Projeto Território Cultural chega à segunda edição

PROJETO CULTURAL MUDA DESTINOS EM COMUNIDADES
Espetáculos de graça e formação de atores e profissionais como inclusão social e geração de renda

Estimulado pelos resultados sociais, econômicos e culturais, o projeto Território Cultural – lançado em 2002 – chega à segunda edição, ganha apoio cultural da Avon e atenderá a 360 jovens de três áreas do Rio de Janeiro: Serrinha, Cidade de Deus e Centro. O objetivo é profissionalizar, gerar emprego e renda, contribuindo para a melhoria da condição de vida. Oficinas ensinam a arte circense, dança, teatro, música, dublagem e outras técnicas que ajudam na inserção do mercado de trabalho. E, para criar o hábito de freqüentar e apreciar eventos culturais, são realizados nas comunidades 30 espetáculos variados, abertos a todos os moradores e público em geral.
Segundo Tia Maria, do Jongo da Serrinha, "no alto do morro, sede da ONG, mais da metade do público não conhecia o trabalho desenvolvido pelo grupo e nem usufruía a quadra como espaço de lazer".
O Território cultural integra as ações e fortalece os trabalhos já desenvolvidos por organizações dentro das comunidades e que têm a cultura como instrumento de inclusão social. São elas: Jongo da Serrinha (Madureira), REDES/Cia Marginal (Complexo da Maré), Crescer e Viver (Praça XI) e CUFA (Cidade de Deus).
As oficinas de formação e aperfeiçoamento acontecem de junho a agosto, começando no próximo domingo (8/6), por Madureira, com uma grande festa. A segunda comunidade atendida será a Cidade de Deus, e a última, o centro carioca.
No lançamento do projeto, há seis anos, foram atendidas as comunidades de Guaratiba, Maré, Vidigal, Serrinha e Andaraí. De lá para cá, a Cooperativa de Artistas Autônomos (CASA) – autores do projeto – conseguiu tirar das ruas dezenas de jovens que não tinham atividade. O fotógrafo Bira, morador do complexo da Maré, conta que "quem está no tráfico não se dá conta de que, na verdade, está sendo manipulado; porque é muito mais fácil o cara ganhar votos dizendo que vai combater o tráfico do que dar educação pro cara não entrar pra violência. Eu vi um maluco que está no tráfico, aqui, no Território Cultural, sorrindo feito criança, esquecendo a vida que leva, e isso me fez refletir: será que se tivesse projeto como esse antes eles estariam nessa vida? e as mães estariam indo visitar os filhos na cadeia ou vendo um filho perdido ou deficiente por causa de um tiro, como eu? Porque tem que passar por isso tudo se é tão fácil fazer uma pessoa sorrir, dar esperança pro futuro, querer fazer uma faculdade? É só ter um pouco de boa vontade e investir nisso."
A atuação nessas comunidades somou-se à dos grupos, exemplos de trabalhos que conseguem dar um salto qualitativo no fortalecimento da cidadania dos jovens. Segundo Flávia Berton, coordenadora do projeto, "é a oportunidade de prosseguir com uma atividade que já existe e fortalecê-la".
O Território Cultural é um grande encontro de artes, aberto por um cortejo musical circense anunciando o que vem adiante: poesia, números de circo, espetáculos teatrais e musicais de marchinhas, maxixes e frevos e manifestações populares como o bumba-meu-boi. Esse "arsenal" de linguagens artísticas, apresentado pelos grupos profissionais e pelos jovens alunos atendidos pelos projetos locais, pretende inverter a lógica de violência e a exclusão do dia-a-dia. E pode ser definido como um festival itinerante de arte, cultura e cidadania.
O projeto visa fortalecer a articulação das organizações parceiras dentro das próprias comunidades onde atuam. "Uma das preocupações fundamentais é estabelecer um diálogo com os grupos anfitriões, alargando o campo de percepção através das histórias e de entrevistas com pessoas dos territórios trabalhados", explica Flávia.