“Ninguém come macroeconomia.â€
(John Maynard Keynes)
Tecer considerações sobre o cenário econômico brasileiro é um exercÃcio curioso, praticado com prazer pela maioria daqueles que atuam no âmbito da Economia. Curioso e inútil.
Há algumas décadas era efetivamente plausÃvel fazer projeções. Você traçava um cenário otimista, um neutro e um pessimista baseado nos ambientes externo e interno.
Até o fim dos anos 80, o ambiente externo era influenciado basicamente pela iminência de uma guerra mundial patrocinada pelo conflito EUA-URSS. Havia também o risco de um novo choque do petróleo. Lastreado nestes aspectos, os tais cenários poderiam variar entre favorável e desfavorável. Não era um exercÃcio macroeconômico, mas geopolÃtico.
Quanto ao ambiente interno, vivÃamos em um paÃs polÃtica e economicamente fechado, cujo hermetismo somente era afetado ocasionalmente pelas chuvas ou pela saúva. Após 1982, vieram as crises da dÃvida externa e inflacionária, dificultando sobremaneira o planejamento tanto no setor público quanto no privado.
Os anos de 1990 trouxeram a chamada Nova Ordem Mundial. Crash da Bolsa de Nova Iorque em 1987, queda do Muro de Berlim em 1989, derrocada dos regimes comunistas, avanço da internet, ditadura das comunicações, globalização. O mundo, agora, interligado. Nunca a Teoria do Caos, o butterfly effect, mostrou-se tão presente.
Um vÃrus abate a saúde na Ãsia e todo o mundo é economicamente contagiado. Os conflitos polÃticos na Venezuela ou no Oriente Médio afetam a cotação do petróleo. O terrorismo é promovido de coadjuvante a protagonista. A crise econômica de 2008 continua afetando o rumo dos paÃses na Europa.
Talvez agora você compreenda porque digo que os exercÃcios de projeção de cenários são inúteis. Ao que me conste, nenhum, absolutamente nenhum economista ou empresa de consultoria econômica acertou sistematicamente a cotação do dólar para 31 de dezembro, a variação do PIB ou a taxa de desemprego nos últimos anos. Qualquer indicador é pura chutometria. É claro que há fatores como dados estatÃsticos (séries históricas, análises de regressão, cálculos econométricos), estudos setoriais, informação e conhecimento processados que garantem um mÃnimo de cientificidade aos números. Mas, no fundo, não passa de apostas. Porque basta um novo e contundente evento em alguma parte do mundo para alterar todas as variáveis relevantes. Apenas isso.
Por isso, a você que corajosamente atua como empresário ou executivo neste paÃs, minha sugestão: cuide de seu negócio e releve tudo o mais. A viabilidade e o crescimento sustentável do empreendimento que você dirige estão relacionados à qualidade de seu produto ou serviço, ao atendimento que presta aos seus clientes, à harmonia cultivada em seu ambiente de trabalho, ao cuidado com os custos fixos, à correta formação do preço de venda, e à busca do lucro com aprimoramento.
Não quero, com isso, fazer apologia à ineficácia do trabalho de planejamento e de projeção de cenários. Ao contrário, são importantes e desejáveis para se evitar surpresas durante a caminhada. Afinal, se você estiver voando e a biruta indicar mudança na trajetória do vento, não necessariamente você irá cair, mas poderá ajustar seus instrumentos para manter o curso.
A economia estará sempre aquecida para aqueles que têm bons produtos, praticam marketing adequado e sabem identificar e respeitar seus clientes. Qualquer outra coisa é conversa de botequim, papo-furado, devaneios ou... chutometria!
* Tom Coelho é educador, palestrante em gestão de pessoas e negócios, escritor com artigos publicados em 17 paÃses e autor de nove livros. E-mail: tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br e www.setevidas.com.br.
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