Resenha do livro Adeus do Porto, de Wagner Miranda

Pedro Clash
Capa de "Adeus do Porto"
1
Wagner Miranda · Jandira, SP
10/10/2013 · 1 · 0
 

Por Olga Costa
Publicada originalmente na edição número 15 do Jornal Microfonia, de João Pessoa, PB.


O que foi corroído permanece. Do navio, o casco é a
imagem externa, que, por vezes, aparece, por vezes,
se esconde. Quantas vezes essa travessia foi feita?
Todas as vezes que precisaram dele. Atravessar mares
nunca foi um problema. Quantas vezes abandonaria o
céu que nos protege/abdicaria do poder e da glória/
transformaria em pranto/ a última prece – What do
You Want me to Do? Uma prece em forma de canção,
melodicamente declamada por Mike Scott, que
aqui, por sincronicidade, assemelham-se: Mike Scott
saiu da Irlanda e foi para Manhattan, Wagner Miranda
saiu de São Paulo para a Irlanda. Quantas coisas em
comum possuem esses criadores de versos, que pouco,
ou por pouco, (não) se cruzaram em suas travessias?
Cruzaram-se nos versos: Por um momento esqueço/o
navegar/e me deixo naufragar/sem me queixar... I can
see the landing strip/but I need you to steer my ship.
As poesias do primeiro livro de Wagner Miranda são
inspiradas nesse rito de passagem. As transferências
e observações de um novo mundo vieram e, em uma
espécie de pós-niilismo, transpuseram um olhar diferente
sobre todas as coisas, a ponto de externar que
aportaria em território desconhecido/munido de sentido/em barco inimigo... para traçar um novo ponto de
partida. A vida de antes não existia mais. De agora em
diante, é viver cada dia e se sentir bem. E, mais uma
vez, os versos, dos distantes aventureiros, se assemelham:
I’ve got a lot of things to change/a whole man
to rearrange/and if you show me how/I’ll Begin right
now. Adeus do Porto não trata de simples despedida,
em que ficamos acenando até perdermos de vista.
Adeus do Porto é a solidão do que corroe por dentro. É
o que precisa ser jogado da proa ao mar. É, também,
a reabsorção de tudo, depois do caos. Pois, em meio
aos escombros, é preciso amadurecer/aprender e apreender/eu só quero/arborescer. Oxidamos todos os dias.
O que foi corroído permanece, até que a imensidão do
oceano traga o abrigo, tanto desejado, da alma.

O livro Adeus do Porto pode ser adquirido no site da Livraria Cultura pelo link a seguir:
http://www.livrariacultura.com.br/Produto/LIVRO/ADEUS-DO-PORTO/42122017



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