Uma poética do Cerrado

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romulo andrade · Brasília, DF
29/4/2009 · 37 · 23
 

Quando cheguei a Brasília, em 1975, tive a sorte de ser recebido por um grupo de jovens amigos da minha turma do Rio. Eles tinham vindo antes e colaboravam na edição do JOU – o Jornal Ordem do Universo. Um periódico com um grupo de editores que antecipou questões ainda hoje de vanguarda: agroecologia, arte e espiritualidade, astrologia, meditação zen, ecologia e alquimia alimentar. Éramos uma tribo de poetas visionários, yogues e astrólogos, jovens buscadores de saída para os impasses da crise ocidental.

Minha perplexidade diante da amplíssima e vazia, bela e provinciana cidade, fez com que me mostrassem outro lado da capital: aqui também existiam os rios cristalinos, muitas cachoeiras e o esplendor do céu do Planalto Central – “seu planisfério libertadorâ€. Esta foi a senha pra que a gente se equilibrasse e, apesar de toda a barra pesada da época, conseguisse transcender e se firmar, a ponto de conseguir se estabelecer e deitar raízes no Cerrado. Eu tinha 20 anos, uma busca de realização interior e muitos sonhos de mudança no rebelde coração de estudante. Escapávamos sempre que possível de toda pressão psicológica e do estigma de loucos e transgressores, para fora do Plano Piloto. Fugíamos da hostilidade com que tratavam os jovens, de toda grosseria servil, das paranóias urbanas e perseguições daquele período sombrio, para as quebradas naturais do Cerrado, era como dizia uma canção do Ronaldo Bastos e Beto Guedes:

“Vem procurar... o lugar/ aonde a gente,/ pra se alimentar/, bastaria ter a calma de ribeirão.../ é tudo ser/ e é nada não...â€

Era a natureza dos rios e cachoeiras o nosso refúgio terapêutico, e assim pude conhecer os mais belos recantos do planalto: o então selvagem salto do Itiquira, na época de difícil acesso por uma longa estrada de terra. O rio das Palmas, o rio Maranhão, o Poço Azul na área de Cafuringa, entre os anos de 1976 e 78. Foram nesses lugares onde fiz as fotos e os desenhos a nankin que me levaram a perceber o Cerrado mais de perto, ir mais além da estrada e me surpreender com a estranha e delicada beleza dos seus campos. Os primeiros pepalantos que vi certa manhã, junto do Parque Nacional, num imensurável campo limpo de gramíneas. Observando na contraluz a sensualidade das curvas da Chapada da Contagem e lendo os poemas de Walt Whitman. Descendo em direção aos seus rios de pedras como pequenas esculturas, registrados num super 8, com amigos e a companheira Beth, levando minhas filhas Iana e Florinda, ainda bem pequenas. Os muitos cristais de quartzo transparente aflorando na terra vermelha. A “primavera do mês de maioâ€, com suas tantas flores e aqueles matizes dourados do sol poente, no início da estação seca. A graciosidade da música do vento no leque dos buritizais e os tantos pássaros que neles cantam e se aninham. São algumas recordações do encantamento e da força de vida que descobri, ao chegar neste rico e tão antigo bioma – Êita, Sertão - Cerrado Arcaico! – segundo alguns arqueólogos, o mais antigo dos biomas brasileiros. Beleza assim como só uma bela toada de viola em noite de lua pode o nosso sentimento traduzir, como esta recolhida pelo João Guimarães Rosa, na história do Cara de Bronze:

“Buriti minha palmeira, toda água vai olhar / cruzo assim tantas veredas, alegre de te encontrar. Buriti vendeu seus cocos, tem família a sustentar / ninho de arara vermelha, dois ovinhos por chocar. Buriti me deu conselho, mas adeus não quis me dar / amor viaja tão longe, junta lugar com lugarâ€.

Continuei desenhando na paisagem, fotografando e trocando idéias com a Ivany Neiva, o Eurico Rocha, o Lulo Gallina, o Jagmin. Eram os tempos matriciais do Teatro Galpão e do Centro de Criatividade coordenados pelo poeta Hugo Mund e o pintor Luis Ãquila, onde artistas como o Juvenal Pereira, o Galeno, a Liana e o Rui Faquini, também viveram sua experiência, nesse local onde se instalou o Espaço Cultural da 508 Sul. Lembro desta época, a visão poético-ambiental de um Cosme Coelho Rocha, com sua impressionante instalação na Funarte (acho que em 1979), as paredes pintadas com terra colorada, muitos desenhos entre raízes e troncos que ocupavam toda galeria. Das parcerias e montagens com o Hermuche e a primeira turma de artistas reunidos com a mostra Grande Circular. As serigrafias iniciais em que as cores e a amplidão do céu do planalto prevalece e domina a composição, editadas na oficina da galeria – projeto Cabeças.

“e a lua girou, girou... traçou no céu um compasso, a lua girou, girou...â€

As imagens desse trabalho, que muitos anos depois reuni em diálogo com os poemas “a Poética do Cerradoâ€, surgiram da necessidade que senti de expressar o impacto desse descobrimento de um Brasil muito além do litoral. Para quem vinha como eu, de juventude no Rio, com longas temporadas em São Paulo, significava o reencontro com esse Brasil profundo – vislumbrado na infância com a música de Villa-Lobos que minha mãe adorava e me fazia ouvir entre suas muitas histórias e canções. Os sertões, essa dimensão de espaço-tempo mítico, que mais tarde pude sentir e compreender conhecendo a obra de um Guimarães Rosa, de Victor Leonardi, dos poetas Manoel de Barros e Cora Coralina, das canções do Renato Teixeira e Almir Sáter, Elomar, do Dércio e Doroty Marques. Dos longos papos com o amigo historiador e poeta Paulo Bertran que me convenceu da importância e validade de todo este trabalho. Todos os mestres, músicos e poetas... os violeiros, doceiras e jardineiros... alguns iletrados que revelaram segredos deste lado da alma brasileira mais autêntica, como nestes versos do Dércio:

“Eles cantam como quem semeia a roça / e passeiam entre as aves cantadeiras / nas montanhas entre as flores e as rochas / recobertas de manhãs e cachoeiras...â€

ou do poeta Benedito Odilon Rocha, amigo do Bertran:

“Mas que arbusto lindo/ Aquele ao longe/ transbordando em flor!
E o roceiro entendido na matéria: Aquele é caraíba, seu dotô!â€

Um momento importante de todo este aprendizado de brasilidade foi a realização do Levante Centro-Oeste, em 1986, com o fotógrafo Luís Humberto e o poeta TT Catalão à frente da Secretaria de Cultura. Evento reunindo músicos, artistas visuais, poetas, escritores e historiadores num grande seminário, com espetáculos e exposições em todo o Teatro Nacional. Nesta ocasião pudemos nos aproximar mais, nos conhecer melhor e aprender sobre alguns desses autores e intérpretes de toda a região do Cerrado, neste que foi um encontro determinante para a afirmação de uma cultura regional e universal.
O escritor Carmo Bernardes, um precursor do pensamento ecológico, com aquela memória extraordinária de um verdadeiro tio Yauaretê, esteve aqui na ocasião; não o conheci pessoalmente, mas pude ler um artigo a respeito de suas idéias escrito pelo Washington Novaes. Tempos depois encontrei alguns livros, garimpando em livrarias e sebos de Goiânia e Anápolis, e comecei a apreciar seu estilo:

“Dessa vez foi quando comecei a me apegar aos buritizais, às águas correntes, querer bem os lugares, meu coração bater descompassado quando a perdiz pia no campo. Só campinas verdejantes, o terreno empolado em morrotes de lindos contornos, mundo aberto, descampado, de a vista doer nas distâncias, rios de água cristalina brotando à toa no meio dos campos. A luz elétrica que Planaltina já tinha nessa época, pisca-piscando de noite, nós de pouso num alto, no pé de uma bica d’água, de lá avistando a cidade, me encantou tanto aquilo, que hoje sei porque é que as mariposas frecham no lume†(trecho de suas Relembranças).

Na seqüência do Levante Centro-Oeste, em 1988, o poeta Bené Fonteles, com apoio de um grupo de ambientalistas, organizou em Cuiabá, o I Encontro dos Artistas do Cerrado, reafirmando os valores do imaginário desta região core e agregando nossa turma de Brasília a artistas de Mato Grosso e Goiás, como Adir Sodré, Gervane de Paula, Mário Friedlander, Sérgio Guimarães, Miriam Pires, Fernando Costa Filho, o Humberto e toda a família Espíndola, somados à qualidade de mestres do ofício, como Athos Bulcão, Ralph Gehre, Siron Franco e o Poteiro. Tivemos em Cuiabá uma convivência muito fértil e entre limpeza de rios, exposição em praça pública e na Casa de Cultura, grande repercussão na mídia local e nacional. Mais adiante, a força e a articulação do Nicolas Behr, do Ary Pára-Raios e do Leonel Pereira. Elaboramos em 1990 o Manifesto dos Povos do Cerrado, que norteou a nossa atuação, com que se configurou essa nossa utópica, mas atuante confraria. Assim viemos juntos construindo e afirmando uma compreensão mais objetiva da importância dos cerrados para o Brasil como um todo, batizado por nós de O Berço das Ãguas – imagem que se difundiu e hoje está associada a essa região – nascente de tantos importantes rios brasileiros.

Seguiram-se, com a criação do Movimento dos Artistas pela Natureza, muitas ações de cidadania em defesa do íntegro ambiente, dos direitos indígenas, da demarcação de parques, com o apoio de centenas de artistas e instituições em todo o Brasil, dentro dessa visão projetada no futuro – como a do professor Ezequias Heringer, idealizador do Parque Nacional de Brasília, da Estação Ecológica de Ãguas Emendadas e das primeiras áreas de proteção ambiental do DF. Foi determinante no início dos anos 90, o apoio que tivemos da equipe da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, com Newton de Castro e Washington Novaes, para projetarmos essas nossas idéias. Pudemos nos aprofundar em estudos e com isso fizemos um trabalho de conscientização que marcou a comunidade jovem de todo o Distrito Federal – um programa de educação ambiental inovador, o Cerrado Sempre Vivo, movimento de valorização da cultura e do ambiente natural, e que dentro e fora do âmbito institucional e ao longo das mudanças de governo, teve continuidade. Também por meio de outros grupos independentes diversos parques se criaram, pela atitude consciente e cidadã de muitas pessoas. Grupos musicais se formaram, mostras de fotografia e artes plásticas foram organizadas. Dissertações de mestrado e teses de doutorado foram escritas. Inúmeros filmes, vídeos, publicações foram realizados, o que revela a evidente permanência dessa mensagem dos Cerrados matriciais no imaginário da população.

Pra lá da onda sertanejo-country e daquela deslumbrada classe dos emergentes sem raiz, acho que existe hoje no DF um outro movimento, mais afirmativo dos valores mais autênticos da nossa diversidade cultural, do patrimônio de um Entorno que transborda, de uma comunidade que já se reconhece em sua complexidade. Acredito que resultado da força transformadora e penetrante da arte, em todas as suas linguagens. Onde só as frias estatísticas ou o discurso técnico-acadêmico não conseguem comunicar, o poeta sim, chega ao imaginário de sua comunidade e de seu povo, porque a “alegria é a prova dos nove†e a gente aprende mais e melhor de si mesmo, brincando, refletindo, criando e se divertindo.

Ofereço esta contribuição, poemas garimpados ao longo de tantos anos, desenhos e pinturas que resumem um aprendizado de vida, como um tributo à memória dessa geração, “dos primeiros amantes do Cerradoâ€, como nos chamava o historiador Paulo Bertran. Que inspire àqueles que darão continuidade à nossa luta e ao nosso sonho, às novas tribos cerratenses, que certamente precisarão resgatar o tanto que se perdeu com a ignorância e a voracidade do velho mundo utilitarista, “das velhas formas do viver†que precisamos transformar.

Romulo

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Hermano Vianna
 

muito bacana esse texto-manifesto-memorial, cheio de informações importantes sobre a já longa e movimentadíssima e interessantíssima história cultural de Brasília (ano que vem: 50 anos) - sinto falta apenas de imagens, é claro, e de links para outros sites/textos onde seria possível conseguir ainda mais informações sobre cada pessoa e lugar citados - fica aqui então a sugestão para que esse texto seja início de uma série (muito boa para o Guia do DF) com dicas mais específicas sobre lugares/eventos do Entorno... e viva o cerrado!

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 28/4/2009 13:30
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romulo andrade
 

Certamente... tentei anexar uma imagem e não consegui, houve algum problema de arquivo. Ainda estou me habituando às ferramentas dessa rede tão bacana. Tenho diversos vídeos pra compartilhar e muitos poemas e imagens, alguns estão no meu site: www.pintoandrade.multiply.com
Os links são muitos vou complementar, muito grato. Abraço.

romulo andrade · Brasília, DF 29/4/2009 11:35
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Luiz Angra
 

Rumos do Rômulo.
Pois é: Brasília é este pássaro que voa pro Sol, carregando em seu dorso e em sua história tantos sabores, sotaques, feitiços e encantos.
Bem legal mano Rômulo seu, como disse o Hermano, texto-manifesto-memorial.
Felizes somos nós que podemos estar aqui vivendo nesta cidade maravilhosa (se não fosse pelo nosso berço já assim nomeado, mereceria o título em maiúsculas...) e mágica.
Um grande abraço e parabéns por seu texto e sua história.
Aparece lá, 'cê anda sumido.

Luiz Angra · Brasília, DF 29/4/2009 22:13
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raphaelreys
 

De prima qualidade o seu postado meu caro overmano!

raphaelreys · Montes Claros, MG 30/4/2009 09:16
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O NOVO POETA.(W.Marques).
 

um texto impecável, parabéns.votado.

O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 30/4/2009 10:04
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
graça grauna
 

Romulo Andrade, poetamigo do cerrado: você não imagina o arrepio que causou em minha alma o seu texto. É poético, poética, poesia, é grande a beleza que vem da sua memória em torno de um lugar que foi se fazendo a custa dos desassossegos de muitos, dos deslocamentos de tantos outros, das desesperanças, dos atropelos, das utopias...
Tenho familia aí, no cerrado; este cerrado que eu A-DO-RO mesmo e sempre que tenho oportunidade chego nessa terra e piso com gosto e fé esse barro vermelho que já entranhou no meu coração. E não sou do cerrado não; sou do agreste beirando o sertão do Rio do Norte. E o cerrado tem muita coisa que lembra a minha terra. Por esse motivo, passei aqui pra registrar minha admiração por esse resgate do cerrado por meio da poética. Parabens. Paz em Ñanderu (Nosso Pai, em guarani), Graça Graúna

graça grauna · Recife, PE 30/4/2009 10:52
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romulo andrade
 

Putz... acabo de fazer um texto enorme repondendo a vocês e o equipamento deletou. Muito grato pelos comentários, depois com calma eu complemento, agora vão alguns links:
www.umaoutrabrasília.blogspot.com
www.casadasmusas.com.br
www.brasiliambiental.multiply.com
www.brasilia.multiply.com
www.redecerrado.com.br

romulo andrade · Brasília, DF 30/4/2009 15:02
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romulo andrade
 

agora sem acento www.umaoutrabrasilia.blogspot.com

romulo andrade · Brasília, DF 30/4/2009 15:42
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romulo andrade
 

www.redecerrado.org.br

romulo andrade · Brasília, DF 30/4/2009 15:44
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romulo andrade
 

www.casadasmusas.org.br
seria bom se a ferramenta permitisse corrigir

romulo andrade · Brasília, DF 30/4/2009 15:49
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Gilbson Alencar
 

Rômulo, parabens pelo relato poético sobre a nossa amada Brasília, cidade que me deu meus três filhos...um encanto de local: mística, poderosa, livre e instigante! A Ivany Neiva, citada em seu texto, foi minha professora...Brasília é isso: diversidade, encontro de gerações!
Um grande abraço.

Gilbson Alencar · Brasília, DF 30/4/2009 18:23
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Ize
 

Olá Romulo, que beleza seu "manifesto-memorial"! Me fez gostar ainda mais de Brasília que conheci há poucos anos atrás, embora minha irmã já more aí há algum tempo: como boa carioca gosto das esquinas que sempre me diziam não existir por aí. Agora vou sempre que posso e me delicio "com o esplendor do céu do Planalto Central" e, entre outras coisas, com as corujinhas que abundam não só nas áreas verdes, mas empoleiradas nas "tesourinhas" que passaram, por isso, a ter um outro sentido pra mim. Descobri, com a intimidade que construí com a cidade, que as esquinas são lugares de afetos que podem ser fabricados simbolicamente e de mil maneiras. E como há esquinas na Brasília que hoje ocupa um lugar no meu coração.
Parabéns e um abraço
Ize

Ize · Rio de Janeiro, RJ 1/5/2009 01:10
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kiko takeuti
 

É estava andando em um parque no Japão onde moro á um ano, ando todos os dias por lá é sempre fico impresionado com a beleza da natureza oriental, mas hoje cheguei em casa coloquei uma música e abrir o overmundo, rotina! lí seu texto refleti, e viajei nos textos, e pensei calado... QUE SAUDADES DO BRASIL! e olha que não conheço o cerrado., sou do interior de São paulo.! É uma viagem que vou fazer quando eu chegar em solos brasileiros. em breve! abraços pelo texto

kiko takeuti · Japão , WW 1/5/2009 08:36
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Jota Diver
 

Belas lembranças, Rômulo!
Período difícil na Era da DItadura, mas que nos legou a perspectiva da contemplação e a saga das produções culturais mais expressivas de nossa História... grandes artistas, referência nacional!

Abraços,
João Carlos Figueiredo

Jota Diver · Ribeirão Preto, SP 1/5/2009 12:45
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Sinvaline
 

Rômulo encantada com sua trajetoria no cerrado. Moro na região de Serra da Mesa e a cada dia sou mais deslumbrada com as belezas desse cerrado que o capitalismo está levando embora.
Venha por aqui, resgatamos um pouco, veja em
www.overmundo.com.br/overblog/memorial-serra-da-mesa
bjs
sinva

Sinvaline · Uruaçu, GO 1/5/2009 15:23
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romulo andrade
 

Caramba... de novo. Fiz o login e desenvolvi um texto quando fui enviá-lo o sistema deletou.
Mas é isso, no sentido de mostrar que existem muitas Brasílias.
E que a perspectiva solidária e transformadora que inspirou a construção não desapareceu de todo, foi abafada... Que a gente encontre coragem e resistência pra continuar a revolução cultural iniciada nos anos 60, lembrando dos luminares que pensaram o Brasil, sua grande diversidade de biomas e culturas de sua gente: Paulo Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Dom Élder Câmara, Agostinho da Silva, Juscelino Kubitschek, Roberto Burle-Marx. Vivo fora do centro, num sítio perto do Paranoá, uma vila de grande contingente de nordestinos. "O Piauí é aqui", costumo dizer. Trabalhando em escolas públicas, aprendi a superar alguns preconceitos, como o de considerar e valorizar as pessoas com menos escolaridade.
"Nem tudo que é bom vem da metrópole", como perceberam os modernistas Villa-Lobos, Oswald e Mário. Gente que sabe lidar com a terra e a natureza, a extraordinária habilidade manual e a musicalidade dessas comunidades migrantes é extraordinária, temos muito o que aprender com eles. Abraços.

romulo andrade · Brasília, DF 1/5/2009 15:30
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romulo andrade
 

Acrescento um belo texto dessa historiadora de Mato-grosso:
O Centro-oeste brasileiro é uma vasta área de quase dois milhões de km, e significa uma área cardiográfica onde se concentram os corações do Brasil, em Brasília e da América do Sul, em Cuiabá. Somos um mesmo Brasil desvendado pela conquista do índio, descoberto pelo ouro e povoado pelo boi. Somos o resultado feliz de uma história recente, escrita com o entusiasmo de homens de fibra como Rondon, Pedro Ludovico e Juscelino Kubitschek. Somos uma região de ontem e de hoje e que abriga uma cidade, Brasília, que é uma obra de arte a dar nosso testemunho para o futuro, trabalhando com o que temos de mais e melhor: o espaço aberto de amplos horizontes do planalto. Daqui por ser o centro, por estar em ponto focal, podemos pensar no Brasil e na América como um todo. Talvez por isso tenhamos alguma consciência da síntese. Em nosso território correm águas das bacias amazônica e platina, situadas ao norte e ao sul do continente. Temos contato com o sul, o leste e o norte do Brasil e, a oeste, duas fronteiras latino-americanas dividem conosco séculos de história. Estamos assistindo, com olhos espantados, ao incrível desmatamento do nosso cerrado para receber a soja, o arroz, o milho, o feijão e as patas implacáveis do boi, na tarefa de ser o celeiro do Brasil. Colocamos para fora, sem medo, o que temos dentro, dando uma resposta brasileira para o Brasil.

Aline Figueiredo

romulo andrade · Brasília, DF 1/5/2009 15:57
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ayruman
 

De Lampejo apreciando e votando. Luz e Paz. Sempre. jbconrado.

ayruman · Cuiabá, MT 2/5/2009 01:28
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romulo andrade
 

Aê Conrado, bem vindo.
Dê notícias ao amigo Mário Friedlander, brilhante fotógrafo amigo da natureza cerratense. Grande abraço.

romulo andrade · Brasília, DF 2/5/2009 17:18
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Hermano Vianna
 

uma foto do Mário Friedlander (já tive o prazer de conhecê-lo, no seu incrível viveiro de plantas das matas ciliares do cerrado, em plena Chapada - não sei se ainda existe esse viveiro...) - e um texto bacana sobre fotografia no Mato Grosso - tudo aqui mesmo no Overmundo

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 2/5/2009 17:32
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romulo andrade
 

Valeu overmano, o Brasil é um país lindíssimo, com uma gente corajosa e criativa, especialista em administrar tantas crises. Continua sendo muito maltratado pela visão curta dos seus dirigentes no jogo das elites econômicas mundiais. Temos uma turma de bravos heróis da resistência que não desiste da luta, o Mário é um desses seres imprescindíveis. Seu trabalho é de longa data e maravilhoso, precisa ser mais conhecido.

romulo andrade · Brasília, DF 2/5/2009 17:50
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romulo andrade
 

Valeu Gilbson, sua professora é uma amiga muito querida, uma das primeiras que fiz quando cheguei em Brasília e que permaneceu... Naquela época ela me apresentou o movimento armorial, Suassuna e toda riqueza da cultura híbrida do nordeste brasileiro. Muito bom saber de você e seus expressivos textos. Abraço.

romulo andrade · Brasília, DF 3/5/2009 16:15
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romulo andrade
 

Legal Ize... as esquinas podem estar nos cafés, nos gramados, espaços culturais atualmente precisando de mais cuidados, grato pelas palavras. Abraço.

romulo andrade · Brasília, DF 3/5/2009 18:18
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