Uma leitura da identidade e do movimento indígena

Grecom/UFRN
Escritor Daniel Munduruku
1
graça grauna · Recife, PE
12/5/2010 · 19 · 28
 

Pelos corredores do Salão do Livro da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que anualmente acontece no Rio de Janeiro; os parentes indígenas o cumprimentam e ele, naturalmente, responde: “xipat oboréâ€, que significa “tudo de bomâ€, na língua do seu povo.
Graduado em Educação e Mestrado inconcluso em Antropologia, Daniel Monteiro Costa é Daniel Munduruku; um indígena em movimento responsável pela organização do Encontro literário formado por um grupo de escritores e escritoras, por artistas e lideranças indígenas de diferentes etnias. Uma das características desse grupo reside também na experiência do deslocamento, isto é, ao sair de suas aldeias ou de suas moradias no espaço urbano. Este fato pode ser associado ao aspecto identitário do grupo com seus traços fronteiriços. Esse deslocamento compõe um dos objetivos do Encontro que é o de refletir o caráter educativo de um movimento que vem crescendo, de tal forma a mobilizar diferentes segmentos da sociedade brasileira. O grupo se manifesta em torno da defesa e proteção das sociedades tradicionais, enfatizando os direitos humanos, como observa o parente Daniel Munduruku em sua análise do movimento indígena brasileiro no período 1970-1990. Não é à toa que este índio Doutor põe em relevo, por meio de entrevistas, a visão de mundo dos fundadores do movimento.
Daniel mostra quão importante é intuir a relação entre as dificuldades e as conquistas desse movimento, considerando que os desafios podem levar o indivíduo, o grupo de indivíduos ou mesmo o país a pensar em si mesmos; pelo menos é o que sugere o conjunto de vozes que testemunha as relações, em geral conflitantes, entre as sociedades tradicionais e os não-índios, em que os primeiros sofreram e sofrem ainda a exclusão oriunda da intromissão de outros valores.
A voz indígena configura uma estética diferente. Diante desta diferençaa, as academias em geral resistem em reconhecer a existência da literatura indígena. Daniel discute este problema na primeira parte do trabalho, enfatizando a relação entre identidade, direitos humanos e autonomia, contextualizando o movimento indígena. Nessa perspectiva, ele comenta que o surgimento do movimento indígena deve-se também a um grupo de “parceiros apoiadores†formado por artistas, profissionais liberais, estudantes secundaristas e universitários e trabalhadores rurais, entre outros. Segundo Daniel (2010, p. 22), o grupo de apoiadores contribuiu para o sentimento ancestral do coletivo ao fortalecer os indígenas que viram ameaçado seu direito de ser diferentes. Os apoiadores “se impuseram contra os desmandos dos militares e exigiram respeito e dignidade para si e para os indígenas brasileirosâ€. Desse modo, confirma Daniel, “estava deflagrado um movimento político capaz de organizar as pautas de reivindicação que levam em consideração o direito à diferençaâ€.
Como se pode ver está na hora da ciência ocidental aceitar a ciência indígena; pelo menos é o que se depreende das entrevistas de Daniel Munduruku com as lideranças reconhecidas nacional e internacionalmente, a exemplo de Ailton Krenak, Ãlvaro Sampaio Fernandes, Carlos Estevão Taukane, Darlene Taukane, Eliane Potiguara, Manoel Moura Fernandes e Mariano Marcos Terena. Estes nomes, entre outros da história indígena no mundo, compõem a alma da palavra que se multiplica na segunda parte do trabalho, mais precisamente no capítulo intitulado: “Somos aqueles por quem esperamosâ€.
Com o espírito renovado para vivenciar a espera em torno de mais um momento histórico para nós indígenas, recebi o convite para compor a banca examinadora da tese “O caráter educativo do movimento indígena brasileiro (1970-1990)â€. Cabe dizer que este momento significou/significa/significará para mim um dos sinais de que Ñanderu (o Grande Espírito, em guarani) nos acolhe, sempre; um sinal fortalecido também pela sacralidade do tempo, pois estamos vivenciando a nova década (2005-2015) dos povos indígenas e o Ano Internacional (2010) para a Aproximação das Culturas, proclamados pela UNESCO. Sendo assim, para ilustrar as minhas impressões acerca do pensamento do Doutor Daniel Munduruku, tomo a liberdade de citar um e-mail enviado (em 09.05.2010) por Marcos Terena ao grupo de literatura indígena. A propósito desse momento histórico, quem tiver ouvidos ouça as boas palavras de Terena (Maestro de la Catedra Indigena):
"Como as correntes das águas de nossas terras, finalmente chegou o grande dia da coroação de um índio como "Doutor" formado, provado e comprovado na linguagem de uma academia como a USP.
Talvez esteja nascendo daí a tão sonhada Universidade Indígena onde os conhecimentos científicos europeus não sejam atalhos ou alternativas de misericórdia diante do peso e culpa do colonizador, mas a inserção digna da inteligência e dos saberes tradicionais, quem sabe, como resposta a modernidade em crise.
Bem aventurados aqueles que não viram e creram, como nossos ancestrais e quem sabe, apenas como lembrança, sonhava a Professora Aracy quando orientava Daniel, o Munduruku.
Eu, antes que me torne ancestral vou 2a. feira as 14h00 correndo lá na Faculdade de Educação não só para ver e crer, como para sentir a emoção desse momento histórico para nós, os índios
".


São Paulo, 9 de maio de 2010
Graça Graúna (UPE)

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ayruman
 

Com certeza uma grande conquista para os povos indígenas
O verdadeiro guerreiro é aquele que batalha em terras estranhas e quase sempre agressivas, mas nunca perde sua identidade. Suas raízes...

Um grande abraço. jbconrado.

ayruman · Cuiabá, MT 12/5/2010 09:44
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W@nder
 

Que nessa chamada nova década a paz e o reconhecimento esteja cada vez mais presente na digna história dos povos indígenas.
Parabéns pelo convite que recebeu e tenho certeza que a banca estará muito bem representada.
Grande abraço.

W@nder · Rio de Janeiro, RJ 12/5/2010 09:56
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Ademario Ribeiro
 

- Ê kybyra, Daniel!
- Ê marã irum, Munduruku!
- Ê abeté arandu, Daniel Munduruku!
- Ñanderu eté seja contigo e com Todos os Povos Indígenas!

Ejori, (seja bem-vindo e bem indo!).

Grato maninha, grão, Graúna por esta mensagem de fé e luz puríssima!!!

Fiquemos com o Grande Espírito!

AR

Ademario Ribeiro · Simões Filho, BA 12/5/2010 10:09
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MARIA  SILVA
 

E que conquista, hen?
Não tenho palavras para comentar tão importante fato!
Mas, que tenho a esperança de que no futuro, sujindo ou não a universidae indígina como desejamos; muito e muitos dos nossos indios possa se tornarem Doutores e assim terem mais espaço num País que é todo Deles.
Parabéns!

MARIA SILVA · Curitiba, PR 12/5/2010 17:09
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Andre Pessego
 

Há de ter, e não muito longe, um reconhecimento das duas margens demarcadas pela linha da identidade (e da força) dos colonizadores. Aquela linha há de ser pintada com as cores do natural da terra; com a vontade e interesse do negro, desterrado e dos nacionais misturados da multiplicidade das raças chegantes.
A cultura, o pensar, a forma de ser do vencedor de 500 anos não mais poderá continuar seu imperio pela força, pela arma, pela dor, pela morte.
E curiosamente, já há espaço para a cobra e outros animais na mentalidade humana (do estranho europeu), é necessário e urgente o reconhecimento do saber, gosto e forma de ser do humano daqui, oriundo da mistura.
Também é preciso que o indígena, como o negro, absorva
a cultura e o saber do dominador, mas não abandone as suas. Esta cultura, da tolerância, da educação, da convivência é que fará o mundo tolerante e que lhe dará a paz.
abraço
andré

Andre Pessego · São Paulo, SP 12/5/2010 18:14
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Juscelino Mendes
 

Apossando-se do que nos pertence, Daniel!
Nós somos aqueles que devemos sentar-nos
à cabeceira da mesa!
Parabéns!
Grande abraço.

Juscelino Mendes · Campinas, SP 12/5/2010 18:33
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Juscelino Mendes
 

Assim feito o seu homônimo famoso e bíblico,
assentou-se no Palácio e foi dignificado
pelo rei.

Juscelino Mendes · Campinas, SP 12/5/2010 18:35
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Cintia Thome
 

Parabens Graça pelo convite e acredito mais que ninguém para lutar no Direito de todos, a união!

ab

Cintia Thome · São Paulo, SP 13/5/2010 09:11
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graça grauna
 

Um abraço carinhoso pela atenção de todos e agradecimentos pela leitura. Paz em Ñanderu.

graça grauna · Recife, PE 13/5/2010 14:57
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camuccelli
 

Um abraço.

camuccelli · Rio de Janeiro, RJ 14/5/2010 15:51
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José Carlos Brandão
 

Grandes conquistas!
Parabéns. Às vezes fico a pensar que fazemos tão pouco...
Um grande abraço. Fique com Deus.

José Carlos Brandão · Bauru, SP 14/5/2010 23:59
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Zezito de Oliveira
 

Graça,

Parabéns ao Daniel Munduruku

Que venham mais mestres e doutores indigenas, e virá.
Ganha a academia, as aldeias e a sociedade em geral.

Abraço,

Zezito de Oliveira · Aracaju, SE 15/5/2010 13:53
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Cezar Ubaldo
 

A leitura da realidade de um povo é fundamental para a sua sobrevivência.É a constante luta para não perecer uma civilização,por completo.

Cezar Ubaldo · Feira de Santana, BA 17/5/2010 10:22
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Greta Marcon
 

Doutor Daniel Mundurucu! Grande e merecida conquista para o povo indígena. Que venham muitos outros!
Beijos

Greta Marcon · Ponte Nova, MG 18/5/2010 03:08
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graça grauna
 

Deixo aqui um renovado abraço a todos pelos comentarios ebBjos de agradecimento.

graça grauna · Recife, PE 18/5/2010 16:31
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Denis Sen@
 

É isso aí, tranformar!

Belo registro!!!

Denis Sen@ · Salvador, BA 18/5/2010 23:00
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Denis Sen@
 

TRANSFORMAR!!!

Denis Sen@ · Salvador, BA 18/5/2010 23:00
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graça grauna
 

Denis, grata pela doce presença. Bjos.

graça grauna · Recife, PE 19/5/2010 14:59
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Rosália Cristina
 

Gostaria de conhecer mais sobre a literatura indígena e discuti-la dentro da universidade e na minha própria sala de aula (Ensino Fundamental). disponibilizo meu email: rosaliacristina@hotmail.com. Grata.

Rosália Cristina · Recife, PE 16/7/2010 15:19
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ayruman
 

Se passarim não canta;
nem pode comer frutinhas do mato.
Tudo perde a poesia.
Passarim fica tristim
e não pode ser feliz...

Mas passarim não se entrega
mais dias menos dias,
sua liberdade chegará.
Por isto Canta passarim! Canta!


jbconrado*

Oi Graça. Aqui de novo fazendo uma visitinha para amenizar a Saudade.
Tenha um bom domingo e uma boa Semana. Luz e Paz.

ayruman · Cuiabá, MT 14/8/2010 20:23
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Cláudia Campello
 

Que tudo possa ser dentro do tao esperado sonho.
e sonhos se realizam poetisa!

bjsssssss e que bons ventos a traga de volta a minha terra e logo!

Cláudia Campello · Várzea Grande, MT 26/8/2010 23:25
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Ney Souza Lima
 

diz que quem tem chefe é índio,
eu tenho chefe e sou índio

Ney Souza Lima · São Jorge do Patrocínio, PR 22/10/2010 18:49
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Débora Maria Macedo
 

O Daniel é um dos autores que mais compartilho com meus alunos.

Débora Maria Macedo · São Paulo, SP 6/11/2010 16:44
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Diacui Pataxo
 

Graça, como vai você? Está bem de saúde? Eu andei adoentada, estou melhorando. Achei estranho que nunca mais recebi notícias suas mas agora vejo que a última vez que entraste foi maio/2010. Mande notícias.
"Xipat Oboré" pra vc também e para todos. Sempre me falas de Daniel, espero poder conhecê-lo. Estarei vendo os livros dele para lermos aqui em casa em família.
Beijos saudosos

Diacui Pataxo · Ilhéus, BA 12/12/2010 12:37
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gteixeira
 

Graça.
Que bom lr vc,Mais uma vitoria do povo indigena.
Prbns
Venha comigo faze uma visita ao rio de janeiro c/Obama.
Te espero por lá.
Gteixeira

gteixeira · Salinas da Margarida, BA 4/4/2011 19:00
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ayruman
 

Mas passarim não se entrega
mais dias menos dias,
sua liberdade chegará.
Por isto Canta passarim! Canta!


Saudades!

jbconrado*

ayruman · Cuiabá, MT 12/9/2011 16:16
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Claudia Almeida
 

Grão deixo minha saudade apertada por você com bjss carinhosos te amo ainda...

Claudia Almeida · Niterói, RJ 28/6/2012 14:56
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meus traços e linhas
 

Olá poeta Graça Graúna! Qto tempo não vinha aqui, estive ausente por motivos de doença. E que venham as transformações! é preciso resgatar os valores indígenas !

bjss!

meus traços e linhas · Cabedelo, PB 5/7/2012 11:14
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