Uma tal Clarice

imagem de arquivo. Todos os Direitos Reservados.
Olhos, olhar e linguagem. Em tudo Clarice destoava, mesmo que intimamente...
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Daniel Duende · Brasília, DF
10/2/2007 · 96 · 21
 

Tem gente que usa a língua de outra forma. Uma forma mais profunda, ritmada, ao mesmo tempo orquestrada e caótica. Uma forma superior, enfim. E dá um tesão absurdo... de ler. Clarice Lispector é uma destas pessoas. Com seu método ou não-método de narrar, de expor a veia aberta de suas observações tão cotidianas e ao mesmo tempo tão excepcionais, Clarice nos dá uma aula de campo de como contar histórias, enfiando o dedo, ou a língua, lá no fundo de cada cavidade do existir.

Andei lendo estes dias um de seus livros. Onde estivestes de noite, uma coletânea de contos desiguais, um dos quais dá nome à obra, todos com sua marca -- a absurda profundidade, intimidade. Por vezes me exaspero, como menino, frente às peripécias que esta mulher de olhos e olhar tão fortes faz com a língua e com o narrar. Me assombro, tento aprender, desisto. Só Clarice pode escrever daquela forma impunemente. Só Clarice, ela mesma, pode ir tão fundo. A mim resta absorver o que meus poucos anos e pouca atenção permitirem, e contar o que tiver para contar, do jeito que eu souber. Só ela sabe fazê-lo do jeito dela.

Ninguém é como Clarice quando escreve. Podem escrever de outras formas, mas a dela é profunda e tragicamente só dela. Clarice é uma sacerdotiza da angústia e da redenção, profunda em sua humanidade e em sua honestidade silente. Há quem a compare com Kafka. Pobre Kafka. Pobre Clarice. Pobre tradutor, que teve a infeliz idéia de que se comparam assim as prosas e as pessoas. Só quem lê Clarice sabe o que é. Só Clarice sabia quem era ela mesma. A nós, resta ler Clarice, e aprender... ou não.

Esta é uma apresentação apaixonada de Clarice, é claro. Mas não se pode negar assim suas paixões. Não quando se fala de alguém que sempre expôs tanto, e foi tão fundo. Não quando se fala dela -- desta tal Clarice.


Para ler mais sobre Clarice Lispector.

- Biografia da autora no site releituras.com

- Algumas obras de Clarice no mesmo site.

- Clarice Lispector no caracol.imaginario.com

- Clarice Lispector na pt.wikipedia.


(adaptado de um post publicado originalmente em meu ainda obscuro blog de poesias, fragmentos e anotações)

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Daniel Duende
 

Como eu disse, este foi um post de blog que foi "vitaminado" para entrar no Overblog. Está ainda em aberto, recebendo umas modificações. Aceito e aprecio criticas, sugestões, e tudo mais. :)

Abraços apertados do Verde.

Daniel Duende · Brasília, DF 7/2/2007 15:04
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Claudiocareca
 

parabéns meu amigo verde. a Clarice é tudo isso e um pouco mais. qto a sugestões tem um quande onde acho deveria ser quando, no penúltimo parágrafo. Abraços, vou dar uma olhada nos links.

Claudiocareca · Cuiabá, MT 7/2/2007 17:31
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Daniel Duende
 

Opa grande Claudio, valeu mesmo pelo toque (já corrigi o "quande" apontado) e pelos elogios! Clarice apaixona e assusta mesmo!

Estou debruçado na releitura do demoníaco e apoteótico conto Onde estivestes de noite. É um dos que mais me causa perplexidade e espanto.

Abraços do Verde.

Daniel Duende · Brasília, DF 7/2/2007 17:47
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Higor Assis
 

Caro Daniel.

Boa sacada a sua sobre lembrar de Clarice, claro que o fez, talvez por lembra também do aniversário da autora caso ainda estivesse viva.

Saiu mês passado na revista EntreLivros um Dossiê Clarisse Lispector e que com certeza se acaso não leu, faça isso.

Com certeza terá muita coisa bacana que vai entender mais sobre ela que é uma das mais impostantes escritoras que este país já teve.

Abraços.

Higor Assis · São Paulo, SP 9/2/2007 10:31
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Higor Assis
 

Segue o link da matéria --->

Higor Assis · São Paulo, SP 9/2/2007 10:33
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Higor Assis
 

Higor Assis · São Paulo, SP 9/2/2007 10:33
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Higor Assis
 

http://www2.uol.com.br/entrelivros/

Vou por assim mesmo rs...

Higor Assis · São Paulo, SP 9/2/2007 10:34
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Daniel Duende
 

Hey... valeu pelos elogios e pela dica preciosa, Higor.
Vou olhar agora. Talvez até adicione sua dica na matéria. :D

Daniel Duende · Brasília, DF 9/2/2007 13:21
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Daniel Duende
 

Infelizmente, amigo Higor, o conteúdo não está acessível. È possível se comprar a revista, mas nem uma linha de seu conteúdo é acessível gratuitamente pela rede.

Vale, então, a dica. Mas não vou colocar o link, pois não compactuo com a "murrinhagem" de informação praticada pela revista.

Abraços apertados do Verde.

Daniel Duende · Brasília, DF 9/2/2007 13:33
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Higor Assis
 

Eu comprei a resvista, vale a pena caro amigo. No site deve ter numeros anteriores que você pode encomendar, faça isso.

Higor Assis · São Paulo, SP 9/2/2007 14:58
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Daniel Duende
 

Sim... vi que no site é possível encomendar números anteriores. Vou refletir sobre esta compra ao longo de minha caminhada vespertina... :D

Obrigado, mais uma vez, pela dica.

Abraços do Verde.

Daniel Duende · Brasília, DF 9/2/2007 15:01
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Camafunga
 

Bela homenagem.

Camafunga · Pelotas, RS 9/2/2007 20:59
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Daniel Duende
 

Muito obrigado, meu caríssimo Camafunga.

Abraços do Verde.

Daniel Duende · Brasília, DF 10/2/2007 14:55
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jjLeandro
 

Valeu, Duende! Iluminando a nossa literatura e o Overmundo com sua luz verde. Aliás, ela quer dizer que não devemos parar, mas seguir em frente, na vida, na literatura e no Overmundo.
abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 10/2/2007 23:08
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Daniel Duende
 

Muito obrigado pelos elogios, meu caro JJ! Valeu mesmo!
Sigamos sim, sempre em frente. Há muito ainda o que dizer, e tão pouco tempo em meio a tantas palavras...

Abraços apertados do Verde.

Daniel Duende · Brasília, DF 11/2/2007 01:20
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Sebastião Firmiano
 

Não há como escrever sobre Clarisse sem paixão.
Clarisse é de tal forma visceral, porém leve.
Acaricia as entranhas, mas, nos induz a guerra psicológica.

Sebastião Firmiano · São Paulo, SP 11/2/2007 11:58
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Sebastião Firmiano
 

Te passei uma poesia por E-Mail.
Recebeu?
Se não der certo, depois te passo outra.
Só, me confirme por favor.

Sebastião Firmiano · São Paulo, SP 11/2/2007 12:03
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Marcus Assunção
 

um..no caso, seria "sacerdotisa" e não "sacerdotiza".

Marcus Assunção · São João del Rei, MG 11/2/2007 12:46
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Daniel Duende
 

Grande Tião... recebi sim o seu email. Estava muito cansado ontem quando o recebi, e o guardei para apreciação posterior. Tão logo tiver a cabeça mais arejada, irei mergulhar sobre teu texto, meu amigo :D

Agradeço também, de coração, pela empatia com meu sentimento pela Clarice. :)

E eu te agradeço a correção um tanto intempestiva, meu caro Marcus. Pena que não me tenham apontado este deslize ainda na fila de edição...

Abraços do Verde a todos.

Daniel Duende · Brasília, DF 11/2/2007 13:05
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Ana Cullen
 

Ah! Clarice é como um dry martíne, amargo e doce ao mesmo tempo, delicioso mas não se pode tomar muito de uma vez só!
Adoro Clarice, mas tenho ímpetos de sair correndo gritando toda vez que leio algo seu, por isso, vou lendo em doses homeopáticas...
Por acaso tem um conto nesse livro chamado "Apenas um saxofonista"? Eu adoro esse conto, "sou uma puta erudita!"
Abraços!

Ana Cullen · Brasília, DF 15/2/2007 13:32
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Dora Nascimento
 

Um dia, eu cheguei num sarau e li um conto que eu tinha escrito para um amigo.
Um cara olhou para mim todo sentimento e disse:
"Parece a Clarice Lispector"
Eu quase morri de emoção. Quase não acreditei, de tanta emoção...
É a minha escritora predileta.
Quem me apresentou a ela foi o meu irmão, quando eu tinhas assim, uns, dezesseis anos. "Ãgua Viva" foi o rpimeiro livro dela que eu li. De lá para cá, sempre me abasteço nela.
E sempre que venho ao Recife, passo em frente ao Sobrado que ela morou na Praça Maciel Pinheiro. "Felicidade Clandestina" - um conto lindo sobre crianças e livros, remete à infância dela aqui, na minha querida cidade.
Vou levar o texto para casa, para mergulhar, e quando tornar, escrever.

Obrigada, por isso também.

Abraço Lispectoriano.

Dora Nascimento · Olinda, PE 6/8/2007 14:26
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