O Cinema Brasileiro carente dos Festivais.
O cinema brasileiro existe desde que o cinema mostrou sua cara. Um cinema que vive entre surtos e crises. Atualmente, vive de leis de incentivos fiscais e das tetas governamentais. Um filme feito por uma classe média em crise para uma classe média que não se vê nos filmes. Ou nem sabe que se vê, porque não assiste.
O cineasta brasileiro na maioria das vezes fala de uma realidade que ele não conhece. O filme é mal distribuído e quase ninguém ver. Quando vê, cobra uma estética que não é nossa. Cobra um padrão de qualidade do cinema ruliudiano. E aí sem essa outra ponta do vértice o filme não existe porque não é visto. A obra de arte precisa ser vista e lida para que ela se realize.
O cinema brasileiro precisa dos festivais para ser visto. A literatura brasileira e a música são conhecidas lá fora, e o cinema não. O brasileiro também não conhece o seu cinema e a sua realidade. Bem ou mal os festivais de cinema têm preenchido um pouco essa lacuna.
O festNatal em sua 19ª edição já exibiu mais de 400 filmes. Pessoalmente, me beneficiei dessas amostras e vi a maioria dos filmes. Um bom painel do cinema brasileiro nessas ultimas duas décadas.
A seleção dos filmes do 19º Festival está fraca. Alguns filmes em exibição são antigos, mas devido à péssima distribuição muita gente não conhece. No domingo foi exibido o bom “Tapete Vermelho” com o grande ator Matheus Nachtergaele. Um filme que fala da nostalgia das salas de cinemas perdidas para as igrejas e comércio.
O primeiro filme da mostra, Cascalho é baseado no livro do Herberto Sales de 1944, com direção do Tuna Espinheira, rodado em Andaraí.
A exploração do diamante e a luta entre garimpeiros, coronéis e advogados que não podem fazer muita coisa nesse mundo dominado pelos coronéis. Othon Bastos esta muito bem como coronel e o garimpeiros sonham com um “tabaco”. A coisa mais escassa na região.
Um garimpeiro é obrigado a cagar com suspeita de ter engolido uma pedra. As longas tomadas da mina são boas. O sonho de todo garimpeiro é encontrar uma pedra, mesma que seja carbonato, para poder ir para um cabaré e fazer uma orgia. Garimpeiros sempre explorados e sempre devendo aos coronéis.
O que se rebela é morto num mundo em que a lei vale pouco.
Filme fiel ao livro e muito bem realizado com um excelente elenco. Harildo Deda, Caco Monteiro, Othon Bastos, Lúcio Tranchesi, Irving São Paulo, Jorge Coutinho, Agnaldo Lopes, Gildásio Leite, Júlio Góis, Emanoel Cavalcanti, Maria Rosa Espinheira e Wilson Mello. Boa trilha sonora e fotografias.
O filme brasileiro fala da nossa realidade e isso é bom. O filme “Dias Amargos” do Sílvio Coutinho falha como cinema em estética e narração, mas fala da AIDS e das drogas muito presentes no Brasil.
O filme “Inversão” do Edu Felistoque narra um seqüestro no Rio de Janeiro e mostra toda a fragilidade da polícia na solução desse crime tão presente. A delegada pequena e frágil se envolve emocionalmente com os investigadores. Gostei da atriz, mas o filme é fraco.
O melhor filme até o momento foi “ Elvis & Madonna” com a presença do diretor Marcelo Laffite. Um filme que durou sete anos para ser concluído. Bela trilha sonora e atuação marcante da Simone Spoladore, como Elvis. Um filme que fala de gêneros, De transexualismo. Elvis entrega pizza e se envolve com Madona, a cabeleira traveca que sonha fazer um show. Seu bofe leva todo o dinheiro poupado. Elvis tem um filho com Madona, mas quem é o pai é ela, Madona (Igor Cotrim).
Bom andamento e filme de grande sensibilidade. Boa estética e excelente atuação dos atores. Destaque para a bela trilha sonora. E você, é Madona ou Elvis? Veja o cinema brasileiro. Não tenha medo de se ver. E não compare, por favor.
Finale
O festNatal terminou com filmes de bom nível técnico e estético. De alta voltagem cinematográfica. Percebe-se que o Brasil mostra gradaditavamente a sua cara, chagas e costumes. O filme reflete a sociedade e seus preconceitos. Um amplo leque de temas foram apresentados no 19o FestNatal. Homossexualismo, Aids, Drogas, Adultérios, Pobreza, Garimpeiros, Assaltos, triângulos amorosos, vida em casal e saudades de amores antigos. Dois filmes, Cascalho e Grão, não estavam na mostra competitiva - para mim uma besteira. Os grandes atores não vieram para o festival. Fizeram sucessos na taba o Cid Moreira, Eva Wilma, Mauro Mendonça e o mais simpático, Elias Gleizer.
O Filme “ Signo da Cidade” dirigido por Richelle e protagonizado por sua bela mulher e poeta Bruna Lombardi é um belo filme com temática bastante atual e aberta deixando uma pergunta: podemos mudar o destino regido pelo astros? Bruna é uma astróloga que se envolve com os problemas de rádio interativo. Adultérios, drogas, seqüestros, suicídios apimentam a trama da astróloga Bruna que se envolve com o vizinho carpinteiro casado que por sua vez tem uma mulher apaixonada por outro. A Denise Fraga é a vizinha confidente da astróloga que precisaria está mais solta sensualmente não fosse dirigida pelo marido. Um belo filme e uma femme- fatale. Todo mundo trai parece ser o tema do festival.
Divã com direção do José Alvarenga Junior conta a história de uma mulher casada que separa depois de mais de vinte anos casada. Vai para a analista que insiste em perguntar por sua relação com a mãe. Um grande solo da atriz Lília Cabral que se apaixona depois por homens novinhos (grande Cauã). É bela a cena na boite gay. No final a mulher constata que foram os momentos vividos com o marido (José Mayer) os melhores da sua vida. Com direito a se masturbar nos momentos solitários. Sua grande amiga Alexandra Richter faz um grande contra-ponto num grande duo feminino. O marido não consegue assistir ao futebol em paz. Nunca dizemos tudo que precisaríamos.
“Grão” tem uma narrativa em piano quase parando. A lentidão do sertão. Pobre e seco. O pai entrega bode e recebe cinqüenta centavos por cabeça. A mãe trabalha num tear rústico e o que ganham mal dá para comer um minguado pirão com miúdos. O pequeno garoto (o filho) com o seu cachorrinho tem um grande desempenho. Bela luz das tarde sertanejas. O semblante do menino iluminado pela vela é comovente. Ele ouve uma história contada por sua avó. A lenda do grão de mostarda. A vó adoece e recebe a visita da resadeira. A filha doida para casar e sair daquela vida miserável. Precisa tomar emprestado o vestido de noiva para casar com um ajudante de mecânico de bicicleta.
Um belo filme dirigido pelo Petrus Cariry mostrando á vida no sertão sem maquiagens. Mostrando uma parte do Brasil pouco conhecida dos brasileiros. A honestidade era a marca daquele homem de costumes rígidos tal qual intempéries de uma terra desolada e triste.
“Depois Daquele Baile” foi em minha opinião o melhor filme do festival. Um tour de force dramática dos atores Lima Duarte e Paulo Caruso formando um triangulo amoroso com a atriz Irene Ravache em atuação também estupenda. Uma história de amor lembrada 30 anos depois daquele baile. O casal de amigos – jogadores de peteca - se apaixonam pela mesma mulher. O Caruso não sabe dançar, pisou no pé da amada. Precisa aprender a dançar. Nesse ponto seu amigo leva vantagem. Caruso sabe tocar piano e o amigo lhe ensina a dançar em cenas comoventes. Caruso fina ficando coma mulher e o amigo tão cheio de vida morre. Um amor maduro numa atuação brilhante do “Zeca Diabo”. Um filme de grande sensibilidade dirigido por Roberto Bontempo. Tenho impressão que foi uma das mais felizes e marcantes atuações desse trio de atores maravilhosos. A amiga Ingrid Guimarães é uma coadjuvamte que não chega a atrapalhar o trio cênico numa história comovente.
Saudades do Festival.
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