Exposição Indígenafrografos_ Conjunto Cultural da Caixa

O projeto “IndigenAfro Grafos �, de autoria do artista plástico e grafiteiro Denis Sena, é uma releitura plástica da pintura rupestre praticada pelos indígenas no Brasil e de sua relação com a cultura afro-brasileira. Considerando que tantos os indígenas quanto os descendentes de africanos cultuam, em suas religiões de origem, as forças da natureza, o artista irá representar esses elementos através das cores, traçando formas abstratas como os riscos primitivos feitos nas cavernas. Compondo o trabalho, estará a representação da figura de um caboclo, entidade subordinada aos orixás cultuada tanto no Candomblé quanto na Umbanda, um espírito da mata que conhece o poder das ervas na cura e dá conselhos aos homens. O caboclo sintetiza, portanto, a miscigenação entre negros e índios.
A partir de uma pesquisa no terreiro de Candomblé Ibá Ojí Tundê, do qual faz parte, Denis Sena observou e conversou com o caboclo Tupiaçu, uma das principais entidades do terreiro, encarnado no babalorixá da casa, Nivaldo Ojí. Tupiaçu é um caboclo da mata, realiza consultas e outros trabalhos a exemplo do ebó (descarrego) com os filhos do terreiro. Com forte influência do orixá Oxóssi, Tupiaçu frequentemente é incorporado por Nivaldo, conversa e dá conselhos a seus filhos, os freqüentadores do terreiro. Usa chapéu de couro, de cangaceiro, se arruma com penas coloridas, fuma charuto e toma “Jurema�, uma infusão da folha da Jurema, uma planta com poderes medicinais, misturada com sangue de animais sacrificados. Foi essa a maior inspiração de Denis Sena, que costuma decorar com seus grafites o Ibá Ojí Tundê, localizado no bairro do Cabula, em Salvador , Bahia.
Com a autorização do caboclo Tupiaçu e do Ibá Ojí Tundê, Denis bebe nos fundamentos do Candomblé para retratar o encontro entre dois povos – o índio e o negro, sintetizados na figura do caboclo. Apesar de sua identificação com a cultura afro-brasileira, o artista atenta para o esquecimento ainda maior de que foi vítima o povo indígena, dizimado e hoje resistente em alguns pontos do país. O caminho encontrado por Denis é denunciar o grito surdo dos povos que primeiro ocuparam o solo do país. De muitas tribos, restaram apenas seus traços em algumas pedras.

http://www.denissena.com/site/ind_grafos.htm