Há que se dizer: talvez o mais importante da criação eletrônica seja, hoje, que ela não pode ser determinada a um espaço. Então se diz: a poesia eletrônica brasileira. Como a internet acaba derrubando muitas das fronteiras impostas, o que se pode dizer, quando muito, é se tratar da criação de um poeta brasileiro, catarinense. E em português. Aliás, eis o grande “uau” desse texto.
Da primeira vez que ouvi falar de Alexandre Venera, o nome passou despercebido. Já, na segunda, tratei de pesquisar a respeito no Google, e eis a minha surpresa. Venera, que é dramaturgo, poeta, vj e multimídia é celebrado em alguns dos sites mais bacanas de poesia visual da web. E pela primeira vez pude perceber um “Alexandre Venera mora no Sul do Brasil, em Blumenau”. Isso em inglês ou francês, não lembro.
Mas foi a primeira vez que topei com a série aCaRamBoLa. A série silábica de múltiplas interpretações (do artista, são 64 — e, claro, as nossas se ilimitam) varia entre o surpreendente e o improvável e dá um novo significado à poesia em língua portuguesa. Eis a surpresa: ao mesmo tempo em que se pode procurar uma classificação à poesia de Venera dentre as escolas literárias tradicionais (bem poderíamos dizer tratar-se de um pós-concreto, pois agora lida com movimento, som, 3D etc.) nos afastamos da racionalização para podermos contemplar. Contemplamos a obra (e seus múltiplos significados) e contemplamos o artista (e suas múltiplas tentativas de significação) para enfim determiná-lo, neste caso, poeta. Mais, não me arrisco.
No sítio determinado, encontramos também o recém lançado cd-rom 6x Juliana Teodoro Alexandre Venera . Ricamente prefaciado pelo poeta visual Jorge Luiz Antônio, 6x JT AV é um resumo de esforços empenhados entre 2000 e 2001 e que agora é lançado em formato cd pela Fundação Cultural de Blumenau, via Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Os trabalhos apresentados são resultado da união de esforços de Juliana Teodoro e Alexandre Venera, ambos parceiros ativos na produção dignamente chamada marginal do Vale do Itajaí, em reler, recriar e co-criar arte eletrônica. Em parceria com 6 artistas do Brasil, da Alemanha, da Argentina e do Uruguai, 6x JT AV remete, copia, transfere significados (sempre múltiplos) às originais criações desta dupla atuante da cena artística catarinense.
No site aLe, também nos deparamos com o mundo paralelo em que somos inseridos ao lidar com informática. A série PIXELS, que poderia bem ser uma viagem lisérgica, permite outras leituras acerca da denominação tecnológica, ainda mais quando eles, os pixels, parecem invadir o nosso mundo, do lado de fora da tela, para nos levar com eles para a matrix digital de onde surgiram.
Colaborativo, porque fruto sempre de múltiplos esforços oriundos sempre de vários lugares ao mesmo tempo, e interativo (isso o leitor vai perceber, com certeza) o conteúdo desta página da internet vai muito, muito além do esperado e certamente traz novos significados àquilo que podemos chamar literatura brasileira. Ou melhor: literatura feita no Brasil. Ou ainda melhor: literatura produzida por brasileiros.
aLe merece muitas visitas, merece muitas falas e certamente aplausos. No entanto, fica o leitor, por hora, convidado a entrar nesse mundo — esse sim! — paralelo e tomar as suas conclusões. Ou não. aLe não é um sítio conclusivo, mas provocante, pois provoca ao mesmo tempo o leitor e a literatura. Deixe-se provocar, então.
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