A diversidade cultural focada em todo um processo de troca e entre artistas diferentes, resultando em um grande espetáculo aberto ao público. Um show que reúne a dança, a música, o circo e o teatro, onde o intercâmbio cultural ganha força e grandiosidade... Assim é o Festival Tangolomango – Festival da Diversidade Cultural, que está chegando à sua 7ª edição neste ano de 2008 e que acontecerá nas cidades de Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro. E neste grande Festival, mais uma vez, os talentos da região do Cariri Cearense estarão presentes, revelando a sua riqueza cultural que também reúne tradição e renovação.
E não é por acaso que os olhos do Festival Tangolomango se voltam, novamente, ao Cariri Cearense. Ela é terra fértil onde muitos mestres da arte fizeram e fazem história, lugar extremamente rico nas suas tradições populares e se destaca como um imenso celeiro cultural, onde a poesia, a dança e a música se manifestam de maneira simples e, ao mesmo tempo arrojada.
No Festival Tangolomango deste ano, dos dias 09 a 12 de outubro a festa acontece em Fortaleza, no Sesc Iracema e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em Fortaleza. Lá estarão presentes os Zabumbeiros Cariris, grupo musical que surgiu em Juazeiro do Norte em 2002 e que ao som dos instrumentos regionais como zabumba, pÃfano, triângulo e rabeca, trazem os ritmos dançantes do coco, xaxado, ciranda, maracatu cearense e baião com um repertório próprio mesclado com composições de outros artistas caririenses.
O Grupo que já lançou o seu primeiro disco em 2007 é formado por cinco músicos autodidatas que vêm da mesma influência musical. Da visÃvel harmonia musical que o grupo emana ao público, o zabumba marca o vigor de seu som e, o pÃfano e a rabeca, exaltam a beleza poética encontrada em cada letra musicada.
Como eles, vários outros grupos musicais do Cariri Cearense têm sua influência pautada, principalmente, nos elementos da cultura popular de tradição nordestina, e, porque não dizer, nas bandas de música cabaçal “Os Zabumbeiros Cariris vêm dessa regionalidade, juntamos a isso nossas influências contemporâneas da música nordestina, já as bandas cabaçais são fruto do que restou ainda da nossa ancestralidade indÃgena (...) a eles agradecemos pela originalidade musical dos zabumbeiros sem falsa modéstia, pois, convivemos, ouvimos, divulgamos, e valorizamos o trabalho desses grupos caririenses de tradição oral, que são únicos e que à s vezes são pouco valorizados†disse Amélia Coelho, vocalista dos Zabumbeiros Cariris e que também toca alguns instrumentos.
As bandas de música cabaçal são tradicionais na região. Os zabumbas trazem uma batida forte, que de longe se ouve! Dizem que o nome “cabaçal†vem do efeito do próprio som, porque a caixa e zabumba trazem uma sonoridade que tem semelhança com cabaças secas quando batem umas nas outras. A origem do nome pode ter outra versão, mas o que é incontestável nos instrumentos musicais que encontramos no Cariri Cearense é a rica influência indÃgena e africana.
Nessa maravilhosa regionalidade musical, onde se tem benditos, reisados, bandas cabaçais e outros, encontramos os maiores mestres populares, como o Mestre Chico que lidera a Banda Cabaçal Santo Antônio, formada em Juazeiro do Norte no ano de 1983, hoje considerada uma das grandes referências da cultura popular do interior cearense.
O Mestre Chico nasceu no Crato, mas cresceu em Juazeiro do Norte e é ele quem produz artesanalmente os instrumentos, zabumba, pÃfanos e caixa que são usados pela Banda Cabaçal Santo Antônio. Já o zabumba que ele mesmo usa nas apresentações pertencia ao seu tio e está em perfeito estado de conservação, apesar de existir desde 1934. E assim como este instrumento em especial, o gosto pela música e a tradição das cabaçais são transmitidos dentro da famÃlia, pois, os cinco membros da Banda Cabaçal Santo Antônio são parentes próximos, músicos versáteis e homens que trabalham como agricultores mas que vivem pelo amor à música que flui neles naturalmente. “Nossa vontade de tocar já vem no sangue. Ela vem da tradição regional, da religião, da rua... A gente gosta de música e se o povo gostar, a gente toca até o sol raiar†disse o Mestre Chico.
Grande parte das composições do Grupo pertence a eles mesmos. O som deles vem da mistura que nasce dos pÃfanos, caixa, pratos, e, especialmente, zabumba, e, da riqueza rÃtmica que vem do samba, das marchas, do baião... O canto também está presente em alguns pontos das suas apresentações, e, da interação da música com as danças regionais como o “Baião Solto†e “Trancelimâ€, a expressão corporal também é marca, onde os cinco integrantes trocam seus “movimentos musicados†cheios de sincronismo e envolvimento, revelando uma das mais puras expressões culturais do Cariri Cearense.
Esse espetáculo também poderá ser visto em Fortaleza, no Festival Tangolomango! Seu Espedito, um dos integrantes da Banda Cabaçal Santo Antônio disse assim: “Quer dizer que nós vamos mesmo tocar lá, moça!?†Parecia ainda querer ter a certeza de que um grande público iria vê-los e que um evento grandioso está valorizando o seu trabalho artÃstico!
E nesse pólo de diversidade musical que se transformou o Cariri Cearense, o que é peculiar nos instrumentos musicais usados é a sua simplicidade na forma e requinte no som. A exemplo a rabeca, instrumento rústico com forma semelhante ao violino, mas que tem uma sonoridade extremamente particular, é um dos instrumentos musicais que mais têm identidade nordestina. E com ela, o erudito e o popular se misturam com a Orquestra de Rabecas Sesc - Cego Oliveira, que também surgiu em Juazeiro do Norte em 2002, e é regida pelo músico, compositor, multi-instrumentista e luthier Francisco Di Freitas.
O nome da Orquestra homenageia um grande músico e poeta popular do sertão cearense: Pedro Oliveira, popularmente conhecido como Cego Oliveira. Um grande cantador e rabequeiro que nasceu no Crato em 1905 e passou a ser considerado um dos maiores nomes da cantoria no Ceará.
Inspirado neste grande artista popular do Cariri e a partir de um projeto pioneiro, Francisco Di Feiras formou a Orquestra de Rabecas Sesc - Cego Oliveira, onde a idéia é ampliar as possibilidades sonoras da rabeca, trazendo um novo significado e repertório, levando-a a um público maior e introduzindo jovens na formação musical. São meninos e meninas da rede pública de ensino que, juntos, ao som das rabecas construÃdas com o fruto do cabaceiro (cabaças), violão, pÃfanos e instrumentos de percussão, encantam platéias relembrando grandes Ãcones da música brasileira como Villa-Lobos e Luiz Gonzaga. Ao mesmo tempo em que este é um projeto de trabalho social, é também mais um resgate importante da cultura popular da região do Cariri Cearense.
Sobre o processo musical direto com as crianças, Di Freitas afirma que “a rabeca é elemento importante para a musicalização dessas crianças e não buscamos nada externo, alheio ao mundo delas… buscamos no cotidiano, na rabeca, nas cantigas de reisado, banda cabaçal… Luiz Gonzaga, algo que as crianças convivem no dia-a-dia… tudo isso facilita muito nesse processo para adentrá-las nesse mundo da musica, que é o mundo delas, principalmente aqui no Cariri, onde tudo é arte, música….â€
Esses “mais de dez rabequeiros mirins†também estarão no palco do Festival Tangolomango em Fortaleza sob a regência de Francisco Di Freitas que também toca alguns instrumentos na Orquestra. Na percussão, também está o bom e velho zabumba... Dá pra imaginar a riqueza do som? Esse é um dos diferenciais que tornam aqueles meninos especiais, cuja timidez, logo dá espaço ao visÃvel talento musical e à vontade de aprender sempre mais. E aÃ... Só vendo e ouvindo pra sentir a emoção de assisti-los sobre um palco!
E esses mesmos jovens da Orquestra de Rabecas Sesc - Cego Oliveira darão continuidade a toda essa diversidade artÃstica com “outras carasâ€, assim como os Zabumbeiros Cariris que vêm conquistando reconhecimento da sua música, influenciada também pelas bandas cabaçais como a Banda Cabaçal Santo Antônio. Grupos que mantêm uma tradição trazendo uma nova roupagem. Arte que vem do povo. A fala que vira verso e prosa... O som que vira batida, que vira música... O ritmo que forma o passo, que se transforma em dança... Assim é o Cariri Cearense, como fonte inesgotável de arte e cultura, onde muitos saciam a sua sede.
Palco onde muitas outras gerações de artistas surgirão, atuando, cada um, dentro de sua própria particularidade artÃstica e revelando, também em espaços como no Festival Tangolomango, tudo o que as tradições culturais do povo da Região têm de mais ricas e dinâmicas.
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Em notas:
Saliento aqui a importância de grandes eventos como o Festival Tangolomango para a nossa cultura popular. Sou cratense e sei que aqui, na região do Cariri, existem muitos artistas extremamente talentosos e que têm muita coisa boa para mostrar nos muitos palcos deste PaÃs. Este texto foi adaptado com pequenas alterações para o Overmundo e está disponÃvel no blog do Tangolomango desde setembro deste ano.
Pela ajuda com áudios, fotos e sugestões de edição, agradeço à Helena Aragão (Overmundo), Di Freitas (Orquestra de Rabecas Sesc - Cego Oliveira) e Michel Leocaldino (Zabumbeiros Cariris).
Parabens amiga. Divulgar nossos valores é um grande gesto de cidadania.
Saúde e Paz.
Muito legal, Jack. Gostaria de saber de que grupo é cada música que você postou - lá nos arquivos só tem o nome da música, né? Abraço!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 6/10/2008 15:15
Faço minhas, as palavras do ayruman...
BelÃssimas músicas e iniciativa...
Riqueza cultural sem paralelos...
ótimo post, votado !
abs
Muito bom, Jack! Adoraria poder estar no festival!
Beijos!
Votado no seu Tamgolomango meu caro Jack! Uma riquesa cultural significativa. E viva os Zabumbeiros e viva as rebecas!
raphaelreys · Montes Claros, MG 6/10/2008 18:05
Uma bela divulgaão minha querida.
Seja imensamente feliz nesse espaço,trazendo essas belas artes.
Obrigada Al por me convidar.
Votado esse excelente trabalho , parabéns . Abraços...
delen · Cotia, SP 6/10/2008 18:53
Jack,
Maravilhosa contribuição para divulgação da arte.
Bjs
zabumba, pÃfano, triângulo e rabeca, trazem os ritmos dançantes do coco, xaxado, ciranda, maracatu cearense e baião...
É só abrir a ciranda e dançar!
Esse festival deve ser uma lição de cultura.
Sucesso.
Votado!
Na correria, estou arquivando para ouvir no final de semana.
Da matéria é muito bom saber coisas desta natureza de fora do chamado eixo Rio-SP
abraço
andre.
Jack,
que maravilha de evento
exaltando a diversidade cultural,
que traz uma gama de conhecimentos.
bjss
Ô Cratim de meu deus!
Esse cariri é realmente um celeiro.
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