Flávio Herculano
É jornalista
fherculano@yahoo.com.br
Verificando a lista dos discos mais vendidos, em uma revista semanal, me deparei com uma realidade óbvia mas que me passava despercebida: pela primeira vez, em mais de uma década, não há nenhum modismo predominando na música brasileira nem uma banda arrasa-quarteirão atraindo para si todos os holofotes da mÃdia. De repente, um estalo: tem tudo a ver com a crise no mercado fonográfico, gerada pela pirataria generalizada e pela fácil acessibilidade à música via internet. Juntando as coisas, concluà que essa crise pode ser a redenção do próprio comércio musical.
Na lista dos mais vendidos, uma salada. O primeiro colocado é um tal Caio Mesquita – para mim, um total desconhecido. Em outras épocas, seria um ser onipresente nas rádios, capas de revista e programas dominicais de auditório. Segue-se na lista dos mais mais artistas-resquÃcios da moda sertaneja, do forró eletrônico e do brega paraense, além de discos que têm suas vendas impulsionadas pela mÃdia em TV. São os famigerados discos ao vivo e coletâneas, além da trilha da novela das 21 horas. Graças à MTV, emergem na lista Ivete Sangalo e Lenine. Graças aos comerciais freqüentes na Rede Globo, Milton Nascimento e até Nelson Gonçalves voltam a constar entre os músicos mais populares do paÃs.
E com as vendas em baixa, artistas que têm público cativo em determinada região conseguem chegar à lista dos mais mais sem causar grande barulho. É o caso da banda paulista Inimigos da HP (para mim, mais um ilustre desconhecido). E o grande público? Neste primeiro momento, sem se ver empurrado a adotar um Ãdolo para a atual estação do ano, tem mesmo se apegado a nomes de um passado recente. AÃ, valem também a pop Ana Carolina e os sertanejos Bruno & Marrone.
Agora, enfim, explico o que considero uma redenção no comércio da música. Atordoadas com as baixas perspectivas de vendas, as grandes gravadoras não se sentem seguras para fabricar novos modismos e astros populares, com todos os custos que isso implicaria. Assim, não interferem no processo, deixando as águas seguirem seu fluxo natural. E isso é bom. Muito bom!
É como se as gravadoras, sem saber como se adaptar à realidade da pirataria e sobretudo da popularização da música via internet, tivessem jogado a toalha. Hoje, já não praticam suas tradicionais artimanhas comerciais.
Com o público ditando os rumos do mercado, há uma pulverização de artistas. Não há mais o Ãdolo do momento. Há uma sensação de que todos os músicos estão em pé de igualdade. Todos podem chegar “láâ€, embora sabendo que seu sucesso não será mais supremo.
Tentando enxergar à frente, tenho a impressão que, em um futuro muito breve, os discos serão meros instrumentos de divulgação. Com a acessibilidade tecnológica, cada artista poderá produzir suas próprias músicas e disponibilizá-las via internet, gratuitamente ou a preços módicos. O que valerá é se fazer notório em meio a tantas opções musicais, cativando um determinado público para manter uma agenda de shows e obter sua renda.
Assim, poderemos continuar apreciando Ãdolos nacionais e mundiais, mas teremos mais chances de conhecer a banda de rock do filho do vizinho. Espera! Mas isso já vem acontecendo, num processo que não deve ter mais recuo. É. Realmente vivemos um momento de transição. Oxalá a tecnologia. Oxalá a democratização da cultura.
Ninguem sugere nada?
Flávio Herculano · Palmas, TO 20/9/2006 10:57Hehe, gostei da pergunta. Fiquei pensando sobre seu texto. Sem dúvida é um momento de transição. Sua teoria é interessante e até otimista, torço mesmo pra que seja isso que você diz. Mas num ponto tenho minhas dúvidas: que são as grandes gravadoras que produzem todos os modismos. Será que é mesmo por aÃ? Não te parece que elas pegam carona (cada vez mais) nos modismos que vão surgindo espontaneamente para decidir em quem apostar? Abraço
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 20/9/2006 13:52Acho que as grandes gravadoras são oportunistas mesmo.
achr · Porto Alegre, RS 21/9/2006 01:27
Flávio:
Muito legal teu texto, muito bacana mesmo. Se me permites, eu gostaria de tecer algumas considerações.
Realmente eu acho que os músicos estarem todos em pé de igualdade é só uma sensação mesmo, e tenho dúvidas de que isto um dia acontecerá, até mesmo por ser pouco natural. As pessoas sempre tiveram Ãdolos, fossem eles escolhidos entre os pintores, os músicos, os polÃticos, os governantes...
Concordo contigo que os CDs serão meros instrumentos de divulgação. Aliás, prá mim, que sou músico independente há 28 anos, o disco sempre foi um cartão de visita muito caro. Cada prensagem de mil cópias escorre pelos dedos como água, sempre utilizados como ferramenta para garimpar shows, que é onde a arraia-miúda ganha o sustento.
Eu tenho uma opinião meio estranha sobre o CD. Eu acho que no futuro o CD vai custar muito, muito caro mesmo, e já explico porque: Os artistas têm uma coisa totalmente antipirateável: seu carinho e seu carisma. Ninguém consegue piratear a emoção de assistir um show, ou a sensação de apertar a mão de um Ãdolo (ainda que momentâneo), ou ainda a satisfação de um autógrafo com dedicatória. Eu acho que ESTAS são as coisas nas quais nós, músicos, devemos nos fixar, e por isso eu acho que no futuro, quando os fonogramas estiverem nascendo e morrendo no meio digital, um CD com a assinatura e a dedicatória do artista poderá custar muito, muito caro mesmo.
Prá encerrar: Concordo com a Helena: eu também acho que as gravadoras são especialistas em detectar modismos e se aproveitar deles.
Um abraço,
Foi-se o tempo em que gravar e distribuir um disco era algo restrito a poucos. A Internet não somente democratiza os novos lançamentos, como também sabota os antigos.
Isso porque downloads simplesmente destruiram a antiga estrutura da indústria fonográfica, acabando com o 'produto disco'.
Sem dúvida, a 'total democracia' está bem longe de chegar, mas é indubitável que estamos no caminho.
Claro que há sempre as 'panelinhas', seja nos grandes ou pequenos universos. Há gravadoras multinacionais que se apropriam de modas para lançar Ãdolos de araque, assim como há gravadoras independentes que dão colher de chá para 'amiguinhos' e até 'familiares'.
Há vÃcios em qualquer tipo de estrutura, de modo que não será da noite para o dia que todos vão para o espaço.
Com relação ao comentário do Moysés, sou obrigado a discordar a respeito do preço dos CDs 'no futuro'. Na boa, mas o preço vai cair cada vez mais.
Claro que 'com a assinatura do Ãdolo' vai custar caro, mas isso já pode ser feito agora. Qual é mesmo o mercado para isso? A quantas andam as vendas dos 'CDs autografados'?
A rapaziada quer facilidade e preço baixo (de preferência, tudo gratuito). Haverá, claro, alguém que pague uma fábula para ganhar um encarte com dedicatória.
E haverá a grande multidão que dispensará tal mimo, preferindo tão-somente baixar a música sem pagar nada.
Pra quem é músico e não tem apoio de gravadoras, esse momento é mágico. Levar a sua música a lugares que antes eram de difÃcil acesso é uma sensação muito boa.
Quanto ao futuro, também tenho minhas dúvidas, mas acho que esse caráter gratuito das músicas vai ser irreversÃvel. O lance é se adaptar.
A facilidade que a tecnologia vem trazendo realmente não tem preço. Qualquer um que tenha um computador mais ou menos decente e entenda um pouco de softwares pode gravar um disco com uma boa qualidade no seu próprio quarto.
Mas eu tenho um pé atrás com essa constatação do texto, de que o público agora dita os rumos do mercado.
Dei uma olhada no site do novo-famoso-do-overmundo Caio Mesquita. O cara foi à Hebe Camargo no dia 11 e à Olga Bongiovani no dia 12. Só essa exposição já garante umas milhares de cópias vendidas, ou shows mais lotados. Na verdade, ambos.
Quanto ao Inimigos da HP (da home page?), nem precisei emiuçar muito a página. É só abrir o site que tem uma chamada ENORME avisando que eles estarão no Faustão no domingo.
O que vem acontecendo com a indústria e com as grandes gravadoras é que eles estão dando um jeito de se adaptar à nova realidade. As gravadoras agora viraram também empresárias dos artistas de maior sucesso. Se elas não lucram nas vendas, levam uma gorda parte do cachê. E assim vão mantendo seus lucros (menores, claro, mas ainda polpudos).
Então, pra concluir, eu acredito que a parada dos "mais vendidos", "mais baixados" ou o que seja daqui a alguns anos não vai fugir do esquema viciado do toca-mais-quem-paga-mais-jabá (ou alguém acredita que os Inimigos da HP vão pro Faustão porque o apresentador curte o som dos caras?).
O que mudou, e isso não tem mesmo mais volta, é que a facilidade de encontrar novidades e artistas por conta própria é enorme, já que, mais dia, menos dia, tudo acaba na internet. E isso merece sim uma comemoração.
Reconheço que o texto talvez seja otimista demais... A mÃdia tem influência ainda predominante e as gravadoras talvez encontrem uma maneira mais polpuda de se adaptarem a essa nova realidade.
Mas, por enquanto, as vejo perdidas. E vejo um processo realmente irreversÃvel de acessibilidade à música.
Acho que não expressei minhas idéias adequadamente, vou tentar ser mais claro. Muitas pessoas com quem converso falam da morte do CD, bolachinha-fÃsica-suporte-de-música. Eu digo que não, o CD bolachinha-fÃsica-suporte-de-música vai continuar existindo, mas serão feitos em quantidades muito-muito-muito-pequenas, serão preciosidades, serão algo como um exemplar da BÃblia autografado por Cristo. Porquê? Porque ninguém mais vai comprar CD, todos ouvirão música de graça, mas sempre vai ter um doido que terá um fetiche maluco qualquer e vai querer comprar um CD, sabe-se lá porque cargas d'água já que ele poderá baixar as músicas gratuitamente. Não devemos confundir o CD - que é o suporte - com os fonogramas - que são o conteúdo.
O segundo CD do meu grupo, a Camerata Brasileira, está na fábrica sendo prensado. Enquanto isso, TODOS os fonogramas estão disponÃveis para download em diversos sites como o Trama, o MySpace, o PureVolume, o Multiply, entre outros, até mesmo porque eu nunca ganhei nada com venda de CD, e olha que estou no mercado há um bom tempo.
Um abraço,
Oi Moysés, só um comentário rápido, coloca o seu cd aqui no Overmundo também para a gente ouvir!
ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 22/9/2006 15:45A estrela que brilha,brilhe!Porém fique brilhando
Copolla · Parnamirim, RN 22/9/2006 16:56
Esse assunto é muito pertinente, por que a indútria cultural ( não apenas a fonográfia) passa por um perÃodo de forte transição e não acredito que possamos fazer um julgamento correto agora, mas sim, levantar diversos aspectos para essa discussão, como o Flávio fez no seu texto.
Gostaria apenas de ressaltar dois aspectos:
Acredito que as baixas vendas de cd e um posicionamento menos arrojado das gravadoras está intimamente relacionado com o efeito "cauda longa", mas isso deve mudar rapidamente, já que as grandes corporações tem condições de adaptar-se a novas situações. Assim como as fitas cassetes ficaram restritas a poucos excêntricos e ao carro do meu pai, o futuro do cd pode ser parecido, já que hoje eles não são nada práticos. Mas nem por isso deixará de existir comercialização de músicas. Pensem que, quando colocamos músicas de nossa autoria disponÃveis em algum site, sem ganhar nada com isso, a empresa daquele site também não gastou praticamente nada para obter as músicas e elas fazem o site crescer, ter visitas e ganhar com anúncios e outras formas. Afinal, as informações, as músicas e os textos de nossa autoria tem um preço e esse é o preço que pagamos para acessar à informações, músicas e textos dos outros.
Outro ponto legal de ser debatido é o seguinte: não podemos comparar a qualidade do som de uma música em mp3 de uma faixa de um cd. Claro que para escutar no seu computador ou iPod não faz diferença e a praticidade compensa. Mas, para escutar num aparelho de som com diversas caixas, amplificadores etc. e tal, o cd ainda tem uma performance melhor.
Bom, não sei no quê essa história vai dar, mas sei que até agora ganhamos muito com isso, já que atualmente eu posso escutar bandas que talvez eu nunca conhecesse, como é o próprio caso da banda do Moysés e de muitos outros escritores, músicos e demais interessador, como eu, que frequetam aqui.
abraços.
Não que o texto seja otimista ou pessimista. Dá um disgnóstico sensato da indústria fonográfica em tempos de internet. Só não creio que as grandes gravadoras já (digo "já" por se tratar de um fenômeno consideravelmente recente, mas aà já é outra história, que envolve velocidade de mudanças tecnológicas, etc) jogaram a toalha.
São indiscutÃveis as possibilidades e facilidades abertas para o artista na web, e cabe à s gravadoras redefinirem as estratégias de como ter retorno aproveitando essas oportunidades. E, daà a perder a visão "careta" do lucro imediato, é um longo processo. Um grande exemplo que elas deviam seguir é o de selos independentes e músicos que colocam suas obras disponÃveis para download (à s vezes, licenciadas pelo Creative Commons, como é o caso da Monbojó) gratuitamente, como estÃmulo ao consumidor e instrumento de divulgação do próprio CD, seja ele fÃsico ou não.
e, fazendo mais uma previsão (sem ser tão original assim, hehe), se depender da Internet e das ferramentas que ela proporciona aos artistas (criação, distribuição, divulgação), a grande gravadora, enquanto mega-empresa com capacidade falha de "visão", está falida. Não é à toa que demoraram tanto para começar a vender músicas pela web.
acima, onde está "Monbojó", leia-se Mombojó :)
Marcelo Benevides · Recife, PE 22/9/2006 17:28
Curioso... eu estava conversando exatamente sobre isso com um pessoal, em uma honesta mesa de bar, há uns 3 dias atrás... :)
Vale lembrar dos esquemas de produção/distribuição que andam rolando lá no Pará, onde o pessoal dá umas festas e grava os shows e, uma vez encerradas as mesmas, varam a noite tratando as gravações para logo depois queimar uns tantos CDs. Dizem que na manhã seguinte já está tudo distribuÃdo pelos camelôs da cidade...
Alguém sabe mais sobre isso?
Abraços do Verde.
Tudo leva a crer que o mercado de música, tal como o conhecemos hoje, está com os dias contados. Não acredito na sobrevivência do CD como "relÃquia" (ainda se fosse o vinil...), e a qualidade sonora dos arquivos digitais vai ser tão boa quanto a do suporte fÃsico, é só questão de tempo.
As grandes gravadoras estão mesmo condenadas, os acionistas vão investir seu dinheiro em outro negócio e pronto. Mas para o músico fica o desafio: como obter remuneração pelo seu trabalho? Me parece que as apresentações ao vivo são mesmo o caminho.
Eu acho que as bandas que realmente trabalham arte ainda nao estao, nem estarao na lista dos mais vendidos. O proprio texto diz porque. Alias, ve-se que, apesar da falta de um ritmo como modismo, continua aquela praga de gente que faz musica sem questionar o proprio estado da arte. Ana Carolina, a homofobica, eh um exemplo. Mas, enfim, estamos tratando de Top 10, nao de musica popular. Sao coisas diferentes.
Roberto Maxwell · Japão , WW 23/9/2006 01:17
Daniel Duende, no caso da mundo livre s/a (o caso em Recife que lembro agora) , o que acontece é a venda de discos exclusivamente em shows, como o Bebadogroove. É uma maneira de burlar a distribuição "farrapeira", já que eles passaram tanto por majors (Warner) e independentes (Trama) e os CDs não chegavam ao público.
esse lance da gravação nos shows e distribuição nos carrinhos de piratex, particularmente, eu acho muito do bom. Por falar nisso, é uma coisa que os bregueiros, forrozeiros e afins já fazem há tempos :) estão é certos!
Engraçado, no final dos anos 90 toda semana alguém dizia na imprensa que o livro estava com os dias contados. Estão contando até hoje... Será realmente que vamos simplesmente abrir mão do encarte, do material gráfico, da resuloção 16bits por 44Hz pela fidelidade aos nossos Ipod's e HD's? E ainda que a gente resolva deixar o CD para os audiófilos, quem perde com isso, o cara que prensa mil cópias e usa o CD-release pra fazer contatos ou a major que precisa vender milhões de discos pra pagar os altos custos com o famigerado jabá? Hoje conseguimos desatar com relativa facilidade alguns nós da cadeia produtiva da música que há pouco mais de uma década atrás eram cegos (a internet chegou aqui só nos anos 90 e a banda larga está na primeira dentição ainda!). Compor, produzir, distribuir e veicular são cada vez mais atividades que realizamos dentro dos nossos quartos-estúdios. Há uma mudança de paradigma em curso. Acho que isso tem menos a ver com suporte que com conceito. O momento é de segmentação (vários públicos), diversificação (infinidade de artistas) e não-especialização (autoprodução). Isso é exatamente o contrário de tudo o que a grande indústria sempre pregou e praticou. Por isso os caras estão como baratas tontas. Essa semana a ABPD divulgou uma pesquisa encomendada por eles que diz que no Brasil foram baixadas mais de 1 bilhão de músicas em 2005. Tudo no liso. E qual foi a atitude deles? Disseram que vão fechar o cerco, meter processo, por na cadeia os atores dessa ação criminosa. E eu pergunto: vai adiantar? (alô PCC, ainda tem vaga aà no presÃdio?). Outra coisa, ultimamente vocês não acham que o termo independente é cada vez mais vago, impreciso e distante da realidade que se impõe? Afinal, quem é independente hoje? É quem não tem contato com as grandes? Então Chico Buarque, Milton Nascimento, Maria Bethânia e cia. são independentes? Prefiro pensar que "independente" hoje é quem se autoproduz (seguindo à risca a máxima punk do faça-você-mesmo). Aqui nós usamos também o termo Contra Indústria. Abraços
Makely Ka · Belo Horizonte, MG 23/9/2006 02:39Makely san, mandou muito bem! Creio que as coisas estao nesse caminho. E mais, apesar de sentir uma ponta de critica, os grandes nomes da MPB estao eles proprios saindo do cerco das grandes gravadoras, montando seus selos, produzindo seus albuns. Eles sao artistas caros, no sentido do preco da producao de suas obras. Sao minunciosos e detalhistas, dentro do que se propoem. Nao suportam mais ter que ver seus discos ligados a resultados. Acho que esse caminho se mostrou muito mais satisfatorio a eles e a outros muitos artistas mais jovens e iconoclastas. E nao deixa de ser um negocio tb. Mas, pelo menos, como diz, eliminamos um atravessador.
Roberto Maxwell · Japão , WW 23/9/2006 08:18
O texto do Makely (Alô, Makely, tudo beleza por a� Como anda o FPM de Minas?) me fez pensar algumas outras coisas na esteira desta questão disco/dinheiro. Na verdade eu acho que a nossa sociedade não gosta (e nunca gostou) de pagar por música de artistas pouco conhecidos, seja gravação seja show. Acredito que a idéia que anda por aà é a de que o cara que é conhecido pode cobrar caro, o desconhecido não. Mas se o desconhecido não consegue cobrar, como é que ele vai fazer prá virar conhecido???
Um abraço,
Po, nao sei se a discussao passa por pagar por desconhecidos e nao pagar por conhecidos, em termos de fama. Eh pagar por algo q se conhece, no sentido de ser uma banda q faz um som q vc gosta e vc soh sabe pq ja teve contato com a banda. Se a banda eh nova, precisa mostrar algo para que decidam "pagar" pelo trabalho dela. Saber se aquele trabalho esta dentro do que vc considera musica bacana. A pior coisa eh aquela banquinha de CDs usados. Vc ve ali qta coisa a gente compra pra depois jogar fora.
Roberto Maxwell · Japão , WW 23/9/2006 09:13
Roberto, acho que esse é o ponto: eliminar atravessadores, tentar dar conta (ou pelo menos entender todo o processo). A ultra-especialização, essa herança maldita da revolução industrial, fragmentou tanto as funções que o cara que vendia, só sabia de marketing, o cara que produzia, só sacava de estúdio e gravação, o cara que compunha só sabia compor e tocar, isso acabou criando ilhas sem comunicação. Nesse sentido eu falo de não-especialização, todo mundo que se autoproduz tem pelo menos noção de todo o processo, compõe, grava, sabe fazer acessoria de imprensa, etc. Assim, mesmo que ele delegue essas responsabilidades para alguém mais bem preparado, ele vai saber exatamente o que quer. Acho que esse é um caminho sem volta.
Moysés, aqui nós vamos tocando o barco, isso inclui convencer as pessoas a pagarem por nosso trabalho. Como vacê sabe, não é tarefa das mais fáceis!
Abraços
é isso aÃ, Roberto! Faço das suas as minhas palavras...
Flávio Herculano · Palmas, TO 23/9/2006 17:18
Puxa, todos os comentários têm algo de sensato, mas não dá pra discordar ou concordar exclusivamente. Penso, entretanto, que há uma idealização dessa coisa de botar música na internet. Eu não sou um analfanético absoluto, mas as primeiras vezes em que tentei colocar os arquivos da minhas gravações aqui no overmundo não deu certo. Depois baixei o torrent, o bicho fazia de conta que trabalhava mas não anexou nada. Mas por incompetência minha, que sou de uma geração que não nasceu conectada de berço. Mas nem era disso que eu queria falar. Eu sou intérprete e compositor, não toco nenhum instrumento. Não sabem a dificuldade que é conseguir um músico que tope só tocar, que curta ensaiar pra coisa sair redondinha. Gravar um cd não ficou tão mais barato assim, pelo menos pra quem canta MPB. Se quiser violão, baixo, piano, bateria, de verdade, tem que ter grana, e não errar muito no estúdio senão não consegue pagar as horas de gravação. Nem com uma profissão paralela consegui grana suficiente pra produzir minhas gravações até o fim. Coloquei minhas músicas no tramavirtual e nada aconteceu. Tudo bem, de repente não tenho talento e sou o único a ignorar isso, mesmo depois de 18 anos de shows aqui e acolá. Nem mesmo aqui, no overmundo, ninguém comentou as "musgas" (dizemos assim no NE) que disponibilizei...
Então, não é passe de mágica! Já cheguei a esperar por 01 ano uma resposta do SESC Ribeirão Preto (morei lá) pra fazer um show. Ligava, e-mails, e nem "sim" nem "não". Um dia saiu, e depois houve repetidos convites, mas depois de 01 ano de chá de cadeira! O "não" não é o que temo, o que temo é o silêncio, o descaso, a indiferença dos produtores, donos de casas de shows, barzinhos etc.
Sempre procurei remunerar os músicos da melhor maneira. Muitas vezes abri mão do meu cachê (sempre pequeno) em benefÃcio de aumentar o soldo da banda. Agora mesmo estou tentando fazer uma capa nova pro meu cd "pirata" (eu mesmo copio o demo, usado como cartão de visita) e, pasmem!, a maioria das gráficas digitais não imprime folha A3 frente e verso, em SP!!!!!!!!!!!!!!! A Secretaria de Estado da Cultura de SP liberou, recentemente, milhões em verbas pra projetos culturais, mas entrem no site e vejam os editais. Precisa ser pessoa jurÃdica, com existência há mais de 02 anos e blá, blá, blá... Artista independente, pequeno, sem grande empresa por trás, não vai conseguir. Então, quem olha por nós????
Como conseguir espaço pra mostrar seu trabalho? Falar que a internet sozinha resolve, é fácil. Mas na prática, talvez isso dependa de sorte, mÃdia, investimento financeiro etc., como era no princÃpio. Ou eu é que sou um pessimista, além de desconectado virtual??????????
Clap! Clap! Clap! Excelente colocação. Acho mesmo que a Internet está trazendo a redenção para o cenário fongráfico brasileiro. Não só a internet como a tecnologia digital, que facilitou - e muito - a produção de faixas de boa qualidade. Com um computador e algum telanto, dá pra gravar e produzir música em qualquer lugar e com a internet, a música vai pro mundo todo. Guardadas as devidas proporções, essa revolução tecnológica está chegando também aos cinemas. Antes, gravar um rolo de filme longa metragem custava R$ 4 mil. Imagine uma estréia em 100 salas de cinema? R$ 400 mil paus, coisa para quem tem muita grana. Com a mÃdia digital, é só mandar o filme pela internet, por um custo mil vezes menor. Gravar e editar o filme no computador também é muito mais barato. Caem os custos, aumenta a oferta e caducam as gravadoras e distribuidoras com seus modelos de negócio atrasados. Bom para nós, consumidores, que passamos a ter opção e espaço para expressar nossa crÃtica e opinião, sem a massificante ditadura do marketing.
Felipe Matos · Belo Horizonte, MG 23/9/2006 22:12Acho que os dois ultimos depoimentos sao bastante interessantes. Realmente, a fala do Renan eh bastante reveladora. Claro que estao sendo usados aos borbotoes exemplos de artistas como Artic Monkeys ou CSS para se dizer que a internet eh a nova fabrica de fazer idolos. Ou seja, sao outros meios para os mesmos fins. Costumo dizer isso da minha area tb, o cinema. Vejo um monte de gente sendo "independente" ateh conseguir o primeiro edital do governo, a primeira verba da Petrobras. E depois, continuar se chamando de independente, mudar radicalmente o discurso e tal. O mercado independente eh um caminho arduo. Tao ou mais do que aquele bancado pelo estado, ou por uma gravadora. Cinema e musica sao artes que, para sair do gueto dos amigos, precisam de dinheiro. Desde que eu cheguei no Japao, decidi refletir sobre isso. E colocar em mente pq eu faco cinema. Conclui que eu nao vou me jogar na sanha pelos editais do governo, nem ficar esmolando de porta em porta para fazer um filme. Entao, vou fazer os filmes com uma pesquisa que permita faze-lo sem esmolas. E com outras pessoas que se agreguem no mesmo interesse. Eh algo nao-comercial? Eh algo utopico? Sim, pode ser, mas eh algo que me da prazer e eh dessa maneira que eu faco. Se rolar, mais tarde, algum investidor que ache que filmes feitos a essa maneira merecam mercado, vamos negociar. Se pintar outras propostas - e me pagarem por ela - posso pensar em fazer. Mas, nem de longe esse eh meu objetivo: usar a minha obra para ter um upgrade, entrar no comercio. O independente virou trampolim para "entrar na industria" e eu vejo que eh uma forma de se colocar novos parametros para ela.
Roberto Maxwell · Japão , WW 24/9/2006 01:49Grande Moysés, legal te encontrar aqui, ótimos comentários. Também acho que é meio precipitado falar que o CD morreu, mas o que me impressiona é que essa opinião venha de várias frentes, desde músicos até diretores de gravadora. Talvez o grande barato do CD (em uma caracterÃstica herdada do LP), é justamente dar ao artista a capacidade de delimitar a sua obra em um determinado contexto (ordem das músicas, arte gráfica, seleção das composições,etc.). Mesmo que esteja tudo disponÃvel para download (uma situação que pode inserir a obra em um contexto mais amplo, mas que também dilui conceitos ainda fortes na produção artÃstica, como por exemplo, a autoria), caso alguém se interesse pode recorrer à fonte original (O CD ou LP). Não acho que uma situação seja melhor ou pior que a outra, apenas cumprem funções diferentes. Além disso, prefiro pensar que uma situação não anula nem sucede a outra, mas ambas se relativizam.
Marcelo Birck · Porto Alegre, RS 28/5/2007 09:50Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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