São LuÃs será palco da exposição Nhozinho – imensas miudezas, quando também será lançado o livro homônimo bilÃngue, sobre a vida e a obra deste imenso artista maranhense que de miúdo tinha apenas o apelido.
Depois do sucesso no Rio de Janeiro, onde recebeu mais de cinco mil visitantes, na Galeria Mestre Vitalino do Museu do Folclore Edison Carneiro, a exposição Nhozinho – imensas miudezas chega à São LuÃs e terá como palco a Galeria do Cofo na casa que leva o nome do artista, localizada na Rua Portugal, 185, Praia Grande (com acesso também pela Rua de Nazaré 2-A, no mesmo bairro).
Antonio Bruno Pinto Nogueira, o Nhozinho (1904-1974), é um dos maiores expoentes da cultura popular maranhense, essa sua principal fonte de inspiração, tão belo, delicado e detalhista o trabalho que o artista, natural de Bacuripanã, Cururupu/MA, criou.
Além da abertura da exposição, que fica em cartaz até o dia 14 de abril (das 9h à s 18h), acontecerá hoje (13) o lançamento do livro Nhozinho – imensas miudezas (2007), edição bilÃngue sobre a vida e obra do artista, com artigos de Lélia Coelho Frota (escritora e historiadora da arte), Luciana Carvalho (antropóloga), Maria Michol (pesquisadora e, à época, Superintendente de Cultura Popular da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão), Paulo Herkenhoff (crÃtico e curador de arte) e Zeca Baleiro (cantor e compositor) e prefácio do poeta e crÃtico Ferreira Gullar (um artigo sobre Nhozinho publicado na revista Manchete em 1956).
Pertencentes a diversos acervos espalhados pelo Brasil, em museus e coleções particulares, algumas peças da exposição ilustram as páginas do livro, ambos patrocinados pela indústria quÃmica e farmacêutica Merck S.A. (a exposição e o lançamento do livro marcarão a despedida da empresa do Maranhão, após 40 anos de atuação), através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. A realização é da Sábios Projetos, Arco Arquitetura e Produções e Superintendência de Cultura Popular da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão. A Comissão Maranhense de Folclore, a Prefeitura Municipal de Cururupu, o SESC maranhense e a Pousada Portas da Amazônia apóiam a iniciativa.
Nhozinho – A itinerância da exposição Nhozinho – imensas miudezas pretende ser também um incentivo a pessoas com deficiência, além de uma ação de inclusão social. Hoje notável por suas esculturas, o artista maranhense teve que vencer, desde os 12 anos de idade, limitações e deformações causadas por uma doença congênita. Chegou, ele mesmo, a fabricar um carro de madeira para facilitar a sua locomoção.
Como nos conta o maranhense Ferreira Gullar no citado prefácio: “Aos doze anos, quando a doença chegou, já ele sabia fazer seus barcos de buriti, seus papagaios de papel. Num serviço paciente e sinistro, com inchações doloridas que lhe foram tomando os braços, as pernas, as mãos, os olhos – a doença feriu e torceu-lhe o corpo durante vinte e dois anos. Quando ela acabou o seu serviço, Nhozinho começou a serrar madeira e a fazer o carro que o levaria a passear e brincar (já com trinta e quatro anos) pelo Ribeirão e pela Praia do Caju. Nhozinho pagava garotos que lhe empurravam o carro e, nas tardes de domingo, se era tempo de papagaios-de-papel, comparecia com o seu à Beira-Mar. Quando o primeiro carro quebrou (10 anos de uso), Nhozinho começou a fazer um que não necessitasse de gente empurrar: ele mesmo faria andar: “Mas estava ficando tão grande que desisti; não ia caber dentro de casaâ€. Fez o segundo no estilo do primeiro, com algumas inovaçõesâ€.
Em Nhozinho? por que Nhozinho?, um dos textos introdutórios ao volume, Alice Cavalcante (da Sábios Projetos) e Heloisa Alves (da Arco Arquitetura e Produções) apresentam-nos vários motivos para a escolha deste artista singular: “Nhozinho, pelo artista que foi, porque sua obra merece ser conhecida pelos brasileiros ou, quem sabe melhor dizer: os brasileiros merecem conhecer sua obra. Nhozinho, pela importância do precioso e preciso registro que fez do bumba-meu-boi, manifestação popular proibida e perseguida durante décadas, que hoje é sinônimo da identidade maranhense. Nhozinho, pela excepcional figura humana que superou adversidades, limitações fÃsicas, dor e preconceito, sem perder a capacidade de criar, a alegria de viverâ€.
A exposição – Toda composta por peças originais do artista, a exposição tem aproximadamente cem obras, dos acervos da Casa de Nhozinho e das famÃlias Alcântara, Dino e Zelinda Lima. As diversas fases de sua produção estão contempladas e Nhozinho – imensas miudezas traz também antigas fotografias de apresentações do bumba-meu-boi e da região de Cururupu – para onde as produtoras ainda sonham em levar a exposição um dia –, objetos originais da manifestação popular (como indumentárias diversas e instrumentos musicais, além do próprio boi, é claro) e um documentário com depoimentos de familiares e amigos de Nhozinho, brincantes e organizadores de grupos – sobretudo o de sotaque costa-de-mão, caracterÃstico da região onde o artista nasceu –, artesãos, estudiosos e especialistas.
O livro – Luxuosa edição bilÃngüe (português/inglês), Nhozinho – imensas miudezas traz, ilustrando os artigos que o compõem, diversas fotografias de peças criadas pelo artista-artesão – com toda a redundância que possa residir aqui – além de fotografias dele em várias fases da vida. Repetem-se na obra, os acervos da exposição, clicados pelos fotógrafos Marcelo Rangel, Paulo Rodrigues e Wilton Montenegro.
Uma foto, na página 22, foi colocada por engano: durante o processo de pesquisa, chegou à s mãos dos realizadores como sendo da famÃlia de Nhozinho. A legenda da imagem anterior (a produção tratou de adesivar todos os livros, sobrepondo uma foto de “Nhozinho cercado por crianças†conforme a legenda, do mesmo acervo), pertencente à Casa de Nhozinho, dizia: “O artista, sentado (3º da esquerda para direita) com a famÃliaâ€. Trechos do artigo de Luciana Carvalho, na página da fotografia e seguinte, falavam de suas origens – “a mãe (...) “descendente de Ãndio, português e africanoâ€, fato ao qual uma sobrinha atribui o nascimento de filhos tão diferentes†e “sua infância transcorreu normal, apesar das perdas materiais vivenciadas depois que o pai vendeu a maior parte dos bens e a famÃlia se mudou de Bacuripanã para uma casinha na cidade de Cururupu†– não caracterizando danos à imagem da famÃlia do Sr. Antonio Augusto Brandão, que chegou a procurar a produção exigindo “satisfação pública em jornal de grande circulaçãoâ€. Espero que este convite à beleza de Nhozinho – imensas miudezas, a exposição, que ora faço a todos os leitores do Overmundo, (também) lhe sirva.
*O tÃtulo do texto faz referência à música Nhozinho, de Henrique Guimarães, gravada por Zeca Tocantins, com participações especiais de Fátima Passarinho e do Instrumental Pixinguinha, no disco Terreiro de Todo Canto. Leia mais sobre a exposição e o livro Nhozinho – imensas miudezas no site http://www.nhozinho.art.br
puxa... como perdi esta exposição quando estava em cartaz aqui no Rio?!!! se tivesse lido este texto do Zema antes, não teria perdido... pelo menos agora temos o livro e o site (o link está no final do texto do Zema, mas repito aqui, pois vale a visita): que beleza!
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 12/3/2009 19:38amanhã estarei na abertura da exposição/lançamento do livro. se der, volto aqui para contar como foi. abração!
Zema Ribeiro · São LuÃs, MA 12/3/2009 19:44o ambiente quente da casa de nhozinho era refrescado por batida de bacuri e guaraná jesus, iguarias tipicamente maranhenses. numa mesa na entrada do segundo andar -- a galeria do cofo, palco da exposição -- os visitantes podiam servir-se de arroz de cuxá, idem. tudo, uma delÃcia. uma tv exibia o documentário, narrado por zeca baleiro, com entrevistas com familiares e amigos de nhozinho e personalidades da cultura maranhense: além do narrador, figuras como maria michol, chico maranhão e zelinda lima, entre outros. as peças da exposição somavam-se à s do acervo permanente da casa de nhozinho, o próprio nos recepcionando, a escultura que reproduz o ambiente de trabalho. no pátio do acesso pela rua de nazaré, uma roda de tambor de crioula fazia a festa. vale muitÃssimo a pena a visita. voltarei lá, armado de minha pessimáquina fotográfica.
Zema Ribeiro · São LuÃs, MA 14/3/2009 13:40é isso mesmo, lÃlia. grande! abração!
Zema Ribeiro · São LuÃs, MA 15/3/2009 13:03este texto, publicado na edição de sexta-feira (13) do jornal tribuna do nordeste, também está em meu blogue: http://zemaribeiro.blogspot.com/2009/03/nao-perca.html
Zema Ribeiro · São LuÃs, MA 15/3/2009 13:05
Zema,
Grande exposição, grande homem!
Geralmente as pessoas com algum tipo de deficiência,
extrapolam todos os limites e se sobressaem de maneira maravilhosa
Parabéns pelo Texto
bjs
obrigado, doroni. com uma inspiração dessas -- nhozinho e sua obra -- o texto sai fácil, fácil. grande abraço!
Zema Ribeiro · São LuÃs, MA 16/3/2009 10:54o texto também foi publicado no portal da revista raiz: http://revistaraiz.uol.com.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=1680&Itemid=163
Zema Ribeiro · São LuÃs, MA 16/3/2009 11:24Ótimo saber... não vou deixar de dar uma olhada no trabalho desse maranhense de reconhecido trabalho, exemplo de talento e superação. Bjs!
Sara Muniz · São LuÃs, MA 17/3/2009 18:19Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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