A trilha sonora do bem viver: música como eixo transformador no Divino Festival
Com nomes como Rita Benneditto, em seu o cultuado show “Tecnomacumbaâ€, uma fusão visceral de pontos de terreiro com música eletrônica, e o rap indÃgena dos Brô MC’s no show “Retomadaâ€, que une guarani e português em letras que abordam a justiça social e celebram a resistência dos povos originários
O Divino Festival – Arte e Bem Viver tece sua magia em BrasÃlia não apenas através de vivências e saberes, mas com uma pulsante coluna vertebral musical. Ao longo de dois dias, 28 e 29 de junho, no Gramado do Eixo Cultural Ibero-Americano, a programação sonora oferece uma jornada diversa e potente, onde se destacam experiências que transcendem o palco e ecoam como manifestações culturais profundas.
A tarde de sábado (28/6) abre caminhos sensoriais com a percussão ancestral do Grupo Reiwa Daiko, cujos tambores japoneses ecoam tradições milenares à s 17h, criando uma atmosfera coletiva de vibração e presença. Segue-se então a voz serena e transformadora de Raiane Castro e Banda (17h30), apresentando "Eleva". Seu repertório, uma fusão de composições autorais e releituras de artistas como Marisa Monte e Maria Gadú, convida a uma jornada Ãntima de autoconhecimento, abordando paz, amor e conexão espiritual com rara delicadeza.
Às 19h, os ritmos ganham nova dimensão com a Banda Patacorà e seu show "Novos Caminhos". Com instrumentais ricos e arranjos que honram a ancestralidade africana, o grupo – cujo nome em Yorubá homenageia Ogum como "LÃder Supremo que conduz à vitória" – celebra a cultura de terreiro, transformando o palco em um espaço sagrado de resistência e identidade.
O ápice do primeiro dia chega com força incontestável às 21h30: Rita Benneditto toma o jardim com seu aclamado manifesto "Tecnomacumba". Há 22 anos, este projeto revolucionário funde pontos de terreiro, ritmos afro-brasileiros e eletrônica em um ato visceral de resistência cultural. Acompanhada pela banda Cavaleiros de Aruanda, Rita desfia clássicos como "7Marias" (com 5 milhões de visualizações) e "É D'Oxum", criando uma celebração hipnótica que é fé, arte e rebeldia. Mais que um show, é um tributo vibrante à ancestralidade negra que desafia preconceitos e reafirma a potência das religiões de matriz africana no Brasil.
No domingo (29/6), a musicalidade segue fluindo em novas direções. Às 18h, a versatilidade criativa de Renato Matos se materializa no show "Zirigdub", onde seu instrumento autoral – o Ziriguidum do Além, uma engenhosa escala de berimbaus – gera harmonias percussivas e improvisos que desafiam convenções. Renato, artista radical e inventor, oferece uma experiência sonora tão inventiva quanto orgânica.
Às 19h30, Valéria Fonseca eleva o clima com "Alma Peregrina", unindo espiritualidade e MPB em canções que acalmam e inspiram. Mas é no encerramento, das 21h à s 22h, que o festival ganha seu grito de consciência e coragem com o rap consciente dos Brô MC's. Pioneiros do rap indÃgena no Brasil, os jovens Guarani Kaiowá das aldeias Jaguapiru e Bororó (MS) sobem ao palco com "Retomada". Cantando em guarani e português, suas rimas afiadas denunciam a luta por demarcação de terras, celebram a resistência cultural de seu povo e exigem justiça social. Sua batida pulsante carrega a força da Nhe’é (fala sagrada), transformando o rap em flecha de impacto: um ato artivista que informa, diverte e mobiliza.
Assim, do technomágico de Rita Benneditto ao rap insurgente dos Brô MC's, passando pela reverência afro da Patacorà e pelas jornadas interiores de Raiane Castro e Valéria Fonseca, o evento consolida a música como linguagem primordial do "bem viver".
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