As horas que faltam, das horas pra estar em paz

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Eder Fonseca · Cândido Mota, SP
21/1/2013 · 0 · 0
 

“Encontrar Perceber Se olhar Se entender Se chegar Se abraçar E beijar E amar Sem medo Insegurança Medo do futuro Sem medo Solidão Medo da mudança Sem medo da vida Sem medo medo Das gentileza Do coração†Gentileza - Gonzaguinha


As birutas já não balançavam mais naquele chegar da noite. Não que elas, as horas, não possuíssem a sua dose de encanto e fossem capazes de sopros de alegria e mágica. Sim! Também ali residiam um pouco de tudo, de nós, de profusões de quereres, afinal, quase sempre temos na medida do que somos, ainda que uma incompletude se ressalte, exatamente para que sempre nos lancemos no que nos falta. E pensávamos, e ouvíamos, e cantávamos, e chorávamos, e sorriamos, com as peculiaridades daquele momento, e sôfregos dali exalantes.
E quantos desvarios. Digo. Quantas noites, apesar dos risos e de uma suposta completude unilateral, a solidão do quarto. Só isso. Algumas perspectivas previsivelmente finitas. Nada fora das tramitações das desilusões e processos naturais da vida, ainda que momentâneas, e do seguir do dia-a-dia, os barezinhos, as calçadas, os churrascos, os “sociaisâ€, as paixões, os desejos, os acertos, enganos, os apegos e desapegos que deixam enigmas em lastro do invulgar.
Entretanto, também aquele momento, no qual você olha a si mesmo, se aprofunda, pensa e diz: agora eu sou parte da correção dos erros de outrora. E estou apto a tatear aquilo que de inopino ressurge aquecendo um certo inverno. Não há o que fazer, a ausência arranca nacos de otimismo e de quase tudo se espera. E sempre há correções por fazer. O que nos faz maravilhado, por mais serenos e retos, entorta-nos a espinha existencial, dificultando-nos o olhar. E justamente para que olhemos de um jeito novo, com um pouco mais de profundidade, na marcha evolutiva.
Também já tomei meus pileques, homéricos, por que não? Já joguei tudo pro alto, já pedi para que jogassem pro alto, sorri, deslizei-me entre inseguranças e a felicidade de outrem, bem com o oposto também.
Ouvi músicas, imaginei, criei, recriei, projetei-me, certamente, ao vento, do agora, do depois, do antes, rompendo, talvez em um deslize natural, o aqui-e-agora dividido em compartimentos de tempo, que às vezes não faz sentido. Pois é, abri as comportas, transbordando impulsos distintos, apesar dos riscos da inundação. Fato, como um campo fértil, com chuvas torrenciais, a semente germinou, nada de podendo fazer a não ser esperar a natureza mostrar o que se colherá.
E sei que errei, entre acertos, uns erros, mas tudo parte do nosso caminho. Quem, em uma hora ou outra, não sente peso do tempo recair sobre certezas; não captei, reconheço.
Sou um pouco sofredor, aumento com a lupa da paixão os sinais que tocam minha pele. Todavia, creio que em minhas veias ressoam um quê de renascimento, que se encaminha pra dentro do peito. Sou um pouco extrospectivo, apesar da maior parte do tempo cerrar-me nas coisas que sei, vez ou outra me confundo quando de repente salta à face a face de identificação.
Embora hora, ou outra, diante de mim, esteja uma grande parte do que eu sou, e impulso para o que quero ser, reajustando os ponteiros que fazem escoar os pontos seguidos. De repente, querendo tanto ser, acabo esbarrando nas reticências do momento... E apenas adormeço, após um maremoto de moções dos sinais, silente, esperando escutar novamente a melodia que ecoa aquela voz, sem perder de vista que as notas das canções se remodelam com o soprar dos ventos, e que é necessário, sobretudo, escutar a própria voz.
E em verdade digo: o torpor do amor, ou o sentimento que o tempo refaça, faz com que se tropece no sublime. Até certo ponto normal: um sentir à margem sempre carrega um obstáculo quase intransponível. Basta saber o ponto a partir do qual se responderá essa indagação. Qualquer que seja, foi o tempo necessário para o necessário para nós.
E, acima do que observo, sei que, por sobre esse olhar que me cabe nesse instante, está aquilo que me reflete. E lhe abraço forte e demorado, fito seus olhos, toco seus lábios, e lhe digo que a casa está aberta pras nossas coisas. Então, que as horas transcorridas carreguem minha fé na espera. A nossa valsa em tantos quantos forem os atos! E parava, qualquer coisa que estivesse fazendo, para dizer: beleza igual a sua não há!
Mesmo reconhecendo que a distância seja necessária, esse silêncio paradoxal estaciona no meu corpo. E eu espero , nas horas que me faltam, recompondo para fortalecer-me; as explicações vão se colhendo nos pensamentos das entrelinhas dos diálogos que ficaram submersos na tempestade de profusões de sensações neófitas.
Desejando, apenas, que se guarde o perfume no seu baú de afetos. De um jeito, ou de outro, persigo os objetivos e eles hão de pousar em nossa construção. Tendo em mente sempre a medida entre a carpintaria da vida e a nossa. De fato, o tempo exacerba a beleza, e a felicidade se aproxima.

Sobre a obra

Ensaio sobre a nossa relação com o tempo, com a análise das coisas que nos chegam

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Eder Pires da Fonseca
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