O empenho institucional para viabilizar a prisão de Lula destoa da insignificância da sua base condenatória. Somando as esferas e os recursos comprometidos com a aventura, não deixa de ser curioso que tenham sido incapazes sequer de especificar as circunstâncias do crime. Mas é chocante verificar que isso não fez diferença no resultado final. As coincidências arbitrárias do projeto suplantam os limites pessoais e funcionais de Sérgio Moro. Sem um acordo de bastidores e a garantia de respaldo superior ele jamais arriscaria a reputação nesse jogo de lances temerários. A demonização do juiz favorece as autoridades ocultas que o instruÃram e avalizaram desde o inÃcio. Tamanho esforço persecutório é equivalente ao peso de Lula e ao benefÃcio conseguido em neutralizar seu capital polÃtico. A putrefação recÃproca de fins e meios escancara o viés ideológico da “excepcionalidade†punitivista, cuja eficácia se resumiu a correr para apanhar o favorito nas pesquisas antes do inÃcio da disputa presidencial. Lula foi tratado como um dissidente polÃtico de qualquer ditadura. As licenças jurÃdicas, as artimanhas clandestinas, as manobras processuais e os precedentes temerários, culminando na violação do preceito constitucional da inocência, mostram que ele jamais teve a menor chance. As cortes iriam até onde quisessem para apanhá-lo. O regime militar também possuÃa tribunais, ritos jurÃdicos, princÃpios republicanos e mesmo o aval do STF. Todos os seus prisioneiros foram condenados por “crimes comunsâ€. O apego da direita a narrativas formalistas visa transformar o teatro autoritário da legalidade em sinônimo de efetiva observância de direitos. Eis outra repetição histórica. O volume da corrupção no meio polÃtico brasileiro e a impunidade do PSDB paulistageneralizaram a sensação de injustiça no caso Lula a um ponto irreversÃvel, quase anedótico. Essa perplexidade ficará marcada no imaginário público por muito tempo, alimentando a indelével martirização do petista. Quanto mais se fortalecer a expectativa (ingênua ou hipócrita) numa faxina “redentora†do paÃs, maior será o escândalo de sua frustração. Cada preso importante que a Lava Jato usar como exemplo de idoneidade levantará questões incômodas: a demora para agir, os outros que escaparam, a gravidade dos delitos, as chances eleitorais dos atingidos. Se a prisão de Lula tem natureza polÃtica e anuncia uma inevitável derrota simbólica do condomÃnio justiceiro, podemos esperar que o ataque se estenda para o âmbito sucessório. No embalo da tentativa de transformar Lula em bandido ordinário virá o impulso de fazer o mesmo com seus apoiadores. O isolamento do PT e de seus aliados é imprescindÃvel para a consumação do jogo. À medida que Lula mantiver sua influência nas articulações da esquerda, o garrote judicial se fechará, nem que para tanto recorra à criminalização pura e simples de indivÃduos e grupos organizados. A desunião marca o inÃcio do fim das chances eleitorais do campo progressista. E talvez da própria resistência democrática a curto prazo.
http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br/2018/04/o-golpe-preventivo-contra-lula.html
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