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Os pensamentos parecem nuvens roxas penduradas em um céu alaranjado nun final de dia, que desde o início pareceu cansado. Sem formas definidas, se espalham para todo o lado. E o olhar se perde, num pedaço da parede pintada de vermelho. As mãos tremem, desacostumadas a estarem paradas. As pernas não obedecem, correm já não podem mais andar, senão apressadas. O chão que um dia pareceu infinito há muito deixou de ser misterioso, são sempre as mesmas estradas. As pessoas que vem e vão se tornam fantasmas. Rostos desfigurados, que parecem não pertencer a seus corpos sem comando, putrefatos. Agora jaz o pobre corpo num mausoléu coletivo, cheio de luzes artificiais, metros de fios e cabos, vozes transfiguradas por aparelhos e total silêncio humano. Só se ouve o ar-condicionado. O ócio prende à cadeira, repele os dedos que ficam longe do teclado. A vontade se divide em mil pedaços e parte insolente, dizendo que não quer ser incomodada. A preguiça, esta antiga inquilina, mora na cobertura, muito bem instalada. O tempo, este velho decrépito, não sabe onde deixou sua bengala e se arrasta, quando se vê não andou nada.