VirgÃnio Santa Rosa, nascido em Belém em 1905 e falecido no Rio de Janeiro em 2001, foi uma figura extraordinária sobre quem várias alcunhas se ajustavam sem qualquer desonra ou demérito. Ele foi pioneiro, viajante, visionário, aventureiro, engenheiro, polÃtico e escritor. Era integrante da grande seara de homens que o Brasil produziu em abundância no século passado e que quase sempre terminavam no ostracismo apesar de viverem intensamente e terem colaborado de maneira efetiva com a sociedade de sua época.
Descobri-o primeiramente como engenheiro ferroviário ao pesquisar sobre a vasta região Norte do Brasil para um trabalho e me deparar com uma grande obra que ele revitalizou e defendeu ardentemente no perÃodo da Segunda Guerra e que hoje é apenas memória pois os governantes do Regime Militar desativaram-na em 1967 e destruÃram-na completamente em 1974. Foi A estrada de ferro Tocantins que chegou a ter 118 km de trilhos em operação, entre Alcobaça (hoje TucuruÃ-PA) e Jatobal (PA) em plena selva amazônica, marginando o rio Tocantins. O projeto, um sonho de meados do século XIX para facilitar a navegação no rio, vencendo as cachoeiras, só foi executado a partir de 1908, sofrendo constantes interrupções na construção e depois na operação.
Nos duros anos da guerra, ele revitalizou a estrada, pois a entendia importante como meio de transporte entre sul e norte do Brasil em caso de bloqueio dos portos do litoral brasileiro pelos alemães. Acalentava ainda como um sonho particular a sua extensão rumo sul como eixo importante para a integração nacional, polÃtica que JK poria em andamento a partir de 1958, construindo a rodovia Belém-BrasÃlia. Para Santa Rosa, a via férrea era mais importante que a rodoviária pela economia proporcionada no transporte.
Ao deparar-me com seu visionarismo descobri-o também polÃtico. A sua atuação não se deu apenas no campo polÃtico-partidário. Em 1935, no Rio de Janeiro onde estudou o curso superior e formou-se em 1927, filiou-se à Liga de Defesa da Cultura Popular, corrente ligada à Aliança Nacional Libertadora. Sem dúvida, a criação do Estado Novo adiou muitos de seus projetos polÃticos, retomados logo após o seu fim em 1945. De 1951 a 1959, foi deputado federal pelo estado do Pará.
Entretanto, o que mais me atraiu na garimpagem a cerca desse visionário que disse em documento enviado a seus superiores do Ministério de Viação e Obras Públicas, em 1941, que seria importante ligar Belém do Pará a Porto Alegre por trem foi ter sido também um homem ligado às letras. Ele escreveu cinco livros, talvez a maioria deles esquecida do público brasileiro. Foi tão variado nos temas abordados quão foi múltiplo durante a vida.
O seu primeiro livro é A Desordem (ensaio), 1932; depois vieram O Sentido do Tenentismo (ensaio) e Paisagens do Brasil (viagem), 1933; A Estrada e o Rio (romance), 1964, sobre a estrada de ferro Tocantins; e em 1980 Dostoievski, um Cristão Torturado (ensaio lÃtero-biográfico).
Dentre todos, o mais conhecido e citado é o Sentido do Tenentismo, surgido pouco depois dos eventos revolucionários de 1930, tendo Nélson Werneck Sodré assim se pronunciado sobre a sua importância: “O Sentido do Tenentismo tem caracterÃsticas pioneiras, portanto. Deve ser visto na situação em que apareceu, e quando se apresentou como algo de insólito. E representa, sem a menor dúvida, uma das mais sagazes interpretações que a história polÃtica brasileira conhece, e uma contribuição importante para o conhecimento do perÃodo republicano e da fase de ascensão burguesa em particularâ€.
É, meus amigos, mais um personagem histórico de importância completamente esquecido pela cultura brasileira - com a honrosa exceção que nos traz JJ.
É também uma falta de senso, de inteligência, de iniciativa, o nosso paÃs não ser todo ligado por uma boa malha ferroviária. Pelo contrário, desmontou-se o pouco que havia.
Parabéns, JJ, pelo excelente artigo.
Baduh
JJ.parabens pelo texto, é reviver a historia esquecida, quantos estão escondidos por ai, devemos descobri-los mostrando ao mundo alguem que fez....
até
sinva
jj,
Um dia talvez caiba a alguém escrever o rol de todos estes ostracismos injustos, gerados por este nosso Brasil desmemoriado de tudo que não seja banal e corriqueiro. A lista é imensa de doer.
Muito bom Leandro. Importante resgate. Mas é como bem disse o SpÃrito, a historiagrafia, quase sempre, relega homens á letargia, ao esquecimentos... os deixa numa verdadeira alfândega, um achados e perdidos... é preciso encontrá-los...
Um abraço.
Olá Felipe, o VirgÃnio esteve aà em sua terra, o RN.
Em 1933 era engenheiro da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. Ele ainda andou por Goiás, PiauÃ, Maranhão, Rio, RS, trabalhando por algum tempo nesses estados.
abcs
...
SpÃrito, realmente o rol desses ilustres desconhecidos é mt grande. abcs
...
Sinvaline, temos que nos esforçar para resgatar essas personalidades.
abcs
...
Vc tem razão, Baduh, a ferrovia devia ser um transporte massivo não somente nas cidades como entre as cidades. O pouco que existia fizeram questão de desativar.
abcs
que bacana, Leandro.
boa iniciativa! parabéns por contribuir para a "memória do paÃs".
beijão, amigo
Bela garimpagem JJ Lendro de sua terra.Extraórdiao...Votado.
bjus
Bela garimpagem JJ Leandro de sua terra.Extraórdiao...Votado.
bjus
Nunca ouvi falar do moço, Leandro; nem da ferrovia. E pensar que estradas praquelas bandas dão asco, tanto quanto um Jader da vida. Coisa inaceitável, como este Brasil continental sem ferrovias.
Antonio Rezende · Palmas, TO 20/9/2007 12:56
Poeta Fran, obrigado amiga. Estou lhe devendo muitas visitas. Aparecerei. abcs
....
CÃntia
Na realidade a EFTocantins ficava toda no Pará, mas é razoavelmente próximo daqui e servia aos tocantinenses que navegavam no rio quando ele era a única via disponÃvel para transporte nessa região.
abcs
....
Rezende, até bem pouco tempo eu tb nunca havia ouvido falar dele. Mas estou fazendo um trabalho sobre a história de Babaçulândia e pesquisando sobre o rio Tocantins que era a única via de comunicação nas décadas de 1940/1950 por aqui, vc sabe, descobri a ferrovia e a história de VirgÃnio Santa Rosa. Disponibilizo aqui um linque sobre a EFTocantins para todos, que já devia ter feito inicialmente.
abcs
Também alguns outros sobre a história de VirgÃnio
UM
DOIS
Gostei de saber sobre esse brasileiro chamado Virginio. Moro em Belém do Pará, sou jornalista e me interesse por história e cultura. Atualmente participo de um projeto chamado Expedição do Redescobrimento onde estamos recolhendo memórias de cultura na região Norte. Vou publicar o relato sobre o VirgÃnio no Blog da Expedição e ver como postá-lo no site do Museu da Pessoa para que mais pessoas o conheçam.
NiltonSilva · Belém, PA 16/10/2007 19:28
Nilton, um prazer que faça isso. Até mesmo pelo resgate de tanta memória que hoje está adormecida no limpo à espera de quem a divulgue. O trabalho que vc faz é interessante. Me mande o endereço do blogue, quero acessá-lo, e tb o endereço do sÃtio do Museu.
Hoje desenvolvo uma pesquisa sobre Babaçulândia, uma cidadezinha daqui do Tocantins, à s margens do rio Tocantins, que nas décadas de 1940 a 1960 teve grande ligaçaõ com Belém pela venda de babaçu e malva. Estou agora preparando um artigo para a revista cientÃfica da FACDO, Faculdade Católica Dom Orione, aqui em AraguaÃna, onde abordo o assunto. Quando ele estiver pronto, vou postá-lo aqui e vc terá a oportunidade de lê-lo.
abcs
Quero agradecer pelas belas palavras dedicadas ao meu avô, realmente uma pessoa extraordinária.
Atenciosamente,
Paulo Santa Rosa
http://www.flickr.com/photos/psantarosa/
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