De olho no cinema iraniano

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Kiarostami é o mais conhecido dos cineastas presentes na mostra goiana
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Tacilda Aquino · Goiânia, GO
14/1/2007 · 30 · 0
 

Abas Kiarostami, Mohsen Makhmalbaf, Jafar Panahi, Samira Makhmalbaf são alguns nomes conhecidos dos apreciadores do cinema iraniano que, desde os anos 80 vem mostrando que nas terras dos aiatolás, assoladas por guerras externas e internas, também há lugar para a resistência cultural e artística. Kiarostami, realizador de filmes como E O Vento Nos Levará,
Onde é a Casa de Meu Amigo, Sabor de Cereja, ABC da Ãfrica e Dez, é o mais conhecido deles e a maioria de sua filmografia pode ser conferida nas locadoras da cidade. Nos últimos anos, constantemente divulgado e premiado nos mais importantes festivais de cinema internacionais, o cinema iraniano tem conquistado um público cada vez mais cativo.

Agora, uma mostra organizada pelo Cine Ouro, da Prefeitura de Goiânia, dá aos cinéfilos, a partir de hoje (12/01), a chance de conhecer outros grandes realizadores iranianos. São produções da recente safra do cinema daquele país. E o que é melhor, a preços super acessíveis - R$ 1,00 (às 12h30 e às 15h) e R$ 2,00 (às 20h30).

O filme de estréia é O Passageiro do Sul, realizado em 1996 por Parviz Shahbazi. A possibilidade do reencontro é o tema desenvolvido do filme em que a câmera de Parviz Shahbazi segue Reza, um garoto que viaja para Teerã a fim de passar o feriado de Ano Novo. Durante a viagem de trem ele conhece uma senhora idosa. A viagem é interrompida abruptamente e Reza se envolve cada vez mais com aquela mulher cujo destino final é a Alemanha.

Outro filme inédito no circuito e presente na mostra é Santa Maria, que Shahriar Bohrani dirigiu em 2002. Shahnar Bohrani, por incrível que pareça, aborda em seu filme Santa Maria, a vida da mãe de Jesus sob o ponto de vista mulçumano. E o público iraniano, de formação islâmica, demonstrou interesse nas bilheterias pelo filme de Bohrani.

Outra atração da mostra é Bota, de Mohammad Ali Talebi. Nesta produção de 1992, a mãe de Samaneh a presenteia com um par de botas. Para Samaneh, as botas são as mais bonitas existentes em todo o mundo. Porém, uma delas é perdida. Em sua busca pela bota perdida, Samaneh vê seu destino se impondo e abrindo novos significados para sua rotina.

A questão da disciplina, do castigo e da perseverança é o mote para Mohammad Ali Talebi envolver o espectador em O Salgueiro e o Vento (1992). Em uma remota vila ao norte do Irã, a janela de uma escola é quebrada e o garoto responsável pelo conserto mandado até o vilarejo vizinho, onde encontra o vidro que necessita. Em meio a um temporal o garoto precisa retornar carregando o frágil e pesado objeto.

O Cigano foi realizado por Ali Shah Hatami em 2002. Na trama, os habitantes da vila de Talkhak acreditam que abater uma cotovia traz desastre para a vila. Rassul, um garoto, passa parte de seu tempo caçando aves em resposta a uma outra crença popular: a de que este ato traz chuva para vila. É época de seca em Talkhak e a população decide realizar um ritual religioso. Um dos residentes da vila é enviado para convidar um tocador de 'dotar' (um instrumento musical tradicional) para fazer parte da cerimônia, pois se acredita que o som deste instrumento tem o poder de atrair nuvens e fazer chover. O músico chega à vila alguns dias depois; os habitantes da vila fazem um círculo ao redor do músico e a cerimônia tem início. Ao som do dotar, Rassul aparece com diversas cotovias abatidas por ele. Sua atitude prejudica o ritual e o músico deixa a vila abruptamente.O garoto, então, vai atrás do músico a fim de convencê-lo a completar a cerimônia da chuva.

Os mais conhecidos

Os cinco filmes estão programados para este final de semana e na segunda-feira (15 de janeiro), o Cine Outro começa a exibir produções de cineastas iranianos mais conhecidos e a mostra foi batizada de Cinema Iraniano II. Está no programa, O Quadro Negro, que Samira Makhmalbaf dirigiu em 2000. No filme que recebeu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes 2000 e do Festival de Los Angeles, um grupo de professores, todos homens, atravessam os caminhos montanhosos de uma região remota do Curdstão Iraniano carregando grandes quadros negos às costas, viajam de cidade em cidade à procura de alunos.

Kiarostami é o realizador de A Vida Continua... (produção de 1992) e de ... E O Vento nos Levará (1999). A ação do primeiro filme se passa em 1990, quando um terremoto devastou o norte do Irã. Foi numa pequena aldeia dessa região que em 1987 o cineasta filmou Onde Fica a Casa do Meu amigo?. Preocupado com a sorte de dois protagonistas do filme que moram naquela região, ele parte com seu filho. Chegando lá ele não encontra quem estava procurando, mas é acompanhado pelo olhar das pessoas que sobreviveram, pelo seu entusiasmo e pela sua alegria de viver. Esta viagem de 24 horas em formato de road movie é o tema deste documentário-ficção que recebeu o Prêmio Rosseline no Festival de Cannes 1992

A história de ... E O Ventos Nos Levará mostra os habitantes de uma pequena aldeia do Curdistão Iraniano, que um dia vêem desembarcar um enigmático grupo de pessoas que chegam de Teerã, com uma misteriosa missão.Os habitantes da aldeia julgam que eles procuram um tesouro.O grupo acaba por partir, aparentemente sem conseguir o que procurava. O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza 1999.
Filmes mais famosos e “comerciais†de Kiarostami também estão na mostra.São eles: Através das Oliveiras (1994), que mostra a chegada de uma equipe de filmagem a uma aldeia do norte do Irã, para realizar um filme e O Sabor da Cereja, de 1997, no qual Kiarostami conta a história de um homem desesperado que quer por fim aos seus dias e parte à procura de alguém a quem possa pagar para o enterrar após o suicídio. Durante a sua viagem ele cruza com um estudante de teologia, um soldado e um guarda de museu. Cada um deles reagirá de forma extremamente diferente ao seu pedido. O filme foi premiado em Cannes.

Vale lembrar que atualmente o Irã produz uma média de 125 filmes por ano e possui uma sala de cinema dedicada exclusivamente aos curtas-metragens, apesar dos problemas políticos, econômicos, religiosos e de censura interna numa sociedade teocrática, de valores rígidos.

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