Pare por cinco minutos e imagine que você, leitor, que provavelmente condena a maioria desses programas exibidos por sua televisão, tem, neste momento, a possibilidade de idealizar um programa qualquer. Está em suas mãos, digamos, o poder de revolucionar a televisão brasileira, dependendo do que venha a sua mente e do que você almeja. Se não quiser, não precisa nem ser algo revolucionário, quero simplesmente que você idealize algo que ache que realmente valha a pena, já que existem tantas queixas dos horários e espaços mal utilizados da TV brasileira. Pra ser ainda mais legal, te digo que, para pensar sobre isso, você não precisa levar em conta as exigências de uma TV comercial. O espaço é livre para experimentar.
Pode parecer sonho, mas é essa a possibilidade que os alunos de Rádio e TV da Universidade Federal da Paraíba possuem. Nas dependências da universidade, bem próximo ao DECOM (Departamento de comunicação), inclusive, existe o chamado Pólo Multimídia, que dentre outras coisas, possui equipamentos bons para gravação, estúdio e todo o aparato necessário para a execução de programas, com a possibilidade de, tecnicamente, não deixar nada a dever a muitos outros exibidos hoje pela TV convencional. Além disso, este Pólo Multimídia possui uma freqüência, a TV UFPB, um canal a cabo local, dando a possibilidade dessas produções saírem do campus universitário e irem direto para a sua casa. Espaço perfeito para o aluno utilizar como laboratório e experimentação. É sair da teoria, em sala de aula, e passar para a prática: Pegar em câmeras, pensar em pautas, produzir, dirigir, idealizar, vivenciar dificuldades, deparar-se com soluções, tentar revolucionar, modificar e entender como o mundo profissional funciona.
Esse espaço existe. Imagina-se que, conseqüentemente, existam inúmeros programas e projetos para a ocupação deste espaço, certo? O que você pensaria, então, se eu te contasse que apenas quatro programas ocupam a grade da TV UFPB, e que, dentre eles, apenas um foi realmente idealizado e produzido por alunos? A escassez é tanta, que, para se ter idéia, o Furdunço (programa feito pelos alunos) é reprisado não menos que quatro vezes por semana, duas na terça-feira e duas na quinta, com sua exibição inédita aos sábados. Os outros são de autoria da própria TV, realizados por pessoas concursadas, funcionários da própria universidade. Onde está acontecendo, então? Qual o porquê do espaço mal utilizado?
Buscando justificativas
A primeira idéia que se tem é que os alunos não estão interessados. Megaron Xavier, Luís Augusto e Marcelo Carpado, alunos do primeiro período me respondem: “O interesse existe, mas, sinceramente, nós não sabemos das possibilidades para isso. Não sabemos quem procurar, como dar entrada nesse possível projeto... Parece a velha máxima que dentro da comunicação não há comunicação”. Sabe tudo que expliquei nos primeiros parágrafos? Eles não sabiam de nada daquilo. Talvez por estarem iniciando o curso agora... Quem sabe? Dei mais uma buscada nos alunos e descobri que alguns deles, mesmo em períodos mais adiantados, também não sabiam dessa história. Contudo, esse ainda não é o principal problema. Detectei que, mesmo muitos não tendo estas informações, a maioria conhece a possibilidade. O que seria, então?
Fui conversar com Pollyana, aluna do quinto período e diretora do Furdunço, para saber das reais condições de produção dentro da TV UFPB, e saber se era nesse ponto que se encontravam os problemas que geram o desestimulo do alunado. “Realmente é possível veicular e produzir programação televisiva aqui dentro, a TV fornece equipamentos e tudo mais, mas a gente sabe que um programa não se sustenta só disso. TV é uma coisa cara, nós não temos verba alguma. Mesmo sendo um programa experimental, temos que ter uma preocupação com questões como desde cenário, maquiagem, figurino, comprar fitas e DVD’s, até a pilha que vai ser usada no microfone dos entrevistados e da apresentadora”. Renato Galloti, também aluno e produtor do programa, completa “Fora o enorme gasto eu tenho com telefone, condução... Quem trabalha com a gente, geralmente fica após a aula e tem que almoçar por aqui, tudo isso é gasto... É trabalho voluntário mesmo, e tem que ser sério, afinal temos que cumprir nossas datas e fazer um programa por semana, o que não é fácil para nós. Não é porque é experimental que não se tem um compromisso. Talvez o desinteresse venha disso, não é qualquer um que segura todo esse trabalho sem receber nada, pensando apenas na experiência”.
Procurando respostas
As justificativas são válidas, realmente é difícil imaginar a produção de qualquer coisa do gênero sem o mínimo de incentivo financeiro, nem que seja para cobrir os custos de produção. No Furdunço, por exemplo, os alunos envolvidos doam R$2,00 reais semanalmente para o caixa do programa, além da produção de eventos para arrecadar verba. Você teria esse mesmo pique, tendo ainda que conciliar isso com as aulas e atividades extras?
Todos os alunos freqüentemente reclamam das mesmas coisas. Fui ver, então, o outro lado da moeda, afinal, algum posicionamento os diretores da TV UFPB teriam.
Em uma longa conversa com o diretor geral do pólo multimídia, David Fernandes, o que se percebe é que não é uma questão de má vontade: “Nós também dependemos de investimento. Temos poucos funcionários, também sofremos com esse tipo de coisa. Nós usufruímos de uma parcela da verba geral que vem pra Universidade Federal, não é só uma questão de querermos financiar os programas dos alunos ou não. Precisamos de mais funcionários, de mais bolsas pros alunos que fazem estágio no Pólo, para lançar editais internos que viabilizem verba pros alunos de comunicação produzirem seus programas com condições ainda mais favoráveis... Há muito que se fazer, mas acredito que estamos caminhando para um avanço significativo. A TV UFPB foi feita para ter a cara da universidade, não só do departamento de comunicação, e estamos trabalhando para isso. Três novos programas estão sendo idealizados, e devem entrar no ar em breve, envolvendo assuntos de outros departamentos, o que não exclui os graduandos de comunicação de forma alguma, já que estamos sempre com as portas abertas para voluntários aqui”. E não é mentira, qualquer aluno de comunicação que se interessar pode colaborar e aprender, encaixando-se na produção de algum programa já feito pela TV. Já para produzir e colocar no ar uma produção idealizada pelos alunos, o que David sugere é que se mande um projeto do que se quer fazer para ele, para avaliação: “Temos que lembrar que aqui também não é uma TV de brincadeira. Televisão tem que ter continuidade, caso contrário não funciona, e o graduando que se compromete conosco tem que estar ciente dessa realidade. Talvez por isso que só temos um programa feito pelos alunos, nenhuma televisão é fácil, tem que se entender isso. Mas estamos sempre de portas abertas, precisamos de mais interesse dos alunos”.
Idealizando Soluções
Sabendo dos dois lados da moeda, o que se observa como solução é uma maior parceria da TV com o DECOM. É importante que se tenha o incentivo para produção em sala de aula, que os professores despertem nos alunos a vontade de buscar seu próprio caminho, experimentar e abrir as portas da sua profissão enquanto alunos. Isso é tão verdade que a idéia do Furdunço surgiu assim, a partir de um trabalho na disciplina de Introdução à Comunicação, ainda no primeiro período do curso, e está hoje se firmando cada dia mais na TV.
Lá dentro da TV UFPB, os planos de David são mais ousados: Estão caminhando para a transmissão do canal universitário em TV aberta, e isso evidentemente será uma motivação muito maior pros alunos, além da possibilidade de crescimento financeiro. Além disso, novas solicitações de verba estão sendo feitas, assim como de concursos para ampliação da equipe do Pólo.
É esperar pra ver. E torcer.
oi Carolina: passo aqui apenas para deixar o link de uma leitura importante e complementar: o texto do Ronaldo - boa conversa esta!
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 6/8/2007 22:01Boa dica, Hermano. Dei, inclusive, uma lida no texto do Ronaldo e o meu início ficou bem parecido com o dele, que coincidência incrível! Isso mostra que a situação é bem esta mesmo.
Carolina Morena Vilar · João Pessoa, PB 7/8/2007 14:59O texto da Carolina se faz tão importante quanto o do Ronaldo - como complemento mas também como "resposta" ao mostrar na prática como as coisas funcionam. Continuo acreditando que a chave aqui, como pede Ronaldo, é a inovação, mas há mudanças práticas também a serem tomadas, como aponta Carolina. Um depoimento bem pessoal de quem já esteve a par do que acontece em uma TV universitária e já fez mil aulas de "Introdução a....": o passo de uma produção universitária é de tartaruga, muito pela vagareza e falta de incentivo dos coordenadores da TV aos alunos. Junta-se a isso o claro erro na opção estética escolhida para esses programas e se tem um aluno meio perdidão, repetindo na lentidão de tudo da universidade os mesmos vícios do que é feito na TV aberta, só que de modo muito mais tosco, uma vez que nem qualidade de equipamento nem experiência profissional ajudam na feitura de um programa. Acho que o texto do Ronaldo joga luz muito sobre o aluno, pede uma iniciativa individual, que é mais que válida, mas a argumentação esbarra na burocracia universitária insuportável que a Carolina narra aqui. Adoro essa conversa também!
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 7/8/2007 15:01. Já debati isso muita vezes, inclusive com a krol.. e ainda acho q msm, pra uma emissora com o propósito educacional e de laboratório assumido pela TV Universitária, ainda existem caminhos possíveis, msm q através de patrocínios no campo educacional, para custear alguns programas... acho q isso até ajuda na autocobrança emrelação a produção dos programas q, muitas vezes procuram imitar formatos pré-existentes, não se adequando ao q é possível fazer de melhor ousando com novas idéias, dentro das condições possíveis. Passando inclusive pela questão de ego por produzir um programa de TV.. acreditem.. enfim.. acho ainada q é possível se obter resultados positivos, desde q não se fique de braços cruados esperando o simples custear atarvés de verbas federais.. é só uma opinião.. mas acredito q descruzar os braços, procurar idéias práticas e baratas,pensando no q é possível fazer com o q se tem, tb ajuda...
Edmundo Nascimento · João Pessoa, PB 7/8/2007 15:26É uma luta contpinua contra a mania universitária. Sofro com isso na faculdade.
Higor Assis · São Paulo, SP 8/8/2007 08:19
Olá, Carolina. Concordo com os comentários anteriores, quando eles remetem à importância do teu texto. Aqui em Blumenau temos uma tv universitária, a Tv Furb, da universidade local. Há um tempo, somente se tinha acesso pela tv a cabo, mas hoje o sinal é aberto para Blumenau e região.
Não sei mais, mas havia um só programa produzido pelos alunos. No mais, quando não está com programação no ar, abre o sinal da Cultura. Já estudei na Furb e não lembro de haver algum tipo de incentivo aos alunos para produzirem programas.
Enfim. Queria fazer constar que por aqui também temos uma TV Universitária que, como a maioria parece ser, não tem muitos universitários em seu quadro de funcionários.
Muito legal saber que pelo Brasil afora, principalmente nas faculdades, existe gente fazendo tv experimental. Sinto muito falta disso nas faculdades daqui. Lá onde estudo, por exemplo, não há qualquer ação que estimule um processo pelo menos parecido como a TV UFPB.
E pior: nem sei por onde começar...
passo a passo, estamos esquartejando os segredos, discutindo e dividindo os saberes. vamos ver se dará pra jogar no ar do futuro (bem próximo, quero) algum programa sobre a boa música feita em PB.
www.sitiodoesso.com
Olá Carol, tudo tranquilo? Bem, além de estar sempre por terras overmundanas, todas as tardes dou meu expediente de estagiário-repórter na TV Universitária da UFRN. Aqui, nós pautamos, produzimos e até mesmo apresentamos alguns programas. Mas, infelizmente, ainda não temos nada "autoral", digamos. Percebo que as coisas estão se encaminhando pra isso. É preciso integrar os alunos desde cedo, ainda mais em dias de convergência de tecnologias em que vivemos. Um abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 10/8/2007 08:49
Tudo fica mais difícil quando não se tem capital neste mundo cada vez mais movimentado por dinheiro...
Gostei da matéria, explorou bem vendo os dois lados e principalmente, colocou as soluções possíveis, coisa que nem todo mundo sabe fazer.
uma pergunta que não quer calar: dinheiro de maquiagem, cenário, figurino?!!! precisa de maquiagem mesmo? não dá para inventar uma outra maneira de fazer as coisas, mais barata mas nem por isso com menos qualidade (pois a falta de maquiagem é compensada com criatividade)?
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 10/8/2007 23:50
Pois é, Hermano e demais, é que percebi que por lá, os próprios estudantes entendem que devem seguir os padrões da TV comercial para depois encaixar-se no mercado de trabalho. Além disso, concordo com você que falta sim criatividade, mas eles tentam.
Estava conversando ontem com um amigo meu sobre a TV UFPB. Ela faz relações públicas lá na federal, daí contei sobre esse texto aqui, e opinião dele também é bem pertinente: Ele acha que essas justificativas de dinheiro para produção é conversa fiada. É verdade que dificulta, mas quando se quer mesmo, se faz. Chegamos a conclusão que o primeiro e maior problema de todos é a acomodação dos alunos. Ele disse, inclusive, que há alguns anos a UFPB não tinha nem câmeras disponíveis pros alunos, e todos reclamavam, usando o discurso que quando houver vão produzir como nunca, o curso vai ser outra coisa, etc, etc, etc. Além disso, nessa época os alunos de rádio produziam programas e transmitiam em rádio pirata, que mesmo sendo uma prática ilegal, mostra que quando se quer fazer algo se faz e ponto.
Daí entra a história da falta de estímulo dos alunos, mas, ora, se eles estão cursando Rádio e TV, imagina-se que este estímulo de produção é algo inerente a ele. Ou não?
P.S.: Já pedi a esse meu que conversei ontem dê o seu parecer aqui.
Como no meu comentario do post (texto) do Ronaldo, reafirmo novamente que esse problema `e de ordem cultural, da cultura institucional da Universidade Publica Brasileira, q `e de um atraso e retrocesso semelhante a todo o aparelho estatal nacional...
Compare as IES do Brasil com as de outros cantos do mundo, ou melhor: fasa relacao com as que mais se destacam globalmente, aquelas que pagam os "bam bam bam" NERDS pra estudar la... Nos maiores centros de inteligencia do mundo o que se quer sao pessoas que ponham a mao na massa, onde a teoria so existe enquanto for usada para fins concretos, e se for usar um processo inovativo, as teorias que se fodam, mesmo que tenham sido escritas pelo avo dos Bush. Nos locais onde as coisas andam pra frente nao se da bola para a manutencao de regalias, manutencao de seja la o q for, o que se quer `e resultados, e esses resultados devem sempre estar associado ao setor produtivo, de preferencia que gere riquezas, e de preferencia que represente um diferencial em relacao aos outros centros academicos global. Sera q isso ocorre no Brasil varonil?
eita!... `E muita corte para poucos castelos. Nos ainda vivemos na idade media da producao cientifica, tecnologica e de comunicacao nem se fala... junte tudo isso que foi colocado nestes dois post com o fato de existir mais de 3 mil TV`s sendo transmitidos diretos de seus site pela internet (current TV, por exemplo) e os YOUTUBE, o recem lancado MEGAVIDEO, e a TVDIGITAL? onde se proteger dessa Onda Tsunami com equipamentos ainda analogicos, professores com livros do seculo passado (onde em alguns nem se cogitava na existencia da internet), e avelha estrutura estatal de financiamento das Universidades, e a maoria dos alunos querendo `e estacionamento pros seus carros?
Ora, tem que ir com unhas e dentes pra mudar tudo, e faz isso quem tem vontade de realizar e desejo intenso no coracao, porque quem sabe faz a hora nao espera acontecer! se nao, vai continuar o espasso aberto e possivel da transmissao de conteudos, mas subutilizado, subutilizado como quase tudo que `e publico em nossa republica de bananas abencoada por Deus e bonita por natureza. Que haja ATITUDE!
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