Pertencimento: "ame-o ou deixe-o"

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David Nascimento · Tiradentes, MG
22/1/2013 · 1 · 0
 

Durante boa parte da infância somos “treinados†para amar a “pátria amadaâ€. São dados à humanidade motivos para que ela se fixe de alguma forma no mundo, situada em tempo e espaço: vivem em um país específico, nascidos em uma família específica, com religiões e crenças, etc. Em algumas escolas, planeja-se a cultuação à bandeira. Normalmente em um da semana, professores, funcionários e estudantes (crianças e adolescentes) se perfilam frente a uma bandeira ao som de alguns hinos.

Os principais hinos dizem respeito ao país, estado, cidade e instituição a qual se está ligada. Em posições de “respeitoâ€, essa comunidade se perfila entoando unissonamente algo que lhes é comum e que reduz e classifica-os: como se dissessem, “somos daqui, frequentamos aqui, amamos issoâ€. Essa é uma discussão não muito comum. Quantos questionam a legitimidade do espaço em suas vidas?[1]

Não se trata apenas de uma crítica para com a cegueira apresentada pelo ufanismo. Não apenas, ainda que o ufanismo possa, e deva, ser constantemente criticado como uma forma de nos legitimar dentro de um espaço físico ideologicamente modelado, divido e ocupado. A crítica de então é sobre aquilo que poderia ser dito por uns, o que seguem a risca o sentimento de serem patriotas, com outros, aqueles que passam a não ver tanto sentido no papel que devem desempenhar frente a uma bandeira e ao som de um hino.

Imaginemos que o primeiro grupo se ressentisse do segundo grupo: “-É um desrespeito e afronta que estes não participem de um momento tão importante e respeitoso. Este é nosso país, se não o amam, deveriam deixa-loâ€. Em “verdadeâ€, é uma bonita oratória... e não passa disso. Imaginemos, por outro lado, a gama de grupos socialmente excluídos deste mesmo país. Por um lado, empresários falidos entram na justiça reivindicando a posse de terrenos que serão usados para a especulação mobiliária (caso de Pinheirinhos), por outro lado todo o grupo que será expulso deste terreno; de um lado um grupo organizado partidariamente a quem denominamos “políticos†(como se agir na sociedade não fizesse de todos seres políticos) e, de outro lado, uma classe menos favorecida, que paga seus impostos para que o estado cumpra seu papel de mantê-los em segurança e munidos de estrutura básica...

Poderíamos, durante tempo considerável, elencar grupos hegemônicos e grupos desfavorecidos. De um lado, poderíamos dizer, aqueles que pregam o amor para a pátria e de outro aqueles que carregam a pátria. Claro, devemos considerar, essa seria uma divisão dual da sociedade. Possivelmente, essa redução seria injusta e nada complexa: há, na sociedade, menos dualismos e mais complexidades. Não se foge de um lado apenas correndo para o outro. Entre sim’s e não’s. Essa visão dual da sociedade apenas, neste momento, tem a utilidade, enquanto violência constituída, de separar as pessoas em grupos daqueles que “respeitam†e “desrespeitam†a pátria.

Talvez devesse fazer mais sentido a idolatria à bandeira e hinos para aqueles que expropriam a pátria todos os dias: os políticos. Mas se esses, que ganham salários astronômicos, pouco se importam, por quê nós é que temos que bancar os ufanistas? Acho que é melhor ter um pouco de “bom senso†e, numa dessas datas “comemorativasâ€, encontrar uma passeata de excluídos na qual possamos ter o sentimento de pertencimento a algo que valha a pena.

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[1] Bauman, em seu livro Identidade, discute sua relação com seu país e sobre como ele não se sente tão próximo assim de uma bandeira e de um estado que façam referência a ela.

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