A produção audiovisual no Cariri cearense continua em alta. Após várias incursões cinematográficas pós – cursos de cinema surgem simultaneamente para a apreciação dos cinéfilos de plantão um filme genuinamente autoral, o curta Dramas: Cancioneiras Caririenses, com roteiro de Ana Rosa Borges, fotografia de Allan Bastos, produção de Paulo FuÃsca, Edição de Giovane Brasil e direção de Franklin Lacerda.
Focados em universos diferentes, mas com tons caririenses, o filme chega ao Cariri revelando a que veio. As produções tomam proporções maiores quando enxergamos no curta cenários históricos da região do Cariri. O filme retrata vertentes da região nunca dantes focadas, sob olhares contemporâneos de quem se cansou dos melodramas “água – com – açúcar†dos documentários atuais.
Contemporâneo das décadas de 40 e 50, os Dramas surgiram da necessidade de entretenimento das mulheres desta época. Em sua história, os folguedos remontam o contexto de senhoras nos sÃtios Campo Alegre e Muriti na cidade do Crato, onde sua principal arte era a construção de espetáculos voltados à s comunidades, recitando e cantando poesias e músicas autorais para os moradores do lugar.
Partindo de uma ótica lúdico – mambembe, o filme retrata o cotidiano de mulheres comuns em busca de um espaço para mostrar sua arte. Narrado pelas protagonistas deste contexto cultural do Cariri, o documentário nos transporta a uma viagem musical dos folguedos populares que reinavam por aqui. Rituais e crenças perpassam este filme que traduz a verdadeira devoção e o entretenimento de comunidades que viam o mundo sob a ótica das interpretações teatrais.
Sem rodeios! Basta dizer que a lúdica maneira de ver os acontecimentos e festejar seus momentos de feriados, as mulheres encontravam no seu convÃvio as maneiras de contar histórias inusitadas.
A construção deste trabalho surgiu de uma pesquisa desenvolvida pela historiadora e especialista em literatura infanto-juvenil, Ana Rosa Borges, como um resgate da linguagem oral para a elaboração de um livro e um CD, que se transformou posteriormente num vÃdeo documentário. O namoro com a linguagem audiovisual nasceu durante uma mesa redonda no colóquio IMAGO do Grupo de Pesquisa em Cultura Visual, Espaço, Memória e Ensino da Universidade Regional do Cariri - URCA. “Mulheres cantando na floresta†foi o que despertou a paixão do cosmopolita diretor que viu nesta perspectiva a idéia perfeita para compor um trabalho misturando a linguagem oral e visual. “A linguagem do audiovisual traz todos os elementos que o livro traz, mas o vÃdeo agrega um pouco mais, já que podemos ver a ação†diz Franklin.
Muitos dos folguedos representavam o pensamento das mulheres sobre diversos assuntos que partiam desde os temas, religião até os entretenimentos locais como: amores, poesias, bichos, meio ambiente, entre outros. Dramas revela de forma musical e artÃstica retratos de uma época marcada pelas “empanadasâ€, transformando pequenas calçadas e caminhões em palcos. A genuÃna e autentica música das matas foi inteiramente focada neste documentário. “Os dramas remontam o processo de Colonização brasileira e carregam em sua lÃrica popular, elementos mouros, portugueses, africanos e indÃgenas privilegiando categorias do imaginário que poderão sim, retornar ao mundo imagético contemporâneo†afirma Ana Rosa.
A época escolhida para os ensaios era outubro, perÃodo onde se construÃam os cenários e os figurinos que percorriam quase todo o restante do ano até as apresentações em dezembro e janeiro para os festejos de natal, ano novo e dia de reis. Ao final, toda essa preparação, era queimada como uma espécie de exorcização do passado ante a possibilidade de reconstrução do presente na perspectiva de bons momentos para o ano que se iniciava.
Até hoje podemos ver como os folguedos faziam parte do imaginário popular, algumas músicas puderam ser lembradas e cantadas com toda a força que se permite a uma época nostálgica da região protagonizada pelas “mulheres da florestaâ€. “Quando começamos a passar o filme, minha mãe se lembrou de várias músicas. O meu pai desceu correndo as escadas porque nos contou que aquela música lembrava á mãe dele†nos conta Allan Bastos, diretor de fotografia do filme.
Há quem diga que os Dramas podem e devem ser relembrados, reconstruindo-se novos folguedos para circularem na região. Este misto de música e poesia pode caracterizar a ascensão de uma época marcada pela falta dos veÃculos midiáticos, mas que permitiram a ludicidade e criatividade de mulheres guerreiras. Talvez esse trabalho não possa ser desenvolvido tal qual o original neste século XXI, mas pode render frutos, bons frutos, diga-se de passagem.
Interessante o relato, Borba. Será que rola de vermos aqui no Overmundo pelo menos um trailler do filme no banco de cultura? Daria uma ótima prévia para o público...
um abraço!
VotadÃssimo....
Tive a opotunidade de assistir a esse video e acredito que este documento seja de grande importância, pois foi feito um resgate de um movimento existente aqui na região do Cariri cearence nas década de 40 e 50 e que emociona tanto as pessoas que fizeram parte dos Dramas como também para aqueles que estão vendo e conhecendo pela primeira vez.
Valeu a matéria!
Hosana
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