O rapaz apoiou-se no genuflexório, parecia consternado. Levantou-se olhando fixamente para as cruzes que preenchiam o altar. Tinha os olhos entregues numa prece muda e interior.
Do púlpito o padre acompanhava aquela alma prostituta e sentia pungir-lhe no peito uma aversão odienta. Tomou uma cruz do mais pesado metal, tinha-a entre os dedos como quem empunha uma espada. Surgiu atrás do moço que permanecia imóvel, ergueu seu sÃmbolo sacrossanto, mantendo-a algum tempo suspensa no ar, depois a mão desceu impiedosa sulcando o crânio do rapaz. O hábito do padre foi maculado por uma gota diminuta de sangue. Em derredor desenhava-se uma atmosfera dantesca. O lÃquido escorria pelos ladrilhos conferindo à brancura do piso o contraste impudico do vermelho.
O sacerdote caminhou até a tribuna e começou a pregar para as cadeiras vazias:
"Já me falta a sanidade, sei que sofro do mal deste mundo. Os livros sagrados nunca me deram o poder que agora experimento sobre a vida. Ser deus! Decidir entre a vida e a morte de uma alma parasita: dominá-la, afugentá-la, suprimi-la. Volúpia incontida de ser Deus, de ter o poder sobre suas marionetes animadas e de poder brincar com os seus fantoches. Ver o sopro esvair-se e o pó ao pó voltar."
Desceu do púlpito, trazia na mão direita uma navalha. Virou o corpo do moço e de forma grosseira destituiu de suas órbitas os dois olhos. Segurou-os por alguns instantes. Depois acomodou-os num vaso de metal.
Fez um risco vertical no abdômen da vÃtima. Repetiu o movimento várias vezes até que as vÃsceras pudessem ser vistas. Acomodou-as noutro vaso e na hediondez de seu ofÃcio via-se o desenho tresloucado de um riso sucumbir de seus lábios.
Depois tomou o corpo. Pô-lo de pé e como as bacantes lascivas dançou loucamente. E ria e gritava e chorava...
Súbito seus braços desenlaçaram da cutânea frieza dos braços do morto, lançando-o a um canto. Correu ao seu oratório como se um prurido de consciência lhe viesse perturbar a insanidade, ocorreu-lhe o suicÃdio como subterfúgio, como escolha. Subiu ao campanário da igreja, enroscou ao seu pescoço as grossas tranças dos sinos e como num enlevo de desesperança lançou-se audaz ao mistério. O peso de seu corpo fez os sinos dobrarem incertos e descompassados como se dissessem "vós não mereceis nossa cantoria!"
Um bom reoteiro. Para histórias de sinismo. Porém não intendi o por que do tÃtulo se chamar "Os anjos dizem Amém"....????....
Porém, lhe dou meus parabéns, pois assim mesmo, não deixa de ser um bom roteiro de um padre insano.
Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!