Suel é um sujeito magro e alto, de cabelo bem comprido, vários brincos nas orelhas e umas camisetas lindamente pintadas por ele mesmo, e como é obra de arte, tem sua assinatura no cantinho inferior direito. Você olha pra ele num balcão de bar e diz “esse cara é artista, claro”.
Acertou, é mesmo, artista gráfico dos bons, apesar de jovem já tem seu nome reconhecido na comunidade artística alagoana. E no empresariado também, que, quando precisa de um belo visual pros seus empreendimentos sabem quem chamar. Suel Mario consegue atrair a atenção dos olhos de qualquer humano com suas artes.
Não falta serviço pra Suel, e ele consegue o que é um sonho para muitos brasileiros: viver da sua arte, “Troco arte por coisas, está vendo esse móvel? Troquei por arte, bonito ele não?” me disse apontando pro tal móvel quando fui visitá-lo (e era bonito mesmo, aliás, todo o apartamento do cara é, como não poderia deixar de ser).
Artista plástico/desenhista/pintor desde que se entende por gente, Suel participou do efervescente cenário artístico e musical dos anos 90 em Maceió, seja desenhando capas de discos, painéis e cenários, ou mesmo cantando com bandas como o Ball ou o lendário Living in the Shit, onde se arriscou também nas pick ups. Lá estava Suel e suas tintas, pintando a cena local.
Autodidata
Desde criança, Suel desenha e pinta o mundo em volta e as coisas da sua imaginação compulsivamente. Nunca teve uma educação formal em artes e, no entanto, consegue aplicar técnicas complexas e criar universos visuais que impressionam um leigo como eu.
Corro o risco de estar enganado, mas tenho pra mim que o artista autodidata, como o Suel, tem algo a mais de especial, tende a ser mais genial e autêntico, não sei. Na música, que é a minha praia, canso de ouvir algumas pessoas comentarem que estudar demais estraga a autenticidade e a espontaneidade, impedindo o sujeito de ousar e avançar na quebra de padrões, essencial para tentar criar o novo. Perguntei pra ele o que pensa disso:
Suel – A coisa de estudar pode ser muito boa, aprender as técnicas e a lidar com todo tipo de material, isso é muito bom, mas por outro lado perde um pouco de tempo de prática. Pessoalmente não tive muito tempo de estudar, claro que tenho um livro ou outro em casa, mas aprendi fazendo, experimentando no decorrer da minha trajetória de trabalho, e claro, observando outros artistas.
Marcelo – Quais são as suas influencias?
S – Várias, não são apenas artistas gráficos, tenho influencia de muita coisa, na música o Tortoise é uma influencia, música eletrônica experimental também, dependendo do tipo de trabalho um Sonic Youth, ou Ministry, Fear Factory. No cinema a dupla Giger/Scott na concepção visual no filme Alien me impressiona bastante ainda hoje. Adoro arte de rua, grafite. Tem um artista austríaco bem incrível que admiro muito, Hundertwasser, o pintor rei das cinco peles, que tem umas artes de manifesto e umas concepções de arquitetura sustentável que é bem louco, no bom sentido claro. Também gosto muito de alguns caras dos quadrinhos como Dave Mackean e Frank Miller, que é o cara. Meus gostos não são ecléticos, são epilépticos.
M - Até por causa do tempo mesmo, o trabalho de mercado, sob encomenda, não inviabiliza um pouco a produção autoral do artista? O que acha disso? Existe essa diferenciação pra você? È possível viver de arte autoral?
S - Hoje em dia, o que me pedem sob encomenda é exatamente o meu próprio trabalho autoral, os clientes procuram por que conhecem meu estilo e normalmente me deixam livre pra produzir minha arte, ou seja, meu próprio trabalho autoral mesmo. Mas é claro que até chegar aí tive que pintar muito letreiro de escola “grupo escolar fulano de tal” sabe assim? E até hoje às vezes pego uns trabalhos do tipo feira de ciências em colégios, pagam as contas também.
M - Com isso sua arte fica espalhada por todos os lugares, uma pintura de painel em um interior de casa particular, um restaurante bacana da cidade, ou uma galeria de arte, e me parece que você não diferencia o suporte ou a “função” da sua arte e imprime ali sua marca autoral. Estou errado?
S - Está certo, o suporte é só um detalhe realmente, tanto faz, é uma produção minha e tem o mesmo valor eu acredito. Mas de fato, acontece, chegar em casa cansado de ver pincel e tinta e não conseguir pintar um quadro “meu”, nesse sentido autoral que a gente está falando, isso realmente ocorre, principalmente depois de um dia de trabalho cansativo, mais ainda se for um trabalho que não gosto muito, acontece também, claro.
M – Você é um operário da arte.
S - É, o bom que atualmente eu estou vencendo por aqui, fazendo meu caminho, pagando minhas contas e vivendo de arte, não por ter o sobrenome certo ou qualquer outro tipo de lobby do meio artístico, é algo que conquistei gradualmente com esforço e trabalho.
M - E talento.
S – Obrigado.
M – Suel, você pretende sair de Maceió para os grandes centros de arte do país?
S – Pode ser, pra trabalhar, expor, mas acho que volto pra cá. Pretendo continuar vivendo em Maceió por enquanto.
Duchamp também trocava suas obras por coisas, e até por meses de aluguel, só depois de algum tempo que vendeu obras, e poucas, sempre com rolo no meio, vendia barato pra comprar mais caro depois.
Letícia Lins · São Bernardo do Campo, SP 3/11/2006 01:05Empolguei-me com Duchamp e esqueci de comentar sobre as admiráveis obras do Suel que com esse talendo, logo seus trabalhos serão bem mais valorizados.
Letícia Lins · São Bernardo do Campo, SP 3/11/2006 02:16gosto do trabalho do suel... lembro da arte que ele fez no show do pirralho no MISA... totalmente antropofágico... massa mesmo
Artur Finizola · Maceió, AL 3/11/2006 15:13putz, genial! - mais um grande artista que eu tenho como "meta"!
jujuba · Santo André, SP 3/11/2006 17:01O trabalho do Suel é fantástico. Sou fã.
Pedro Ivo Euzébio · Maceió, AL 4/11/2006 00:38Sou fã também, grande artista alagoano!
Marcelo Cabral · Maceió, AL 4/11/2006 13:10Pô o Suel sempre foi essa figuraça, tenho o prazer de conhecê-lo da época do colégio e naquela época ele já tinha uma visão muito própria do mundo a sua volta.
arnaldo · Rio de Janeiro, RJ 28/11/2006 16:13
Okay, adorei isso. Aliás, quero trocar coisas por arte...
Cade o contato do cara?????
Taí o contato do Suel: (82) 9307-4827
Marcelo Cabral · Maceió, AL 9/3/2007 12:44Um dos Talentos mais potenciais que tive a honra de ver de perto. Suel faz o que quer. Basta se convencer que quer fazer. E olha que o cara não precisa se esforçar pra fazer as coisas mais imprecionantes. Sempre digo dá um monte de arame velho pro suel que ele faz o que você quiser. SUEL É VISUAL. E olha que o cara ainda é super generoso e amoroso. Seel seja sempre amor... ame-se e ame, a experiência criadora habita em você com um potencial... ... ...
Glauber X · Maceió, AL 8/6/2007 11:37Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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