Sábado

Acordo recordando imediatamente do ontem.
Levanto sozinho.
No desenrolar do tempo vaporizado que vivo, o primeiro da manhã, percebo que estou num sozinho dentro de mim mesmo. Me meto enfurnado, confiscado numa massa cerebral que às vezes desconheço. E faço tudo que faço automaticamente.
Um gosto desgostoso na boca, um sabor de sufoco engolido me faz sentar à cadeira e tomar um café quente enquanto chego à conclusões repetidas.
É um dia de folga, não trabalho, não tenho nada obrigatório a fazer, e por isso as conclusões geram pensamentos surpreendentementes conscisos: sobre a vida, a minha vida.
Penso nos momentos que viram dias e, debaixo do meu nariz, me enganam quanto ao seu valor.Penso no tempo (como ignorar o guia referencial?) e em como ele tem me chamado pra conversar, penso nas pessoas que convivo, naquelas que conheço, naquelas que não imagino, naquelas que rondam os meus dias úteis e o os tornam menos interessantes, naquelas que trombo pelo meu caminho, naquelas que estão à volta, naquelas que vejo diariamente, naquelas que ignoro diariamente, naquelas que nunca vi mas sei que existem.
Sim, sim…confesso aqui que meus dias têm sido difíceis. Meus pensamentos não se voltam às cores vibrantes, ficam nas escuras e borradas. Meus olhos estão cansados de buscar referências, meu corpo já busca um repouso debaixo de uma grossa camada de alumínio, e a consciência adormece quando peço pra me acordar.
Sei que tenho as armas revertidas do processo degenerativo em que me envolvo, consigo alterar a ótica do presente ressentido, consigo trazer a fórmula autoritária que reverte esse conteúdo claustrofóbico e confortável, consigo, com muito suor, acreditar em outro tipo de vida que eu poderia buscar, mas, como disse, nesse dia, especificamente, estou satisfeito em pensar da forma que eu sinto estar.
E ainda por cima é sábado.

Vou ali vomitar.

daniela monteiro