia, então só joguei a idéia e contei com as 48 horas de edição pra preencher devidamente o espaço. Agora estou com ela no colo, mas com o texto já pronto, que escrevi nos intervalos possÃveis.
Bom... é isso aÃ. Espero não ser apedrejado, com tantos roqueiros por aÃ... Mas a intenção é mesmo gerar polêmica e motivar mais pessoas a ouvirem a música instrumental brasileira.
Abraços,
Felipe
TaÃ, mandei do jeito que deu por enquanto. Assim que tiver mais um tempo insiro imagens e links, e faço a edição de fato do texto, já que a que eu tinha feito no Word foi pro espaço aqui, e vou ter que refazer.
Mas quem tiver curiosidade já pode ir lendo.
Abraço.
Oi Felipe,
Também sou apaixonado por música instrumental e adorei ver seu texto aqui no Overmundo!
Queria deixar duas sugestões de links:
- O podcast Miscelânea Vanguardiosa, que é voltado para a música instrumental brasileira
- E um link para a tag "instrumental", onde o pessoal que ler o seu texto vai encontrar tudo que estiver aqui no Overmundo e for relacionado a essa palavra... O link é: http://www.overmundo.com.br/home/busca_tag.php?tag=instrumental
abraços,
Marcelo,
Fico contente com a afinidade.
As sugestões estão anotadas, e já as incluà no texto.
Um abraço,
Felipe
Muito bom texto! :D
E como sempre o Marcelão tá ali em cima, dando suas excelentes e adequadas dicas!
Gente como vocês (Felipe, Marcelo, Fernado, Helena...) torna o Overmundo um lugar ainda mais legal :D
A propósito, mesmo sendo "filho do rock", sempre tive o ouvido aberto para outros sons e outros tons. Toda expressão legÃtima de um sentimento ou de um valor, seja ela através da mÃdia que for, tem sua beleza. Só o que me cansa são as expressões fabricadas, esvaziadas, que lotam as rádios e televisões por aÃ...
É, contudo, fundamental que olhemos para o que é básico...
Abraços do Verde.
Daniel,
Que tom mais solene! Mas tudo bem, agradeço o elogio ao texto.
O que queres dizer com "é fundamental que olhemos para o que é básico"? Fiquei intrigado sobre o sentido dessa afirmação com reticências...
Um abraço,
Felipe
Poisé... ficou solene, né?
Acho que é porque eu estava sonolento pra caramba quando escrevÃ. :D
E vc gostou da minha afirmação misteriosa?
eu também. :D
hehehehehe
Abraços do Verde.
Ok, eu estava brincando ao fazer tanto mistério... :D
Eu também não sei o que eu quis dizer.
Fiquei aqui, tentando decifrar minha afirmação...
Acho que é um daqueles comentários vagos, meio esotéricos, meio nonsense, que você faz sem nem saber o que quer dizer, quando está com sono... :D
Abraços do Verde.
Cara, gostei muito do texto!
Boa idéia em falar de Hermeto Pascal também.
Muito interessante!
Carlos, que bom, fico contente.
Tenta ouvir, conhecer mais... isso é o que importa.
Daniel,
Se o comentário foi feito em estado semi-morfético, tá tudo certo então.
Abraços,
Felipe
Hahahaaaha... certamente, um estado um bocado morfético...
Por vezes a insônia é produtiva. Por vezes, não. :D
Abraços do Verde.
Bom... café é a solução.
Abraço,
Felipe
...Ou a origem do problema. :D
Abraços do Verde.
O artigo está ótimo. Papo sobre música instrumental é bem lembrado aqui. Mas faltou muita gente boa nessa sua listinha de referências. Por exemplo (falta grave, para mim) Egberto Gismonti. E olha, a música instrumental brasileira pode não estar nas rádios e nem nos programas de auditório da TV, mas tem um público grande e fiel. Exemplo disso é o projeto Circular Brasil Instrumental, que levou de lá pra cá do Brasil, em 2006, músicos de primeira a preços ao alcance do bolso dos pobres de bom gosto. Espero que esse projeto continue e que venham outros no rastro.
Ilhandarilha · Vitória, ES 2/2/2007 14:57
Ilhandarilha, tens razão sobre o Egberto Gismonti. Aliás, não esqueci de citar o Naná Vasconcelos, que é um grande parceiro dele. Mesmo assim, reconheço que foi uma opção omitir o nome do Egberto Gismonti. Lembrei dele, mas daà pensei: esse é óbvio. Se bem que se tivesse aplicado o mesmo critério ao Hermeto ele não teria nem aparecido. De qualquer maneira, quem não conhecer Egberto Gismonti e for atrás das referências colocadas, dificilmente não vai encontrar algum link que leve à descoberta de mais esse representante da música instrumental brasileira. Acho que acabei não citando o nome dele também pelo fato de ele morar fora do paÃs há muito tempo, ter uma origem mais forjada na música erudita etc. Se o Hermeto é a junção do jazz com os ritmos brasileiros, o Egberto já é mais o lado da mistura da formação erudita dele também com esses ritmos brasileiros. E tem discos geniais. Gosto muito dele, principalmente das parcerias com o Naná. Mas na linha discursiva que escolhi, cabia mais o Hermeto mesmo, que é minha grande referência.
Um abraço,
Felipe
Sobre ter colocado no próprio tÃtulo que é uma música que "poucos" ouvem, a intenção era provocar mesmo.
Um abraço,
Felipe
Só para colocar mais lenha na fogueira:
"Em principio sou a favor de movimentos "A favor",
e contra movimentos "Contra".
Ou traduzindo para o politicamente correto:
Me interessam mais ações afirmativas do que negativas.
Ou traduzindo pro nosso papo:
Dá pra gostar de Música Instrumental Brasileira (ou qualquer outro recorte que façamos) sem precisar tocar o pau em nada...
Tudo bem, Egeu. Também sou a favor dos movimentos a favor. Pensei bastante nisso enquanto escrevia e editava o texto. De qualquer maneira, o rock já tem suficientes defensores. Tentei colocar lenha na fogueira do meu jeito, e a contraposição foi um caminho que escolhi. Mesmo assim, partiu da observação, aqui no overmundo, de muitos "Gritos Rock", aà veio a idéia do "Sussurro Instrumental". Mas pode acreditar, sei qual é a vibração que procuramos no rock, todos os não-marcianos. É uma música intensa, e gosto muito de muitos roqueiros.
Também tem outro lado: não simpatizo muito com o politicamente correto. Na verdade, teu caso também não é diferente, já que politicamente correto da tua parte seria não fazer crÃticas, e no entanto foi essa tua opção.
Um abraço,
Felipe
Oi Felkipe legal o txt e melhor ainda ouvir Hermeto. Por aqui no Mato Grosso temos uma Bienal de Música Contemporânea que valoriza justamente essa obra prima.
Eu ouço jazz, rock, blues, instrumental erudita ou contemporânea, rasqueado, moda de viola...Acho q nenhuma é melhor q a outra são climas distintos. De qualquer maneira esta é uma música ouvida por poucos mesmo, né!?
oi Felipe. eu, como o Egeu, acho que é perfeitamente possÃvel vc falar da importância da música instrumental (e experimental) brasileira, que, sim, é menos (re)conhecida do que deveria, mas sem que para isso seja necessário falar mal do rock. aliás, assim como o jazz, o rock foi absorvido pelos ouvidos dos brasileiros e traduzido em muitos sons que se misturam, há muita coisa boa sendo feita por aqui e lá fora, e não é somente algo que "teve o seu tempo". salvo casos muito especÃficos, determinar a morte ou até a desimportância de qualquer estilo eu considero absolutamente inútil. mesmo que pra muita gente o rock tenha parado nos anos 60 ou 70. (e daà talvez surgissem mais papos babacas de "pureza" etc, que também desconsidero).
e viva Hermeto! meu voto vai pra ele e para a quantidade de links bons que a matéria reúne. paz :)
ah, a foto é muito bonita!!
Inês Nin · Rio de Janeiro, RJ 3/2/2007 02:06
Cláudio, obrigado pelo elogio e pela dica sobre a Bienal.
Inês, obrigado pelo elogio à foto e aos links. Na verdade eu não sou sectário. O tom do texto é uma provocação. Também tem outro lado: imagina se já estivesse tudo dito no texto da melhor forma possÃvel, sem reparos possÃveis? Não sobraria espaço pra comentários tão válidos quanto os que pintaram por aqui. Prefiro jogar uma pedra pra cima e ver uma chuva de flores do que plantar uma flor e receber agrotóxicos. Gostei muito de ler os comentários, pra mim são um termômetro da tolerância e do senso crÃtico do pessoal que anda por aqui.
Abraços.
sei que um tanto do que escrevo aqui já foi escrito acima pelos nossos amigos do overmundo, numa ótima discussão, mas queria falar um pouco também e, se possÃvel, puxar alguns fios da conversa.
adoro hermeto paschoal e outros artistas instrumentais brasileiros. a contribuição deles para a nossa cultura é impressionante... mas a verdade é que eu tenho uma alma pop! acho que o rock tem contribuições claras, efetivas, para a cultura brasileira, para a cultura mundial. aliás, escuto hermeto graças ao rock, que abriu muito minha cabeça para certos experimentalismos. sim, porque o rock experimenta e grandes discos foram criados nesse sentido, discos que até hoje são referência de inovação. não acho que os beatles tiverem seu tempo, eles são artistas do nosso tempo e sua obra é extremamente atual em vários sentidos.
outro dia estava lendo um livro sobre a "construção" do the dark side of the moon" do pink floyd. é impressionante as linhas arrojadas desse álbum, desse momento artÃstico de uma banda de rock.
tenho uma boa coleção de discos de rock e vejo nela bons exemplos de uma cristalina poesia, inovação e rara qualidade. temos que fazer jus a isso. misturando ritmos, referências...
claro que temos muita bobagem na música pop, bem como na música instrumental. máquinas de fazer muzak... acho que o que queremos, no fundo, é falar dos grandes artistas independente do nicho de criação em que eles se encontram... até porque os grandes artistas sejam do rock ou da música instrumental nunca param no mesmo lugar.
uma boa discussão é sobre a questão da qualidade, de onde ela se encontra numa manifestação cultural. a música instrumental, muitas vezes, é voltada para um certo virtuosismo (por favor, não no mal sentido) que leva a criação de estruturas harmônicas, de ritmo, complexas que são um deleite para os ouvidos e imediatamente reconhecemos aquilo como "muito bom". existem porém, e acho que a música pop é rica nisso, casos de uma simplicidade (ou pobreza?) instrumental ou poética, mas que comovem, que nos fazem dançar e cantar...
devo dizer que entendi sua mensagem e estou lado a lado contigo na defesa da obra do hermeto, embora ache que ela nem precisa. afinal ele é um artista mundialmente reconhecido dono de uma obra vasta e reverenciada.
ps. mesmo depois de ouvir hermeto continuei considerando mick jagger, pelo menos dos primeiros anos, um artista originalÃssimo.
grande abraço
Tudo bem. Viva a liberdade de expressão.
E só pra anotar: Os primeiros discos dos Stones são mais blues do que rock. Pink Floyd faz parte da minha vida também. Mas não preciso fazer um mea culpa, já disse aqui várias vezes que a intenção ao contrastar rock e música instrumental brasileira foi agitar o pedaço, nada mais.
Abraço.
eu sei, felipe... e sua intenção foi muito bem acolhida. eu também só estou querendo colocar um pouco da minha voz e trazer algumas pequenas idéias para essa agitação.
abraço!
toinho
Outro abraço. Estamos conversados, então.
Felipe Obrer · Florianópolis, SC 3/2/2007 12:10
Prabéns Felipe, grito perfeito, claro, audÃvel e ...necessário!!
Acho muito importante usarmos o espaço livre do Overmundo para divulgar noss música instrumental... Muito obrigado por citar o Miscelânea Vanguardiosa , gostaria de aproveitar e avisar aos amigos que o programa não está no endereço do link do artigo, saÃmos há algum tempo do podomatic e estamos no blogspot. Use o link desse comentário para acessar... Foi uma grata surpresa acordar e encontrar essa postagem essencial do Felipe. Muito Obrigado e parabéns pelo manifesto!!
Sá, sem palavras.
Entre os comentários, o teu foi dos mais "pra cima". Acho que me entende quem já ouviu muita música livre de olhos fechados e teve orgasmos existenciais na atividade.
A devoção à música instrumental vem de um gozo empiricamente constatado.
Valeu!
Então o link para o podcast MISCELÂNEA VANGUARDIOSA, de autoria de Sá Reston é este
Felipe,
Foi uma bela surpresa deparar com este texto seu, depois de ter encontrado algumas afinidades num comentário seu.
Talvez esteja chovendo no molhado, mas gostaria de apresenta O Grivo de BH, que tem influências cageanas. Vale a pena.
A provocação que você fez está valendo, apesar de gostar muito de rock também. Mas é importante chamar atenção para a música instrumental. Talvez, a questão já não seja "ou isto, ou aquilo", mas "isto e aquilo". Não estou dizendo que é preciso harmonizar diferenças, mas sim que o problema da música instrumental não me parece a difusão do rock (há muito rock ruim, é certo), mas sim na extrema banalização que a consumo de arte vive. No entanto, o que você diz no texto é importante. L
Ahh, lembro também o nome do bandoneisa argentino, radicado em BH, Rufo Herrera.
Luiz Carlos
Desculpe-me os vacilos de digitação.
A culpa fica pra quem acredita que o ser humano é culpado de algo, seja da queda no mundo real, seja da mordida no fruto da consciência. Um errinho qualquer de digitaçà o não é nada grave, mais vale um erro de digitaçà o numa palavra sincera do que um texto perfeito e com falha cardÃaca.
Pra ti, Luiz Carlos, fica só o meu obrigado pelos elogios e pelas dicas.
Um abraço.
só pra situar, músicainstrumentalbrasileirarockjazz. MACACOBONG. e nos "gritos rocks" daqui. no mais viva a música.
Balbino · Cuiabá, MT 22/2/2007 11:58
Balbino, não entendi muito bem, mas "tá limpo".
Abraço.
ô Felipe esse meu comentário tá parecendo essas músicas eruditas super fechadas em si mesmas, tem razão. vamos lá, MACACOBONG é uma banda de rock/fusão instrumental, aqui de Cuiabá, que na segunda noite do "grito rock", também aqui em Cuiabá, fez um showzaço que me deixou maravilhado e toda a gurizada roquêra que estava no evento. na verdade é só pra dizer que essa moçada tá fazendo musica de qualidade em alto e bom roquinrrol, valeu grande abraço!!!
Balbino · Cuiabá, MT 22/2/2007 16:47
Tá bom, Balbino, agora ficou mais compreensÃvel mesmo. E viva o rock também! Mas ainda prefiro a música instrumental brasileira... :P
"Há espaço neste mundão dos deuses para muitas primorosas visões distintas sobre a mesma maçã. O que dizer então das peras, uvas, abacaxis, abacates, jacas e pinhas, entre outras, que povoam o nosso pomar?"
Abraços do Verde.
Tá bom, duende, obrigado pelas considerações frutÃferas...
Abraço.
esqueçam o rock...o jazz...o escambal...é tudo uma coisa só...viva a música livre.
www.colorir.cjb.net
Colorir, poderia até apenas rir com teu comentário, mas prefiro discordar amigavelmente. Jazz e rock não são a mesma coisa. E música livre não é o rock, segundo entendo e ouço (nem o jazz formal). Música livre, na acepção que uso, é a música com predominância do improviso, não pautada por partituras de forma rÃgida, e na qual instrumentos como bateria e contrabaixo, por exemplo, transcendem uma função meramente rÃtmica e passam a ocupar-se também dos campos harmônico e melódico (transição iniciada por caras como Carles Mingus no contrabaixo, praticada hoje com maestria pelo Itiberê Zwarg, e na bateria, pra ficar em um exemplo brasileiro só, cito Nenê).
Abraço.
Quis dizer Charles (ou Charlie) Mingus.
A quem aparecer por aqui, sugiro ler a entrevista com Benjamin Taubkin, músico e pesquisador, sobre a cultura brasileira.
Abraços.
Tô contigo. Rock é ótimo, música instrumental também. Não devem, necessariamente, ser colocados numa relação de competitividade. Mas saquei que sua intenção era polemizar assim de leve, pra instigar o leitor. Gosto disso.
E viva Hermeto, o bruxo, além de Jacob, Pixinguinha e todos os chorões, verdadeiros menstréis da música instrumental brasileira.
Que legal tua presença aqui! Obrigado pelo comentário também.
Abraço e viva a música brasileira!
Fomos aculturados musicalmente, não há como negar. Enfim, alguém aqui no Overmundo, defende abertamente a nossa maior riqueza em termos musicais: a música instrumental brasileira. O Felipe Obrer ainda por cima é sensÃvel fotógrafo das coisas da natureza.
Fanny · Rio de Janeiro, RJ 13/4/2007 10:00Fanny, muito obrigado... Abração!
Felipe Obrer · Florianópolis, SC 13/4/2007 11:36
Feipe, muito legal a sua intenção ao escrever o texto, mas concordo com Egeu quando fala que poderia falar da MIB sem criticar outros estilos. Até porque tem muita (mas muita mesmo) coisa boa no rock (apenas para citar algumas: King Crimson, Frank Zappa, Fantômas, Mutantes, Patife Band, High Llamas, Cramps, etc). E ao mesmo tempo que você elogia o fato do Hermeto não admitir que sua música seja classificada como brasileira, mas sim universal, você adota uma postura ufanista ao defender/elogiar "as raÃzes naturais do Brasil".
Mas valeu!
Eu mantenho um blog de MIB também, numa tentativa de divulgar e facilitar o acesso à esse tipo de música, que conta com pouco espaço na mÃdia.
http://br-instrumental.blogspot.com
Legal, Marcus... vou visitar teu blog. Escrevi esse texo há um tempo, já não escreveria do jeito que fiz, hoje em dia. Mas está aÃ, e fico contente com os pontos de concordância e também com as divergências em aberto.
Abraço,
Felipe
(P.S.: Conhece o Desritmificações, do Sá Reston?)
Conheço sim. Estou até para colocar um link lá no blog. Eu sou amigo de um cara da Acuri.
Marcus Costa · Rio de Janeiro, RJ 6/7/2007 17:36
Felipe,
Grande sacada e muito inteligente esta sua entrada num jogo que por aqui, muitas vezes, costuma ficar meio embolado (o que, em sendo música é, realmente, imperdoável).
Algumas coisas ressaltaria, no sapatinho, como me aconselham certas entrelinhas de alguns comentários.
Permitam-me dizer que Música é uma linguagem 'instrumental' em si mesma. Diálogo de 'coisas' que emitem sons intelegÃveis para aquele grupo. Comunicação (quase um pleonasmo esta constatação, portanto). Quanto mais 'instrumental' for a música (no sentido explÃcito do termo, o usado por você, Felipe) melhor, porque ganhamos complexidade (melódica, rÃtmica, harmônica).
O Brasil, você diz muito bem, talvez seja, entre todas as culturas musicais do planeta, a mais criativa mesmo. A música brasileira é top de linha e pronto. Os poucos exemplos que você citou (incluindo o Gismonti da Ilha, é claro) já fazem os outros "fritarem bolinhos"(inclusive muitos jazzÃstas de ocasião). Acho que a música do Brasil é a música do planeta, a música globalizada em sua essência (desculpe o adjetivo aÃ, qualquer um), a música do século, por que é gregária, ecumênica.
Disse jazzistas 'de ocasião' (poderia ser Rockeiros de ocasião também) porque Jazz para mim é um conceito bem amplo do que seja Música Popular levada à s suas últimas conseqüências (o Brasil faz bem o seu jazz), um fenômeno lingüÃstico universal, calcado visceralmente na música africana, não porque, como dizem os simplistas, 'negro é ritmo' ou outras baboseiras que o valham. É que o conceito 'Música Popular' (de massas), surgido realmente no final do século 19 (antes só havia, a gorsso modo, Música Folclórica), é fruto direto das estruturas musicais (harmônicas, melódicas e rÃtmicas) trazidas pelos africanos escravizados em sua diáspora imensa, planetária. O que se faz em termos de Jazz até hoje, estruturalmente, já era feito por africanos (e por indianos talvez) há séculos (harmônicamente, se pode constatar bem isto consultando a obra de Debussy que bebeu nas águas das escalas das músicas africana e asiática). Tivessem sido outros os escravizados, outro teria sido o Jazz do mundo. Rei da escravidão, o Brasil virou o Rei da Música universal. Tanto melhor.
Logo, não é preciso ser norte americano para exercer, fazer, Jazz (o espÃrito da coisa, já que Jazz não é um gênero apenas). Basta ser aberto aos sons do mundo (todos, inclusive os dos passarinhos) e, principalmente atento aos sons que nos estão mais próximos, aqui na nossa rua, na nossa esquina (Dostoyevski e Mário de Andrade - enquanto crÃtico de música em geral- já nos disseram isto.): "Seja universal, fale de sua aldeia, lembram?"
No mais - muitos também já disseram - existe música boa e música ruim, RockRuim, JazzRuim, SambaRuim, ReggaeRuim, BeethovemRuim (nem tudo dele é la´estas coisas, certo?).
Porém, como tudo em Música é relativo (repito que música é tempo e espaço juntos no mesmo contexto), há quem goste de música 'ruim' ou que julgue pior que a sua a música do outro. Faz parte do processo ser assim. O que não deveria haver é esta coisa escamotear pensamentos sobre isto ou aquilo.
Em música, pelo menos, silenciar por muito tempo, esconder o jogo só por elegância ou lá o que seja, é abrir mão de se comunicar com o mundo. É pura inércia sem sentido.
O que vale é que a melhor música prevalecerá e que cada um tem o direito de escolher a música que bem entender para dançar a sua própria dança ou mesmo para cochilar.
O resto é baticum no Silêncio.
Abs
Olá Felipe,
Li nas férias deste ano, por tanta coicindência na Pousada Pasargada, vê só, aà na Pinheira, antes do Dilúvio iniciado no dia 31, quando decidi me vir de volta, a pequena história do Século 20, uma Autobiografia, de Eric Hobsbawn. Ao rmorar os principais erventos polÃticos, ecoômicos e militares do século, o homem põe o jazz entre eles, o que dá uma dimensão além do gosto, razão que encontras também no teu artigo aqui.
Parabéns, um ano e mês após, mas inda a tempo de fruir das imagens tão bem construÃdas em prosa aqui para celebrar a música.
Felipe,
Tão relativa é mesmo a música que este teu post (ao qual eu só tomei conhecimento agora) foi por mim comentado como se fosse novÃssimo . Desligado como sou, nem olhei a data. Até estranhei a presença de gente que 'andava sumida' do Overmundo, mas, pensei: É o felipe, grande agregador.
O pior não foi isto. Agora foi que votei no post, pode?
): :)
Grande abraço
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