O documentário “Antes que a casa caia”, produzido no município de Araruama (Região dos Lagos, interior do estado do Rio) durante as Oficinas de Cinema Ambiental Humano Mar, acaba de receber o prêmio de Júri Popular na mostra de vídeo ambiental Mova Caparaó, em Alegre, no Espírito Santo. O filme expõe a situação do distrito de Morro Grande, área afastada do centro de Araruama, onde uma pedreira de mineração tira a tranqüilidade da população com agressivas e constantes explosões que provocam rachaduras nas casas e afetam a saúde física e psicológica dos moradores.
Felipe Oliveira, morador de Morro Grande e um dos diretores do documentário, foi convidado pela produção do festival e teve a oportunidade de acompanhar a exibição do filme no belo Teatro Virgínia Santos. O filme foi exibido na sessão noturna de sexta-feira, e segundo Felipe: “a história de como a pedreira mexe na vida das pessoas sensibilizou tanto o público que eles acabaram votando no nosso filme”. Garantindo por escolha popular a conquista do Troféu Pico da Bandeira. E como será que a comunidade recebeu a notícia? Felipe responde: “O troféu já rodou Morro Grande! Já passou pela escola, pela creche... Formigão (um dos diretores do filme) ficou empolgado e saiu mostrando o troféu pra toda comunidade, que está muito orgulhosa com a vitória da gente.”
E a razão do orgulho não é pouca, o Mova Caparaó é um dos mais importantes festivais de cinema com temática ambiental do Brasil. Uma iniciativa que há seis anos reúne na região serrana do Espírito Santo algumas das cabeças que pensam a relação audiovisual e meio ambiente, promovendo um intercâmbio de experiências e possibilidades de formação para a população da Serra do Caparaó.
Paixão pelo cinema incentiva novas produções e organização popular
Felipe e Formigão estrearam com a direção de “Antes que a casa caia”, mas a história deles com o cinema não parou por aí. Dois anos depois da realização do filme eles seguem atuando no cenário audiovisual como exibidores e produtores de novos filmes. Os dois fundaram o Cineclube Tupinambá, e junto com outros amigos de Morro Grande promovem exibições itinerantes por toda zona rural de Araruama. Além de exibir, o Cineclube Tupinambá também produz seus próprios filmes com muita criatividade e qualidade. A prova disso é o vídeo “De saco cheio!”, filme que usa do humor para mostrar em apenas dez segundos o que poderia acontecer caso a natureza reagisse às agressões humanas. O filme fez tanto sucesso que concorreu no famoso Festival do Minuto.
E é através do cinema, exibindo filmes de bairro em bairro e tendo contato direto com a população que o Cineclube Tupinambá tem conseguido mobilizar a comunidade de Morro Grande. Estão acontecendo reuniões e encontros para debater as potencialidades e os problemas da região, incluindo a questão da pedreira.
Saiba mais da história dessa galera lendo a conversa que tivemos com Felipe via internet.
O que te levou a fazer a oficina de cinema ambiental humano mar lá em 2007?
Felipe Oliveira: Vou fala a verdade eu nem sabia o que era oficina de cinema. Trabalhava no Colégio Municipal Honorino Coutinho na época e o diretor sabia que sempre fui participativo nas atividades desenvolvidas na escola e voltada para o meio ambiente e falou que me liberava caso eu fosse fazer o curso. Aí eu cai dentro e tô aí até hoje!
Legal, então foi meio por acaso?
Felipe: É, na verdade a informação chegou através da secretaria de educação. Porque em Morro Grande mesmo ninguém sabia...
Depois de ter feito a oficina, o filme, como foi o impacto disso pra vocês?
Felipe: Pô, depois da oficina e do filme eu passei a reparar tudo de um jeito novo, primeiro achando que tudo dá um filme... achei também que terminando a oficina não iríamos estar tão envolvido com os projeto e hoje, dois anos depois, vejo que eu represento esse projeto que deu e está dando certo pois o contato com a equipe Humano Mar fez Morro Grande mudar. Hoje somos conhecidos nacionalmente através do filme “Antes que a Casa Caia”, que mostra uma dura realidade.
E como é que nasceu o Cineclube Tupinambá?
Felipe: A criação do cineclube Tupinambá veio de conversas com essa galera nota 10 do Cineclube Mate com Angu e da Abaeté. Porque afinal não sabíamos nem o que era um cineclube. Hoje Morro Grande tem um referencial em Cultura e Lazer. O Cineclube Tupinambá vem exibindo filmes com a idéia de causar uma mudança Cultural e Educativa nas Comunidades.
Exibimos filmes duas vezes por mês: toda primeira quinta-feira do mês tem uma exibição fixa na Casa da Alegria, em Morro Grande, 2° distrito de Araruama (RJ) e a outra exibição é itinerante e acontece nas comunidades de Morro Grande.
Além das exibições o cineclube apóia a organização de eventos sem fins lucrativos, muitos deles voltados para área de educação. Por exemplo: comemoração do dia do Índio 19 de abril C. M .Honorino Coutinho; Festa de Carnaval Bairro Jardim Califórnia, Festa Dias das Crianças na Associação de Moradores Jardim Califórnia; Festa de Aniversario da ONG Bebedouro das Araras; Baile da Turma de Formação de Professores onde a renda vai ser revertida para formatura no final do ano de 2010.
Essas são algumas iniciativas que o cineclube apóia com seu pequeno grupo e muita força de vontade. Pra saber mais, é só conferir as fotos no Orkut do Cineclube Tupinambá.
Por que esse nome Tupinambá?
Felipe: Vou começar assim: em Morro Grande, 2°distrito de Araruama, está um dos maiores e mais importante Sítios Arqueológicos do Brasil e o único dentro de um Colégio Municipal. No ano de 2001 essa história veio a tona, e com o apoio da Prefeitura, o Colégio Municipal Honorino Coutinho Ficou conhecido internacionalmente pelo seu Sítio Arqueológico e pela sua história. Mas já diz o ditado “tudo um dia passa”, essa onda passou. Faltou incentivo para darem continuidade ao projeto de resgate da cultura Tupinambá. Hoje o Colégio já não é mais uma referência e a comunidade não reconhece a força dessa cultura Tupinambá, daí surgiu a idéia de colocar o nome do Cineclube de TUPINAMBÁ. Na idéia de criar uma identidade por ter nascido em Morro Grande, terra dos Índios Tupinambás.
Além de exibir vocês também produzem, fala um pouco das produções do Cineclube Tupinambá.
Felipe: Começamos a produzir através das provocações feitas nas Oficinas Humano Mar, até mesmo pra demonstrar a idéia que o cineclube Tupinambá tem em relação ao meio ambiente. Um grande detalhe é que a gente nem tem idéia da proporção de onde esses filmes podem chegar. E isso é mais Legal porque você poder passar uma mensagem com as suas idéias e ser aplaudido.
E qual a mensagem do Tupinambá?
Felipe: Aqui em nossas exibições a gente usa um slogan: Cultura para uma Melhor Reflexão. A nossa mensagem é fazer com que essas pessoas tenham uma visão mais crítica das coisas ao seu redor, e assim o poder de avaliar o que é errado, ou o que está certo. A gente quer plantar uma semente... queremos que essa galera que assiste nossos filmes pare e pense na suas ações de acordo com a mensagem que foi passada. É isso: Lixo no Rio, não pode!
Como foi ter participado do festival Mova Caparaó e ter trazido pra casa o caneco de campeão?
Felipe: O Festival Mova Caparaó realmente foi espetacular! Vai fica marcado porque posso afirmar que não imaginava trazer o troféu, o Prêmio de Melhor Vídeo Ambiental Nacional. Pude ver a força que o documentário Antes que a casa caia tem, além de fazer amizade com cineastas que já estão há anos na estrada, adquirindo informações valiosas na troca de idéias...
E realmente, a emoção maior foi na hora em que anunciou o filme vencedor! Antes que A Casa Caia em 1°lugar e eu lá, na platéia. Subi ao palco representando Morro Grande, Araruama, Rio de Janeiro, Brasil, Observatório Ambiental Humano Mar, Cineclube Tupinambá, Abaeté e deu tudo certo! Foi a nossa vez, e até hoje estou andando com esse troféu na mão mostrando pra galera (risos).
Assista ao documentário: “Antes que a casa caia”:
http://www.humanomar.com.br/filme-bau/antes-que-a-casa-caia
Assista ao filme: “De saco cheio!”:
http://www.humanomar.com.br/topico/de-saco-cheio
Saiba como foi o festival Mova Caparaó:
http://www.humanomar.com.br/topico/cobertura-mova-caparao
Observatório Ambiental Humano Mar
http://www.humanomar.com.br
Sensacional, João! Que coisa boa ver um garoto falando com tanta propriedade e orgulho de seu filme e do impacto que ele trouxe pra cidade. E vai muito além do filme, né, pelo que li eles viraram verdadeiros agitadores culturais na cidade. Tudo com o propósito de gerar reflexão. Parabéns para a Abaeté, deve ser muito gratificante ver o trabalho gerando frutos assim como o Felipe. Abraço!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 10/10/2009 12:47Que maravilha, um documento aqui necessário e imperdível. ab
Cintia Thome · São Paulo, SP 11/10/2009 13:43fico toda emocionada quando vejo um trabalho assim. Sucesso para o Felipe e pro cineclube Tupinamba!
Ilhandarilha · Vitória, ES 11/10/2009 20:48
Atribuo a maior importância o dar conhecimento às pessoas de toda ordem, notamente, às mais comuns, no sentido político da plavra, de fatos que envolvem elas mesmas.
A questão do indígena ainda é tratada (melhor, maltratada), dentro do tabu proibitivo da doutrina de estado, do Estado Brasileiro. E é necessário quebra-la (a proibição)
abraço
andré
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