De repente, como um enigma homérico, chega-se aquele momento no qual o desabrochar começa a desenrolar. Não se sabe muito ainda do que estar por vir, o passado ainda confunde-se com o presente, querendo este libertar-se e voar de modos e intensidades diferentes. Muitos são os pontos fixos que norteiam: O sol, a lua, o frio, o calor, o seu próprio pensar ...
E muda-se tudo, a feição, os traços, riso, cabelos, estilo, verbos, substantivos, semblante, pensamentos, gestos, o aceno no vento, o articular-se.
No limite entre o conhecer e o por à mostra... Num sopro, tudo é tão descompacto, impreciso, inacessÃvel, ao mesmo tempo em que possuidor de certa carga de magia, refletindo-se num mosaico de sentimentos.
Quem poderá ceder-se ao momento? Colar ao presente, quando seus raios de uma aparente redenção ao desconhecido, disparam. Como atracar incólume nas margens do tocar-se, dilatando as pupilas, palpitando o coração, elevando as potências das ondas sonoras?
“Nada de novo no meu mundo eu vivo o segundo meu tempo é meu lugar Nada de me tira do meu rumo eu sigo o meu prumo o meu jeito de ser (...) toda beleza é uma chama, que acende e inflama paixão de encontrar†Beleza e Canção – Milton Nascimento
Os olhos, o riso, o silêncio, tão discretos que aparentam contido afastamento das conexões mais cotidianas. Os deleites emanando das horas de descanso, de intimidade com os ecos da própria fala, do próprio pensar, gradativamente o silêncio vem chegando, a alma logo explodindo em centenas de refrescâncias a preencher cada poro de noite.
Quantas equações matemáticas são jogadas e vivenciam as possibilidades de envolvimento pleno com o instante? Em que submerge a rouquidão do inesperado, a soar em nossos ouvidos ansiosos pela harpa de fios de cabelos - dourados pelo dia-a-dia.
Circula no vento aeroglifos de um momento que se assemelham a abertura das asas para o vôo, ou dos movimentos das barbatanas que sacodem as águas oceânicas, os bichos-preguiça que rompem com certa medida de tempo, os cavalos marinhos nas suas convicções, as focas, os surfistas golfinhos, o baile das baleias.
Prolonga-se em recortes de tempos, temperado por filmes, músicas, poemas, encontros, palavras, sÃntese de diálogos, o instante em que o fruto se descobre, e larga-se ao encontro da terra que o espera, à sua própria sorte, para vida brotar!
Quantas combinações - de modos de estar diferente - mantém a conexão entre os seres da natureza, as diversas cadeias de códigos nutridos das terras onde as raÃzes repousam. Não é a ausência de risco, de repetição de fórmulas, que faz com que haja teias de pensamento, que mantendo ligados, sobrepostos, entrecortam os momentos.
As evoluções não são feitas de grandes gestos, imprecisos, pesados, pois que sobre o ar repousam inúmeras partÃculas, femininas e masculinas ao ponto da espera por maturação, milimetricamente conduzida.
Completude e vazio põe-se além do preenchimento e ausência, de fusão e separação. Misturam-se como cores primárias, que geram todas as outras, bastando algumas combinações de encantos, sonoridades, poemas, pincéis de digitais além derme.
É a luz que ofusca o olhar ou o olhar que se resplandece com o horizonte iluminado, fazendo com que se passe pelas retinas a mais bela junção de pigmentos, aromas, paladares etc.?
Ensaio literário, parte de uma Trilogia.
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