Pesquisador que mistura hip hop com o som de bateristas brasileiros, Rodrigo Nuts transforma a vitrola em instrumento musical
O DJ paulistano Rodrigo Nuts discoteca na noite há mais de 10 anos. Suas habilidades no manejo dos discos de vinil classificam-no como um turntabalista. Neologismo derivado do inglês turntable (toca-discos, vitrola), surgiu para identificar DJs de rap que transformam o uso dos aparelhos para além de suas meras capacidades reprodutivas, usando-os como instrumentos musicais. Talvez no Brasil devêssemos chamá-lo de “vitrolistaâ€, mas essa é uma outra discussão. Na verdade, essa especialização dentro da cultura hip hop é uma volta à s origens: nos bailes que desembocam na consolidação da música rap, o recurso principal dos DJs para garantir exclusividade e inovação nos seus sets era estender as introduções ou pontes instrumentais de canções de funk, soul ou rock utilizando dois discos idênticos, sem perder o balanço.
Nuts é um pesquisador na área. Começou no rap, e foi músico contratado d’O Rappa. Ele já fez produção e remixes para Marcelo D2, Otto e Nação Zumbi, entre muitas outras atividades. Mas aqui é o seu trabalho mais autoral que importa.
Ao lado do DJ Zé Gonzáles, Nuts forma o DZ Cuts, duo responsável por sessões de discotecagens dinâmicas, onde cada rap é tocado até seu primeiro refrão. Um repertório opulento, fruto de anos de pesquisa musical, discos sendo garimpados e colecionados. Responsáveis por concorridas mixtapes, de edições limitadas, já fizeram produção pra Sabotage, Gilberto Gil e Sepultura, entre outros e se apresentaram na edição brasileira do festival de nova música eletrônica Sonár Sound.
Corta para Los Angeles, alguns anos atrás.
Como preparação de uma sessão de fotos com James Gadson, Earl Palmer e Paul Humphrey, três grandes bateristas de funk, o fotógrafo B+ resolve mostrar aos instrumentistas como são utilizadas as batidas gravadas por eles nos anos 1960/70 nos toca-discos. Escala alguns DJs para comparecerem ao estúdio, e a coisa toda dá samba. Com sets de percussão e de toca-discos montados, os djs e bateristas começam a tocar. B+ filma tudo, e edita um curta-metragem chamado Keepintime: Talking Drums and Whispering Vinyl, que inclui as jams e os depoimentos. Para as exibições, organiza eventos onde o encontro é retomado no palco.
Em 2002, a formação de Gadson, Palmer, Humprey, mais o percussionista Derf Recklaw e os DJs Babu, Cut Chemist, Nu-Mark, Madlib, J-Rocc e Shortkut se apresentam para mais de 5000 pessoas em um teatro: as sessões de improviso são novamente filmadas, e daà sai o longa Keepintime: A Live Recording. A intensidade dessas jams sessions de balanço é impressionante na telona (o filme foi exibido no Cinesesc durante a 1ª Mostra de Cinema Hip Hop de São Paulo), a impressão que fica é de um coletivo com muita liberdade musical.
Corta pra São Paulo.
A versão daqui do Keepintime incorporou mestres das batidas nacionais como os bateristas brasileiros João Parahyba (Trio Mocotó), Mamão (Azymuth), Wilson das Neves e o DJ Nuts - que também fez as vezes de guia da rapaziada. Filmado, Brasilintime: batucada com discos segue o esquema anterior: exibido primeiramente como curta. O longa está na boca do forno. Esse novo encontro foi ainda mais exuberante.
Nuts grava Cultura Cópia, um set mixando balanço brasileiro dos anos 1960. É ouvir pra sacar que esse papo que DJ não é músico é falta de experiência. Aà que tá o problema: isso é difÃcil. O CD só foi lançado no exterior, e com edição limitada, pela Mochilla, produtora de B+. Nuts acabou de finalizar mais um: Disco É cultura!. Dessa vez, apesar do extremamente funky, não é um disco de pista. A audição cuidadosa de seus 77 minutos revela mixagens de sutileza muito mais elaborada. A seleção é direcionada para a década de 1970, e inclui mais de 40 músicas de artistas como Airto Moreira, Flora Purim, VinÃcius de Morais, além de samba-rock e pontos de candomblé. Com BPMs variando bastante, parece ordenada pra formar pequenas narrativas, como capÃtulos de um conto ordenados sem quebra de página. Resta saber onde conseguir.
Putz quando souber avisa os trutas! Que o negócio parece classe A mesmo. O texto tá bem fundamentado e é bem esclarecedor quanto as raizes da coisa no Brasil. Troféu joinha André!
beleza rapaz. nem é muito a meu gosto, mas o trampo do nutz é consistente, mesmo que lhe falte humildade.
akirarw · São Paulo, SP 10/7/2006 02:27Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!