Este texto faz parte do catálogo da exposição "ONG Morrinho", que acontece de 12 de julho até 19 de agosto de 2007, no Centro Cultural da Caixa Econômica, na Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro. É imperdÃvel!
A popularização dos meios de produção cinematográfica abriram, em escala mundial, um lastro enorme de produções caseiras e amadoras. Beneficiadas pelo advento do Youtube, essas produções passaram a figurar no cardápio cultural, e já se fala hoje em verdadeiros blockbusters da exibição digital --- como o já clássico “Tapa na Panteraâ€, entre outros… Especificamente no Brasil, este processo estimulou o surgimento de uma série de projetos sociais que, associando educação, cultura e arte, abriram perspectivas de vida realmente diferenciadas para jovens habitantes das comunidades do Rio, São Paulo, entre outros estados. Através da realização de oficinas de cinema e vÃdeo, ONGs e projetos apoiados pelo terceiro setor viabilizaram a alguns jovens a inclusão em um universo com o qual eles nem poderiam sonhar. Guardadas as devidas peculiaridades de cada caso, podemos citar a Boca de Filme, da Cidade de Deus, a oficina da Central Única das Favelas (CUFA) em Madureira, o Cinemaneiro, na Lapa, as Oficinas do Kinoforum, em São Paulo, entre tantas outras pelo Brasil afora.
Não desejo aqui discutir se são projetos imperfeitos, ou se estimulam dentro das comunidades um despropositado culto à celebridade. Ao contrário, desejo ressaltar que, levando em consideração as condições em que vivem esses jovens, seus filmes me admiram por vários motivos. De 2003 até hoje, as oficinas de cinema e vÃdeo chegaram a produzir algo em torno 100 filmes que, entre outros méritos e virtudes, revelam a perspectiva criativa e valiosa de uma geração desprovida das condições adequadas para seu desenvolvimento. Os filmes oriundos das oficinas em comunidades têm sempre um intenso valor documental, pois representam o testemunho de um imaginário que não se deixa abater diante da situação, e responde com o exercÃcio da criatividade. Ainda assim, mesmo com toda dificuldade, esses filmes exprimem, com humor e sinceridade --- à s vezes, com alguma amargura --- uma tensão constante entre o cotidiano das comunidades e os projetos familiares, entre a dura realidade e as aspirações pessoais.
Tudo isso pra dizer que a TV Morrinho não é somente um dos projetos mais interessantes que surgiram nos últimos anos, como também alguns elementos caracterÃsticos de sua experiência são absolutamente originais em relação aos outros projetos. A TV Morrinho surgiu de uma brincadeira de crianças, se transformou numa escultura que já viajou o mundo, que por sua vez se tornou uma série de filmes geniais, criados e produzidos por jovens habitantes do morro do Pereirão, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio.
Gostaria de listar três pontos que me levam a considerar a TV Morrinho um projeto sui generis.
- Primeiro, me parece fundamental observar que a TV Morrinho não começou de fora pra dentro, mas de dentro pra fora. Foram os irmãos Nelcirlan e Maycon, filhos do mestre de obras Nelson que, numa folga do pai, começaram a escavar janelinhas no tijolo, simulando a maquete de uma casa. A sacação cresceu e se tornou a escultura referida. De modo que, ao contrário das oficinas citadas acima, o estopim da TV Morrinho surgiu com a criatividade da rapaziada, e não com a inserção institucional caracterÃstica das outras oficinas.
- A TV Morrinho não era originalmente um projeto orientado para a produção de cinema e vÃdeo, mas a pura expressão criativa de um grupo de jovens que se tornou uma escultura, depois uma série de filmes absolutamente curiosos, e já começa a produzir música, através do já citado Maycon, o MC Maiquinho. A base da TV Morrinho é a pura e simples criatividade dos jovens habitantes do morro do Pereirão.
- Por fim, saliento a forma livre, bem humorada e singela com que os jovens artistas da TV Morrinho reproduzem as situações cotidianas nos filmes. Não seria exagero dizer, extrapolando até o sentido educativo do projeto, que os filmes da TV Morrinho são dignos de nota não somente por seu caráter social, mas também por uma dimensão estética que escapa brilhantemente à mera (e usual) reprodução do cinema americano e da tevê. Aparentemente preocupados em reencenar situações reais, os filmes da TV Morrinho realizam saltos sofisticados e surpreendem. Exemplo de que não estou nem exagerando, nem sendo benevolente, é o enredo do genial “A Revolta dos Bonecosâ€, no qual os bonecos utilizados, insatisfeitos com o trabalho árduo e irritados com as viagens da turma para Veneza, promovem uma revolta contra seus próprios inventores.
Este alto grau de metalinguagem apenas confirma e atesta o grande diferencial da TV Morrinho: por lá, arte e vida estão absolutamente misturadas, uma alimentando a outra, uma tornando a outra possÃvel, mais criativa, mais produtiva e, sobretudo, mais divertida.
P.s.: Os filmes da TV Morrinho estão disponÃveis no Youtube.
Olá Bernardo, muito bom conhecer um pouco mais sobre a TV Morrinho. Eu já havia tido contato, indireto, com essa turma - e também com o Boca de Filme - há alguns anos. Agora pretendo assistir a essa exposição: até quando vai rolar?
Com relação aos pontos que destaca, o que mais me chama a atenção é justamente o porjeto ter nascido das mãos de jovens da própria comunidade, o que, para mim, lhe garante uma identidade toda especial.
Bom, na reprodução do texto, acho que houve um problema com os travessões (estão codificados) e faltou um S em "os filmes oriundos".
Abraço.
olá tete, tudo bem?
bom, a exposição ONG MORRINHO começa amanhã, dia 12 de julho, no Centro Cultural da Caixa Econômica (Av. Almte. Barroso, 25).
é imperdÃvel, eles são muito bacanas!
obrigado pela sugestão e um abraço
Beleza, Bernardo! Também vou me organizar pra ir. Obrigada por avisar!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 12/7/2007 13:06Aliás, o que a Tetê perguntou também é dúvida minha: a exposição fica até quando?
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 12/7/2007 13:09
legal helena!
então: a exposição ficará no Centro Cultural da Caixa até dia 19 de agosto.
mais informações nesse link aqui.
tudo de bom pra vocês
Que legal ver esse seu texto sobre o TV Morrinho. Acompanho o trabalho dos meninos desde que fiquei sabendo dele, ano passado, pelo Júlio Souto. Aliás, o vÃdeo fico assim sem vc está entre os meus favoritos do youtube. É demais, mesmo.
Vou fazer em outubro uma Mostra (Ação Audiovisual) e desde já convido o pessoal da TV Morrinho para participar. Quando o regulamento estiver pronto, posto aqui na agenda. Um abraço!
ilha, muito bom tê-la aqui novamente
eles são realmente muito legais! eu me divirto com os vÃdeos!
quero poder assistir ao Ação Audiovisual, me avise por favor!
você conhece o pessoal da boca de filmes? uma galera da cidade de deus, também surpreendente?
grande abraço
Ilha, muito legal o vÃdeo, valeu por ter posto o link. Amanhã se tudo der certo vou lá conferir a exposição. Depois conto minhas impressões por aqui!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 18/7/2007 19:08
helena e ilha:
infelizmente estou com um problema no flash aqui nesse velhissimo macintosh g3 e nao consigo ver videos... mas assim que consertar, estarei lá...
as coisas estão andando aqui por conta do cineclube (overcine?). sera que vitoria também terá o seu? rsrsrsr...
grande abraço pra vocês
Olá !!!
Assisti o documentário na TV Brasil em 19/06/2011, e fico feliz desses jovens não fazer parte desta constante violência que ocorre no Rio de Janeiro. No documentário não ficou evidente se os jovens receberam auxÃlio em educação, como bolsa para faculdade ou cursos, sei que eles são artistas, mas a arte no Brasil é pouco valorizada e mal divulgada entre as classes C e D; no entanto o ideal e que eles pensasem num plano ''B", enquanto tem a imprensa e a mÃdia ajudando e que estudassem para não continuar vendo a vida desta forma, sabendo aproveitar as oportunidades e garantir um futuro melhor. a violencia existe, mas não é bom fomentar ou apenas tornar uma forma de vida. A Tv Morrinho deu o primeiro passo, dando um bom exemplo aos joves, mas tem que seguir em frente e seguir na carreira artistica como Desiners ou Artes Plásticas.
Sucesso!!!
Olá !!!
Assisti o documentário na TV Brasil em 19/06/2011, e fico feliz desses jovens não fazerem parte desta constante violência que ocorre no Rio de Janeiro. No documentário não ficou evidente se os jovens receberam auxÃlio em educação, como bolsa para faculdade ou cursos, sei que eles são artistas, mas a arte no Brasil é pouco valorizada e mal divulgada entre as classes "C'' e ''D''; no entanto o ideal e que eles pensasem num plano ''B", enquanto tem a imprensa e a mÃdia ajudando e que estudassem para não continuar vendo a vida desta forma, sabendo aproveitar as oportunidades e garantir um futuro melhor. A violencia existe, mas não é bom fomentar ou apenas tornar uma forma de vida. A Tv Morrinho deu o primeiro passo, dando um bom exemplo aos jovens, mas tem que seguir em frente e seguir na carreira artistica como Designers ou Artes Plásticas.
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