DROGADOS VIRTUAIS, SEUS VÃCIOS REAIS E UM MEIO DE CURA
(Autor: Antonio Brás Constante)
Tudo começou de forma inocente, com um simples cadastro de e-mail. “Não tem perigo, todo mundo usa†era o que me diziam. Dos e-mails comuns do tipo: “Olá, como vai, tudo bem?â€, aos poucos fui indo cada vez mais fundo, e quase sem notar já estava enviando e recebendo apresentações de Power Point com ursinhos fofinhos, florzinhas coloridas e mensagens açucaradas de amizade, pedindo que elas fossem repassadas ao maior número possÃvel de pessoas.
O vÃcio foi crescendo. Passei a olhar a caixa de e-mails a toda hora, e quando não encontrava nenhuma mensagem dos conhecidos, passava a abrir SPAMS para saciar a ânsia por novidades, muitas vezes respondendo ao remetente e perguntando se ele tinha Orkut e se gostaria de me adicionar como amigo lá. Sim, eu já estava usando Orkut nessa época, não lembro bem como comecei a utilizá-lo, mas o fato é que já tinha perfil e perdia parte do meu tempo cultivando fazendas felizes e outras bobagens sem noção, e enquanto alimentava minhas vaquinhas e regava minhas plantinhas virtuais, a samambaia lá de casa ia secando por falta de água e meu cachorro morria de fome.
No Orkut tudo foi se agravando. Eu achava o máximo ficar mandando mensagens vazias de conteúdo e cheias de anjinhos bonitinhos para todos os meus amigos (muitos desses “conhecidos†eu nem conhecia, e depois acabei entendendo que eles eram tão viciados quanto eu). Comecei a participar de tudo quanto era comunidade que criavam e me convidavam, como por exemplo: “Lost – Humorâ€, “salvem as borboletas do Afeganistãoâ€, “Eu odeio lenços de papel perfumado†e até “meu tio usava calças boca de sinoâ€, entre outras.
Depois fui me envolvendo com drogas mais pesadas, pois tragar e-mails e bebericar Orkuts já não me bastavam. Passei a ser usuário do MSN, enquanto alimentava cada vez mais minha compulsão por jogos infantis e bobos do Orkut e do próprio MSN. Desse ponto em diante foi rápida a minha imersão em outros produtos ainda mais viciantes. Comecei a consumir FACEBOOK e SKYPE de forma indiscriminada, e me fissurei no YOUTUBE, principalmente após assistir a um vÃdeo viral de humor intitulado: “3D – hoje é seu aniversárioâ€, que causava fortes crises de riso em quem assistisse.
Cheguei a ouvir falar de usuários que se perderam em overdoses maciças de SEXLOGs e PERFIS Reais, mergulhando no mundo erótico dos sites e comunidades pornôs disponÃveis na rede, penetrando na devassidão das festas ali promovidas, repletas de belas ninfomanÃacas e regadas a ménage, swing e bacanais entre outras orgias. Mas o pior é que nunca me convidaram para nenhuma delas (NOTA IMPORTANTE DO AUTOR: gostaria de deixar bem claro, principalmente a minha querida esposa, que provavelmente vai acabar lendo este singelo texto, que esta é uma obra de ficção, e que em momento algum eu disse que aceitaria os tais convites – a propósito, depois que terminar de escrever este texto tenho que consultar novamente minha caixa de mensagens para ver se já não chegou algum - ou que eu iria a qualquer uma dessas festas, ok? Agora, por favor, minha querida, guarde novamente o rolo de macarrão na gaveta antes que alguém [EU] se machuque).
Eu já era um drogado virtual e não sabia. Abrindo e compartilhando arquivos contaminados com todos os tipos de vÃrus que se possa imaginar, muitas vezes através de correntes ridÃculas que recebia e repassava aos meus contatos, sem nem sequer questionar se aquilo era verdade.
Foi então que cheguei ao fundo do poço, depois de experimentar a pedra maldita da banalização de mensagens, também conhecida como TWITTER. Passei a consumi-la sem controle, twitando até cinqüenta vezes ou mais em um único dia. Eu ficava até de madrugada conectado como um zumbi. Meus olhos já apresentavam olheiras profundas, a boca seca pedindo água sem que o cérebro obedecesse, pois não queria abandonar o mundo on-line. Também não me alimentava direito, e com isso evitava as idas ao banheiro.
Enquanto eu permanecia conectado como um escravo ao universo virtual, meu rendimento no mundo real e profissional estava cada vez mais caindo e decaindo, como aconteciam com as antigas conexões discadas. Isolei-me de tudo a tal ponto que até achava estranho encarar outras pessoas, sem ser pela webcam.
Graças aos meus familiares fui forçado a morar algum tempo (um bom tempo) no interior (em meio ao campo), sem qualquer contato com a internet, ou celulares, ou quaisquer outros dispositivos eletrônicos. A crise de abstinência foi tão forte que cheguei a desenhar um teclado no chão em frente a uma janela espelhada, tentando desesperadamente enviar uma mensagem de socorro para algum blog. Tudo sem sucesso. Mas o que me curou mesmo foram os medicamentos que tomei. Grandes e grandiosas doses de bons e saudáveis livros, que me tiraram da fissura pelas drogas virtuais.
Aos poucos fui me curando, e hoje estou de volta a sociedade. Tento ser forte, e não cair novamente no vÃcio virtual, mas é difÃcil, muito difÃcil, pois para qualquer lado que se olhe ele está ali, tão próximo, tão fascinante que é quase impossÃvel resistir. Porém, sempre que a tentação chega, pego um bom livro e me fortaleço em meio as suas páginas, sendo salvo pelo poder indelével e miraculoso da leitura.
NOVA NOTA DO AUTOR: Produzi um filme no Youtube (escrito, dirigido e encenado por este eterno aprendiz de escritor), se quiser assistir ao filme e quem sabe dar boas risadas, basta acessar o Youtube e procurar por: “3D – Hoje é seu aniversário†(o filme foi feito em padrão 3D). Quem quiser também pode me pedir uma cópia em PDF do meu livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SEâ€, o livro impresso está disponÃvel pela editora AGE (www.editoraage.com.br), ou se quiser fazer parte de minha lista de leitores, para receber semanalmente meus textos, basta enviar um e-mail para: abrasc@terra.com.br.
Site: abrasc.blogspot.com
ULTIMA DICA: Divulgue este texto aos seus amigos (vale tudo, o blog da titia, o Orkut do cunhado, o MSN do vizinho, o importante é espalhar cada texto como sementes ao vento). Mas, caso não goste, tenha o prazer de divulgá-lo aos seus inimigos (entenda-se como inimigo, todo e qualquer desafeto ou chato que por ventura faça parte de um pedaço de sua vida ou tente fazer sua vida em pedaços).
Um texto viciante com antidoto no final.
Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!