Mostra Lado B revela outra faceta do artista, que também se manifestava através de anotações e devaneios no verso das obras acabadas.
Dúvidas, especulações, temor do futuro, monstros gigantes e trabalhos “não convencionais†revelam o lado B de Franklin Cascaes (1908/1983). A partir de hoje, o Museu Victor Meirelles explora outros caminhos da obra de Cascaes, dando continuidade ao centenário de nascimento do artista.
A exposição Lado B traz 10 desenhos em grafite sobre papel, baseado em um procedimento do próprio Cascaes, que fazia desenhos, anotações ou registrava devaneios no verso da imagem acabada, muitas vezes em folhas pautadas e provas de alunos. O artista e curador Fernando Lindote procurou adotar o mesmo sistema na curadoria da exposição, escolhendo no acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da Ufsc, as imagens que ficam no verso.
- No lado A encontramos o Cascaes convencional, os desenhos definitivos, com suas narrativas de bruxas, demônios, seres marinhos, enfim, inúmeros personagens de seu conhecido bestiário. O lado b são os temores, rascunhos, reflexões e desenhos inacabados - completa Lindote.
Um olhar diferente do que se institucionalizou como as obras lado A do artista estão presentes na pequena seleção. Alguns desenhos “oficiais†também serão apresentados, ampliando a noção do lado B. O próprio convite da exposição já antecede o que será visto. No lugar de bruxas e demônios, um elefante estilizado (desenho ao lado). O monstro gigante, desenhado em uma escala muito superior a paisagem, praticamente anula a presença de uma vaquinha no canto esquerdo do desenho.
Os trabalhos refletem o desespero diante das mudanças da cultura popular ilhoa, como um premonição do desastre. O desenho sintomático de Cascaes se abre para essa angústia e medo do desconhecido. Segundo Lindote, a exposição aborda as potências do artista, explorando a obra como “pulsante†e viva.
- Quando um artista é sempre lido da mesma maneira, a obra se fecha. É preciso rever as questões da arte e fazer leituras que abram chaves novas para que a obra sobreviva ao tempo, e que Cascaes posso ser lido pelas novas gerações.
Desde o ano passado, Lindote vêm trabalhando no planejamento da exposição, que aconteceria do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc). Na proposta inicial, a mostra seria composta de trabalhos mais convencionais, conforme a catalogação de Cascaes e outra parte com o lado B. Com o cancelamento da exposição no Masc, a exposição foi transferida para o Museu Victor Meirelles, que em parceria com a Fundação Franklin Cascaes, apresenta a exposição Lado B, agora em um formato reduzido. Na abertura, o curador falará com o público sobre o processo de pesquisa, concepção e montagem da exposição.
Visitação: de terça a sexta, das 13h às 18h
Adriana Maria
Publicada no Diário Catarinense em 22/10/2008
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